Tonico Baldan e Elza Soares comandam o Cineclube Goitacá nesta quarta

Integrado ao Cineclube Goitacá desde o ano passado, onde tem exibido curta-metragens antes das sessões principais, o incansável produtor cultural Tonico Baldan exibe amanhã, dia 9 de abril, a partir das 19h30, na sala 507 do edifício Medical Center,  o longa de documentário “Elza”, sobre as ricas vida e obra da grande cantora da MPB. Após o filme, Tonico comanda o debate, com a participação tão livre como a entrada para mais essa sessão de Cinema Verdade.

 

Poemas convertidos por leitora em blog

 

A amiga e internauta assídua Kênia Bastos, que já havia produzido aqui um belo vídeo um pouco após a morte do meu pai, tomou a iniciativa de reunir 23 poemas meus, publicados a esmo neste “Opiniões” e na democracia irrefreável das redes sociais, para organizar um blog. À Kênia, como o príncipe dinamarquês, agradeço “do coração do meu coração” por sua iniciativa, na qual não tive nenhuma participação ou conhecimento prévio. Quem quiser conferir o resultado, pode fazê-lo aqui.

Ao fim e ao cabo, vaticinou em verso o Fernando Pessoa: “Sentir? Sinta quem lê!”

Artigo do domingo — Lados riscados a partir de 1964

Blitz

 

Era um tempo sem computadores pessoais, sem internet, sem celular e ainda sem vídeo-game. Sorvete vinha em tijolo enrolado de papelão, lata de cerveja não dava para amassar com a mão, e refrigerante, até em tamanho família, só se comprava em garrafa. Sem tecer juízo de valor, mas com a apreensão de fatos importantes do mundo adulto, a partir da tela ainda preto e branco da TV, lembro da passagem da faixa presidencial do general Geisel ao Figueiredo, dos rostos tensos no atentado do Rio Centro, das caras felizes de quem chegava e recebia na repatriação da Anistia, ao som de “O bêbado e a equilibrista” entoada a plenos pulmões nos saguões de desembarque dos aeroportos. Lembro da minha mãe chorar a morte de Elis.

Lembro do meu pai contar como foi chamado para depor na sede do I Exército, no Rio de Janeiro, por conta de uma entrevista, que ele felizmente gravou e levou a fita, com o então senador de oposição Roberto Saturnino. Lembro do seu tom de voz mais grave e cenho franzido ao narrar o caso de uma colega de redação no Jornal do Brasil, bonita, jovem e cheia de vida, que numa sessão de tortura teve um mamilo e a alma arrancados do corpo à baioneta. Lembro das histórias que ele, homem de centro, contava sem esconder a admiração de macheza por Carlos Lamarca, o capitão da guerrilha.

Lembro que uma redação, falando do mesmo Lamarca, pela qual ganhei um concurso no primário da Escola Santo Antônio, acabou classificada para um certame estadual, mas foi posta previamente fora desta disputa por conta do tema. Lembro de me inspirar no Julinho da Adelaide, um dos pseudônimos com que Chico Buarque tentava driblar a censura, para numa criação espontânea de poesia concretista, resumir minha redação infantil em três signos: a mão indicando o LÁ, as ondas do MAR e a outra mão chamando para CÁ.

Lembro quando os discos não só existiam, como ainda eram de vinil, daquele aguardado “As aventuras da Blitz”, LP fundador do BRock, vir da Caiana do meu tio Dionísio, bem como de qualquer outra loja do país, com as últimas duas faixas do lado B riscadas pela censura. Lembro, numa discoteca na casa do Rodrigo Sodré, na garagem da sua casa no bairro então recente do Horto, que a frustração de ser novamente vítima impotente da censura só foi superada pela pena que senti da existência infeliz de quem diabos pegou um prego, faca ou chave de fenda que o valha, para riscar tão cirurgicamente as mesmas duas faixas de uma montanha de discos já impressos.

Lembro que mais do que o desejo pré-adolescente pelas meninas esperando ser tiradas para dançar, sentadas nas cadeiras de plástico coloridas no entorno daquela discoteca de garagem da minha infância, eu me dei conta do mundo que me cercava e senti medo.

Dado à luz em 1972, coberto de sangue como o governo do general Médici, nos anos de chumbo da Ditadura Militar, não alcancei o que os historiadores hoje chamam de Golpe Civil Militar de 1964, nem o seu recrudescimento a partir do Ato Institucional Nº 5, o AI-5 de 1968. Na consciência de criança e adolescente revisitada pelo adulto, vivi os dois últimos governos dos nossos generais presidentes, tensão tanto pior num mundo bi-polarizado desde a II Guerra entre EUA e União Soviética, que poderia acabar numa hecatombe nuclear assim que o primeiro pisasse a tênue linha riscada pelo pé ao chão, a partir do que a encarada virava briga nos pátios de escola ou terrenos baldios da minha infância. Mais ou menos como o ex-chefe da KGB Vladimir Putin agora brinca de “macho” com Barack Obama na Crimeia.

Putin a quem lhe pariu, sou de um tempo em que crianças de classe média ainda eram amigas das nascidas e criadas em favelas, estudavam juntas em escolas públicas como o Liceu e brincavam na comunhão ampla dos terrenos baldios hoje substituídos por prédios, casas e muros. Como brigas, por certo havia bullying, mas eram menos ditados por classe social do que pela coragem física de meninos que ainda criam que ela faria deles mais homens. Quantos pouco mais velhos do que eu era então, e um pouco antes, chegaram a dar suas vidas nessa mesma ilusão infantil?!

Hoje, quando raros são os terrenos baldios na área central de Campos, há gente aqui e mundo afora ainda sem perceber que até os muros monolíticos caem — como aquele que os soviéticos ergueram em Berlim para depois caírem com ele —, na pretensão anacrônica de uma parede capaz de separar ditaduras da burguesia e do proletariado. Como sentenciou o líder pacifista sul-africano Steve Biko, antes de ser morto a pancadas nos porões da ditadura imposta pela cor da pele no Apartheid: “Trocar um opressor branco por um negro, não vale o preço da vida de uma criança”. Nem um verde oliva, nem um vermelho, ou cor de abóbora.

Ao tentar entender o Brasil meio século por sobre os ombros, do que vi, ouvi e li, só posso agradecer por meu filho ter podido nascer, ser criança e adolescente numa democracia. Imperfeita, é verdade, mas diversa em liberdade do despotismo instalado a partir de 1964 por “militares em serviço da sombra”, como bem definiu em verso o Drummond, ou da ditadura aos moldes cubanos (e pré-bolivarianos) projetada por todos aqueles, incluindo nossa presidente Dilma, que pegaram em armas para combatê-lo.

Que nossos filhos, leitor, nunca precisem temer nenhum dos lados riscados desse mesmo disco.

 

Publicado na edição de hoje da Folha.

Cinema de verdade e livre

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A obra e a vida igualmente ricas de uma cantora de samba, o conflito entre palestinos e judeus na for-ma de animação, a história de um homem de cultura que viveu para servir à aristocracia, um resumo do século XX sob as lentes de leitura marxistas do historiador Eric Hobsbawn. Na sequência à mostra Cinema  Verdade, estas são as histórias que desfilarão suas verdades e enganos na tela do Cineclube Goitacá, com a exibição e debate dos documentários “Elza”, de Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan; “Valsa com Bashir”, de Ari Folman; “Santiago”, de João Moreira Salles; e “Nós que aqui estamos por vós esperamos”, de Marcelo Masagão. Os filmes foram escolhidos por aqueles que os apresentarão e mediarão suas discussões. Na próxima quarta, dia 9, será a vez do produtor cultural Antonio Luiz Baldan comandar o Cineclube. No dia 16 a guarda será passada ao jornalista e cineasta Alexandro Florentino.  Após o intervalo da Semana Santa, o também cineasta Carlos Alberto Bisogno assumirá a linha de frente no dia 30. Já em maio, dia 7. na primeira quarta-feira do mês, será a vez do professor Paulo César Moura. Abaixo o que cada um deles espera desse encontro para ver e discutir cinema, onde a entrada e participação de quem quiser chegar é sempre livre.

 

TunicoAntonio Luiz Baldan – Quem aprecia música já cansou de ver frustradas as expectativas nas cinebiografias de grandes astros, em ficção realista ou documentário, pela opção de diretores, produtores e roteiristas por “uma grande história de vida”, eufemismo para explorar o lado mais dramático desses cantores, deixando a música como acessório alegórico. “Elza”, de Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan, diretor campista, inverte a situação, colocando o dom artístico da cantora em primeiro plano, com leves pinceladas sobre as muitas histórias e dificuldades pessoais, como a fome e as inúmeras operações plásticas. Não se trata de uma biografia de Elza, mas uma tentativa de decifrar o dom “que aprimorou na própria vida”, como observa Paulinho da Viola. O objeto de estudo em Elza é a voz dela, com depoimentos consistentes e encontros musicais com Caetano Veloso, José Miguel Wisnik, Hermano Vianna, João de Aquino, Maria Bethânia, Ricardo Cravo Albin e Paulinho, que também canta com ela.

 

AlexandroAlexandro Florentino – Sempre é bom poder ter onde conversar sobre cinema. E com a perspectiva de que conversar e pensar cinema também é fazê-lo, a expectativa de poder apresentar um filme no Cineclube Goitacá é a melhor possível. Os cineclubes cumprem um papel fundamental, que vai além da pura e simples exibição de filmes, pois proporcionam pensar cinema, arte e culturas coletivamente, e isto é muito importante, sobretudo em tempos de domínio de filmes hollywoodianos nas salas de cinema ou a contemplação solitária de filmes em computadores. E “Valsa com Bashir” pode levantar algumas questões conceituais interessantes a respeito da natureza do documentário, tratando-o enquanto “tratamento criativo da realidade”, em oposição ao conceito de “representação da realidade”, uma vez que o filme é um documentário feito em animação, além de tratar de uma temática complexa e interessante, que abarca a questão dos conflitos entre israelenses e palestinos.

 

 

BisognoCarlos Alberto Bisogno – Acho interessante a oportunidade de em grupo me prestar a refletir sobre a produção fílmica brasileira a partir dos diversos pontos de vista. Entendo que minha participação deve trilhar mais pelos caminhos do entendimento do processo cinematográfico que perpassam o entendimento técnico do cinema: roteiro, direção, fotografia, montagem, som, etc. O documentário mistura fantasia e realidade para contar a história do mordomo Santiago Badariotti Merlo, que dedicou sua vida a servir à aristocracia, apesar de ser viajado, poliglota e dono de uma cultura extraordinária, mesmo vindo de origem humilde. As imagens foram rodadas em 1992, mas permaneceram intocadas por mais de 13 anos. Em 2005, o diretor voltou a elas para descobrir a história que iria contar. Criou-se então um documentário sobre o documentário não acabado, que teve como resultado um marco na história do cinema brasileiro não ficcional.

 

PC MouraPaulo César Moura – Após a morte do meu pai, descobri de verdade que nada é para sempre. Foi assim que tive, pela primeira vez, a comprovação de que somos seres históricos. Estou dizendo isto para falar do filme “Nós que aqui estamos por vós esperamos”, letreiro encontrado em um cemitério, na cidade de Paraibuna, no interior de São Paulo. Este filme fala das ilusões do homem do século XX; desse homem que viveu a tragédia de duas guerras mundiais, além de revoluções, golpes, ditaduras, nacionalismos e movimentos sociais. Época esta em que, parte dela, eu e meu pai estivemos juntos. O filme de Marcelo Masagão retrata tanto os personagens que entraram para história, como homens comuns que em seu cotidiano também fizeram a história desse século. Por meio da montagem das imagens do século XX e da música composta por Win Mertnes, o filme fala dos contrastes entre um mundo que se envolve com a banalização da violência, o desenvolvimento tecnológico e a loucura pós-moderna.

 

 

O homem de Aran
Pela lente do mestre Robert Flaherty sobre famílias de pescadores dos gigantescos tubarões Basking, na ilha irlandesa de Aran, o Cineclube fechará a mostra Cinema Verdade em 11 de junho

 

 

Documentários clássicos para fase final da mostra

 

Aberta em 12 de março, com o jornalista e cineasta Vitor Menezes, que apresentou seu documentário “Forró em Cambaíba”, a mostra Cinema Verdade do Cineclube Goitacá teve sequência com “Um passaporte húngaro”, de Sandra Kogut, apresentado em 19/03 pelo teatrólogo Antonio Roberto Kapi; “O mistério do samba”, de Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor, escolhido pelo professor Marcelo Sampaio; e “A opinião pública”, de Arnaldo Jabor, mediado pela jornalista Talita Barros. Após a sequência das próximas quatro sessões anunciada na matéria acima, a mostra seguirá com a produtora cultural Luciana Portinho apresentando “Só dez por cento é mentira”, de Pedro Cesar sobre o poeta brasileiro Manoel de Barros, no dia 14 de maio; o professor Gustavo Soffiati trazendo “O triunfo da vontade”, de Leni Riefenstahl, filme de propaganda nazista, em 21/05; o jornalista Aluysio Abreu Barbosa, em 28/05, levando “É tudo verdade”, que Orson Welles filmou no Brasil; o professor Aristides Soffiati selecionando “Um homem com uma câmera”, de Dziga Vertov, pai do conceito que batiza a mostra, no dia 4 de junho; cabendo ao psicanalista e ator Luiz Fernando Sardinha fechar a mostra em 11/06, com “O homem de Aran”, de Robert Flaherty, outro fundador do cinema documentário. Somente nesta última sessão será escolhido junto ao público presente o tema da próxima mostra.

 

  Publicado na edição de hoje da Folha.

O verão acabou, mas a gastança continua

Eu penso que

O verão acabou, mas a gastança continua (1)

Por Ricardo Andrés Vasconcelos, 04-04-14 – 14h51

Do Diário Oficial do Município de Campos de hoje, 04/04/2014, página 20:

A mesma empresa responsável por abastecer os camarins dos artistas contratados para os shows no Verão do Farol de São Thomé, acaba de ser contratada para mais três meses fornecendo serviço de buffet (camarim, coquetel e “coffe break”). O contrato, da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, é por três meses e o valor é de R$ 150.092,00.

Como o contrato, assinado em 19/03/2014 não pode ser referente aos eventos passados, resta perguntar que serviços serão prestados, onde e quando?

 

 

O verão acabou, mas a gastança continua (2)

Por Ricardo André Vasconcelos, 04-04-14 – 15h21

Os palcos dos shows de verão nem bem foram desmontados e a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima acaba de contratar, por R$ 584.413,00, a WORKING EMPREENDIMENTOS E SERVIÇOS LTDA para “serviços de locação, montagem e desmontagem de estruturas de palco e acessórios de palco e camarins para atender aos eventos culturais, artísticos, esportivos e comemorativos…”. A publicação do extrato do contrato está na página 20 do Diário Oficial do Município de Campos de hoje, 04/04/2014.

O prazo é por três meses a contar da assinatura do contrato, em 19/03/2014 e, portanto, não podem ser referentes aos eventos do verão porque a mesma empresa foi a responsável pelo serviço no Farol 2014.

 

 

Mortos e Defesa Civil em tempo de chuva dão dinheiro ao Campos Folia

Campos Folia

 

A partir  de matéria da jornalista Talita Barros, publicada aqui, hoje, na Folha Dois, se ficou sabendo que o dinheiro para as agremiações carnavalescas de Campos ainda não havia sido repassado até ontem, mesmo com o carnaval fora de época esteja marcado para daqui a pouco mais de 2o dias. Pois hoje, o jornalista Alexandre Bastos fuçou o Diário Oficial (DO) para descobrir e divulgar aqui que a prefeita Rosinha Garotinho (PR) abriu o orçamento fiscal do município para inserir crédito adicional suplementar no valor total de R$ 3 milhões, dos quais R$ 2,1 milhões serão destinados à Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), presidida por Patrícia Cordeiro. Para o Campos Folia, ela recebeu R$ 725 mil. Além disso, a presidente da FCJOL ganhou da prefeita R$ 1,3 milhão para “outros serviços de terceiros – pessoa jurídica”. Como a aplicação desses “outros serviços” não é especificada no DO, é impossível saber quais “eventos culturais” serão pagos, assim como até hoje ninguém sabe quanto custou a folia com dinheiro público no carnaval do ano passado, a despeito de um pedido de informação do vereadores Fred Machado (SDD) e Rafael Diniz (PPS), feito há um ano e até hoje não respondido.

Já que mesmo num orçamento bilionário como o de Campos, dinheiro não se fabrica, para bancar a folia fora de época e os misteriosos “eventos culturais” de Patrícia, no remanejamento orçamentário feito por Rosinha, entre as pastas das quais ela tirou recursos estão a Defesa Civil, que perdeu R$ 20 mil, e a Companhia de Desenvolvimento do Município de Campos (Codemca), dos quais foram cortados R$ 418,3 mil, inclusive na verba que seria destinada a ampliação e manutenção dos cemitérios públicos de Campos. Confira abaixo:

 

Defesa Civil

Codemca

 

Com a cidade alagada a cada a cada pancada mais forte de chuva (confira aqui, aqui e aqui), e com previsão meteorológica de que mais água desça dos céus nos próximos dias, tirar dinheiro da Defesa Civil para bancar o Campos Folia e “eventos culturais” que ninguém, pelo menos fora da FCJOL, sabe quais são, parece um ato irresponsável para qualquer governante. Mas não respeitar nem os mortos para bancar a festa com dinheiro público, talvez seja ir um pouco longe demais.