Crítica de cinema: Tomorrowland — Um lugar onde nada é impossível

Cinematógrafo

 

 

Tomorrowland

 

Mateusinho 2TOMORROWLAND — Ao assistir “Tomorrowland”, lembrei de um filme B que ironizava as aventuras do espião 007. Um homem do bem ou do mal, não me lembro mais, é preso por outros e colocado num helicóptero que o conduz para um lugar distante no mar. Lá, ele é atirado da aeronave, mergulha e é retido por outros homens que o atiram numa jaula submarina em que se encontra separado de um tubarão por uma grade divisória. Suspensa a grade, o tubarão o devora. A intenção era satirizar as mortes rebuscadas dos filmes de espiões, que poderiam ser resolvidas com um mero tiro ou com um golpe forte. Mas, ao sofisticá-las, parece que a trama se torna mais atraente.

“Tomorrowland” (Estados Unidos, 2015), filme saído dos estúdios da Disney, até começa de maneira promissora com uma discussão sobre utopia e distopia entre Frank Walker (George Clooney) e Casey Newton (Britt Robertson). Toda sociedade, na Modernidade, cria concepções de futuro. Nos séculos XVI e XVII, na Europa, foram numerosas as utopias, a começar pela de Thomas Morus. Nelas, há uma esperança nos seres humanos, na ciência e nas tecnologias, que podem construir um mundo melhor do que aquele em o autor da utopia vive.Já nos séculos XX e XXI, o avanço das tecnologias e a decadência moral estimularam autores como Aldous Huxley e George Orwell a vislumbrarem distopias, ou seja, futuros sombrios. Atualmente as distopias pululam por toda parte, mas as utopias ainda persistem. “Tomorrowland” começa com uma discussão entre um homem de meia idade pessimista e uma jovem otimista. Logo em seguida, o filme parece se perder, com idas ao passado e ao futuro.

Brad Bird, seu diretor, tem, a seu crédito, três sucessos de bilheteria: “Os incríveis”,  “Ratatouille” e “Missão impossível: protocolo fantasma”. Mas, em “Tomorrowland”, ele se perdeu, não apenas como diretor. Com Damon Lindelof, ele é criador da ideia original, colaborador no roteiro e roteirista. Qual a diferença entre criador da ideia original, colaborador do roteiro e roteirista? Por que não se é roteirista apenas, que já embute a ideia original? Seja qual for a diferença, a verdade é que o roteiro é confuso para um adulto estudioso de utopias e distopias quanto mais para um jovem, público a que o filme se dirige.

Perguntei a meu neto, de 11 anos, o que ele compreendeu. Resposta: é um filme em que as pessoas buscam um futuro melhor do que o presente. Até aí, tudo bem. As locações são deslumbrantes, os efeitos especiais são caríssimos, mas as ideias parecem confusas. Parece que tudo gira em torno de um boton, espécie de passaporte para o passado, para o presente e para o futuro. Com ele, visita-se a terra do amanhã ou um lugar onde nada é impossível, dois subtítulos do filme. Com ele, encontra-se tanto com Thomas Edison, Nikola Tesla, Júlio Verne e Gustave Eiffel quanto com robôs exterminadores. A Torre Eiffel é tanto uma atração turística quanto uma base se lançamento de naves espaciais. Seria ótimo se um simples boton conduzisse governantes, empresários e cientistas para um mundo futuro, além da modernidade, da globalização e da economia de mercado. Parodiando o poeta brasileiro Paulo Henriques Brito, não se pode deixar as ideias meio soltas. É preciso domesticá-las.

 

Mateusinho viu

 

Publicado hoje da Folha Dois

 

Confira o trailer do filme:

 

 

fb-share-icon0
Tweet 20
Pin Share20

Este post tem um comentário

  1. Diogo

    Filme é muito bom…
    E ao contrário do que sugere a crítica, foi feito para entreter e nos fazer pensar e não ensinar sobre filosofias…
    O filme mostra como atitudes simples, como acreditar que tudo pode ser mudado, pode mudar o mundo em que vivemos.
    Tomorrowland é uma metáfora da nossa Terra, que, ao meu ver, indica que o “Mundo de Amanhã” (tomorrowland) é o que construímos hoje.
    Não achei confuso em nenhum momento… e interessante do início aos créditos…

    Sua crítica ainda peca em omitir que a feira se passa na Disney, onde o pequeno Frank embarca na atração Its a Small World… no começo do filme é mostrada a musica That´s a Great Big BEautiful Tomorrow, da atração Carrossel do Progresso… e ainda nas panoramicas da Tomorrowland podemos ver as linhas da área homônima do parque, onde se destaca claramente a Space Mountain.

Deixe um comentário