Ex-prefeito Nelson Nahim no Folha no Ar desta quarta

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Ex-prefeito e ex-presidente da Câmara de Campos, Nelson Nahim é o convidado do Folha no Ar desta quarta (6), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Ele avaliará os governos Lula 3 (PT), Cláudio Castro (PL) e Wladimir Garotinho (PP).

Nahim também analisará a relação entre Prefeitura e Câmara a partir do fim da pacificação entre Garotinhos e Bacellar. Por fim, com base nas pesquisas divulgadas em 2023 (confira aqui), tentará projetar as eleições a prefeito e vereador de Campos em 6 de outubro de 2024, daqui a 10 meses.

Quem quiser participar do Folha no Ar desta quarta poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, nas páginas da Folha FM 98,3 no Facebook e no Instagram.

 

Novo secretário de Comunicação no Folha no Ar desta 3ª

 

(Arte: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Novo secretário de Comunicação de Campos (confira aqui), o jornalista Gustavo Matheus é o convidado do Folha no Ar desta terça (5), ao vivo, a partir das 7h da manhã, na Folha FM 98,3. Com a experiência de quem integrou as duas gestões, ele analisará os governos Rafael Diniz (Cidadania) e Wladimir Garotinho (PP) em Campos.

Com base nas pesquisas divulgadas em 2023 (confira aqui), Gustavo também tentará projetar as eleições a prefeito e vereador de Campos em 6 de outubro de 2024, daqui a pouco mais de 10 meses. Por fim, o torcedor do Botafogo tentará analisar a tragédia com seu time este ano e a reta final do Brasileirão.

Quem quiser participar do Folha no Ar desta terça poderá fazê-lo com comentários em tempo real, no streaming do programa. Seu link será disponibilizado alguns minutos antes do início, nas páginas da Folha FM 98,3 no Facebook e no Instagram.

 

Edmundo Siqueira — O longa apressado de Scott em Napoleão

 

 

Edmundo Siqueira, servidor federal, jornalista e blogueiro do Folha1

O longa apressado de Ridley Scott em Napoleão

Por Edmundo Siqueira

 

Napoleão, um corso que subiu no conceito da burguesia francesa depois de conquistar vitórias militares, aplicou um golpe no dia 18 do mês de brumário (calendário revolucionário da França) e mudou o regime: passaria do Diretório para o Consulado, tendo o general Napoleão no comando como primeiro-cônsul.

Napoleão, filme do diretor inglês Ridley Scott que estreou em novembro nos cinemas brasileiros, trouxe em uma de suas cenas o golpe do 18 de brumário; e ela provoca um sorriso inevitável ao espectador — mas não se engane, é um dos poucos nas 2 horas e 38 minutos da película.

A sequência começa trazendo Napoleão recebendo um convite irrecusável para assumir o comando da França, segue para a tentativa frustrada de seu irmão Lucien (Matthew Needham) em conseguir os votos no Diretório, e segue para uma confusão generalizada que coloca Napoleão para correr debaixo de tapa, após ele usar a palavra.

Napoleão volta ao Diretório — uma espécie de parlamento — com um destacamento militar, e o diretor finaliza a sequência com os políticos acuados sob a mira de armas, e o então quase-primeiro-cônsul diz, ironicamente: “Vamos aos votos!”.

Com um roteiro didático e apressado ao mesmo tempo, escrito por David Scarpa, o filme vai mostrando os eventos principais que levaram Napoleão a ser Imperador da França. Em ordem cronológica, sem flashes da infância ou diálogos saudosistas.

E esse talvez seja um dos pontos fracos do filme: diálogos. A direção bem executada do experiente Scott e a fotografia luxuosa de Dariusz Wolski não conseguem levar o filme para o nível que ele merecia. Falta personagens periféricos bem construídos, alívio cômico e amarração da trama. Os diálogos são retalhados e sem nenhum brilhantismo.

Quem contrasta com a atuação sem brilho de alguns atores é Vanessa Kirby, a Josephine, primeira esposa de Napoleão e seu maior amor. Kirby dá personalidade à personagem, e mesmo sem química nenhuma com Joaquin Phoenix consegue trazer sensualidade e um sofisticação cool ao filme.

Por sua vez, Phoenix, que interpreta Napoleão, não tem uma atuação inspirada. Embora a apatia e crescente tédio que Napoleão apresenta seja parte da construção do personagem, espera-se mais de um ator do nível dele ao encarnar alguém real e tão complexo e estudado.

E nesse quesito o enredo atrapalha mais uma vez. A relação amorosa de Napoleão e Josephine concentra toda humanização do personagem principal, e com contornos freudianos, também relacionado a sua mãe. O problema é que não foi suficiente. Perdeu-se muito tempo na (in) fidelidade de Josephine.

Para quem gosta de filmes guerra e épicos, o entretenimento está mais que garantido. Um realismo sangrento com guilhotinas e canhões muito bem executado. Direção, fotografia, trilha sonora, edição e figurino entregaram tudo o que faltou nos outros quesitos. Mas o filme merecia mais.

A parte historiográfica peca em alguns detalhes, principalmente quando deixa a política em segundo plano, mas isso não é exatamente um problema, é uma decisão artística do diretor.

Quem diz que o filme é ruim não leva em consideração a destreza visual da equipe de Scott e a grandeza das locações.

Mas o filme merecia mais.

 

Confira o trailer do filme:

 

 

Pneus na Barão de Miracema ateiam fogo ao debate das ciclofaixas

 

Por Igor Franco, Christiano Abreu Barbosa, Luciana Portinho, José Renato Duarte, Amyr Moussallem, Felipe Drumond, José Alves de Azevedo Neto, Edmundo Siqueira, Renato Siqueira, Humberto Nobre, Wladimir Garotinho, Robson Lessa e Aluysio Abreu Barbosa

 

Em protesto contra as novas ciclofaixas, comerciantes incendiaram pneus e fecharam a rua Barão de Miracema na tarde de ontem (Foto: Redes sociais)

Considerado entre os mais conceituados de Campos, o blog Opiniões e o programa Folha no Ar comungam um mesmo grupo de WhatsApp. Que, pela diversidade de pensamento e atividades dos seus integrantes, reflete a diversidade da sociedade goitacá. Nele, o especialista em finanças Igor Franco levantou a bola do assunto que tem dominado e dividido muitas rodas de conversa: a instalação de novas ciclofaixas, mais largas, pelo governo Wladimir Garotinho (PP), nas ruas centrais asfaltadas em parceria com o governo estadual Cláudio Castro (PL).

— Tento me segurar para falar, mas realmente é difícil não ficar abismado com essas intervenções. A ciclofaixa da Barão da Lagoa Dourada tem a largura maior que um veículo. Devem caber três ciclistas emparelhados. A faixa da direita da pista tem uma largura menor que a ciclofaixa e a pintura semelhante a outras faixas de estacionamento de ruas próximas, causando uma confusão dos diabos nos motoristas — disse Igor, antes de dar exemplos para tentar fundamentar seus questionamentos:

— A escola infantil Vivendo e Aprendendo também perdeu a sua faixa de estacionamento. Os negócios que possuem estacionamento próprio também foram rasgados pela ciclofaixa. O fluxo de ciclistas é mínimo e as vagas foram totalmente abolidas da rua, inclusive ao lado do Hospital Álvaro Alvim. Gostaria de saber qual foi o embasamento de estudos que amparou a definição da ciclofaixa nessas ruas, especificamente. E também qual foi a medida para se definir a largura. O que a PMCG pretende fazer com os negócios e instituições que foram afetados pelas mudanças drásticas no trânsito. É um completo disparate. Às vezes parece que a oposição colocou no departamento de trânsito de Campos alguém para sabotar o governo.

Curiosamente, o contraditório a Igor foi feito por alguém no grupo que sempre ecoa seu mesmo pensamento liberal na economia. Só que o empresário e blogueiro Christiano Abreu Barbosa, diretor do Grupo Folha, é também ciclista em seus treinamentos quase diários como atleta amador ranqueado internacionalmente em triátlon. Onde seu calo doeu:

— Países desenvolvidos e com bom IDH estimulam o uso de bicicletas como meio de transporte, alguns deles sendo referências em mobilidade urbana como Dinamarca e Holanda. Qualquer medida que privilegie bicicletas em detrimento de carros tem o meu total apoio. Campos é uma cidade plana, que historicamente tem largo uso de bicicletas, especialmente no deslocamento ao trabalho, muito pelas classes menos favorecidas, que até bem pouco tempo só tinham a avenida 28 de Março para um deslocamento seguro. Basta ver o fluxo de ciclistas nos horários de entrada e saída do trabalho na 28 de Março, em Guarus, entre Ururaí e Campos, ou em outros trechos da BR-101.

Como Igor, Christiano foi além. E creditou à reclamação dos motoristas e comerciantes a um comodismo desnecessário:

— No trânsito, boa parte dos carros tem somente o motorista dentro. Não raro, para deslocamentos pequenos, que poderiam ser facilmente cobertos a pé. Com relação aos ciclistas que transitam entre os carros, as ciclofaixas evitam exatamente isto. Eventualmente terão que fazer retornos fora da ciclofaixa. Há também um grande desconhecimento por parte dos motoristas das regras de trânsito. Bicicletas que andam acima de 20 km/h não podem transitar em ciclofaixas; têm que andar na pista. Se houver acostamento, no acostamento. Se não houver, na pista mesmo. O carro deve guardar uma distância lateral de 1,5m, prevista pelo Código de Trânsito. A bicicleta é um veículo de transporte. Costumamos olhar sempre para o nosso umbigo, para o que nos atinge. No caso, para o que atinge o nosso meio de locomoção. Felizmente o carro não é a única opção. Temos uma legião de ciclistas, a trabalho e a lazer, que também tem o seu lugar ao sol. E há como conviver de forma harmônica.

 

Debatedores Igor Franco, Christiano Abreu Barbosa, Luciana Portinho, José Renato Duarte, Amyr Moussallem, Felipe Drumond, José Alves de Azevedo Neto, Edmundo Siqueira, Renato Siqueira, Humberto Nobre, Wladimir Garotinho e Robson Lessa (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Se já estava quente na quarta (29), quando se iniciou entre Igor e Christiano, o debate se incendiou literalmente na tarde de sexta (1º). Quando comerciantes da rua Barão de Miracema atearam fogo a pneus e interditaram a via pública para protestarem contra as novas ciclofaixas:

— Retrato de um dos tipos de comerciantes da área nobre de Campos. Brasil ililililil! Amanhã, os vizinhos que não foram consultados irão cobrar pelo prejuízo das pinturas das suas fachadas — satirizou o protesto a professora Luciana Portinho.

— Vão quebrar todos os pequenos e médios comerciantes onde (as ciclofaixas) foram implantadas. Sugiro aos que planejaram esses espaços, que apresentem o quantitativo de ciclistas que utilizam, por cada hora. Tem local que não passam nem 10 usuários. Há uma gigantesca desproporcionalidade. Os comerciantes destas áreas vão pagar o pato e cada vez mais os informais dos bairros se fortaleceram. Para toda a ação há uma reação — justificou o servidor municipal e advogado José Renato Duarte.

— Vamos ser sinceros, os verdadeiros usuários dessas faixas são os próprios comerciantes e moradores da região que não tem garagem para guardar os carros. Sempre foi assim, raras são as vezes que alguém, diferente desses, consegue parar o carro nessas vagas. Vamos parar com essa hipocrisia. Outro ponto importante é tentar diminuir o fluxo de carros circulando, diminuindo diversas mazelas causadas pelo excesso de veículos e, ao menos, estimular o uso de outros meios de locomoção, tanto bicicletas normais como as elétricas — pontuou o advogado Amyr Moussallem.

— Com todo o respeito, mas não me parece que isso seja argumento procedente para política pública de transporte. A ausência de vagas tem sido sentida por diversos usuários. Além disso, vamos agora estreitar as ruas para diminuir uso de carros? É sério isso? Vamos deixar o trânsito mais caótico como solução? — questionou o advogado Felipe Drumond.

— As faixas estão democratizando o espaço público na nossa cidade, além de humanizá-lo. Excelente iniciativa do prefeito Wladimir. Ouvimos com frequência na nossa cidade da boca de empresários, comerciantes e outros empreendedores, que Curitiba é modelo de cidade no trânsito. Agora, o prefeito tenta oferecer uma alternativa de convivência mais humana no trânsito de Campos e assistimos esses atos de vandalismo. É inaceitável esse comportamento de uma minoria de comerciantes. Querem que Campos continue sendo a vanguarda do atraso — sentenciou o economista José Alves de Azevedo Neto.

— Após minha publicação sobre o assunto das ciclofaixas, recebi essa informação de um representante da Prefeitura: “Sem qualquer tipo de acirramento, gostaria de contribuir com uma informação. As ciclofaixas estão previstas no Plano Municipal de Mobilidade Urbana, Lei Municipal nº 9137/2022, e foram realizadas audiências públicas sobre o mesmo na Câmara de Vereadores no ano passado. A ação de implantação acontece agora, mas já esteva prevista desde 2021, quando o plano foi elaborado e passou por contribuições da sociedade civil e dos vereadores” — informou o servidor federal, jornalista e blogueiro Edmundo Siqueira.

— De todos os que opinaram, quantos participaram das reuniões e das audiências públicas de elaboração e conclusão do Plano de Mobilidade? — cobrou o arquiteto urbanista Renato Siqueira.

—  Se a implantação de ciclovias em diversos países “avançados” não servir de exemplo, realmente não sei o que serve. Talvez aqui em Campos seja tudo ao contrário — lamentou o advogado Humberto Nobre.

— As ruas e os espaços públicos não são garagem e pertencem a todos os cidadãos (…) Pelo bem da cidade, não vamos recuar no plano de mobilidade urbana que Campos precisa para melhorar a qualidade de vida do nosso povo”, disse o prefeito Wladimir Garotinho através das redes sociais — atualizou a matéria do protesto o jornalista Éder Souza, editor do Folha1.

— Ando de carro e de bike pela cidade e penso que está melhor (com as novas ciclofaixas). A única dificuldade vai ser a população respeitar. O fato é que isso veio para ficar. As pessoas vão ter que se acostumar. Cada um tem o direito de gostar e não gostar. Sair da zona de conforto não é fácil. Todos dizem que Campos é uma cidade de tradição ciclística. Chegou a hora de provar. Sou adepto da bike e estou gostando! — testemunhou o publicitário Robson Lessa.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Felipe Fernandes — Napoleão naufraga em sua condução

 

 

 

Felipe Fernandes, filmmaker publicitário e crítico de cinema

Por Felipe Fernandes

 

Estrategista, conquistador, cônsul, imperador. Napoleão Bonaparte é uma das figuras históricas mais famosas, mas é como general que ele é constantemente lembrado, muito por suas estratégias e vitórias, que o fizeram posteriormente Imperador da França. O cinema é responsável por parte dessa fama. São vários os filmes que direta ou indiretamente abordam a vida de Napoleão, passando inclusive por uma lendária produção que Stanley Kubrick nunca conseguiu tirar do papel.

Agora, chega aos cinemas Napoleão, cinebiografia do líder francês, dirigido por Ridley Scott e que traz o vencedor do Oscar Joaquin Phoenix encarnando o protagonista, em um longa grandioso, que busca um olhar diferente para o personagem e abordar diversos segmentos de sua intensa e controversa história.

O roteiro de David Scarpa traz um recorte de Napoleão planejando sua ofensiva contra o cerco inglês em Toulon, vitória que lhe rendeu o título de general, até o fim de sua vida no exílio. Cronologicamente não é muito tempo, mas dada a intensidade de sua história, o roteiro tenta lidar com muita coisa, usando como foco principal a relação de Bonaparte com sua primeira esposa, Josephine.

Utilizando como base as cartas do protagonista para a Imperatriz, o longa busca construir o personagem por meio de sua intimidade com sua esposa, uma proposta até ousada, mas que não funciona. A química entre Joaquin Phoenix e Vanessa Kirby não existe e o longa dispensa muito de seu tempo em um romance conturbado, que não cativa e não agrega muito à história, deixando em segundo plano questões políticas e até mesmo militares, espaço onde Napoleão fez sua fama.

Quando não se utiliza de cartelas para estabelecer seu contexto e período histórico, uma escolha preguiçosa e pouco elegante, o filme faz uso de diálogos expositivos para estabelecer a questão temporal. Nesse sentido, o filme é realmente uma bagunça. A montagem é problemática, algumas cenas parecem jogadas e passam a sensação de terem sido cortadas ao meio. Essa sensação é muito forte nas cenas no Egito, um período muito mal explorado pelo filme.

Ridley Scott já anunciou uma versão de 4 horas que vai sair direto no streaming da Apple. Uma decisão recorrente na carreira do diretor, mas que ao ser anunciada na mesmo na época de seu lançamento nos cinemas, certamente vai prejudicar a bilheteria do próprio filme e principalmente, vai contra todo o movimento que Hollywood vêm fazendo para que o público retorne aos cinemas. Talvez essa “versão do diretor” corrija muito dos problemas de montagem do longa e consiga abordar melhor questões que ficaram em segundo plano no corte para os cinemas,

A fotografia do polonês Dariusz Wolski (parceiro habitual de Scott) traz várias cenas bem escuras e trabalha cores saturadas, tirando a vivacidade e criando um aspecto desgastado que é eficiente em ressaltar a miséria do período, mas se torna esteticamente pobre. O design de produção é muito rico, repleto de detalhes que reproduzem de forma impressionante a época retratada.

O filme retrata cinco batalhas, que englobam o período histórico abordado dentro da narrativa. As cenas, apesar de serem razoavelmente curtas (com exceção do clímax), são o ponto alto da produção. A primeira delas traz inclusive um Napoleão inseguro, nervoso, uma escolha interessante que humaniza o personagem e contrasta com a imagem prévia que o espectador têm de um comandante seguro e implacável. Ao contrário do restante do longa, as batalhas são intensas e surpreendentemente violentas. Com um bom ritmo e bem dirigidas, as sequências no campo de batalha acabam por se provar um pouco do que poderia ter sido o longa.

Napoleão de Ridley Scott é uma cinebiografia que peca por sua abordagem, não conseguindo construir um personagem complexo e interessante, fugindo dos principais temas da história do protagonista. Ao usar a relação do protagonista com a Imperatriz como base, o filme busca um olhar diferente sobre uma figura conhecida, uma decisão que faz sentido, mas que naufraga em sua condução.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Confira o trailer do filme:

 

 

Subjetivo e objetivo na ação da PF na casa dos Garotinho

 

Rosinha e Garotinho após operação da PF de terça na casa mais famosa da Lapa (Montagem: Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

 

PF na casa da Lapa

O dia de ontem amanheceu movimentado em Campos (confira aqui e aqui) com a operação Rebote, da Polícia Federal (PF), na casa mais famosa da Lapa. O motivo foi uma suposta fraude na PreviCampos em 2016, durante o governo da ex-prefeita Rosinha Garotinho (hoje, União), que teria deixado um rombo de cerca de R$ 383 milhões. Ao todo, foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão, 12 deles em Campos, a casa de Rosinha entre eles. Não foi a primeira operação policial em Campos relativa ao caso. Em 12 de abril de 2018, na operação Encilhamento, a PF já tinha cumprido (relembre aqui) mandado de busca e apreensão na sede da PreviCampos.

 

Garotinho e Rosinha em live

Após a saída da PF da casa da Lapa, o ex-governador Anthony Garotinho (União) e Rosinha gravaram lá uma live, divulgada em suas redes sociais. “Houve hoje, em nossa residência, um mandado de busca e apreensão, cujo objetivo era recolher algum tipo de documento, qualquer tipo de prova que tentasse envolver Rosinha numa apuração” disse Garotinho. Para perguntar e responder a si mesmo: “Quem é o autor dessa denúncia, feita em 2017? É o ex-prefeito Rafael Diniz (Cidadania). E qual denúncia ele fez: houve uma fraude, um rombo, no Fundo de Previdência (dos Servidores Municipais de Campos, PreviCampos)”.

 

 

Versão da defesa

Depois, Garotinho passou a questionar na live a suposta responsabilização jurídica de Rosinha nos fatos. Mas isso se explica melhor no que o advogado Rafael Faria disse em defesa da ex-prefeita: “Os supostos fatos que ‘justificaramֹ’ a busca e apreensão na casa de Rosinha teriam ocorridos cerca de 10 anos atrás. A única explicação ao que aconteceu na Lapa foi criar um constrangimento à família, pois o fato é completamente atemporal. Não queremos acreditar que seja retaliação ou intimidação política. A única questão imputada à ex-prefeita é ela ter indicado pessoas sem qualificação técnica para a diretoria e o conselho da PreviCampos”.

 

Rafael Diniz como Geni

De volta à live, Rosinha aproveita a deixa de Garotinho: “E logo quem que fez a denúncia? Um ex-prefeito que desmoralizou a cidade, foi o pior prefeito que Campos teve, que deixou pagamentos atrasados, o senhor Rafael Diniz”, disse a ex-prefeita. É fato que Rafael deixou ao governo Wladimir (hoje, PL), filho de Rosinha e Garotinho, duas folhas de pagamento do servidor atrasadas. E que, ao juízo soberano do mesmo eleitor que elegeu Rafael à Prefeitura de Campos em 2016, ainda no 1º turno, com 151.462 votos, ele foi um prefeito ruim. Na tentativa de se reeleger em 2020, teve só 13.530 votos. Perdeu em quatro anos quase 138 mil votos.

 

O que é subjetivo e objetivo?

Dizer que Rafael foi o pior prefeito de Campos é, no entanto, subjetivo. Aos Garotinhos, esse posto sempre foi ocupado pelo prefeito que sucederam, mesmo os que ajudaram a eleger: Sérgio Mendes, Arnaldo Vianna, Alexandre Mocaiber. Ademais, por pior prefeito que Rafael tenha sido, isso não invalida sua denúncia. Questionar a responsabilidade de Rosinha, também subjetiva, é válido. O que não dá para negar é a perda objetiva, no apagar das luzes do governo dela, dos investimentos da PreviCampos. Que, em 31 de dezembro de 2015, tinha investimentos de R$ 1,3 bilhão. E despencou, em 31 de dezembro de 2016, a R$ 804 milhões.

 

(Arte: IFF)

 

Stefania Chiarelli, professora da UFF-Niterói

Década de Letras no IFF

Aberta no dia 7, a programação pelos 10 anos do curso de Letras do IFF traz hoje a palestra “Partilhar a língua: apontamentos sobre a literatura brasileira contemporânea”, da professora Stefania Chiarelli, da UFF. Começa às 19h, no auditório Miguel Ramalho. “Abordará a produção literária do Brasil nos últimos tempos, com uma perspectiva crítica a todos os interessados nas questões literárias”, definiu o professor Ronaldo Freitas, coordenador do curso de Letras do IFF. Cujas comemorações se encerram amanhã, com a mesa “Essa história é só o começo: Apontamentos e desafios para o profissional de Letras 10 anos depois”, a partir das 18h.

 

Canudos da Folha à Harvard

Em 2002, após expedição a Canudos, no sertão da Bahia, a Folha publicou um caderno especial sobre os 100 anos de “Os Sertões”. A obra de Euclides da Cunha narra a Guerra de Canudos (1896/1897), testemunhada por ele. Um dos personagens do caderno foi o sertanejo Paullo de Régis, então com 14 anos, descendente dos personagens do livro e residente do Parque Histórico de Canudos. Hoje, aos 35, ele lá trabalha. E teve sua história e do seu povo também contada este mês pela Universidade de Harvard, dos EUA, em publicação sobre a América Latina. O texto (confira aqui) é da brasileira Anita Rivera Guerra, doutoranda em Português e Espanhol em Harvard.

 

Arte da baixaria

Um artista veterano da cidade se torna parceiro de um artista jovem de município vizinho, após este convidar aquele a participar de um show. O jovem leva de “paga” do veterano uma boquinha na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL). Até que o jovem alega que a “parceria artística” foi longe demais. E, com receio de perder a boca, abre a sua: a ex-esposa teria sido assediada pelo veterano dentro do Palácio da Cultura. Mesmo antes deste ser reaberto ao respeitável público. Como arte nem sempre rima com caráter, não há certeza. Só duas. Além da tremenda baixaria, que a FCJOL precisa ter mais critério com quem emprega sem concurso.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.

 

Em Campos, Napoleão de Ridley Scott entre arte e entretenimento

 

 

“Se eles são famosos, sou Napoleão”. É um conhecido verso da música “Balada do Louco”, composta por Arnaldo Baptista e Rita Lee, na época dos Mutantes. Interessante registrar que a fama de Napoleão Bonaparte ainda seja tão forte e controversa, 208 anos após sua derrota militar definitiva na Batalha de Waterloo, em 1815. E que seu nome seja sempre mais lembrado como general do que como o cônsul da França, depois Imperador, que legou ao mundo os Códigos Napoleônicos, presentes ao cotidiano de todos como base do Direito Civil.

Ainda que a primeira exibição de cinema tenha se dado, pelos irmãos Louis e Auguste Lumiére, na França de 1895, só 74 anos após a morte de Napoleão exilado na ilha britânica de Santa Helena, a sétima arte também investiu desde sempre para ampliar a fama militar do vulto histórico. Foi assim desde o clássico do cinema mudo “Napoleón” (1927), dirigido pelo francês Abel Gance, com 5h21 de duração. E continua assim nas 2h38 do “Napoleão” dirigido pelo inglês Ridley Scott. Que estrou nas telas de Campos e do Brasil na última quinta (23).

Se, com 81 anos completos no último dia 17, o cineasta ítalo-estadunidense Martin Scorsese impressionou pela excelência técnica do seu filme mais recente, “Assassinos da Lua das Flores”, Ridley Scott também impressiona pelo domínio do fazer cinema que ainda exibe aos 85 anos — 86 daqui a cinco dias. Não é o ator estadunidense Joachin Phoenix, que interpreta um Napoleão inseguro e com quem Scott já havia trabalhado em “Gladiador” (2000), o grande protagonista do filme. É o seu diretor, estrategista tão meticuloso quanto a personagem.

As cenas de batalha, no cerco à cidade francesa de Toulon dominada pelos britânicos, nas campanhas napoleônicas do Egito e da Rússia, ou nas batalhas de Waterloo e de Austerlitz, são todas feitas para serem assistidas em tela grande. Mas, mesmo a quem é capaz de reduzir toda a artesania do cinema a uma tela de smartphone — onde trabalhos como a esmerada direção de fotografia do polonês Dariusz Wolski simplesmente desaparecem —, o efeito deve ser o mesmo: olhos vidrados à imagem enquanto o corpo cola à poltrona.

Sequência mais eletrizante do filme, as cenas finais da batalha de Austerlitz, com os soldados austríacos e russos conduzidos como ratos pela tática felina de Napoleão, até afundarem em meio ao fluxo de sangue na água de um lago congelado e liquefeito pelo canhoneio francês, não devem nada às cenas iniciais de “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), de Steven Spielberg. Que retrata o desembarque aliado na praia de Omaha, na Normandia do Dia D, dominada por nazistas nas casamatas de 1944 elevadas como a artilharia francesa de 1805.

Para tentar humanizar a personagem para além das cenas épicas em que Scott sempre foi mestre, o roteiro do estadunidense David Scarpa — que também trabalha com o diretor inglês em “Gladiador 2”, em fase adiantada de produção — investe na relação de Napoleão com a sua primeira esposa e imperatriz, Josephine. Que está muito bem, obrigada, na pele da atriz britânica Vanessa Kirby, mais conhecida no Brasil pelo papel da princesa Margareth jovem na popular série The Crown, da Netflix.

A relação infiel, abusiva, complexa e intensa de Napoleão e Josephine, de mão dupla entre os papéis de dominador e dominado, é uma marcha lenta engatada entre a vertigem das cenas de batalha. Mas também pode ser considerada um anticlímax à especialidade de Scott. É uma aposta. Como foi no passado a do diretor alemão radicado nos EUA Henry Coster em “Desirée, o Amor de Napoleão” (1954), com a atriz inglesa Jean Simmons no papel título, trocada pela frívola aristocrata Josephine (Merle Oberon) por um Napoleão vivido por Marlon Brando.

O Napoleão de Phoenix, sempre oscilando entre a grandeza e a insegurança, lembra mais a composição que outro grande ator estadunidense do passado, Rod Steiger, deu à mesma personagem no filme “Waterloo” (1970). Que, dirigido pelo soviético (hoje, seria ucraniano) Sergei Bondarchuk, é ainda o melhor filme para se conhecer a batalha final do Imperador da França de ascendência italiana, nascido na ilha mediterrânea da Córsega.

Quem julga filme dublado um aborto e cinema uma expressão de arte, irá encontrá-la no “Napoleão” de Ridley Scott. Mesmo aquele que, conhecendo o todo da sua obra, continue a considerar seu primeiro filme, “Os Duelistas” (1977), o melhor que ele já produziu sobre as guerras napoleônicas. Quem julga cinema só como entretenimento e prefere filme dublado, mesmo sem ser analfabeto, também pode gostar. Essa conexão com os dois tipos de espectador talvez seja a grande virtude do diretor.

Na França de hoje, 202 anos após a morte de Napoleão, o jornal Le Figaro disse que “Napoleão” poderia ser renomeado como “Barbie e Ken sob o Império”. Enquanto um biógrafo de Bonaparte, Patrice Gueniffey, disse à revista Le Point que o filme é uma versão “muito anti-francesa e muito pró-britânica” da história. O que não deixa de se acentuar pelo final do épico dirigido por um britânico, onde a cifra de 3 milhões de mortos das guerras napoleônicas é o “The End”. “Os franceses não gostam nem de si mesmos”, respondeu Scott às críticas.

Que venha “Gladiador 2”!

 

Capa da Folha Dois de hoje

 

 

Confira o trailer do filme:

 

 

Da América do Sul ao mundo, não há coincidência no futebol

 

Em escanteio gerado após a zaga brasileira rebater a única conclusão a gol de Messi no Maracanã de terça, o zagueiro Otamendi ganha o lance pelo alto de André e Gabriel Guimarães para selar a terceira derrota do Brasil seguida nas Eliminatórias da América do Sul à Copa do Mundo, marca inédita em 69 anos

Histórico é um adjetivo muitas vezes usado de maneira fútil. Não raro por quem supõe, justamente por ignorar a História, que esta só passou a existir a partir do seu próprio nascimento ou sua suposta tomada de consciência de determinado assunto.

O futebol é um assunto que sempre envolverá paixão. Vale a ele, mais que talvez a qualquer outro esporte, a ressalva do romântico dos EUA Edgar Alan Poe à poesia: “Se não emocionar, não é nada”. Lógico que a poesia também tem que ser muito mais. Como o futebol.

O Brasil disputa as Eliminatórias da América do Sul à Copa do Mundo desde a de 1954, na Suíça. E, 69 anos depois, nunca tinha perdido nenhum jogo para a Colômbia, nenhum jogo dentro de casa e nunca duas vezes seguidas. Tudo isso caiu em 2023. Quando, depois da terça (21) contra a Argentina, no Maracanã, o “melhor futebol do mundo” contabilizou sua inédita terceira derrota seguida no quintal do próprio continente.

Essas marcas não foram feitas ou perdidas, nem seu vazio ainda mais alargado, por obra do acaso. Nada que se mantém por 69 anos, para virar fumaça em apenas 39 dias, é aleatório.

Antes de ampliar sua série de três derrotas nas Eliminatórias, o Brasil já tinha perdido por contusão seus dois principais jogadores: Neymar e Vini Jr. O primeiro, no 0 a 2 Uruguai de 17 de outubro; o segundo, no 1 a 2 Colômbia de 16 de novembro.

Neymar e Vini Jr. são atacantes. Mas não centroavantes. Escalado na posição por Fernando Diniz contra a Argentina, Gabriel Jesus pareceu atrasado ao admitir após a derrota: “Gol não é meu ponto forte”. Quem o viu escalado por Tite como centroavante titular em todos os cinco jogos do Brasil na Copa do Mundo de 2018, na Rússia, sem marcar um gol sequer, já sabia disso há cinco anos.

A verdade é que desde a aposentadoria de Ronaldo Fenômeno, em 2011, o Brasil não tem um centroavante que inspire confiança. Se tivesse contra a Argentina, teria vencido o jogo em que criou as duas chances mais claras de gol, mas não teve competência para definir.

Antes da Copa do Mundo de futebol ser criada, no Uruguai de 1930, o Brasil teve sua primeira grande conquista internacional no Sul-Americano de Futebol que sediou em 1919. Que teve como craque e artilheiro Arthur Friendereich, apelidado ali de “El Tigre”, com 4 gols.

Na Copa do Mundo de 1938, na França, o Brasil ficou em 3º lugar e deu o artilheiro da competição: Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, com 8 gols. Com a Copa do Mundo interrompida durante a II Guerra (1939/1945), coube ao centroavante Heleno de Freitas, o “Gilda”, ser o artilheiro do Sul-Americano de 1945, com 6 gols.

Com a volta da Copa do Mundo em 1950, o Brasil a sediou e perdeu a final para o Uruguai, de virada, por 1 a 2, dentro do Maracanã. Ainda assim, voltou a dar o artilheiro da competição: o centroavante Ademir Menezes, o “Queixada”, com 9 gols.

Nas Copas do Mundo de 1958 e 1962, no Bicampeonato do Brasil na Suécia e no Chile, o centroavante Vavá, o “Peito de Aço”, ficou atrás do francês Just Fontaine e de Pelé na artilharia da primeira. E empatado com Mané Garrincha e outros como goleador da segunda. Nas duas, Vavá marcou 9 gols.

No Tri do Brasil em 1970, no México, embora não fosse propriamente um centroavante e tenha ficado atrás do alemão Gerd Müller na artilharia, Jairzinho marcou 7 gols. O “Furacão” é, até hoje, o único jogador a ter marcado gols em todos os jogos de uma Copa do Mundo.

Na Copa do Mundo de 1978, na Argentina, o centroavante Roberto Dinamite ficou atrás do argentino Mario Kempes e de outros na artilharia, mas marcou 3 gols. Na Copa do Mundo de 1982, Zico nunca foi centroavante e ficou atrás do italiano Paolo Rossi e do alemão Karl-Heinz Rummenigge como artilheiro. Mas o “Galinho” fez o grito de gol cantar 4 vezes na garganta.

Nas Copas do Mundo de 1986 e 1990, respectivamente, no México e na Itália, o centroavante Careca ficou atrás do inglês Gary Lineker na primeira, e do italiano Totò Schillaci e de outros na segunda. Mas o brasileiro anotou nas duas 7 gols.

Na Copa de 1994, nos EUA, o centroavante Romário não foi o maior goleador, como disse que seria. Ficou atrás do búlgaro Hristo Stoichkov e do russo Oleg Salenko, e empatado com alguns outros na artilharia. Mas os 5 gols do “Baixinho” foram fundamentais para que ele cumprisse outras promessas mais importantes: ser campeão e craque daquele Mundial.

Do momento em que Friendereich marcou seu nome em 1919, ao que Ronaldo pendurou as chuteiras em 2011, foram 92 anos em que o Brasil produziu, sempre com renovação, alguns dos maiores artilheiros da história do futebol. Em dimensão continental e mundial. Não de campeonatos cariocas, paulistas ou brasileiros. Como este Brasileirão, que tem no veterano Luisito Suárez, do Internacional, seu melhor centroavante. E, hoje, é só banco do Uruguai.

Do plano coletivo ao individual, é autoexplicativa a decadência do futebol brasileiro. Que, ainda assim, jogou melhor que a Argentina na terça. O que pôde ser constatado até por quem estava lá para testemunhar Lionel Messi em seu último jogo oficial no Maracanã.

O único oito vezes Bola de Ouro como melhor jogador da Terra não reeditou a poesia da Copa do Mundo que conquistou em 2022, no Qatar, à Argentina. Mas, após sua única conclusão contra a meta brasileira ser desviada pela zaga, Messi gerou a cobrança de escanteio ao gol de cabeça do zagueiro Otamendi. Que fechou o placar e ampliou à História a escrita do Brasil.

Da América do Sul ao mundo, nunca houve coincidência no futebol.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã.