Paula Vigneron — Vanda

Ruínas de Atafona, 06/08/14 (Foto: Aluysio Abreu Barbosa)
Ruínas de Atafona, 06/08/14 (Foto: Aluysio Abreu Barbosa)

 

 

“Ah, se essas promessas se cumprissem”, pensou Heitor, enquanto, caminhando pelas ruas, encontrou um anúncio de milagres amorosos para o qual olhavam algumas mulheres desconcertadas. Retornos em até sete dias. Descobertas sobre amantes com relatos de trabalhos bem sucedidos.

E se lembrou de Vanda. Bonita. Charmosa para andar. Tinha um passo meio saltitante, como se comemorasse algo. Ele queria fazer parte daquela festa desde a primeira vez em que a viu. Os cabelos vermelhos escorriam pelas costas e se movimentavam de diferentes maneiras a cada passo dado por ela. Às vezes, iam da direita para a esquerda, lentamente. Em outros momentos, batiam contra a coluna, como se estivessem agredindo-a. Mas de modo delicado.

Vanda era tão contraditória quanto seus cabelos.

— Posso me sentar? Estou dançando há algumas horas. Meus pés estão doendo tanto que não resisti a essa cadeira convidativa — pediu, calorosamente, a ele. Aceitou, claro. Era oportuno o momento.

Conversaram por intermináveis minutos. Os caminhos dos garçons tinham paradas obrigatórias nas mesas dos dois. Eles enchiam os copos, já cansados dos gestos repetitivos e dos pedidos incessantes.

“Não, não temos mais esta cerveja”.

“A vodka acabou mais cedo, como falei com a senhora. Sim, falei. Mais de três vezes, senhora. Não, não tenho como providenciar.”

— Lugar mal servido, não acha? — e ele concordou. Na situação em que estava, discordância seria sinônimo de briga. E era tudo que Heitor não desejava naquele momento.

Seguiram a noite em um diálogo que beirava a incompreensão. A mulher contava os casos de sua vida, misturando-os a histórias de pessoas conhecidas dela. Ele não estava conseguindo acompanhar a sucessão dos fatos, mas ria quando era necessário e fazia expressões de total comunhão. Vanda parava o discurso, ocasionalmente, para esperar as reações do interlocutor. O homem manteve uma boa atuação até o final do encontro.

Desejou, em certos momentos, permanecer ao lado dela por todos os dias de sua vida, embora soubesse que sua paz se transformaria em um eterno turbilhão de palavras soltas, euforias e chateações. Era fácil deduzir, apesar de terem ficado juntos por pouco mais de quatro horas. Deixou-a em casa. Trocaram telefones e abraços como se fossem parentes ou amigos que se reencontraram, por acaso, depois de anos. Vanda era um mistério. Ele ainda não sabia se ela era a professora ou a coordenadora da escola em que disse trabalhar.

No dia seguinte, uma mensagem:

“Oi, Heitor. Não sei muito bem como foi a noite de ontem, mas torço para que tenha terminado bem. Alguns flashes passam por minha cabeça. Lembro que você me ofereceu uma carona. Obrigada pela gentileza e por ter acompanhado minha prosa torta sem questionar ou reclamar de tédio.”

Ela sabia exatamente como era seu comportamento quando misturava o álcool ao diálogo. Heitor se surpreendeu. Respondeu, educadamente, que o encontro foi ótimo e gostaria de repeti-lo para definir, em sua cabeça, se ela tinha estudado matemática ou letras.

O segundo dia de conversa desdobrou-se em três, quatro, sete, dez e um namoro. Tal como previra, Vanda era o furacão. Dormiam e acordavam em constantes tensões. Descobriu que era professora de geografia. Nas madrugadas, os gritos eram ouvidos por vizinhos. Ele pedia discrição, mas ela não se continha. Geralmente, um passeio pelo elevador, durante a manhã, representava minutos de constrangimento reforçados por adolescentes debochados ou idosos irritados.

Quando voltava para casa, encontrava-a instalada na cama. Aprendera a não se surpreender com as alterações de humor. Ora, estava alegre, contando os casos do dia, da família e os sonhos que construíra, sozinha, para ambos. Ora, discutia ideias para mudar completamente a sua vida. Ele se sentava, na beira da cama, e a ouvia silenciosamente. Sabia os momentos de pausa nos quais deveria interferir e os tons que precisariam ser usados. Vanda tinha prazer, que acreditava ser oculto, de transferir suas criações para a realidade.

Em uma manhã de folga, a mulher acordou mais cedo. Esperou Heitor despertar do sono pesado e ficou encarando-o por longos minutos. No começo, ele interpretou como carinho o gesto da namorada. Mas a forma de olhá-lo não era a mais simpática. A sonolência o deixava com os pensamentos vagarosos. Demorou a compreender. Sentou-se para tentar descobrir o que a afligia. O movimento dos lábios foi interrompido por uma enxurrada de reclamações.

“Falta amor, falta carinho, falta conversa. Você não tem tempo para mim. Eu não aguento mais ter que esperar para receber de volta aquilo que dou. Não, você não pode falar nada. Você pode ficar quieto e ouvir. Eu sei disso. Não precisa jogar na minha cara que você dormiu tarde porque ficou me escutando. Meus assuntos nunca te interessam, não é? Eu cansei do pouco que você tem para me dar.”

Ela, em discussões, usava poucas vezes o pronome “eu”. Mas abusava da segunda pessoa do discurso. Juntou os pertences e, assim como veio, foi. Ele lamentou por uns dias. Por outros, sentiu uma saudade lancinante. Depois, sonhou com ela. Acordava sentindo o cheiro. Buscou, por meses, um sinal. Mas ela havia ido.

Quando se esqueceu de Vanda, recebeu uma mensagem. “Continuo a te ver por todos os lados. Sei que corri de você, mas sempre te encontro onde não quero. Preciso me livrar.”

Ele não respondeu. Imaginou que era mais uma de suas maluquices fora de hora e na contramão. No dia seguinte, outro recado. “Não faça comigo o que fiz com você. Se te procurei, é porque preciso que me ajude. Não estou gostando do seu sumiço.”

Novamente, Heitor preferiu o silêncio. Rapidamente, Vanda avisou. “Você não muda, não é? Egoísta. Saiba que nada de bom te espera. Cuidado por onde anda.” E, outra vez, sumiu.

A caminho do trabalho, depois de tempos passados do último contato virtual, Heitor observava homens e mulheres que passavam a seu lado. Sem perceber, foi agarrado em uma das mãos por uma cigana. Saia e blusa coloridas em uma mistura atípica.

“Vejo o seu futuro. No seu futuro, uma mulher. Mas essa mulher te traz sofrimentos. E os sofrimentos são causados por uma forma de magia…”

O tédio das palavras consumindo o tempo do ouvinte.

“… Magia poderosa, menino. Magia do amor. Nunca vi nada tão forte. Mas, com uma ajuda, posso te ensinar a reverter.”

“Olha, senhora, pode ser que você esteja certa. Mas, como bom alvo, prefiro esperar que as coisas se manifestem sozinhas.” E deixou a cigana. A poucos metros, passou por Vanda, dominada por um olhar furioso. Parecia um sinal. Sentiu arrepios. Direcionava a ele as piores expressões. Podia ouvir os pensamentos dela, a voz ecoando críticas ao seu mau comportamento. À falta de carinho. A nenhuma parceria. Ao descaso. A tantas coisas que ele nem seria capaz de se lembrar.

Foi o último encontro dos dois. Soube, tempos depois, que a outro homem se destinavam as pragas de Vanda. Com ele, viveu nova paixão intensa, eterna e calorosa, com juras de amor transformadas em arrepios e ameaças transcendentais nunca materializadas. Conjuradas em um mesmo solitário quadro.

 

Ausências de Caio e polêmicas de Chicão marcam encontros entre candidatos

Ponto final

 

 

Onda e contramaré

Que a “onda” Rafael Diniz (PPS) tem gerado muitas reações, não é novidade. O crescimento do jovem candidato da oposição pode ser visto tanto nas últimas pesquisas, como dos institutos Pro4 (aqui) e Paraná (aqui), quanto percebido no extremo de determinadas atitudes rosáceas, como pedir login e senha dos perfis de Facebook dos quase cinco mil comissionados e RPAs da Prefeitura. Como o jornalista Alexandre Bastos revelou (aqui) em seu blog, o objetivo seria viralizar virtualmente a reprodução das transmissões ao vivo da campanha governista.

 

No mundo real

Do mundo virtual ao real, os reflexos de um certo nervosismo também começam a ser percebidos nos encontros com os seis candidatos a prefeitos promovidos por entidades. Até agora, foram três: o Fórum de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Campos, na Apoe, no dia 6; a reunião com carnavalescos, anteontem (13), na sede do Ururau da Lapa; e a sabatina dos candidatos com os estudantes e professores do Colégio ProUni, ontem (14).

 

Ausência

Dos três, o candidato Caio Vianna (PDT) só compareceu ao primeiro. E nele chegou atrasado e saiu antes das considerações finais. Como o sonho de se eleger prefeito de Campos parece mais distante com as últimas pesquisas, o pedetista poderia ter que se contentar com um alvo mais modesto. Segundo (aqui) o jornalista Saulo Pessanha, um objetivo secundário seria ficar à frente de Geraldo Pudim (PMDB), cuja candidatura a prefeito tem apoio do ex-prefeito Arnaldo Vianna (PMDB), que não poupou seu próprio filho de críticas públicas.

 

Na Apoe

A despeito da presença errática de Caio nos três encontros, em dois deles quem revelou destempero foi o líder da corrida nas pesquisas. Se ninguém tem dúvida de que Dr. Chicão (PR) era a melhor opção do garotismo à sucessão da prefeita Rosinha, justamente por sua simpatia pessoal e perfil afável de médico pediatra, estas características não pareceram estar presentes no evitável questionamento a um garoto de 12 anos que, no encontro da Apoe, fez sua pergunta ao governista elencando problemas no bairro da Tapera, onde mora. “Então você não mora na Tapera”, respondeu Chicão ao menino, a quem deixou visivelmente constrangido.

 

No ProUni

Já ontem, no encontro promovido pelo Colégio ProUni, Chicão voltou a se envolver em estresses desnecessários. Primeiro, ele quis responder a uma pergunta sobre educação de pé, mesmo após ser lembrado pelo moderador do acordo pelo qual todos os candidatos falariam sentados. Depois, numa pergunta sorteada sobre o mesmo tema, que seria dirigida ao candidato Nildo Cardoso (DEM), o governista questionou aquilo que nela julgou serem críticas injustas à maneira como a administração Rosinha tratou o magistério do município.

 

Contraindicado

Em suas duas manifestações, Chicão acabou tendo que se submeter a decisões finais desfavoráveis. Todavia, mais do que o insucesso prático das contestações, elas revelaram um perfil avesso àquele com o qual o candidato conquistou a confiança de crianças e seus pais, ao longo dos anos, na construção de uma admirável carreira na pediatria. E, após ingressar na política, nada indica que uma mudança vá gerar bom diagnóstico.

 

Bola rolada

Além de não surtir o efeito desejado, as polêmicas do candidato governista acabam rolando a bola para alguns dos seus principais adversários. Na Apoe, em suas considerações finais, Rafael afirmou que o menino questionado por Chicão falara algo mais importante do que todos os candidatos a governar Campos. Na deixa do compositor Gonzaguinha (1945/91), Diniz disse preferir ficar “com a pureza da resposta das crianças” e caminhou de encontro ao garoto, que se abraçou a ele e chorou emocionado.

 

Conta própria

Um assessor de Rafael, que acompanhava a cena, também chorou, enquanto lamentava: “Se fosse no debate da Globo, a eleição acabava aqui”. Por conta própria, o eleitor terá a chance de tirar suas conclusões nos debates dos próximos dias 25, 27 e 29, respectivamente pela Rede Record, Fórum Interinstitucional de Dirigentes de Ensino Superior de Campos (Fidesc) e InterTV — o tal “da Globo”. Já o do Fidesc, na Uenf, terá transmissão ao vivo na Plena TV, Rádio Continental e Folha Online, em seu perfil no Facebook e sua conta no YouTube.

 

Publicado hoje (15) na Folha da Manhã

 

Chicão pode ganhar no 1º turno ou nele ser ultrapassado por Rafael

Ponto final

 

 

Onda Rafael Diniz

Que a “onda” Rafael Diniz (PPS) está se formando no melhor momento possível para o jovem candidato a prefeito da oposição, só pode duvidar quem não nada conhece nada de marés ou eleição. De fato, após um início atrás de Caio Vianna (PDT) e de Dr. Chicão (PR) nas pesquisas de junho e agosto, Rafael ultrapassou o primeiro e já está na cola do segundo, empatado tecnicamente com o governista na liderança à sucessão da prefeita Rosinha Garotinho (PR), segundo as últimas pesquisas dos institutos Pro4 (aqui) e Paraná (aqui).

 

Rafael sobe, Caio desce

Todavia, se Rafael pareceu patinar nas intenções de voto entre as pesquisas Pro4 de junho (11,3%) e agosto (13,2%), seu generoso crescimento recente (pulou para 24,2% em setembro) é uma tendência que parece tão certa quanto a decadência de Caio. Sangrado pelas críticas públicas do próprio pai, o ex-prefeito Arnaldo Vianna (PMDB), seu único filho caiu nas intenções de voto de 15,2% (junho) para 13,7% (agosto) e, agora, para 11,6%.

 

Caminhadas das Rosas e da Pelinca

Já sobre o crescimento substancial de Rafael, quem dúvida tivesse, bastaria conferir sua caminhada pela Pelinca no último sábado (10). Não só pelo mesmo número de pessoas, cerca de mil, como por um entusiasmo comum que, se não envelheceu, parece ter trocado de lado nos últimos 27 anos, fez quem já tem mais de 40 relembrar da hoje histórica “Caminhada das Rosas”, no Mercado Municipal, 10 dias antes do pleito municipal de 1989, que a partir dali acabaria vencido por outro jovem: Anthony Garotinho.

 

Crescimento de Chicão

Bem verdade que, se a candidatura de Rafael cresceu nas intenções de voto de junho para cá, sobretudo no salto de dois dígitos entre agosto e setembro, Dr. Chicão (PR) também o fez, de maneira ainda mais consistente. Nos números do Pro4, o candidato governista passou de 8,4% (junho) para 17,6% (agosto), até atingir os atuais 29,8%. A liderança de Chicão em empate técnico com Rafael foi também endossada pelo instituto Paraná, contratado pela Rede Record, que repetiu a mesma indefinição estatística numa simulação de segundo turno entre os dois.

 

Possibilidades

Pelo Pro4, os 29,8% de intenções de voto de Chicão equivalem a 40% dos votos válidos. Já os 31,9% que lhe foram dados pelo Paraná, correspondem a 38,1% dos votos válidos. Essa proximidade entres os números das duas pesquisas revela um quadro bastante difícil para que a candidatura governista cumpra o ambicioso objetivo traçado por seu principal cabo eleitoral, Garotinho: vencer em turno único. Mas não é missão impossível — como não seria, em contrapartida, se Rafael ultrapassasse Chicão ainda no primeiro turno.

 

Prioridade I

Correndo contra o tempo, o governo da prefeita Rosinha tem investido em obras e, para isso, tem retirado recursos previstos para outras pastas. A maior parte da Saúde, como mostra (aqui) reportagem na página 3 desta edição. Enquanto as obras estão “a todo vapor”, os campistas que necessitam da Saúde continuam sofrendo. Na edição de ontem, a Folha mostrou o caso de um homem, que passou por cirurgia do coração há uma semana, e domingo foi atendido (aqui) no corredor do Hospital Geral de Guarus (HGG).

 

Prioridade II

Já no maior hospital da região, o Ferreira Machado, funcionários denunciam que a Emergência foi fechada e estaria recebendo apenas casos de emergência vermelha. Além de superlotada, a unidade estaria, também, sem os materiais necessários. No mesmo HFM, um vídeo que circula na internet (aqui) mostra um paciente, em estado grave e ligado, inclusive, a um respirador, sendo transportado (aqui) pela escada. O elevador, mais uma vez, estava quebrado. Diante deste quadro, retirar verba da Saúde para Obras mostra o que parece ser prioridade no governo.

 

Em colaboração com a jornalista Susy Monteiro

 

Publicado hoje (14) na Folha da Manhã

 

Peça do campista Adriano Moura montada em palco carioca

Conselho de Classe 1 - Rio 2016

 

 

De volta à ativa na lida blogueira, bom fazê-lo com aquilo que Campos tem de melhor: sua cultura. Tanto mais para falar de quando essa brilha nos grandes centros.

Dramaturgo, poeta e professor, o campista Adriano Moura tem sua peça “Relatos de Professores” encenada no Rio de Janeiro desde a última quinta-feira, dia 8, no teatro Glauce Rocha (Av. Rio Branco, nº 179, Centro).

Com direção de José Sisneiros, velho conhecido de Campos, a peça segue em cartaz até o dia 2 de outubro, sempre às 19h, de quinta a sábado, e a partir das 18h, no domingo. No elenco, estão: Deo Garcez, Mirian Panzer, Eduardo Piovesan, Christina Markes e Carlos Salles.

O nome original da peça é “Conselho de Classe”, texto de 2005, apresentado em Campos naquele mesmo ano e em 2006. O novo nome foi adotado por opção de Sisneiro, já que uma peça homônima, escrita depois, já estava em cartaz no Rio.

Abaixo, a sinopse da peça que os cariocas têm assistido, pelas palavras do seu autor:

 

 

 

Elenco da peça de Campos encenada em palco carioca (Foto: divulgação)
Elenco da peça de Campos encenada em palco carioca (Foto: divulgação)

 

— Quatro professores recolhidos em um manicômio são investigados por um psiquiatra para saber se seus delitos foram por causa da “loucura’’ ou se eles sabiam exatamente o que estavam fazendo e quais seriam suas consequências. O desenrolar da peça aborda temáticas que colocam o público para pensar: afinal, onde fica a linha tênue entre a loucura e a normalidade? O que leva seres humanos, aparentemente sem nenhum “problema mental’’ a surtar? As pressões do dia a dia, a miséria, o abandono, a falta de amor, os outros, a profissão? “Relatos de Professores” é um texto pertinente para o momento de caos educacional em que vivemos. Esta peça não é sobre professores “à beira de um ataque de nervos”, mas sobre pessoas num mundo em colapso, a cada dia mais esquizofrênico e psicótico. É sobre muitos de nossos fantasmas, pois quem nunca viveu a realidade de uma sala de aula, seja como professor ou aluno? Sempre me sinto honrado quando alguém leva um texto meu aos palcos. Estou ansioso para assistir à montagem, pois é a primeira vez que tenho um texto montado por um elenco que não conheço.

 

Ocinei Trindade — Eu também quero ser prefeito, rei, presidente e rico

Ocinei 13-09-16

 

 

Dizem que foi golpe, sim. Quando a monarquia acabou no Brasil, em 1889, com um golpe republicano do Marechal Deodoro da Fonseca e seus pares, não sei se alguém foi para as ruas do país dizer com faixas: “Fora, Pedro II”.  A História do Brasil-República é uma sucessão de golpes e traições, mandatos inconclusos, mortes suspeitas de presidentes, desde o primeiro presidente que renunciou, passando por Julio Prestes, Vargas, Juscelino, Jango, Tancredo, Collor, Lula que se deram mal de algum modo… Pensei que Dilma morreria envenenada no seu primeiro ano de mandato pelo vice do PMDB, maior partido fisiologista do país. Levou seis anos para o veneno fazer efeito, e ainda contou com ajuda do próprio PT para retirá-la de cena (há quem discorde, lógico). Saiu viva, mas envenenada para sempre. Highlander e Lula só pode existir um. Garotinho idem.

Um dia, quiseram que eu me candidatasse à Prefeitura de Campos. Dei uma gargalhada. Depois sugeriram que concorresse a vereador. Ri menos. Depois, tentei me filiar a um partido novo, com propostas inovadoras, participativas, coletivas, ambientais e democráticas. Não fui aceito nem como membro. Confesso que até cogitei imaginar como seria meu mandato de prefeito. Eu seria, talvez como Prestes, levaria, mas não assumiria. Ou, como Jânio, renunciaria pouco tempo depois, já que com as forças ocultas do poder não se pode brincar. Todavia, eles foram presidentes e eu seria prefeito virtual. Só que todo governante local se espelha em um líder nacional. A gente anda bem mal de referência. Quero acreditar na renovação política do Brasil, mas tá osso, viu. Ser vereador é uma missão linda e árdua, pena que não elegemos os melhores. Fui impichado antes da Dilma, sem direito a nada, muito menos a sonho de padaria no tal partido.

As promessas de campanha estão mais abundantes com as redes sociais digitais acessadas. A televisão e o rádio já não são a única opção para caciques e nanicos da política serem vistos e ouvidos. Toda vez que vejo alguém querendo se reeleger ou fazer um sucessor de governo, me pergunto se é tão difícil ser governante ou parlamentar quando se aplica bem o dinheiro público, cuida das escolas, hospitais, segurança pública, valoriza o funcionalismo e alivia a carga tributária. Não entendo o por quê dessas coisas não funcionarem como deveriam. Para onde vai tanto dinheiro? A indústria da propina ou do tráfico de influência chegarão ao fim algum dia? Até onde permitimos?

Todos os dias sou abordado de alguma forma para saber em quem vou votar para prefeito de Campos. Já disse que queria a Angela Merkel, mas não tem como. Sendo assim, já eliminei quase todos de cara devido ao histórico e às ligações perigosas que discordo veementemente. Constato que o nosso legislativo, judiciário e setores privados ajudam a manter um bando de gente ruim disputando eleição. Outro dia, li numa rede social de uma amiga virtual petista e esquerdista convicta sobre o cenário político local e nacional: “É muito filho da puta pra pouca puta que pariu”. Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, disse que “só as mães são felizes”. Não sei se mãe de político pensa o mesmo. Achei a frase-protesto postada genial e humorada (Não sejamos pudicos e moralistas com o termo “puta”. Em Portugal, ser puto não é demérito na infância. Sou puto à portuguesa, garanto). Só que a frase da co-autora resume um certo senso ou consenso popular.

Estão querendo me convencer a votar em um candidato de oposição a Rosinha. Ainda não decidi, pois sou contra o voto de protesto, acho o voto em branco um posicionamento claro de eleitor, além de ser contra a obrigatoriedade do voto. Entretanto, acho que o poder e os governos precisam alternar, sim, e Campos costuma ter prefeitos biônicos e sem autonomia. Poder vicia, corrompe e encegueira, além de iludir. Outro dia, perguntei a um ex-deputado estadual se ele não cansa de jogar xadrez na política todos os dias do ano e vinte e quatro horas por dia. Ele disse que é assim mesmo, quem não joga, não sobrevive. Em entrevista recente a Mario Sérgio Conti, no programa Diálogos,  o ex-ministro de Lula e Dilma, o filósofo Mangabeira Unger, disse que o Brasil tem jeito se houver um projeto coletivo, que os partidos se perderam (PT e PSDB), que o PMDB de Temer nada vai mudar e que o moralismo não combate corrupção. Acho Mangabeira genial, mas deu aquele frio na espinha e perguntei a mim: a saída do Brasil voltou a ser o aeroporto?  Brasil, ame-o o deixe-o? Será que no Brasil a luta de classes como apontou Karl Marx consagrou a luta de elites?

Certa vez, depois de entrevistar o então deputado federal Arnado Vianna, perguntei se ele conhecia o filme A grande ilusão, de Steven Zaillian, estrelado por Sean Penn, história inspirada no livro aclamado AlltheKing´smen (Todos os homens do rei), de Robert Penn Warren. A pergunta foi uma curiosidade em off, pois à época, Campos vivia uma batalha cinematográfica entre o grupo de Arnaldo e de Garotinho para saber quem ocuparia o trono, quer dizer, a cadeira de prefeito. Ele disse que desconhecia. Eu, que nem aceito fui para me filiar a um partido político, disse então que todo político e eleitor precisavam assistir a este filme americano ou ler o livro para refletir um pouco mais sobre demagogia e o discurso demagógico. Acho que ele não gostou do meu comentário, mas os questionamentos que faço não são para afrontar autoridade ou magoar ninguém, e sim, para colocar em prática a inteligência que cada um de nós possui, inclusive para dominar o xadrez da sobrevivência nesta cidade linda e triste. Se penso, logo existo, creio ainda que, se voto, logo resisto. Ou não.

No último domingo, no Mercado Municipal de Campos, peguntei quantos candidatos a prefeito foram lá pedir votos. Me disseram que apenas um. Tive curiosidade de saber em quem votariam os feirantes. Uma vendedora do camelódromo disse que não sabia em quem votaria, e que nem conhecia todos os candidatos. Mas como ela era uma “cidadona”, era obrigada a votar, e só sabia que votaria em um colega camelô candidato a vereador porque era próximo dela e que a ajudará se eleito for. Eu e minha amiga constatamos: por ela ser uma “cidadona”, isto a obrigava votar. Talvez, se fosse uma cidadã, poderia ser diferente. Estamos cheios de “cidadões e cidadonas” neste município e neste país. Faltam-nos educação, saúde, segurança, transporte, dignidade e justiça (lema de campanha de todos os candidatos a qualquer cargo público e que não cumprem) para exercermos, de fato e direito, a nossa cidadania plena. Por falar em Mercado Municipal, uma obra inacabada ali prevê o estrangulamento maior do prédio histórico. Campos tem tradição em demolir ou desvalorizar seu patrimônio arquitetônico (parece que ninguém aprendeu a lição do antigo Trianon), o que é uma lástima. Vou decidir meu voto após os debates públicos entre os candidatos na Uenf e na televisão. Queria saber o que vão fazer com essas obras sem conclusão.

Realizei um sonho de consumo esta semana. Paguei caro por um CD importado da trilha sonora do filme O agente da Uncle, dirigido por Guy Ritchieem 2015. Quando assisti ao filme, fiquei impactado e perturbado com as composições do inglês Daniel Pemberton. Levei um ano para concretizar a compra, pois no Brasil não se vende a soundtrack. O filme é de suspense e espionagem durante a Guerra Fria, anos 1960, e tem até Tom Zé na lista (o álbum é uma obra-prima, luxuoso). Neste momento de tensão que o Brasil atravessa, além do futuro de Campos cheio de riscos e incertezas, dirijo pelas ruas da cidade como se estivesse dentro da ação do filme, com volume nas alturas, e com a dúvida se posso ser um rei déspota, um grande farsante ou agente com chances de eliminação a qualquer momento nesta sociedade perigosa que estamos convivendo. Piada ou loucura? Melhor se fossem. Se bem que, assistir à propaganda política na televisão às vezes é mais engraçado que Zorra e A Praça é Nossa. 

No poema “Povo-nulo”, de Gabriel O Pensador,  em seu livro  Diário Noturno, o último verso diz: Todo mundo se ilude, mas não toma uma atitude, todo mundo ainda sonha, mas ninguém toma vergonha”Ter alguma história para contar e amigos por perto podem me fazer um homem rico e de palavra.  Eu me aproprio das palavras para dar sentido às coisas que não fazem sentido e vice-versa. Que sentido há hoje em Campos, no Rio de Janeiro e no Brasil? É como Clarice Lispector em A paixão segundo GH por meio de sua personagem afirma: “Meus primeiros contatos com as verdades sempre me difamaram”Vou dirigir o carro até onde der com minha estimada trilha de cinema em alto e bom som. Só não posso atropelar candidato, nem eleitor.

 

ps: a foto é ilustrativa, eu não dirijo sem cinto de segurança.

 

Ponto Final — Paraná confirma Pro4 no empate técnico de Chicão e Rafael

Ponto final

 

 

Perguntas

Por que a Rede Record só divulgou ontem (12) a pesquisa que encomendou (aqui) ao instituto Paraná, sobre a sucessão da prefeita Rosinha Garotinho (PR)? Feita entre os últimos dias 4 e 8, a consulta  teve sua metodologia registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desde o dia 3. Poderia, portanto, ter sido divulgada desde o dia 9, na última sexta-feira.

 

E a rejeição?

A curiosidade se aguça diante de outra pergunta: por que a Record divulgou o resultado das intenções de voto dos seis candidatos a prefeito de Campos, mas não a rejeição de cada um deles? Como a ordem nas intenções de voto foi idêntica à da pesquisa do instituto Pro4 — encomendada pela Folha, feita entre os dias 2 e 3 deste mês, e divulgada  (aqui) desde o dia 6  —, nada impede supor que a rejeição na pesquisa Paraná tenha seguido a mesma ordem.

 

Maior rejeição

Na comparação entres os números dos institutos Pro4 e Paraná, respectivamente, nas intenções de voto da consulta estimulada, a ordem ficou: Dr. Chicão (29,8% e 31,9%), Rafael Diniz (24,2% e 25,9%), Caio Vianna (11,6% e 15,7%), Geraldo Pudim (4,5% e 4,6%), Nildo Cardoso (2,6% e 2,9%) e Rogério Matoso (2,1% e 2,4%). Se a ordem é rigorosamente a mesma e os números, tão parecidos nas intenções de voto; como teria sido na rejeição, que mede os candidatos entre aqueles no qual o eleitor jamais votaria?

 

Menor rejeição

No índice tão temido, sobretudo no caso do segundo turno que os dois institutos indicam à disputa pela Prefeitura de Campos, só os resultados do Pro 4, pela Folha, foram dados ao conhecimento do público. Neles, Chicão também liderou, com 22,6%, seguido de Pudim (20,8%), Caio (10,8%), Nildo (6,6%), Rogério (5,5%) e Rafael, dono da menor rejeição, com 2,4%.

 

Empates técnicos

Apesar da rejeição aferida pelo Pro4, de acordo com os números da pesquisa Paraná, Chicão venceria o segundo turno nas simulações contra Pudim (51,8% x 22,2%), Caio (45% x 35,3%) e Rafael (45,1% x 40%). Todavia, dentro da margem de erro de quatro pontos percentuais para mais ou menos, pelo instituto contratado pela Record, Chicão e Rafael empataram tecnicamente tanto nas intenções de voto do primeiro turno (31,9% x 25,9%), quanto num segundo turno hipotético — ao que tudo indica, cada vez mais provável.

 

Por que será?

Se os números do Pro4 foram integralmente divulgados pela Folha e os do Paraná tiveram divulgação parcial pela Record, resta ainda outra pergunta: onde estão os resultados do Precisão? Conhecido em Campos por sua ligação com o garotismo, o instituto também fez sua pesquisa, entre os dias 1 e 5 deste mês, muito embora só a tenha registrado dia 6, no TSE. E, com todo esse cuidado de conhecer os números antes de registrar a metodologia para aferi-los, ninguém fora do governo Rosinha ainda os viu, ou ficou sabendo deles. Por que será?

 

Publicado hoje (13) na Folha da Manhã

 

Fabio Bottrel — Memórias

 

Música Tocando em Frente de Almir Sater – Maria Bethânia

 

 

 

 

Bottrel 10-09-16

 

 

Não há nada mais bonito que o amor, me disse uma vez certo senhor. Que a vida vale a pena quando se tem alguém para amar não é algo a duvidar, amor preso, sem vazão, explode dentro do peito, é mais triste que doença do coração.Mas quem não guarda um pouco de amor para si se perde caminhando entre as vidas vazias de poesia num mundo em que o amor é iguaria a ser comida com cuidado. Às vezes me sinto assim, vazio de poesia, quando me dobro às exigências frias da vil existência coletiva e me esvai o tempo para ler, ver e ser.

Mas uma palavra escrita com a alma sai do corpo como sai a semente da terra, cresce nos sorrisos que criou, desce nas lágrimas que deixou. Assim escrevi para encontrar o amor, com as raízes no coração e as flores na menteme preparei para ver nascer as primeiras palavras do projeto Memórias balançadas em berços feitos de sorrisos. Logo cresceram para contestar o tempo com suas sílabas de vida tônica a se reconciliar mais tarde no corpo de um poeta convidadoao encontro do tempo com a vida, para transformar em poesia a história de quem já é conhecido antigo do tempo e da vida.

Memórias tomou forma e se levantou nos braços de um grupo de escritores campistas dispostos a transformar a vida de idosos asilados em poesia. O primeiro encontro aconteceu no último sábado, dia 03 de setembro no Asilo do Carmo, primeira instituição a ser contemplada pelo projeto. Tão emocionante como a ideia já supõe ser, a alma se encheu e transbordou em sorrisos ao ver a comunhão entre idosos e poetas, lado a lado, atentos a cada palavra que vinha ao mundo muitas vezes sem nenhum ouvido para entrar e nenhum coração para abrigar.

O projeto ainda está no início, haverá outro encontro coletivo, portanto se você quiser viver essa experiência ainda está em tempo e estamos todos de braços abertos para recebê-lo, é só enviar um e-mail para fabiobottrel@gmail.com com os dados para contato e Memórias no assunto, que registrarei a inscrição e informarei os grupos em redes sociais nos quais mantemos contato não só por e-mail. Os textos escritos serão organizados em uma coletânea a ser lançada num evento em homenagem aos idosos com exposições fotográficas e festividades. O lucro de todas as atividades do projeto será revertido para os idosos. Em breve teremos nosso próximo encontro e gostaríamos de contar com você!

 

Guilherme Carvalhal — O míssel

Carvalhal 08-09-16

 

 

Um dia, na pequena, pobre e desconhecida nação de Rondanovi, o presidente realizou um comunicado oficial transmitido por todas as estações de TV:

— Iremos construir o primeiro míssil de nosso país.

O povo embasbacou. Acharam que afrouxou um parafuso do presidente, que de tanto lidar com líderes políticos de nações em guerra se deixou contaminar pelo espírito belicista. Nos programas de debate político, os comentaristas tentavam compreender quais as intenções dessa proposta, sem chegarem a nenhuma resposta lógica, tendo em vista que Rondanovi jamais entrou em uma guerra e nem havia qualquer probabilidade ou pretensão para o mesmo.

Diante da repercussão, a assessoria de comunicação da presidência iniciou um forte trabalho de divulgação para explicar em detalhes o que se passa por trás da proposta. Utilizaram de todos os meios para a população compreender por completo e sem desvios as reais intenções do mandatário.

O plano do governo visava inserir a república na modernidade das técnicas de combate. Em plena época dos drones e de veículos de combate não-tripulados, o país ainda utilizava velhos fuzis da Segunda Guerra Mundial. Esse passo à frente precisava acontecer o mais breve possível e o momento era esse, pois as nações imperialistas facilmente invadiriam o país de olho em sua jazidas de potássio e no plantio de flores artesanais, principal produto de exportação.

Meio a contragosto, os eleitores engoliram a ideia. Não parecia nada de urgente, mas poderia ser útil. Poderia não ter utilidade, mas não havia pressa para acabar. E assim tocaram adiante.

Com o início do projeto, aumentou a demanda no consumo de aço. Os engenheiros testavam muitas possibilidades, então a mineração de ferro e a siderurgia cresceram. Também surgiu demanda por combustível para o motor. E daí se seguiram vagas na indústria de peças, pintura, na estrutura de disparo, etc.

Em poucos meses o desemprego do país despencou a níveis espantosos. Os estatísticos analisaram e concluíram que foi o melhor desempenho financeiro de sua história. A cadeia bélica estimulou de arrasto a agricultura, a construção civil, o comércio e o setor de serviços. Rondanovi finalmente ganharia respeito.

A empolgação contagiou os cidadãos. A felicidade cresceu, as festas aumentaram, os compositores criavam melodias enaltecendo o ponto de excelência ao qual a nação atingia. As crianças agora se orgulhavam de usar os uniformes escolares nos tons da flâmula e pela primeira vez a fala do presidente na Assembleia Geral da ONU foi levada em consideração pela comunidade internacional:

— Ainda exportaremos mísseis — mencionou um dos chefes da equipe de desenvolvimento em um talk show. Seu otimismo o levou a considerar futuramente a instalação de um amplo complexo industrial militar, com a produção de armas, veículos, aeronaves e até sonhava com o ápice: a bomba atômica.

Meses depois, quando o presidente anunciou a conclusão do projeto e que Rondanovi agora dispunha de seu próprio míssil com tecnologia nacional, o povo enlouqueceu. Pelas muitas cidades o festejo tomou conta das ruas e nunca se registrou tantas execuções do hino nacional.

No dia oficial do lançamento, a população compareceu em peso à base aérea. Empunhavam a bandeira do país em total êxtase com a novidade. A banda marcial executava muitas músicas e no palanque o locutor discursava em tom ufanista.

Quando principiaram a contagem, o público acompanhou uníssono. 10, 9, 8, a emoção aumentava, corações palpitavam, 7, 6, 5, o presidente roía as unhas querendo que tudo desse certo. 4, 3, 2, os mais frágeis até desmaiaram antes da hora.

1. O míssil subiu e muitos flashes de câmeras de celulares brilhavam registrando o instante. O míssil atingiu uns vinte metros de altura quando se notou que perdia força. A explosão diminuía bem antes de chegar ao apogeu e ele perdia altura paulatinamente. Junto a esse efeito, a fuselagem começou a desmontar, soltando placas de metal e disparando rebites feito tiros. Aquela estrutura nas cores da bandeira e com o brasão de armas do país se desmontava, deixando a ossatura externa exposta. Essa sucata caiu até o auge do vexame: a ogiva espatifou no chão e não explodiu.

O povo chorou ao testemunhar o sonho não concretizado. As esperanças se desmontaram e se transformaram em rebotalho chovendo sobre a ampla planície. Cabisbaixos, deram as costas abandonando a cerimônia marcial e o presidente, esse aos prantos perante a vergonha pública. Resignados, retornaram para casa aguardando o dia em que novas promessas do presidente resgatassem sua capacidade de serem felizes.