Artigo do domingo — Novidades antes da sua decisão

 

 

 

Na véspera da eleição de hoje, duas grandes surpresas. A primeira veio das pesquisas divulgadas ontem, com a ultrapassagem (aqui) de Aécio Neves (PSDB) sobre Marina Silva (PSB) na disputa presidencial liderada por Dilma Rousseff (PT). A segunda, como anunciado em matéria postada no site do jornal O Dia às 23h33 de sexta (aqui), é um “pacto” firmado entre Anthony Garotinho (PR) e Marcelo Crivella (PRB) de apoio mútuo no segundo turno contra o favorito das pesquisas Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Embora Dilma aparentemente não tenha sido afetada por sua habitual péssima atuação em debates, repetida naquele promovido pela Globo na noite de quinta, o fato de Marina também não ter ido bem, diferente de Aécio, apesar do seu condenável dedo em riste contra Luciana Genro (Psol), parece ter causado uma migração de última hora dos eleitores da candidata do PSB ao tucano.

Dilma manteve os 40% anteriores, reflexo quase exato dos 39% de eleitores brasileiros que consideraram seu governo ótimo ou bom nas pesquisas Ibope e Datafolha divulgadas na quinta. Por sua vez, comparando estas consultas com as feitas após o debate e divulgadas ontem, Aécio cresceu cinco pontos no Ibope (de 19% para 24%) e três no Datafolha (21% a 24%). Marina por sua vez, saiu dos 24% que tinha nos dois institutos para baixar aos 21% (Ibope) e aos 22% (Datafolha).

Contabilizados apenas os votos válidos, já excetuados os em branco, nulos ou indecisos, Dilma teria pelo Ibope 46%, contra 27% de Aécio e 24%, de Marina. Pelo Datafolha, a mesma escala seria de 44%, 26% e 24%. Apesar do empate técnico entre Aécio e Marina, considerada a margem de erro de dois pontos para mais ou menos, o fato do sobrinho de Tancredo Neves ter passado à frente da discípula de Chico Mendes nas duas pesquisas, demonstra maior proximidade do segundo turno.

Todavia, sobrinho e discípula perderiam para a gerente de Lula no turno seguinte. Contra Aécio, Dilma ganharia por 45% a 37% ,pelo Ibope, e pela diferença mais apertada de 48% a 42%, segundo o Datafolha. Já contra Marina, a presidente venceria também por 45% a 37% no Ibope, e por 49% a 39%, no Datafolha, maior diferença nas quatro projeções.

Apesar dos novos números depois do debate da Globo, foi nele que Dilma e João Santana, ex-marqueteiro do ex-ditador venezuelano Hugo Chávez, deixaram claro a preferência por Aécio como adversário. Sempre que possível, a presidente buscou o embate contra o tucano, tanto quanto evitou enquanto pôde a acareação com Marina. Ironicamente, o resultado prático da tática marqueteira petista foi ajudar um adversário que as pesquisas mostraram mais perigoso no segundo turno.

Exatamente por ser um adversário mais difícil para Pezão no turno seguinte, do que um Garotinho campeão de rejeição (40% pelo Ibope e 48%, na Datafolha), é que o tal “pacto” do político da Lapa com Crivella trouxe mais surpresa à corrida ao governo fluminense, do que suas novas pesquisas de ontem (aqui e aqui). Contando apenas os votos válidos, Pezão tem 37% pelo Ibope, contra 27% de Garotinho e 20%, de Crivella. Já pelo Datafolha, também descartados brancos, nulos e indecisos, o governador ficou com 36% dos votos, contra 25% do deputado e 22% do senador.

Ou seja, no primeiro turno, na margem de erro de dois pontos para mais ou menos, Crivella empata tecnicamente com Garotinho apenas nas projeções do instituto paulista. Mas é no segundo turno que as coisas podem apertar. Enquanto Garotinho tomaria duas coças eleitorais de Pezão, de 29% a 47%  pelo Ibope, e 32% a 48%, no Datafolha; Crivella diminuiria a diferença na projeção de derrota no primeiro instituto (36% a 46%), alcançando um empate técnico com o governador pelo Datafolha: 41% a 44%.

Em seu blog, o próprio Garotinho reproduziu (aqui) a matéria de O Dia, assumindo publicamente seu endosso ao “pacto” com Crivella. E a reportagem cita petistas favoráveis ao acordo, como Chico Dângelo, candidato a deputado federal, além do presidente estadual do partido, o prefeito de Maricá, Washington Quaquá. Isso sem contar a desavexada dobrada de Lindberg Farias com Crivella nos últimos debates entre os candidatos a governador.

Por outro lado, as ameaças petistas podem ser apenas uma tentativa de pressionar o grupo de Pezão para apoiar integralmente à candidatura de Dilma no segundo turno presidencial, já que o “Aezão” liderado pelo pit bull peemedebista Jorge Picciani, candidato a deputado estadual, está longe de estar descartado como plano B do PMDB fluminense.

Apesar de ter usado ofensas de cunho bíblico para chamar Crivella durante a campanha de “mentiroso, ingrato, fariseu e encantador de serpentes”, sendo respondido pelo senador, quando este repetiu em Macaé e Campos que havia candidato a governador “com a ficha mais suja do que Fernandinho Beira-Mar”, como a Folha registrou em sua manchete de capa de 31 de agosto, Garotinho agora disse possuir “mais afinidades do que divergências” com o candidato do PRB.

Na mesma matéria de O Dia republicada em seu blog, Garotinho admitiu estar “com dificuldades de arrecadação e dívidas na casa dos milhões e reconhece que chegou ao seu limite físico, e o cenário é difícil na reta final.‘Eu não sei como eu vou começar a campanha se eu for para o segundo turno’, resumiu”.

Fossem leitores mais atentos da Folha, os jornalistas Caio Barbosa, Juliana Dal Piva e Nonato Viegas poderiam ter apurado a mesma informação para O Dia, mas bem antes da véspera da eleição. Pois foi aqui, neste mesmo espaço, que no dia 21 de setembro, sobre a condução da campanha de Garotinho a governador, foi anunciado ao final e no título do artigo: “Acabou o milho, acabou a pipoca”.

Bem, mas isso tudo foi antes. Porque hoje, leitor, é só sua a decisão.

 

Publicado hoje na Folha

 

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Este post tem 2 comentários

  1. sandra.maria

    Já não se fazem homens como antigamente…

  2. Paulo Sa

    Diante da possibilidade do PT pedir aos eleitores de Lindbergh que votem em Crivella, garantindo-lhe a vaga no segundo turno com Pezão, Garotinho o procurou e propôs-lhe um “pacto” – coisa do diabo – de apoio mútuo no segundo turno.
    A partir do momento em que Crivella aceitou fazer “pacto” com Garotinho, ele passou a perder credibilidade e votos.
    Com sua astúcia – a proposta do “pacto” – Garotinho, que não foi sincero com Crivella, passou a perna no bispo, cuja falta de maturidade política é evidente.
    Ou seja, a idéia do “pacto” foi uma armadilha que Garotinho colocou no caminho de Crivella e ele caiu.

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