Guilherme Carvalhal — Na sala de espera

 

 

 

Por mais que contasse os minutos, os mesmos relutavam em se adiantar. Ponteiros teimosos atrasando os passos, estendiam o elástico da espera ao máximo da tensão — a quase arrebentar.

O garoto com celular nas mãos e fones no ouvido tamborilava os dedos no braço de alumínio da cadeira. Sua mãe o acompanhava e folheava uma revista, com velocidade de quem passa os olhos sem nada ler.

Aturdia-me. Sonhava com uma fuga, pelo fim desse momento de agonia. A saída, a porta principal, reluzia obstruída, um empecilho existente com exclusividade na minha mente.

Por que essa senhoras falam tanto em morte? Juvenal estava tão bem do nada morreu. É mesmo? O Sílvio foi do mesmo jeito, um catiripapo sem mais nem menos, caiu mortinho voltando da feira. E teve endemoninhado que levou sua sacola de mamão.

Claustrofobia. Cheiro asséptico de consultório médico. Detergente de lavanda. Música ambiente com quatro notas musicais se alternando. Uma secretária ociosa lixando as unhas. Eu suava.

A moça limpava coriza. Saía aquele muco esverdeado pela narinas após uma pressão em seu respirar. Assoou: o ruído sugeria pedaços de pulmão escapulindo pela traqueia. Gerava piedade, e uma das senhoras correspondeu e perguntou qual problema a acometia.

Meus instintos internos me impulsionavam a levantar e partir. Por outro lado, eu me envergonhava por ter de realizar quaisquer gestos bruscos diante desse público adoentado e imerso em lástimas. Próximo deles, eu queria manter uma postura de integridade. Doença não me abala, consulta médica não passa de coisa rotineira.

A porta se abre. Sai um sujeito meio em choramingos. Notícia ruim? Deu-lhe uma semana de vida? Ninguém se importou; se aliviaram pela certeza da fila de espera diminuir.

Eu batia os pés, ansioso. Aquela demora me levava por um longo suplício. Eu encarava uma forçosa solidão, restrito em meio a gente estranha, e por serem estranhas, para mim eram desagradáveis. Eu as encarava, pouco afável, quase furioso. Queria lhes dizer o quanto me incomodavam, o quanto me irritavam suas meras existências, agravadas pela proximidade. Elas, tão assépticas quanto o azulejo, me remetiam a nada, e por serem nada, evidenciavam minha solidão.

Eles me retribuíam o olhar. Cada um funcionava como espelho aos demais, eu compreendia. Assim como eu, todos se sentiam de alguma maneira solitários. E agonizávamos conjuntamente de nossa solidão.

 

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