Porque a mídia tradicional triunfa também na virtual
Do muito de lixo que se recebe por e-mail, como tudo mais na internet, volta e meia aparece também alguma coisa boa. Foi o caso de mensagem recebida no dia 1º, com o link de um texto postado no último dia dia 19, no site do Diário do Vale, jornal regional impresso há 18 anos em Volta Redonda. Trata-se da transcrição de uma palestra pertinente e embasada, proferida pelo jornalista Aurélio Paiva, historiografando a perda de conceito e representatividade dos blogs pessoais diante dos meios tradicionais de comunicação, inclusive nas investidas destes pela mídia virtual.
Levado em consideração o grande sucesso não só da Folha Online, como dos (por enquanto) 41 blogs por ela hospedados, a linha de raciocínio do jornalista, por universal e fática, pode ser comprovada tanto no Sul Fluminense do Diário do Vale, quanto aqui, no Norte do Estado, pela qual circula a Folha.
Até por seu didatismo, vale muito a pena conferir texto, com destaques por conta do blog…
*Aurélio Paiva
Estamos no meio de uma revolução sem precedentes no que concerne à troca de informações: a revolução da Internet. Nunca, em toda a história da humanidade, a informação correu o mundo com tamanha velocidade e com tal volume de dados. Nunca tantas pessoas puderam falar com outras tantas ao mesmo tempo. Jamais qualquer ser humano foi bombardeado com tal quantidade de coisas boas e ruins, estudos científicos e pornografia, elogios e difamações, mensagens de amor e ódio, fatos e boatos, originalidade e plágio,verdades e mentiras.
Eis os dois lados desta revolução. Pelo lado bom, expande-se a possibilidade do conhecimento e o acesso das informações a um limite inimaginável e dá voz a cada cidadão que queira manifestar sua opinião sobre um fato. Pelo lado ruim, a Internet também funciona como uma rede de esgotos capaz de difundir o que existe de mais alcoviteiro e mesquinho na índole humana. Como diria George Lucas, é o lado negro da força.
O papel dos blogs
Tanto o lado bom quanto o lado ruim se desenvolveram especialmente a partir da experiência com os blogs. Os blogs nasceram já quase no ano 2000, inicialmente como diários pessoais de quem narrava o seu cotidiano. Daí a característica dos blogs de terem uma ordem cronológica em que as postagens mais novas aparecem em primeiro lugar.
Até então existiam sites de jornais e outros meios tradicionais de comunicação, mas a Internet não era ainda um veículo de massas.
Os blogs, então, começaram a deixar de ser diários pessoais para transmitir informações e, principalmente, opiniões sobre vários temas.
A estrutura dos blogs foi uma revolução em duas medidas.
Primeiro, criar um blog era fácil. Não exigia os conhecimentos de informática necessários à época para criar um site.
Sua arquitetura era entregue pronta e de graça a quem quisesse editar artigos e matérias sobre qualquer tema.
Qualquer um podia ser editor.
Segundo, os blogs, em sua maioria, permitiam a seus leitores que comentassem os artigos e informações. Esta interatividade era uma novidade em uma época em que os jornais restringiam os comentários a e-mails enviados à Redação, que seriam selecionados para publicação na seção de cartas de sua versão impressa.
A moda pegou. Nos primeiros anos da década anterior, ter um blog virou sinal de status. Ninguém poderia ser considerado “descolado” ou moderno se não tivesse um blog. E, na verdade, lia-se muita coisa interessante na maioria dos blogs.
Logo depois, a coisa se generalizou. Há cinco anos, o número de blogs existentes já ultrapassava os 133 milhões de livros que foram escritos em toda a história moderna da humanidade. O Google, inteligentemente, criou um sistema mundial de venda de anúncios em que qualquer pessoa ou empresa colocava seu anúncio conforme uma palavra-chave que identificava a área de interesse. Assim, o Google ia atrás da sua centena de milhões de blogs credenciados e os cercava com os mais variados anúncios publicitários. A receita do Google com venda de publicidade, só nos últimos três meses, superou 5 bilhões de dólares.
Na expectativa de ganhar uma fatia do quinhão do Google e afins, mais blogs surgiam em uma velocidade geométrica. Criou-se até um termo, Blogosfera, que dava a entender que os blogs em seu conjunto formariam uma espécie de verdade universal. Chegamos ao ápice da liberdade de expressão como fim em si mesma.
Mas, de repente, começou-se a descobrir que a coisa não era bem assim.
Os verdadeiros blogueiros, aqueles que criam os textos dos seus blogs, não viam a cor do dinheiro, já que em sua maioria tinham um volume de acesso insuficiente para garantir até as despesas pessoais.
Quem estava ganhando dinheiro com os anúncios, além do Google?
Eram trambiqueiros travestidos de blogueiros que, usando ferramentas de software, simplesmente criavam dezenas, centenas ou até mais de mil blogs que se resumiam a copiar os textos originais de outros blogs e de sites de meios tradicionais de comunicação. É a cultura do “copiar e colar” que se espalhou na Internet.
A casa mal-assombrada
Além disso, descobriu-se que a chamada Blogosfera era uma casa mal-assombrada, habitada por blogs fantasmas. Dos 133 milhões de blogs monitorados pela Technorati, 95% deles não são sequer atualizados há mais de três meses.
Porém, o mais grave é que o lado negro da força começou a tomar conta da Blogosfera. A esperada verdade universal não surgiu através delas. Ao contrário, boa parte dos blogs foi colocada a serviço da desinformação, da boataria, das notícias inventadas e, o pior, da difamação pura e simples.
Tudo isto causou uma mudança no comportamento dos usuários da Internet. Ao invés de buscar informações de qualquer fonte, os usuários passaram a buscar as fontes que tenham informação de qualidade. A buscar fontes confiáveis e credenciadas. E, curiosamente, a grande revolução acabou encontrando estas credenciais na mídia tradicional e, principalmente, nos sites dos jornais.
Hoje, cerca de 95% de todas as informações que circulam na Internet são originadas de sites de mídias tradicionais, assim como 99% das histórias contidas nos blogs. Mais de 80% dos links de todos os blogs apontam para sites de jornais. As redes sociais (Facebook, Orkut, Twitter) têm metade dos seus links direcionados aos sites dos jornais nos EUA (número certamente bem maior no Brasil).
Dos sites brasileiros mais acessados, o primeiro é o UOL, ligado ao jornal “Folha de São Paulo”, e o segundo é o Globo.com, do jornal “O Globo”.
No Sul Fluminense, o site do Diário do Vale tem um número de acessos superior à soma de todos os blogs da região e dos sites e portais de todos os outros jornais, rádios e televisões locais, juntos. Nenhum site sequer se aproxima de 20% do volume de acessos do Diário do Vale.
O Diário do Vale teve, nos últimos 30 dias, mais de 600 mil visitas (mais que toda a população do Vale do Paraíba fluminense) e mais de 3 milhões de páginas vistas. O número de visitantes únicos – pessoas que acessaram de um único computador – foi de 250 mil, o que supera toda a população de Volta Redonda.
Estes números representam um crescimento superior a 100% em 24 meses, com um detalhe: a edição impressa não teve queda de circulação, ao contrário, obteve crescimento de 20%.
O público está descobrindo que o que importa é o conteúdo. E, em conteúdo, os jornais são imbatíveis. Não interessa se este conteúdo vai circular em papel ou através de quatrilhões de elétrons correndo à velocidade da luz. Se vai estar no celular ou em um iPad. Informação de qualidade e de credibilidade é e será uma exigência cada vez maior do público.
O importante é que o jornal está oferecendo novos canais para as empresas e o mercado publicitário se comunicarem a seus clientes. Em muitos casos, a edição impressa é melhor alternativa. Em outros, a versão on line se adapta melhor. E, claro, há outros meios, como rádio, TV, etc, a serem utilizados – cada um na sua seara.
E quanto ao nosso bom e velho amigo, o jornal de papel?
O papel pode não ter a agilidade da cobertura on line, mas ainda oferece maior espaço para análises, leitura contemplativa, reflexão e vai continuar sendo opção de pessoas que se enquadram nestes conceitos. Pessoas que fazem da leitura um momento de contemplação e reflexão.
Além disso, convenhamos, tudo o que estão criando – aparelhos (gadgets) como o iPad e outros tablets – no fundo são uma tentativa de se aproximar do que o papel oferece de melhor. No caso do jornal em papel, você não precisa ligar, a bateria não descarrega, não emite luz cansativa nos seus olhos, não tem mouse, você não precisa apertar a tela, pode ser dobrado embaixo do braço e, de tão barato o “equipamento”, depois do uso você joga fora ou dá para o peixeiro embrulhar peixe.
No fim, uma coisa é certa: o jornal estará sempre fazendo parte da nossa vida.
*(Resumo da palestra do jornalista Aurélio Paiva, no Hotel Bela Vista, no 1º Painel de Tecnologia da Informação e Mídia)