Invasão na casa do procurador geral da República pode ter sido para plantar escutas

Cláudio Humberto

 

 

Pode ter sido ‘plantada’ escuta na casa de Janot

O arrombamento da casa do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, divulgado ontem no site DiáriodoPoder.com.br, pode ter sido obra de espiões para “plantar” escutas ambientais ilegais. A suspeita surgiu após a constatação de que os invasores nada levaram, nem mesmo uma pistola do dono da casa, com três pentes de bala. Apenas foi levado, estranhamente, o controle remoto do portão da garagem.

 

Tempo suficiente

O arrombamento foi há um mês. Janot estava com a filha na Disney. A invasão durou 8 minutos, suficientes para ocultar micro escutas.

 

Arapongagem

No começo, o procurador atribuiu o arrombamento a bandidos comuns, mas agora há a suspeita de ação ligada a investigados da Lava Jato.

 

Agentes privados

Suspeita-se que tanto as supostas ameaças quanto a invasão da casa de Janot são obra de “agentes privados” interessados na investigação.

 

Novo patamar

Rodrigo Janot foi desaconselhado a usar aviões de carreira, e ontem, já sob forte proteção, viajou ara Minas em um jatinho da FAB.

 

Publicado aqui, no diariodopoder.com

 

Da liberdade de expressão, mi-mi-mi “pequeno burguês” que fundamenta a democracia

Lula e Maluf

 

 

Jornalista Plácido Fernandes Vieira
Jornalista Plácido Fernandes Vieira

Malufar já foi crime

Por Plácido Fernandes Vieira

 

O verbo malufar está definitivamente desmoralizado. Foi reduzido a pó. Perto do megaesquema de corrupção montado para roubar a Petrobras, as maracutaias atribuídas ao neocompanheiro, e que deram origem ao termo, parecem hoje café pequeno. Nunca antes na história deste país, políticos inescrupulosos zombaram tanto da inteligência alheia.

Imagine o ladrão cara de pau que rouba o leite das crianças e depois convoca a própria quadrilha para uma manifestação em defesa da creche assaltada? Ou o cinismo do bandido que, uma vez descoberto, invoca, em defesa própria, a existência da corrupção no Brasil desde o descobrimento? “Ora, a elite já rouba faz mais de 500 anos”, argumenta.

Logo, a saída não pode ser a prisão dos “guerreiros do povo brasileiro”. Pôr na cadeia a turma “que rouba, mas distribuir” é coisa da “mídia golpista”. Como a “esquerda” de Dilma, Lula, Temer, Renan e Maluf tem maioria no Congresso, a ordem é investigar tudo desde a chegada das caravelas e passar o Brasil a limpo. Igual ao que o PT pregava (e nunca fez) antes de chegar ao poder. Bons tempos aqueles em que malufar ainda era crime.

Hoje, crime é ser contra a sangria da companheirada aos cofres públicos. Afinal, na literatura que faz a cabeça dos “progressistas” reza que, para alcançar a “revolução” redentora, “os fins justificam os meios”. Não à toa, boa parte dessa gente idolatra o obscurantismo jihadista do Estado Islâmico. Principalmente quando fuzila, incinera ou corta cabeças de defensores da tal liberdade de expressão, esse mi-mi-mi “pequeno burguês” que é um dos pilares da democracia.

 

Publicado aqui, no Blog do Murilo

 

Dilma não vale o preço da redução do Brasil a um Paraguai

Dilmá

 

 

Sociólogo Demétrio Magnoli
Sociólogo Demétrio Magnoli

A hora e a história

Por Demétrio Magnoli

 

O governo Dilma 2 acabou antes de começar. Batida pelo turbilhão da crise que ela mesma engendrou, a presidente perdeu, de fato, o poder, que é exercido por dois primeiros-ministros informais: Joaquim Levy comanda a economia; Eduardo Cunha controla as rédeas da política. Na oposição, entre setores da base aliada e, sobretudo, nas ruas, a palavra impeachment elevou-se, de murmúrio, à condição de grito ainda abafado. É melhor pensar de novo, para não transformar o Brasil num imenso Paraguai.

Nos sistemas parlamentares, um voto de desconfiança do Parlamento derruba o gabinete, provocando eleições antecipadas. No presidencialismo paraguaio, regras vagas de impeachment conferem aos congressistas a prerrogativa de depor um chefe de Estado que não enfrenta acusações criminais. Um parecer de Ives Gandra Martins sustenta a hipótese de impedimento presidencial por improbidade administrativa, mesmo sem dolo. Na prática, equivale a sugerir que Dilma poderia ser apeada com a facilidade com que se abreviou o mandato de Fernando Lugo. A adesão a essa tese faria o Brasil retroceder do estatuto de moderna democracia de massas ao de uma democracia oligárquica latino-americana.

Não são golpistas os cidadãos que fazem circular o grito abafado. Dilma Rousseff tornou-se um fardo pesado demais. Lula deu o beijo da morte no segundo mandato da presidente ao lançar sua candidatura para 2018 antes ainda da posse. No ato farsesco de “defesa da Petrobras”, o criador da criatura emitiu sinais evidentes de que, em nome de sua campanha plurianual, prepara-se para assumir o papel um tanto ridículo de crítico do governo. Diante de uma presidente envolta na mortalha da solidão, os partidos oposicionistas parecem aguardar uma decisão das ruas. Fariam melhor oferecendo um rumo político para a indignação popular.

Antes de tudo, seria preciso dizer que, na nossa democracia, a hipótese de impeachment só se aplica quando há culpa e dolo. O complemento honesto da sentença é a explicação de que, salvo novas, dramáticas, informações da Lava Jato, inexiste uma base política e jurídica sólida para abrir um processo de impedimento da presidente. Contudo, só isso não basta, pois o país não suportará mais quatro anos de “dilmismo”, essa mistura exótica de arrogância ideológica, incompetência e inoperância.

“Governe para todos — ou renuncie!”. No atual estágio de deterioração de seu governo, a saída realista para Dilma é extrair as consequências do fracasso, desligando-se do lulopetismo e convidando a parcela responsável do Congresso a compor um governo transitório de união nacional. O Brasil precisa enfrentar a crise econômica, definir a moldura de regras para um novo ciclo de investimentos, restaurar a credibilidade da Petrobras, resgatar a administração pública das quadrilhas político-empresariais que a sequestraram. É um programa e tanto, mas também a plataforma de um consenso possível.

“Governe para todos — ou renuncie!”. O repto é um exercício de pedagogia política, não uma aventura no reino encantado da ingenuidade. As probabilidades de Dilma romper com o lulopetismo são menores que as de despoluição da baía da Guanabara até a Olimpíada. Isso, porém, não forma uma justificativa suficiente para flertar com o atalho do impeachment. Se a presidente, cega e surda, prefere persistir no erro, resta apontar-lhe, e a seu vice, a alternativa da renúncia, o que abriria as portas à antecipação das eleições.

Dilma diz que a culpa é de FHC. Lula diz que é da imprensa, enquanto reúne-se com o cartel das empreiteiras. A inflação fará o ajuste fiscal. Por aqui, os camisas negras usam camisas vermelhas. A justa indignação da hora faz do impeachment uma solução sedutora. Mas a história não é a hora. Dilma vai passar, cedo ou tarde. Ela não vale o preço da redução do Brasil a um Paraguai.

 

Publicado aqui, na folhadesaopaulo.com

 

O que está por trás da guerra pela construção do “Reich de Mil Anos” do PT?

golpe de jiu-jítsu

 

 

Jornalista e blogueiro Fernão Lara Mesquita
Jornalista e blogueiro Fernão Lara Mesquita

Golpe de jiu-jítsu

Por Fernão Lara Mesquita

 

 

Não há explosões nem rupturas. Não há socos nem chutes fulminantes, à Anderson Silva. Golpe, hoje, é de jiu-jítsu. A luta é no chão, lenta e sufocante como aperto de cobra. Nada de muito espetacular acontece. Persistente, insidiosa e inexoravelmente, os braços e pernas da cidadania no Legislativo e no Judiciário vão sendo agarrados, torcidos, imobilizados; o País vai parando, exausto, e o estrangulamento econômico é que leva aos três tapinhas no final…

É esse o script bolivariano. Depois vem o caos… Mas em países da pujança e da complexidade do Brasil o buraco é mais embaixo. Tiroteio no morro é sempre emocionante, mas diz pouco sobre o que rola no alto comando do crime organizado. Com o “petrolão” acontece coisa parecida. Se quiser saber onde é que essas guerras realmente são decididas, siga o dinheiro.

A “caixa-preta” do BNDES e dos fundos de pensão estatais está para o “petrolão” como o armamento nuclear está para as armas convencionais na guerra pela construção do “Reich de Mil Anos” do PT. Luciano Coutinho é a Dilma competente. O “true believer” que sabe o que faz. Mas por trás de tudo e por cima de todos paira Luiz Inácio Lula da Silva, o que não acredita em nada. A este, com seu instinto e seu faro fulminantes para o poder, não custou um átimo entender o potencial que tinha o fascínio do doutor Coutinho pelo sistema coreano dos Chaebol. “Aparelhar” esse fascínio foi brincadeira para o nosso insuperável virtuose na arte de servir doses cavalares de dinheiro aos ricos e de mentiras aos pobres enquanto atiça uns contra os outros e é amado por ambos, arte em que se iniciou, já lá vão 40 anos, frequentando a ponta da ponta do capitalismo cínico de seu tempo, aquele sem pátria das multinacionais automobilísticas do ABC paulista. Foi ali que ele aprendeu a comprar pequenos privilégios para a clientela dos metalúrgicos que o mantinha na linha de frente do jogo do poder à custa de garantir lucro fácil às multinacionais pondo o resto do Brasil andando de carroça paga a preço de Rolls-Royce. Foi ali que ele entendeu a força que o dinheiro tem, a resiliência dos laços que ele cria e a conveniente característica de moto-contínuo que os esquemas amarrados com ele engendram, realimentados pela corrupção e pela miséria que eles próprios fabricam.

Do esquema coreano de “empresas-mãe” recheadas de dinheiro do Estado entregues a um indivíduo ou a uma família, cercadas de pequenas “empresas-satélites” amarradas a elas pelo elo pétreo da sobrevivência econômica nasceu a versão macunaímica dos “campeões nacionais” do BNDES e dos fundos de pensão estatais, dos quais hoje dependem cada vez mais o fornecimento de todos os insumos e a absorção de toda a produção — e, portanto, todos os empregos — da vasta periferia da economia que orbita esses ungidos do Estado petista.

A diferença está em que, se na Coreia a explosão da corrupção e a instrumentalização política da relação de dependência inerente aos monopólios de que até hoje, apesar do nível de educação conquistado por seu povo, aquele país não consegue se livrar foram o corolário indesejável de uma vasta operação para criar a partir do zero um país e uma economia devastados pela guerra, aqui a trajetória foi exatamente a inversa. O PT não pensa no Brasil, o PT pensa no PT. Aqui, tudo começou para dotar um partido político de condições de impor sua hegemonia com o recurso à corrupção elevada à categoria de moeda institucionalizada de compra de poder e à criação de elos de completa dependência a monopólios politicamente manipuláveis de vastas áreas de uma economia pujante, mas diversificada demais para o gosto de quem sonha com sociedades inteiras dizendo amém a um chefe incontestável que não desce nunca do trono.

É essa segunda parte que decide o jogo e o resultado parcial está aí. Com pouquíssimas exceções, não há mais força econômica de qualquer relevância fora do “esquema”. Só um rei e seus barões; tanto mais “relativos” estes quanto mais aquele se tornar “absoluto”. E se o agronegócio, calcanhar de Aquiles dos totalitários do passado, foi exceção por algum tempo, esse tempo passou. O universo da proteína animal, “chaebolizado”, tornou-se galático; o da bioenergia, garroteado pelo golpe da “gasolina barata”, ou se multinacionalizou, ou não vive mais sem as veias pinçadas na UTI do governo. Eficiência empresarial? Essa “commodity” hoje se compra. Os grandes “tycoons” do “setor privado” brasileiro que continuam voando em seus jatões cada vez mais obscenos são só os CEOs a soldo de uma economia estatizada, ainda que vestindo roupas civis, e não mais a farda militar de outrora.

Dilma Rousseff é um acidente de percurso. O “poste” plantado para ocupar o buraco que começou a acreditar que era ela que tinha sido eleita e quase pôs tudo a perder. Talvez ainda consiga, a prosseguir o patológico desemparelhamento entre seu discurso e a realidade. Mas já não é só nisso que se constitui o “pântano brasileiro” descrito pela Economist. O que está paralisando o Brasil é o PT real sem a anestesia chinesa, apenas acrescentado de extensas áreas de grave irritação cutânea provocada pela irrefreável pesporrência de madame.

Para que os brasileiros enxerguem com clareza de onde é que isso tudo vem vindo e disponham do mínimo necessário para opinar sobre o destino que lhes querem impor, antes que seja tarde a imprensa terá de tirar o bisturi da gaveta, lancetar com suas próprias mãos o abcesso que corrói o País por baixo dos “campeões nacionais” e fazer muito barulho para chamar a atenção de todos para ele. Os membros do exclusivíssimo clube dos “campeões” do BNDES, balofos e engurgitados de dinheiro público, almoçam e jantam diariamente em Palácio onde todos se dão tapinhas amistosos nas costas. Ali ninguém vai atirar em ninguém, não haverá prisões nem delações premiadas e jamais nos será “dado acesso” ao câncer que há por baixo da ferida que, com todo mundo hipnotizado pelo tiroteio do “petrolão”, o País ainda mal vê.

 

Publicado aqui, no blog Vespeiro

 

A Petrobras não está ameaçada pelos trustes internacionais; seus algozes são gente nossa!

Petrobras devorada

 

 

Jornalista Alberto Dines
Jornalista Alberto Dines

Esperando Janot

Por Alberto Dines

 

No país da piada pronta, angústias e aflições são crimes de lesa-pátria, daí as gozações em torno do suspense armado antes da divulgação da lista de parlamentares e políticos citados na Operação Lava Jato e prometida há semanas por Rodrigo Janot, procurador-geral da República.

Paráfrase óbvia, quase obrigatória e quase homônima, relaciona-se com o título da peça Esperando Godot (1952), do irlandês francófono Samuel Beckett, marco do teatro do absurdo que poucos viram, menos ainda entenderam e todos usam abundantemente.

Godot promete e não chega, a espera é, em si, o não evento central, acionador de contrassensos, ilógica e disparates. Janot, ao contrário, está sempre presente, atento, figura de proa na arquitetura republicana, cargo máximo do Ministério Público, hoje considerado em muitas partes do mundo como o verdadeiro Quarto Poder.

Justifica-se a demora: denota cuidado, zelo, senso de responsabilidade. A lista é transcendental mesmo antes de conhecidos os nomes que a integram, todos aptos a serem denunciados e depois julgados pelo STF. As pressões são enormes; apesar do segredo que envolve a seleção dos implicados nos processos investigados pela Polícia Federal, alguns nomes escaparam para o noticiário.

A nominata é naturalmente explosiva: pode alterar a composição do governo, seu esquema de apoio, a escolha dos candidatos à sucessão presidencial e, sobretudo, inúmeras biografias. Algumas armazenadas em sites de busca, outras já publicadas.

A residência de Janot foi arrombada em janeiro, o governo preocupa-se com a sua segurança e a tensão da campanha eleitoral, longe de arrefecer com a posse dos eleitos, aumentou assustadoramente. Sucedem-se brigas entre militantes, o jogo sujo oriundo das torcidas organizadas começa a comprometer o sagrado direito de expressão, a convivência entre contrários e a paz social.

Em represália a um estúpido ato de hostilidade contra o ex-ministro Guido Mantega no lobby de um hospital paulistano onde a sua mulher se trata de um câncer, o ex-presidente Lula convocou a militância a reagir às provocações: pretendia baixar a fervura, só a aumentou. Essa fervura não baixará com veemências dirigidas a ativistas políticos; o momento pede atos de estadistas voltados para sossegar uma sociedade ressentida e perplexa.

A espera por Janot serve para desativar animosidades num ambiente perigosamente volátil, onde tudo funciona como pretexto para radicalizações. Mas serve igualmente para exacerbá-las. Não foi prudente a ideia de convocar um grandioso ato público em defesa da Petrobras para a sexta-feira, 13 de março – exatos 51 anos depois do comício na Central do Brasil, fatídico gatilho para a quartelada que empurrou o país para a trágica ditadura militar.

A estatal brasileira não está ameaçada pelos trustes internacionais nem pelo imperialismo ianque; seus algozes são gente nossa, partidos e prepostos brasileiros que “tascaram” (para usar a linguagem de João Pedro Stédile) um patrimônio nacional que conseguiu sobreviver e prosperar ao longo de 63 anos a despeito das drásticas mudanças de governo.

Esperando Godot é uma vivência pessimista sobre impasses, dolorosas expectativas, desesperança, filha dos horrores da 2.ª Guerra Mundial e da pérfida Guerra Fria que a sucedeu.

Esperando Janot pode ser uma aposta no aperfeiçoamento das instituições democráticas. Sobretudo, na nossa capacidade de julgar e punir com isenção.

 

Publicado aqui, na gazetadopovo.com

 

Um germe em desenvolvimento nas tais “ruas”

brotado da rua

 

 

Jornalista Igor Gielow
Jornalista Igor Gielow

Uma longa Quaresma

Por Igor Gielow

 

Nos tempos de outrora, católicos observavam a Quaresma na qual estamos com sentido de penitência pelos pecados cometidos, visando a redenção na Páscoa.

Hoje o governo Dilma passa por algo semelhante, coincidentemente no mesmo período de vigília religiosa. Tenta purgar seu pecados, mais ou menos admitidos em forma de um arrocho fiscal, embora sempre haja na praça um bufão de um Carnaval que teima em não acabar.

Hoje esta figura atende pelo nome de Lula, ao incitar as células dormentes do MST e da CUT a ir às ruas contra a “elite golpista” que, claro, inventou o formidável esquema de drenagem financeira da Petrobras em favor de partidos e empreiteiros.

Tudo o que o governo não precisa agora é disso. Se é do jogo e algo vazio ver a presidente criticar a mesma agência de classificação de risco que antes causava sorrisos ao conceder graus de investimento, a cada vociferação de Lula sobre o “exército do Stédile” ou para “irmos à guerra” o Planalto é pressionado ainda mais sobre o fio de uma lâmina.

Doze anos de guerra cultural promovida pelo petismo cobram um preço. Os espectros aparecem de lado a lado, como o ruinoso Guido Mantega percebeu no triste episódio em que foi hostilizado em um hospital.

Em princípio, os protestos contra Dilma em 15 de março se mostravam mais como um espasmo da rejeição ao PT em São Paulo e outros centros. A greve de caminhoneiros e a crise tucana no Paraná mostram, porém, que talvez haja um germe em desenvolvimento nas tais “ruas”.

A conjuntura econômica tenebrosa, com o aumento do desemprego minando o último bastião do governo na área, insinua fermento para uma reação em cadeia que ainda não foi detectada — com um cenário institucional desfavorável, vide o Congresso sob o PMDB. Neste caso, a Quaresma que o governo espera ver superada em 2016 ou 2017 poderá mostrar-se ainda mais prolongada.

 

Publicado aqui, na folhadesaopaulo.com

 

Pega ladrão! — De Lênin a Lula: “Acuse-os do que você fez, xingue-os do que você é”

Petrobras invertido

 

 

Jornalista e escritor Ruy Fabiano
Jornalista e escritor Ruy Fabiano

Lula, Lênin e a Petrobras

Por Ruy Fabiano

 

Até aqui, quando se aborda o escândalo da Petrobras, pergunta-se quem a roubou, quanto e como o fez. A resposta é parcialmente conhecida: o achaque teve o PT no comando, coadjuvado por seus aliados PMDB e PP, e a quantia chegou à estratosférica casa das dezenas de bilhões.

Conhecem-se alguns operadores, empresários cúmplices e os nomes de agentes públicos (parlamentares, governadores, ministros etc.) citados nas delações premiadas. A lista oficial, a ser divulgada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está sendo aguardada para os próximos dias.

Não se sabe se virá como denúncia ou pedido de abertura de inquérito, o que fará toda a diferença. Se denúncia ao STF e STJ (para o caso de governadores), os citados viram réus; se inquérito, o rito pode ser longo e diluir-se no tempo.

O prejuízo, no balanço não auditado da empresa, tem cifras oficiais: R$ 88,6 bilhões. A ex-presidente Graça Foster disse que foi o que se pôde apurar, mas, aprofundando-se as investigações, “certamente é mais”. Alguns argumentam: mas nem tudo aí é roubo; há também o fator incompetência, incluso na mesma rubrica. Tudo bem. Digamos, então, num raciocínio pra lá de moderado, que o fator roubo seja um quarto daquele valor: R$ 22,1 bilhões. Ainda assim, é dinheiro demais, que excede enormemente ambições pessoais e necessidades partidárias.

E aí entra em cena a pergunta que ainda não se fez, mas que inevitavelmente se fará: para onde foi essa grana? Escondê-la é impossível; fragmentá-la de modo a diluir sua rota parece além do talento mesmo de doleiros experimentados.

Outra coisa: como recuperá-la? O ex-gerente Pedro Barusco se dispôs a devolver a parte que lhe coube: US$ 100 milhões (R$ 280,8 milhões ao câmbio de hoje). Considerando-se o seu grau hierárquico, é possível especular quanto coube aos de cima.

E quem são os de cima? Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento — que detalhou os percentuais que cada partido da base recebia —, disse que se situava no nível médio. E que respondia a gente bem mais graúda. Alberto Youssef garantiu que Lula e Dilma eram os graúdos maiores: sabiam de tudo.

Lula e Dilma negaram a acusação, mas, por ato falho, já a confirmaram. Dilma, ao comentar o rebaixamento da empresa pela consultoria Moody’s, considerou-a “desinformada”, o que sugere que ela, presidente — e ex-ministra das Minas e Energia, ex-presidente do Conselho Administrativo e ex-chefe da Casa Civil —, tem informações que aqueles consultores não têm. Lula, no espantoso ato de “defesa da Petrobras”, na sede da ABI, no Rio, na terça passada, se disse informadíssimo, o que ninguém duvida.

Palavras suas: “Fui o presidente que mais visitou a Petrobras; tenho mais camisas da Petrobras que o mais velho funcionário da empresa. Fui o presidente que mais inaugurou plataformas”. Ora, com tamanha intimidade com a estatal, e tendo nomeado toda a sua diretoria, seria surpreendente que não estivesse a par de tudo o que lá se passava. Tudo.

Não há como sumirem bilhões e bilhões sem que sejam percebidos, sem que uma rede ampla e sofisticada estivesse em ação. E como uma rede dessa, montada pelo presidente da República — e que incluía aquela que viria a sucedê-lo —, passaria despercebida a ambos? A resposta é desnecessária.

A metáfora do queijo, que ele evocou diante de uma militância entusiasmada (“se o rato está acostumado a roubar um pedaço de queijo, que fará diante de um queijo inteiro?”), equivale a uma confissão. E ainda: roubava-se menos porque havia menos dinheiro; como entrou mais dinheiro na Era PT, roubou-se mais.

Resta saber para onde foi esse dinheiro. Há especulações, que, de tão inusitadas, evocam a clássica teoria da conspiração. Mas a própria cifra envolvida, não constasse ela do próprio balanço da empresa, provocaria o mesmo ceticismo. Ocorre que tudo nesse escândalo é inusitado, embora real. Fala-se, por exemplo — e isso acabará tendo que ser apurado —, que parte dessa fortuna teria abastecido os aliados do Foro de São Paulo, coadjuvantes do projeto da Grande Pátria Socialista.

A Venezuela, por exemplo, sem dinheiro até para comprar papel higiênico, renovou a frota de sua Força Aérea; a mesma Venezuela que, no final do ano passado, por meio de seu ministro para Comunas e Movimentos sociais, Elias Jaua, firmou convênio para treinar a militância do MST — “o exército do Stédile”, que Lula quer ver nas ruas contra os “golpistas”.

Não se sabe se Lula conhece a palavra de ordem com que Lênin impulsionava sua militância: “Acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é”. Como não é exatamente um estudioso de História — e acha que, por aqui, o PT a inaugurou — é possível que compense a ignorância com seu poderoso instinto político. O certo é que, no ato da ABI, seguiu fielmente a lição de Lênin.

Acusou seus opositores de ter feito com a Petrobras tudo o que de fato ele e o PT fizeram. E os xingou de golpistas. Nada menos. FHC comparou o truque à ação de um punguista que, após bater a carteira da vítima, sai gritando “pega ladrão!”. É por aí.

 

Publicado aqui, no Blog do Noblat

 

Greve dos caminhoneiros esquenta o clima pelo impeachment de Dilma

Greve caminhoneiros

 

 

Jornalista e blogueiro Ricardo Noblat
Jornalista e blogueiro Ricardo Noblat

Greve dos caminhoneiros esquenta o clima para as manifestações pelo impeachment de Dilma

Por Ricardo Noblat

 

Qual foi a inteligência rara que aconselhou a presidente Dilma Rousseff a chamar a polícia ao invés de negociadores para tentar acabar com a greve dos caminhoneiros?

O pior: a ideia pode ter partido da própria Dilma, uma pessoa de formação áspera, encrespada, violenta no trato com seus subordinados.

O que Dilma não parece entender é que subordinados nada têm a ver com governados. Subordinados são obrigados a obedecer a ela — ou a se demitirem. Governados podem dispensá-la.

A greve dos caminhoneiros serve a um propósito não previsto  — o de aumentar o mau humor de um setor importante da economia às vésperas de manifestações marcadas para o próximo dia 15.

Tais manifestações pedirão o impeachment de Dilma. O governo receia que elas sejam bem sucedidas principalmente em São Paulo e em alguns Estados do Sul. Ali é reduto do PSDB.

Reunido ontem em São Paulo, o alto comando do PSDB decidiu que o partido não participará das manifestações – mas nada impede que vários dos seus líderes saíam às ruas por sua conta e risco.

O eventual impeachment de Dilma só beneficiaria o PMDB do vice Michel Temer. E o PSDB acabaria obrigado a se compor com o PMDB para juntos governarem.

É mais cômodo para o PSDB esperar que o segundo mandato de Dilma seja um fracasso para que ele tente derrotar o PT daqui a quatro anos.

Quando era oposição, o PT cobrava negociação para superar impasses trabalhistas — jamais a polícia. No governo, Dilma preferiu chamar a polícia para reprimir grevistas.

 

Publicado aqui, no Blog do Noblat