Não deixe de formar sua visão do Programa “Escola Sem Partido”

pink floyd teacherNão tenho opinião ainda formada sobre o Programa “Escola Sem Partido”. Mas, sobretudo como pai, não posso deixar de constatar (e me preocupar) que grande parte dos professores usem as salas de aula como “madrassas” (escolas islâmicas que alfabetizam pelo fundamentalismo religioso) para disseminação de política partidária e do chamado “politicamente correto”. Levado em consideração que essa política partidária, no mais das vezes, é simpática ao lulopetismo apeado do poder após saquear e quebrar o Brasil, e que o “politicamente correto” tende a ser tão fascista em seu patrulhamento quanto aqueles que gosta de apontar como tais, a preocupação é necessária.

Como em qualquer debate mais polarizado, a democracia irrefreável das redes sociais pode muitas vezes confundir. Mas também ajuda a quem sabe buscar fontes que desçam além da superfície sobre a qual flutua nervosamente a maioria. E, como em qualquer ágora que se preze, é no contraste entre pontos de vista distintos, mas dialeticamente fundamentados, que temos as chances mais generosas de alongar e conferir nitidez à nossa própria visão.

Tenho discordâncias tanto do poeta, dramaturgo e professor campista Adriano Moura, quanto do diretor de operações da Conspiração Filmes, o carioca Ricardo Rangel. Do primeiro, divirjo do reducionismo maniqueísta escola x políticos, da presunção dos professores como casta a ser unicamente considerada no debate sobre educação e, sobretudo, de que a pedagogia crítica de Paulo Freire (1921/97), em oposição satírica ao ator Alexandre Frota, tenha guiado o “politicamente correto” das salas de aula brasileiras à “verdade” contra a qual não se poderia admitir nenhum “retrocesso” — numa didática semelhante à das madrassas sem aspas.

Já com o segundo, concordo se tratar de genocídio cultural a censura a Monteiro Lobato (1882/1948). Bem como a retirada das grades curriculares do estudo das antigas Grécia e Roma, berços da nossa civilização, aos quais o próprio Lobato se preocupou em introduzir tão bem às crianças. Mas vejo uma contradição clara dessas próprias posições com a posterior classificação como “barbaridade” — derivação de como os gregos e depois romanos chamariam aqueles não permeados por sua cultura — da inserção do ensino de filosofia no ensino médio dos adolescentes brasileiros.

Mas essa é só a minha visão sobre as de Adriano (aqui) e de Ricardo (aqui). Para que você, leitor, possa formar a sua própria, leia a transcrição de ambas abaixo, não sem deixar de conferir aqui, por conta própria, o anteprojeto da Lei Federal nº 9.394, de diretrizes e bases da educação nacional, mais conhecido como “Programa Escola Sem Partido”:

 

 

Adriano Moura (perfil do Facebook)
Adriano Moura (perfil do Facebook)

O “Escola Sem Partido” é um movimento tão desonesto que o próprio nome tem a intenção de levar o cidadão ao erro. Quem olha o título imagina uma escola sem partido político (PSDB, PMDB, PT, PV, PSC, etc). Mas sabemos que não se trata disso. O que o movimento propõe é que a escola volte a ser o que era há décadas : um local onde racismo, homofobia, misoginia, corrupção e desigualdades sociais não eram temas discutidos. A educação no Brasil vive um momento perigoso, pois todo mundo virou especialista no assunto, como já era em futebol. De repente, Paulo Freire se transformou num “doutrinador” perigoso e Alexandre Frota num exemplo pedagógico. A quem interessa esse projeto? Aos políticos que se elegem com mentiras e corrupção, e por isso temem uma escola que forma pensamento crítico. Se nós professores tivéssemos de fato todo esse poder “doutrinador” de que falam, não haveria bancada evangélica, nem católica, nem da bala , nem do boi no Congresso. Infelizmente ainda não temos tanta influência assim na sociedade. O “Escola Sem Partido” é, como o sucateamento das instituições públicas de ensino, mais uma forma de impedir que sejamos um país de verdades, já que verdades não interessam aos que se elegem a custa de mentira e corrupção. Que BBB seja apenas o programa televisivo (ou nem isso), e que o Congresso não seja o covil do Boi, Bala, Bíblia.

 

 

Ricardo Rangel (perfil do Facebook)
Ricardo Rangel (perfil do Facebook)

Acredito que a doutrinação nas escolas é um problema grave, que se revela em cartilhas de alfabetização que adotam excrescências como “nós pega o peixe”; na censura a Monteiro Lobato; na retirada de Grécia e Roma do currículo; na inserção de sociologia e filosofia no ensino médio e tantas outras barbaridades. Basta conversar com qualquer universitário, especialmente de humanas, para constatar que a agenda politicamente correta é imposta a nossos jovens.

O politicamente correto é preconceituoso, tem parti-pris, compromete uma análise honesta e isenta da realidade, embota o pensamento e inviabiliza o verdadeiro conhecimento. É um suicídio intelectual. O cerne da proposta que consta do Programa Escola Sem Partido é perfeitamente razoável e diz o óbvio: o professor não tem o direito de doutrinar.

Dito isso, não acredito que o programa seja a salvação do ensino nacional. Para garantir a que suas prescrições sejam respeitadas, o programa teria que prever sanções disciplinares a quem se desviasse das regras estipuladas — e isso é não apenas impossível como indesejável.

É impossível porque para aplicar sanções, seria necessária uma norma objetiva que determinasse onde acaba a apresentação honesta de ideias e onde começa a doutrinação, e essa é uma questão subjetiva. É indesejável porque correríamos o risco de criar uma gestão do ensino policialesca, que mataria a circulação de ideias — o problema que queremos corrigir é justamente que hoje elas não circulam muito —, e faria que o tiro saísse pela culatra (aliás, as críticas intelectualmente honestas ao programa estão relacionadas a esse risco).

Posso estar sendo ingênuo, mas não vejo no Programa Escola Sem Partido as intenções malévolas que se lhe atribuem: acho até que o próprio programa é um tanto ingênuo ao supor que se possa eliminar a doutrinação por meio de uma lei.

Vejo o PESP mais como uma declaração de princípios e um alerta aos educadores e aos governos de que boa parte da sociedade discorda do que está ocorrendo em nossas escolas. Se o programa provocar, como está provocando, um debate sobre que tipo de ensino queremos para nossos filhos, já terá cumprido um papel muito importante.

 

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Este post tem 2 comentários

  1. Gildo Henrique

    Concordo plenamente com o teor do anteprojeto. Chega de ver nossas crianças e adolescentes sendo conduzido por convicções político-ideológicas de professores.

    Eu, como estagiário em escolas públicas da cidade (estou terminando licenciatura), tenho assistido a vários monólogos docentes em defesa de um governo corrupto.

    Uma professora, cujo pai falecido era meu amigo, chegou a dizer em sala na última eleição “quem não votar na Dilma, já sabe, né…?”

    O “politicamente correto” ultrapassa os limites da razão.

    Por fim, fica a pergunta: para que palestras no IFFluminense em defesa do islamismo?

    São vários os exemplos de livros didáticos doutrinários, mas citarei apenas este:

    http://escolasempartido.org/livros-didaticos/318-livros-aprovados-pelo-mec-criticam-fhc-e-elogiam-lula

  2. Aluysio

    Caro Gildo,

    Ainda não sei se concordo com o teor do projeto, sobretudo pelo seu problema de ordem prática levantado com mta perntinência pelo Ricardo:“Para garantir a que suas prescrições sejam respeitadas, o programa teria que prever sanções disciplinares a quem se desviasse das regras estipuladas — e isso é não apenas impossível como indesejável”. Mas volto a concordar com ele, qd diz ao final: “Se o programa provocar, como está provocando, um debate sobre que tipo de ensino queremos para nossos filhos, já terá cumprido um papel muito importante”. Quanto à defesa não do islamismo, mas da Civilização Islâmica, luz do mundo na Idade Média, acho que ela a merece, tanto qt uma tal Civilização Ocidental. Seja no IFF ou onde for.

    Abç e grato pela chance das observações!

    Aluysio

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