Avanço do mar em Atafona — Santana repete o mesmo destino de Elvis e Neivaldo

 

Bar do Santana perde a briga contra o mar (Foto: Arnaldo Neto)

 

 

Chão do Bar do Santana virou uma cratera aberta por baixo pelas ondas (Foto: Arnaldo Neto)

 

 

Em seu blog, o jornalista Arnaldo Neto registrou (aqui) que mais um limite humano do Pontal de Atafona, na foz do rio Paraíba do Sul, acabou vencido hoje (05) pela força do mar: o Bar do Santana. No chão do bar, um buraco foi aberto pela força das ondas, que erodiu a construção por baixo, deixando expostas suas fundações e iminente a ameaça de desabamento. Seu dono, José Santana, estava à frente do estabelecimento nos últimos oito anos, que antes era conhecido dos atafonenses e veranistas como Bar do Almir Largado.

Arnaldo, que é morador do Pontal, registrou a reação de mais um atafonense desalojado pelo mar:

— Pela manhã, com a ajuda de amigos, Santana já retirava tudo do seu bar. O fechamento era inevitável (…) À tarde, ele foi procurado para falar sobre o fato e o que pretende fazer a partir de agora. Já não foi encontrado. Como muitos moradores de Atafona se acostumaram durante décadas, ao perder a guerra para o mar, Santana foi recomeçar a vida em outro local, ainda na praia sanjoanense. Como todos que já foram atingidos pelo oceano, deve estar torcendo agora para não ser vítima mais uma vez.

Também hoje, o jornalista e blogueiro já havia registrado (aqui) o encontro em Brasília entre a prefeita de São João da Barra, Carla Machado (PP), e o presidente da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia (DEM). Nele, Carla entregou a cópia do projeto de recuperação da orla de Atafona, que foi realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH), e não tem como ser bancado sem verbas federais.

Ao falar das vítimas do avanço do mar, além de Santana, Arnaldo lembrou também a saga de Jorginho Elvis Presley. Dono de um bar na fase áurea do Pontal, nos anos 1980, ele o perdeu o estabecimento para o mar, montou o segundo mais adiante e teve o mesmo fim.

 

Ruínas do segundo Bar do Elvis no Pontal (Foto: Arnaldo Neto)

 

Além de Santana e Elvis, quem também poderia ser lembrado era o campista Neivaldo Paes Soares, que passou a ser conhecido como “Bambu” depois que se mudou para o Pontal e passou a residir e tocar seu bar na antiga casa de barcos da família Aquino, proprietária do Grupo Thoquino. Neivaldo perdeu o bar e a casa para o mar em 28 de julho de 2012, quando se mudou para a ilha do Peçanha, na foz do Paraíba.

Mais que qualquer um, Neilvaldo encarnou o destino das referências humanas no Pontal de Atafona. Entre as águas do o rio e do mar, ele desapareceria misteriosamente em 21 de junho de 2015.

 

Como fez hoje (05) no Bar do Santana, o mar abriu uma cratera no que era o chão do Bar de Neivaldo, em julho de 2012 (Foto: Mariana Ricci – Folha da Manhã)

 

Ao perder seu bar no Pontal, Neivaldo encarava seu próprio destino enre o mar e o rio (Foto: Mariana Ricci – Folha da Manhã)

 

Governo Rafael protocola no TCE-RJ auditorias sobre o governo Rosinha

 

Secretário Felipe Quintanilha e procurador José Paes Neto hoje no TCE-RJ (Foto: Divulgação)

 

 

José Paes e Quintanilha protocalam a enrrega das auditorias do governo Rafael no TCE-RJ (Foto: Divulgação)

 

 

O procurador Geral do Município de Campos José Paes Neto e o secretário da Transparência e Controle Felipe Quintanilha estiveram nesta segunda-feira (05) no Rio de Janeiro onde entregaram no Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) os relatórios das auditorias realizadas pelo governo Rafael Diniz (PPS) em contratações e gastos considerados irregulares em diversos programas da última gestão Rosinha Garotinho (PR).

Ao todo, foram sete levantamentos realizados pela nova administração municipal sobre a antiga: Dispensa de Licitação, Fundo Municipal de Assistência Social, no Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Campos dos Goytacazes (PreviCampos), na Folha de Pagamento, Despesas sem Prévio Empenho, Instituto Municipal De Trânsito e Transporte (IMTT) e Programa Morar Feliz II.

Em todas as auditorias foram encontrados indícios de irregularidades que teriam sido cometidas pelo governo anterior, principalmente em relação ao programa social Cheque Cidadão e Campos Cidadão — programa de passagem a R$ 1,00. O Programa Morar Feliz II, também alvo de auditoria, foram apontadas inúmeras irregularidades, com milhões de reais gastos e pouquíssimas casas entregues.

— Assim como fizemos na Câmara Municipal de Campos, entregamos no TCE as auditorias, como temos feito nos órgãos de controle externo, que agora deverão tomar as medidas cabíveis — explicou Quintanilha, que já havia entregue os relatórios, na semana passada, ao presidente da Câmara de Campos, Marcão Gomes.

 

Ricardo Rangel e a última do beócio eleito ao cargo mais importante da Terra

 

De segunda a sábado, você, leitor, já se acostumou com os colaboadores deste “Opiniões”. Hoje, seria o dia do tradutor Marcelo Amoy, que se despediu do blog (aqui) no último dia 22. Seu substituto já foi escalado e está se aquecendo para entrar em campo no próximo dia 19.

Até lá, para não perder o hábito, recorramos hoje a uma colaboração compulsória de peso: o diretor de produção da Conspiração Filmes e articulista de O Globo, Ricardo Rangel. Não é de hoje, a luz do seu raciocínio tem ajudado a dissipar as sombras na democracia irrefreável das redes sociais.

Sobre a última trapalhada do beócio que elegeram ao cargo mais importante do planeta Terra, no irrefletido abandono dos EUA do Acordo de Paris, Ricardo escreveu (aqui) e o blog pede licença para republicar abaixo:

 

 

 

A saída dos EUA do Acordo de Paris é lamentável para o mundo e péssimo para os EUA.

O inegável alarmismo e a correção política com que certas tendências políticas tratam a questão climática não mudam o fato de que o aquecimento global é um problema gravíssimo e premente. É preciso manter o debate aberto, e um acordo imperfeito, que pode ser aprimorado, é melhor do que acordo nenhum.

Trump ficou contra todos os países do mundo com exceção de Síria e Nicarágua: eu não sei vocês, mas eu não acho boa companhia. Além disso, como os EUA são uma federação, os estados não são obrigados a seguir a União, e Nova York, Califórnia e outros já avisaram que vão seguir o Acordo.

Trump disse que não foi eleito para representar os cidadãos de Paris, mas os de Pittsburgh, e, imediatamente, o prefeito de Pittsburgh avisou que também vai seguir o Acordo. O maior poluidor do mundo, a China, segue no acordo.

Trump não escolheu Pittsburgh por acaso: a cidade foi o primeiro centro de refinamento de petróleo dos EUA, e o presidente é um vigoroso defensor do combustível fóssil, o maior vilão no aquecimento global. Pois até a Exxon, a maior empresa de petróleo americana, criticou Trump e lamentou a saída do Acordo. Assim como o fizeram todas as empresas comprometidas com o futuro: Apple, Microsoft, GE etc.

Quanto mais Trump se isola, menos importantes ficam os EUA e mais importante fica a China. É péssima notícia porque os EUA são uma democracia que cumpre o combinado e a China é uma ditadura que nem sempre cumpre o combinado.

Não admira que o prefeito de Londres, como lembrou o Idelber Avelar, tenha mais o que fazer do que falar com o presidente americano. Na batida em que vai, em breve só as telefonistas da Casa Branca darão ouvidos a Trump.

Em tempo. Este post não é sobre o aquecimento global, é sobre geopolítica: mesmo que Trump esteja certo sobre o aquecimento global, sua decisão continua equivocada. Mas, já que estamos nisso, para quem acha que o aquecimento global é conversa fiada, digo duas coisas: i) há muito mais motivo para acreditar que ele esteja ocorrendo do que que não esteja. ii) vocês estão num pôquer de alto risco, querem pagar para ver tendo na mão um par de 6, e as fichas são o futuro de nossos filhos e netos.

 

Para saber um pouco mais sobre a lacuna geopolítica aberta no mundo pelos açodamentos unilaterais de Trump, também confira aqui o artigo do jornalista e escritor venezuelano Moisés Naím.

 

Banco do Brasil de SJB amanhece com porta perfurada e gerente não faz ocorrência

 

Perfuração, aparentando buraco de bala, e trincado na porta da agência do BB em São João da Barra, hoje de manhã (Foto: Elder Amaral – Parahybano)

 

 

(Foto: Elder Amaral – Parahybano)

 

Tiro ou não? Vandalismo ou tentativa de roubo? O fato é que a porta de vidro da agência do Banco do Brasil (BB) em São João da Barra (SJB), na avenida Joaquim Thomaz de Aquino Filho, principal da cidade, amanheceu trincada e com a marca de uma perfuração, como a foto evidencia. E o registro de ocorrência e a perícia no local sequer foram feitos.

Apesar de ter ressalvado não ser perito e não estar tecnicamente capacitado para definir a questão, o tenente coronel Fabiano Souza, comandante do 8º BPM, disse que “a priori, não teria sido tiro”. Segundo ele explicou, uma viatura da PM percebeu no início da manhã de hoje a porta da agência trincada. Os PMs esperaram a chegada dos funcionários para verificar sinais internos, sem que nada tivesse sido encontrado.

A PM levou o fato à 145ª DP, mas o gerente não quis ir junto para registrar a ocorrência, informando que o faria mais tarde. Até o presente momento, o gerente não apareceu na DP e a ocorrência não foi feita. Sem ela, não foram solicitadas as imagens das câmeras de segurança, nem foi realizada a perícia, única forma de se definir o que houve de fato durante a madrugada. Informações dão conta de que, mesmo sem a perícia, a porta já teria sido consertada, o que torna muito difícil qualquer análise posterior.

 

Atualizado às 17h49

 

Um ano sem Muhammad Ali — Descanse em paz, campeão!

 

Imagem histórica de Muhammad Ali (de pé) contra Sonny Liston, ex-campeão derrotado no primeiro minuto do primeiro assalto, na luta de 25 de maio de 1965 (Foto: Neil Lefer)

 

 

Na noite de sábado (03), em Atafona, apresentei a uma pessoa querida o texto que escrevi após a morte do lendário pugilista Muhammad Ali, numa forma de dizer o quanto senti de maneira pessoal a sua perda. Pois hoje, numa dessas coincidências que não há, uma lembrança automática de Facebook me indicou fazer um ano que Ali morreu.

Mais que um ídolo, Ali foi o ídolo do meu pai. Num superlativo em pleonasmo: foi o ídolo do meu ídolo.

Ao pesquisar agora no blog, constato que, em prosa e verso, antes e depois da sua morte, já escrevi um pouco sobre ele. Na saudade de um herói real que conheci ainda criança na tradição oral das histórias paternas, muito antes das facilidades do Youtube, seguem abaixo os links desses textos, além do vídeo com um resumo da vida de Ali.

Descanse em paz, campeão!

 

 

 

 

1 – Joe Frazier — “Baixinho” à altura do maior

 

2 – Muhammad Ali — O maior de todos os tempos

 

3 – Vai encarar?

 

4 – Anderson e Ali — De canhota, do pedestal dos deuses à lona dos mortais

 

5 – Artigo do domingo — Nos versos do campeão

 

6 – “Quando éramos reis”, nesta quarta, no Cineclube Goitacá

 

7 – Das lágrimas, versos ao campeão

 

8 – Virá impávido que nem George Steiner

 

9 – Para seguir na luta, após um 2016 que não foi fácil a ninguém

 

Álvaro Lins critica Chequinho, mas nega qualquer envolvimento

 

Por Aluysio Abreu Barbosa

 

“Jamais tive esse tipo de diálogo com o ex-governador Garotinho”. Foi o que garantiu o advogado Álvaro Lins. Ex-deputado estadual e ex-chefe de Polícia Civil nos governos estaduais Garotinho e Rosinha, ele negou a possibilidade, noticiada pela Folha (aqui) e O Globo (aqui), de que seu escritório tivesse sido contratado pelo ex-governador para levantar informações sobre autoridades públicas responsáveis pela operação Chequinho. Lins confirmou, no entanto, um encontro com Garotinho no final de 2016, mas restrito à mudança de defesa do acusado de liderar um “escandaloso esquema” de troca de Cheque Cidadão por voto na eleição de 2016 em Campos. Para Lins, “Garotinho é um nome forte da política fluminense e sofre uma perseguição implacável de setores da mídia por uma única razão: ele não tem cabresto”. Nesta entrevista, onde também falou da sua condenação e de Garotinho pela Justiça Federal do Rio, além da política fluminense de Segurança Pública, o ex-chefe de Polícia disse ao fim da sua última resposta, aparentemente personalizada: “Se você me conhecer de verdade verá que, comparado a tudo que fizemos, o capitão Nascimento é um simples escoteiro”. Como a entrevista foi feita por e-mail, não deu para perguntar por quê.

 

Álvaro Lins (Foto: Reprodução)

 

 

Folha da Manhã – O senhor foi contratado ou sondado por Anthony Garotinho (PR) para levantar informações sobre o juiz Ralph Manhães, o promotor Leandro Manhães e o delegado federal Paulo Cassiano, nomes à frente da operação Chequinho, que condenou vários nomes do grupo político do ex-governador pela troca de Cheque Cidadão por voto, nas eleições municipais de Campos em 2016?

Álvaro Lins – Não. Jamais tive esse tipo de diálogo com o ex-governador Garotinho.

 

Folha – Como explicar que a possibilidade da sua contratação por Garotinho tenha chegado à Folha através de uma fonte e sido confirmada cinco dias depois ao jornal O Globo, por duas outras fontes? Essas fontes estão mentindo? Por que o fariam? Qual seria o interesse de envolvê-lo, um advogado e político radicado no Rio, nos fatos de Campos?

Lins – No final do ano passado o ex-governador Garotinho mudou de advogado e contratou o dr. Fernando Augusto Fernandes, tendo me pedido para elaborar um resumo das nulidades e demais teses que envolvem nossos processos em comum, sendo esta a razão do contato que mantive com ele e com seu novo defensor. Quanto ao jornal O Globo, este apenas repercutiu a matéria da Folha da Manhã e a busca que foi realizada (em matéria de 17 de março, do jornalista Marcos Grillo, o jornal carioca afirmou: “A contratação de Lins foi veiculada pelo jornal ‘Folha da Manhã’ e, segundo O Globo apurou, foi confirmada a investigadores por duas fontes diferentes”). A repercussão é consequência natural quando se lançam ilações contra pessoas públicas e fontes humanas sempre podem ser movidas por interesses inconfessáveis.

 

Folha – Além da informação das fontes, cujo sigilo é prerrogativa constitucional, um inquérito foi aberto na 100ª Zona Eleitoral sobre suas possíveis relações com Garotinho nos desdobramentos da Chequinho. Em que pé estão essas investigações?

Lins – Nunca fui ouvido em inquérito algum e nem vejo motivo para isso. Não tenho ideia de quem sejam as pessoas acusadas ou dos fatos em apuração, apenas tomando conhecimento pelo que li nos jornais.

 

Folha – Depois da operação do GAP que, em 17 de março, apreendeu imagens de câmeras do prédio onde Garotinho reside, ele alegou num programa da Rede TV, em 31 de abril, que não está proibido de se encontrar com o senhor. Houve encontros entre os dois durante ou após a eleição municipal de 2016? A Chequinho foi assunto em algum deles?

Lins – Como disse anteriormente, meu contato com ele foi no final de 2016, após as eleições, e apenas em razão da mudança na defesa.

 

Folha – Como ex-delegado e advogado, qual sua opinião da condução da Chequinho nas investigações e no Judiciário?

Lins – Pelo que tenho lido e visto na mídia a ordem para retirar o ex-governador de um hospital contrariando orientação médica não pode ser vista como normal. Não me lembro de ter visto isso acontecer, mesmo quando lidei com a prisão dos mais sanguinários bandidos do Rio, bastando lembrar que naquele mesmo hospital ficou internado ano passado o traficante Fat Family, que fugiu antes de ser transferido.

 

Folha – Na eleição de 2014, foi vazado (aqui) um áudio com o senhor pedindo votos a policiais pelo WhatsApp para Garotinho a governador, que não chegou ao segundo turno daquele pleito. Por que esse seu trabalho político teve que ser vazado para ser conhecido? Isso não pode passar a ideia de algo a esconder?

Lins – Sou filiado ao PR e nada tenho a esconder. Garotinho é um nome forte da política fluminense e sofre uma perseguição implacável de setores da mídia por uma única razão: ele não tem cabresto e não se presta ao papel de marionete de ninguém. Esse tipo de político não interessa a muita gente importante.

 

Folha – O senhor foi chefe de Polícia Civil nos governos estaduais de Garotinho (1999/2002) e Rosinha (2003/07). Qual chegou a ser e é hoje a sua relação com o casal?

Lins – Quando fiz concurso para delegado eu passei em primeiro lugar e já era capitão da PM, onde também terminei na primeira colocação o curso de aperfeiçoamento. Essa qualificação me levou a trabalhar na Divisão Antissequestro e na Polinter, até que fui convidado pelo então secretário Josias Quintal para ser chefe da Polícia Civil no final do ano 2000. Até então eu não conhecia o casal Garotinho e meu contato com eles foi sempre profissional, até que decidi ser candidato e falar também de política.

 

Folha – A partir da operação Segurança Pública S/A, deflagrada pela Polícia Federal em 2008, o senhor e Garotinho foram denunciados pelo Ministério Público Federal por usar a estrutura da Polícia Civil, durante o governo Rosinha, para formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção e facilitação de contrabando. Em 2010, os dois foram condenados pela Justiça Federal do Rio: o senhor a 28 anos de prisão; Garotinho, a dois anos e meio. Atualmente, o caso está no Tribunal Regional Federal do Rio (TRF 2). Como está o processo?

Lins – O processo aguarda julgamento da apelação e essa sentença será revertida. Desafio qualquer um a me mostrar quem me pagou, quanto, onde e como. É uma condenação por ouvir dizer e sem qualquer fundamento.

 

Folha – Diferente de Garotinho, que não sofreu grande consequência prática da denúncia e posterior condenação, o senhor chegou a ser preso entre 2008 e 2009, teve cassado seu mandato de deputado estadual e foi demitido do cargo de delegado de Polícia Civil. Sente-se injustiçado? Por quê?

Lins – Injustiçado é pouco. Mas tenho certeza que tudo isso será devidamente reparado.

 

Folha – O senhor também acabou perdendo a carteira da OAB, que conseguiu recuperar em 2013. Em que se consiste sua atuação hoje como advogado? Vive apenas dela ou mantém também outras atividades? Pretende ainda retomar a carreira política?

Lins – Isso é um equívoco. Nunca tive carteira da OAB porque eu era militar quando terminei a faculdade e havia impedimento. Fiz o exame de ordem como qualquer um e passei. Hoje vivo como advogado atuante em centenas de processos e professor universitário. Me candidatei a deputado estadual em 2006 e fui o 5º mais votado no Estado, mas não penso em voltar à política porque me sinto realizado com a advocacia.

 

Folha – Para quem foi oficial da PM, delegado e chefe de Polícia Civil, como enxergou a política de pacificação das comunidades cariocas, inegável carro chefe dos oito anos de governo Sérgio Cabral (PMDB)? Qual sua herança no governo Luiz Fernando Pezão (PMDB)? Há solução para a Segurança Pública fluminense?

Lins – É muito triste ver esses jovens soldados da PM morrendo dia após dia nas áreas “pacificadas” das UPPs. Isso me lembra o fracasso americano na ocupação do Vietnã, onde os recrutas foram para guerra no lugar das tropas mais bem preparadas. Essa política das UPPs é inviável econômica e operacionalmente. Não há como explicar que a UPP da favela da Rocinha tenha 650 PMs para uma comunidade com menos de 100 mil habitantes, enquanto o 20º BPM dispõe de quase o mesmo efetivo para cobrir os municípios inteiros de Nilópolis, Mesquita e Nova Iguaçu, com população superior a um milhão de pessoas. Além disso, as delegacias legais que inauguramos foram abandonadas e estão voltando a ser sucateadas. Solução para Segurança passa por mais educação e por uma Polícia respeitada e motivada. Mas como conseguir isso se nem o salário dos policiais é pago em dia?

 

Folha – Está acompanhando a situação da escalada da violência no Norte Fluminense? Mesmo com proliferação de assaltos e 86 homicídios em Campos, só nos cinco primeiros meses de 2017, recentemente 40 homens foram retirados do 8º BPM para servir ao Grande Rio. O que pensa sobre isso?

Lins – A política de segurança foi voltada exclusivamente para a capital e se mostrou desastrosa. Estou respondendo esta entrevista e ouvindo rajadas de tiros nos morros de Copacabana, onde moro, o que não existia. As ocupações das UPPs eram anunciadas com larga antecedência, permitindo que os bandidos fugissem para outras áreas. Ou será que alguém achava que os traficantes iriam tirar carteira de trabalho e procurar emprego no dia seguinte? As UPPs somente se sustentavam às custas de muita propaganda e do clima de festa da Copa do Mundo e Olimpíadas. Para piorar, os efetivos eram insuficientes e os Batalhões do interior tiveram que ceder seus policiais para a capital. Me lembro que um dado chamava atenção quando fui chefe de polícia: o 8º BPM era recordista de apreensão de armas e sempre merecia cuidado especial. Depois não acompanhei mais essa estatística, porém é uma irresponsabilidade diminuir o efetivo de Campos justamente na hora em que bandidos da capital se mudaram para lá.

 

Folha – Outro município também atendido pelo 8º BPM e que tem sofrido com assaltos, tanto a residências, quanto a carros em estradas, é São Francisco de Itabapoana, vítima também da falta de fiscalização de sua fronteira com o Espírito Santo. Com os dois Estados vizinhos em graves dificuldades financeiras, qual o caminho?

Lins – O caminho está na integração dos órgãos de segurança e no compartilhamento de informações, inclusive com as Guardas Municipais. Uma quadrilha rouba carros, cargas e trafica drogas dos dois lados da divisa e as Polícias não dividem o conhecimento entre si. Lembre-se que o orçamento da Segurança em nosso Estado saltou de R$ 2 bilhões para quase R$ 9 bilhões nestes últimos anos e os resultados são cada vez piores, pois o dinheiro é mal investido. O governo federal, por sua vez, não fornece ajuda efetiva e se descuida das fronteiras, portos, aeroportos e estradas por onde passam toda a maconha, cocaína e armas que chegam ao Rio.

 

Folha – Na enciclopédia virtual Wikipédia (aqui), a última informação em seu perfil é que, no popular filme “Tropa de Elite 2” (2010), de José Padilha, o personagem do “secretário de Segurança do RJ, depois eleito deputado federal, é apontado por muitos como sendo inspirado no ex-chefe de polícia e ex-deputado estadual, Álvaro Lins”. Como vê tal referência?

Lins – Deve ter sido escrito por algum idiota, pois nunca fui secretário e muito menos deputado federal. Se você me conhecer de verdade verá que, comparado a tudo que fizemos, o capitão Nascimento é um simples escoteiro.

 

Publicado hoje (04) na Folha da Manhã

 

Crônica do domingo — Presidencialismo x parlamentarismo

 

 

 

Por Aluysio Abreu Barbosa

 

— Relação com mulher é presidencialista, percebe? Relação com menina é parlamentar — sentenciou Aníbal à mesa do botequim dividida com o velho amigo de data recente.

— Como assim? — indagou Jorge, com a dúvida ainda molhada do gole de cerveja gelada.

— Depois que a gente passa dos 30, a relação com alguém da nossa idade é entre você e a pessoa. Pode até ser complicada. Mas são vocês que resolvem entre os dois. É uma relação presidencialista.

— Até aí tudo bem. E a parlamentar? — indagou, ainda sem matar a segunda analogia.

— E se você for se relacionar com uma menina mais nova? E se ela ainda morar com a família? Pais, irmãos, amigos se acham no direito de também opinar. Aí a sua relação deixa de ser presidencial e passa a ser com um parlamento.

Jorge sorriu, sinalizando apenas na expressão da face sua compreensão integral e concordância com a distinção do amigo. À deixa muda, Aníbal tomou um gole longo de cerveja e emendou:

— Depois de certa idade, a gente não tem mais de saco pra lidar com parlamento. E vai que tem aquele cunhado pedante que você não votava nem pra servir cafezinho frio à oposição? A paciência acaba depois dos 30. E a gente já tá com mais de 40.

— Tem coisas que só o tempo. Família é importante. Talvez a coisa mais importante da vida. Mas cordão umbilical é patologia — diagnosticou Jorge.

— A menina pode até ser madura. Mais do que eu ou você, na idade dela. Mas tem coisa que não dá pra pular.

— Tipo?

— Tipo, ela é de confiança, aquela pessoa que você poderia confiar até sua vida. Confiaria cegamente.

— Então qual é o problema?

— Mesmo sendo de confiança e madura para a idade dela, ela tem a idade dela. E, pela falta de cancha, fala tudo com a mãe. E a mãe fala tudo com o mundo. Nem é por mal. Só a força de um hábito que você nunca teve.

— É o que falei do cordão umbilical. Dá pra imaginar bem como é…

— E aí você acorda um belo dia e vê que seu parlamento virou o mundo. Abriu o olho ainda com remela e bochecha marcada da dobra da fronha do travesseiro. E deu de cara com a corte do Luís XIV dando palpite na sua vida a dois — descreveu Aníbal, antes de virar o restinho de cerveja no fundo do copo.

— É, deve ser um susto. O mundo é muita gente. Com os regimes, o presidencialismo deveria evoluir ao parlamentarismo. Com as relações talvez seja o contrário — filosofou Jorge.

— Aí você enche o saco e toca fogo no Reichstag. Você até chegou a gostar da menina, não do entorno. Afinal, a gente fica seletivo com a idade. E o que acontece? O parlamento não aceita perder poder e trabalha pra te derrubar. Tá destinado a virar uma Dilma ou um Collor.

— Melhor a gente não desviar o rumo da prosa. Política, no Brasil de hoje, é assunto mais passional que relação.

— Sem entrar nessa outra política, foi por isso que troquei de sistema de governo.

— Sim, depois de certa idade, o presidencialismo é menos complicado.

— Um poeta amigo meu disse que é fácil saber quando a relação está condenada pela imaturidade: qualquer erro lírico ganha proporções épicas.

— Resumiu a ópera! Ninguém melhor que um poeta para fazer o libreto.

— A gente é macaco, bicho de bando. Todos temos nosso parlamento. Mas só viramos adultos depois que evoluímos o suficiente para pendurar a placa de não perturbe na maçaneta do outro lado da porta da relação. Quem é seguro de si deixa o resto do mundo gramando, lá fora!

— E que coma capim até a barriga ficar verde!

— Menina sempre idealiza um príncipe. Mulher vê o homem… ou a outra mulher.

— O príncipe não virou um chato?

— Que dá no saco real e imaginário!

— Grande Cássia Eller! — saudou Jorge, enquanto ia levantar um brinde, até notar vazios o copo do amigo e a garrafa comum.

— Sabia que Cazuza e Frejat fizeram essa música para a Angela Ro Ro? Mas ela disse que não gostou. Aí apareceu a Cássia, gravou e virou o que virou.

— Malandragem! Literalmente!

— Amigão, vê mais uma cerveja e dois bolinhos de feijoada? Mas bem sequinhos, valeu?! — ressalvou Aníbal ao garçom que passava ao lado da mesa do boteco.

 

Publicado hoje (04) na Folha da Manhã

 

Fabio Bottrel — O que é uma sociedade justa?

 

Sugestão para escutar enquanto lê: “Choros No 5 “Alma Brasiliera” (Villa-Lobos) Yo-YoMa’sBrazil, Live Concert”

 

 

 

 

 

 

Sócrates outrora disse: a vida sem reflexão não merece ser vivida. Complementaria, esse mero autor que vos escreve, que sem a reflexão sobre si mesmo, a justiça seria inalcançável. Desde cedo compreendi, pelo ofício da escrita, qualquer atividade que demanda do indivíduo o autoconhecimento, este, de uma maneira geral, está descobrindo para todos nós. Sabendo de suas necessidades e, assim, da sociedade, tem-se o parâmetro de justiça: desenvolvimento da educação, assistência médica, segurança, liberdade etc. e toda ação a considerar justa, seria um ajuste nessas condições. Diante de tais circunstâncias e percepções cabe-nos a pergunta: por que vivemos numa sociedade injusta? O que nos torna tão impotentes?

O Direito, força que emana da vida coletiva, alma da sociedade suposta a nos tornar potentes e justos, diante de tais desajustes e estatísticas de classes punidas, não serviria como fiador de grupos dominantes a desequilibrar essa balança tão infame? Como Pascal já afirmava, a justiça sem força é impotência, a força sem justiça é tirânica. Talvez a tirania hoje esteja arraigada numa estrutura social que force caminhos discrepantes entre indivíduos tão próximos geograficamente, cujos discernimentos mais escassos não percebem, que na curta distância a separá-los há um abismo de anos-luz. Não é onde há pobreza que nasce a violência, mas onde permeia a desigualdade e injustiça. Quem sabe a justiça, de fato, seja o triunfo dos fracos.

Talvez Ferreira Gullar tenha sentido essa impotência ao escrever o poema O açúcar, no conforto punitivo decada gole de café a adoçar sobre seus lábios o inferno trazido para a consciência:

 

“O branco açúcar que adoçará meu café

nesta manhã de Ipanema

não foi produzido por mim

nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

 

Vejo-o puro

e afável ao paladar

como beijo de moça, água

na pele, flor

que se dissolve na boca. Mas este açúcar

não foi feito por mim.

 

Este açúcar veio

da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia.

Este açúcar veio

de uma usina de açúcar em Pernambuco

ou no Estado do Rio

e tampouco o fez o dono da usina.

 

Este açúcar era cana

e veio dos canaviais extensos

que não nascem por acaso

no regaço do vale.

 

Em lugares distantes, onde não há hospital

nem escola,

homens que não sabem ler e morrem de fome

aos 27 anos

plantaram e colheram a cana

que viraria açúcar.

 

Em usinas escuras,

homens de vida amarga

e dura

produziram este açúcar

branco e puro

com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.”

 

Samuel Richardson, famoso escritor inglês cujas obras epistolares germinaram no século XVIII e contribuíram, tanto quanto os romances de Rousseau, num novo florescer da mentalidade à época que ecoaria as primeiras vozes dos Direitos Humanos, disse em frase curta e imponente: as leis não foram feitas para o homem honrado. Penso então, se foram feitas por aqueles que adoçaram seu café na manhã de Ipanema, com suas honras intactas bem abaixo da bunda acolchoada pelo sofá.