Paula Vigneron — Vanda
“Ah, se essas promessas se cumprissem”, pensou Heitor, enquanto, caminhando pelas ruas, encontrou um anúncio de milagres amorosos para o qual olhavam algumas mulheres desconcertadas. Retornos em até sete dias. Descobertas sobre amantes com relatos de trabalhos bem sucedidos.
E se lembrou de Vanda. Bonita. Charmosa para andar. Tinha um passo meio saltitante, como se comemorasse algo. Ele queria fazer parte daquela festa desde a primeira vez em que a viu. Os cabelos vermelhos escorriam pelas costas e se movimentavam de diferentes maneiras a cada passo dado por ela. Às vezes, iam da direita para a esquerda, lentamente. Em outros momentos, batiam contra a coluna, como se estivessem agredindo-a. Mas de modo delicado.
Vanda era tão contraditória quanto seus cabelos.
— Posso me sentar? Estou dançando há algumas horas. Meus pés estão doendo tanto que não resisti a essa cadeira convidativa — pediu, calorosamente, a ele. Aceitou, claro. Era oportuno o momento.
Conversaram por intermináveis minutos. Os caminhos dos garçons tinham paradas obrigatórias nas mesas dos dois. Eles enchiam os copos, já cansados dos gestos repetitivos e dos pedidos incessantes.
“Não, não temos mais esta cerveja”.
“A vodka acabou mais cedo, como falei com a senhora. Sim, falei. Mais de três vezes, senhora. Não, não tenho como providenciar.”
— Lugar mal servido, não acha? — e ele concordou. Na situação em que estava, discordância seria sinônimo de briga. E era tudo que Heitor não desejava naquele momento.
Seguiram a noite em um diálogo que beirava a incompreensão. A mulher contava os casos de sua vida, misturando-os a histórias de pessoas conhecidas dela. Ele não estava conseguindo acompanhar a sucessão dos fatos, mas ria quando era necessário e fazia expressões de total comunhão. Vanda parava o discurso, ocasionalmente, para esperar as reações do interlocutor. O homem manteve uma boa atuação até o final do encontro.
Desejou, em certos momentos, permanecer ao lado dela por todos os dias de sua vida, embora soubesse que sua paz se transformaria em um eterno turbilhão de palavras soltas, euforias e chateações. Era fácil deduzir, apesar de terem ficado juntos por pouco mais de quatro horas. Deixou-a em casa. Trocaram telefones e abraços como se fossem parentes ou amigos que se reencontraram, por acaso, depois de anos. Vanda era um mistério. Ele ainda não sabia se ela era a professora ou a coordenadora da escola em que disse trabalhar.
No dia seguinte, uma mensagem:
“Oi, Heitor. Não sei muito bem como foi a noite de ontem, mas torço para que tenha terminado bem. Alguns flashes passam por minha cabeça. Lembro que você me ofereceu uma carona. Obrigada pela gentileza e por ter acompanhado minha prosa torta sem questionar ou reclamar de tédio.”
Ela sabia exatamente como era seu comportamento quando misturava o álcool ao diálogo. Heitor se surpreendeu. Respondeu, educadamente, que o encontro foi ótimo e gostaria de repeti-lo para definir, em sua cabeça, se ela tinha estudado matemática ou letras.
O segundo dia de conversa desdobrou-se em três, quatro, sete, dez e um namoro. Tal como previra, Vanda era o furacão. Dormiam e acordavam em constantes tensões. Descobriu que era professora de geografia. Nas madrugadas, os gritos eram ouvidos por vizinhos. Ele pedia discrição, mas ela não se continha. Geralmente, um passeio pelo elevador, durante a manhã, representava minutos de constrangimento reforçados por adolescentes debochados ou idosos irritados.
Quando voltava para casa, encontrava-a instalada na cama. Aprendera a não se surpreender com as alterações de humor. Ora, estava alegre, contando os casos do dia, da família e os sonhos que construíra, sozinha, para ambos. Ora, discutia ideias para mudar completamente a sua vida. Ele se sentava, na beira da cama, e a ouvia silenciosamente. Sabia os momentos de pausa nos quais deveria interferir e os tons que precisariam ser usados. Vanda tinha prazer, que acreditava ser oculto, de transferir suas criações para a realidade.
Em uma manhã de folga, a mulher acordou mais cedo. Esperou Heitor despertar do sono pesado e ficou encarando-o por longos minutos. No começo, ele interpretou como carinho o gesto da namorada. Mas a forma de olhá-lo não era a mais simpática. A sonolência o deixava com os pensamentos vagarosos. Demorou a compreender. Sentou-se para tentar descobrir o que a afligia. O movimento dos lábios foi interrompido por uma enxurrada de reclamações.
“Falta amor, falta carinho, falta conversa. Você não tem tempo para mim. Eu não aguento mais ter que esperar para receber de volta aquilo que dou. Não, você não pode falar nada. Você pode ficar quieto e ouvir. Eu sei disso. Não precisa jogar na minha cara que você dormiu tarde porque ficou me escutando. Meus assuntos nunca te interessam, não é? Eu cansei do pouco que você tem para me dar.”
Ela, em discussões, usava poucas vezes o pronome “eu”. Mas abusava da segunda pessoa do discurso. Juntou os pertences e, assim como veio, foi. Ele lamentou por uns dias. Por outros, sentiu uma saudade lancinante. Depois, sonhou com ela. Acordava sentindo o cheiro. Buscou, por meses, um sinal. Mas ela havia ido.
Quando se esqueceu de Vanda, recebeu uma mensagem. “Continuo a te ver por todos os lados. Sei que corri de você, mas sempre te encontro onde não quero. Preciso me livrar.”
Ele não respondeu. Imaginou que era mais uma de suas maluquices fora de hora e na contramão. No dia seguinte, outro recado. “Não faça comigo o que fiz com você. Se te procurei, é porque preciso que me ajude. Não estou gostando do seu sumiço.”
Novamente, Heitor preferiu o silêncio. Rapidamente, Vanda avisou. “Você não muda, não é? Egoísta. Saiba que nada de bom te espera. Cuidado por onde anda.” E, outra vez, sumiu.
A caminho do trabalho, depois de tempos passados do último contato virtual, Heitor observava homens e mulheres que passavam a seu lado. Sem perceber, foi agarrado em uma das mãos por uma cigana. Saia e blusa coloridas em uma mistura atípica.
“Vejo o seu futuro. No seu futuro, uma mulher. Mas essa mulher te traz sofrimentos. E os sofrimentos são causados por uma forma de magia…”
O tédio das palavras consumindo o tempo do ouvinte.
“… Magia poderosa, menino. Magia do amor. Nunca vi nada tão forte. Mas, com uma ajuda, posso te ensinar a reverter.”
“Olha, senhora, pode ser que você esteja certa. Mas, como bom alvo, prefiro esperar que as coisas se manifestem sozinhas.” E deixou a cigana. A poucos metros, passou por Vanda, dominada por um olhar furioso. Parecia um sinal. Sentiu arrepios. Direcionava a ele as piores expressões. Podia ouvir os pensamentos dela, a voz ecoando críticas ao seu mau comportamento. À falta de carinho. A nenhuma parceria. Ao descaso. A tantas coisas que ele nem seria capaz de se lembrar.
Foi o último encontro dos dois. Soube, tempos depois, que a outro homem se destinavam as pragas de Vanda. Com ele, viveu nova paixão intensa, eterna e calorosa, com juras de amor transformadas em arrepios e ameaças transcendentais nunca materializadas. Conjuradas em um mesmo solitário quadro.