Guilherme Carvalhal — Devolução

 

 

 

A criança era negra.

Nádia entrou para a sala de parto acompanhada de Roberta. Três anos de casadas. O desejo intenso de terem um filho.

O folder de uma clínica de fertilização. Prometiam crianças saudáveis em um tratamento parcelado em 20 vezes, com todos os pré-natais inclusos mais o parto. Inclusive ganhariam um macacão com o logotipo da empresa bordado.

Um momento singular na vida das duas. O óvulo de Roberta fecundado e inserido no útero de Nádia. A barriga crescendo, os desejos de grávida, os enjoos. Compartilharam cada instante daquela gestação, sempre juntas, sempre se amando.

Isso tudo para não sair conforme o desejado.

Especificaram na clínica que queriam uma criança loira e de olhos azuis. Se possível uma menina, mas explicaram que não chegava a um procedimento de engenharia genética. No caso, selecionariam esperma de um doador com as características físicas desejadas. O restante dependeria da natureza.

Teriam misturado então os fracos de sêmen? Teria um técnico após chegar de ressaca ou brigar com a namorada se descuidado e trocado o frasco de nórdico pelo de africano? Assim, em outro canto, quem esperava um garoto negro também se espantaria com aquela cara branquela?

Podia ser questão de genética mais profunda. Genótipos e fenótipos. Aquele seu tio Everaldo e o cabelo sarará bem que identificam um ancestral negro. Mas poderia um vínculo já distante influenciar dessa forma?

Nádia era filha de pai mulato. Teria o cordão umbilical ou o líquido amniótico influenciado em algo?

Roberta não sabia exatamente como prosseguir. Ligaria para o SAC da empresa e reclamaria da falha? Será que isso se encaixaria em algum mecanismo de devolução? Por exemplo, entregariam aquela criança à mulher que desejava um filho negro e recuperariam o outro?

Havia algum termo no Código de Defesa de Consumidor que as defenderia? Que tal acionar o Procon?

Lembrou daquele quadro do Fantástico em que o InMetro testava uma série de produtos. Pensou na certificação de qualidade dessas clínicas de fertilização. Exigiram carteira de vacinação dos doares, metodologia para envase e armazenamento, com a devida assepsia e criogenia.

Visualizou o bebê portando o selo do InMetro de nascença.

As duas seguraram as mãos. Naquele choque inicial, mal puderam prestar atenção na criança. A enfermeira o levou para o banho e os devidos cuidados com os neonatos. E as mães ali, pensativas, como se não soubessem como amar aquela criaturinha, reticentes quanto aos próprios sentimentos.

Horas mais tarde, o trouxeram para mamar. Quando Nádia o pegou no colo, Roberta se aproximou. A criança deu uma risada, reconhecendo suas mães. Riu de maneira espontânea, sem cócegas nem nada. As duas responderam o riso. Passaram o dedo em sua barriga e subiram até o rosto. Despuseram-se de todas as pretensões e apreensões: sabiam que ali estava seu filho.

 

Gustavo Alejandro Oviedo — O amigo da liberdade

 

“A expulsão dos mercadores”, de Quentin Matsys

O filósofo espanhol Antonio Escohotado publicou no final do ano passado o último dos três volumes de “Los Enemigos del Comércio”, um ensaio monumental de história, sociologia e política que o teve ocupado durante 17 anos. O tratado é uma apologia do capitalismo através da revisão de todas as ideias e doutrinas contrarias a ele, ao longo da história ocidental.

A tese de Escohotado é  a seguinte: quem é contra o comércio é contra a liberdade, o conhecimento e o progresso. O filósofo defende essa hipótese através de mais de dois mil páginas que revelam uma pesquisa exaustiva e minuciosa, partindo desde a Grécia antiga até chegar ao século XX.

“Quando comecei o livro — esclarece Escohotado no prefácio — tinha me proposto a princípio uma coisa simples, impulsionado pela necessidade de reconstruir para aprender. O objetivo era precisar, tanto quanto possível, quem, e em qual contexto, sustentou que ‘a propriedade privada constitui um roubo, e o comércio é o seu instrumento’. Vários anos mais tarde — após saber quais foram essas pessoas e grupos desde o século XIX — entendi que a sua tese era anterior, que tinha reinado vários séculos sem oposição e que aquela área da árvore genealógica comunista era pertinente para não confundir o tronco com as folhas, o perene com o efêmero”.

Escohotado pode (e deve) ser chamado de liberal, mas de forma alguma de conservador. Fervoroso defensor da liberação total das drogas, ficou famoso ao final década de 80 pela sua “História General de las Drogas”, um tijolão de 1.400 páginas, e do qual existe um resumo chamado “História Elemental de las Drogas”, editado no Brasil. O escritor certamente sabia do que falava: é um reconhecido  consumidor de alucinógenos e outras sustâncias ilícitas. Até hoje, com 76 anos, fuma 3 maços de cigarros por dia.

Em 1976, morando em Ibiza, Escohotado abriu uma boate chamada “Amnésia” com os recursos da herança de sua mãe. “Amnésia” viria a ser uma das casas noturnas mais célebres e badaladas do mundo, mas também seria a causa de um processo criminal contra o escritor, sob a acusação de comandar a “máfia hippie” da ilha. Condenado pelo curioso delito de “tráfico de drogas en grado de tentativa imposible”, Escohotado preferiu ficar preso a recorrer da sentença, e considerou aquele período de reclusão como “humildes férias pagas”. O “Tratado General de las Drogas” foi escrito na cadeia.

Não se pode dizer, portanto, que a defesa ao capitalismo de “Los Enemigos del Comércio” provenha de um direitista reacionário. E nem se cogite associar o anticomunismo de Escohotado ao dogmatismo católico. Para o espanhol, a Igreja é tão coletivista  — e hipócrita — quanto os socialistas. O economista Javier Paz Garcia explica:

“O livro, como o indica o seu título, se concentra na influência das ideias contrárias à propriedade privada, ao comércio livre e voluntário, à geração de riqueza e à liberdade em geral. Desde os admiradores da militarista Esparta por sobre a culta e democrática Atenas, até o alvorecer do comunismo, Escohotado analisa a evolução de uma seita judia cuja ascensão coincide (e não por coincidência) com a decadência do império romano e a submersão da Europa num período de mil anos de obscuridade e estagnação”.

Em síntese, trata-se de um livro fascinante de um sujeito ainda mais fascinante. Um livre pensador que desconfia dos dogmas, pois, segundo ele, “dogmatismo é preferir o prejuízo ao juízo, a legislação ao direito, a costume ao livre exame. A minha obra está destinada a combatê-lo”.

 

Carol Poesia — Menino, quem foi teu mestre?

 

 

 

“Menino, quem foi teu mestre?” é um dendê poético com banda completa… Um show com canções e poesias sobre a cultura afro-brasileira.

Cheio de ritmo, o repertório oferece a releitura de célebres canções da MPB desde a década de 70 até a atualidade, evidenciando a influência da cultura africana nos ritmos, letras e instrumentos musicais do Brasil.

Para os “jovens há mais tempo” tem os clássicos que amamos – Baden Powell, Vinícius de Moraes, Clara Nunes, Gil, Caetano e Bethânia… Mas os contemporâneos não ficam de fora não! Tem Natiruts e outras surpresas… Além das canções e textos autorais também.

E tem capoeira, claro!

O projeto estreou em julho de 2016, no X-Tudo Sesi Cultural, em Campos, e ganhou o edital público do Circuito SESI Cultural, em 2017. No palco estarão Carol Poesia (vocal), André Barros (guitarra), André Rangel (baixo), Robson Jorge (bateria), Lucas (percussão) e grupo Lampião. Não perca!

 

Macaé – 24 de agosto (quinta), às 20h, no Sesi

Campos – 25 de agosto (sexta), às 20h, no Sesi

Itaperuna – 26 de agosto (sábado), às 20h, no Sesi

 

CDLs querem pré-candidato a deputado federal e dois a estadual

 

 

 

CDL no jogo (I)

Citado nas edições dos últimos dias 16 e 17, o presidente da Federação Fluminense das Câmaras de Dirigentes Lojistas (CDLs), Marcelo Mérida, procurou ontem a coluna. Embora diga ainda depender de conversas com sua família, o empresário confirmou que existe a ideia dele se lançar como pré-candidato à Câmara Federal, como o “Ponto Final” adiantou. O projeto não seria pessoal, mas fruto da necessidade que os lojistas sentem de serem atores, não mais meros observadores do teatro político. Dentro deste contexto, as CDLs pretendem lançar no RJ um candidato a deputado federal e dois a estadual, em 2018.

 

CDL no jogo (II)

Por ser presidente da Federação Fluminense, Mérida seria o nome a deputado federal. Já à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), os dois postulantes poderiam sair das CDLs de Niterói, Nova Iguaçu, Três Rios, Volta Redonda ou Barra Mansa, além da Região Serrana (Friburgo, Petrópolis e Teresópolis). Entre eles, se destaca na disputa interna o secretário de Administração do governo municipal Rodrigo Neves (PV), em Niterói, Fabiano Gonçalves. Empresário do setor de construção e alimentação, ele concorreu a vereador pelo PRB em 2016, perdendo a eleição por apenas um voto.

 

CDL no jogo (III)

Embora ressalve ser cedo para falar em partido, cujo prazo de filiação para concorrer em 2018 depende de mudança ou não das regras, Marcelo admite que as tratativas que mantém como presidente da Federação das CDLs, sobretudo na Alerj, apontam caminhos. Estes, segundo ele, não podem estar nem muito à direita, nem muito à esquerda. Entre ambas, ele já conversou com o PSDB do deputado estadual Carlos Osório e com o PT do B do presidente estadual Vinicius Cordeiro. Como a coluna adiantou na semana passada, há também a possibilidade do PHS, cujo presidente em Campos, o empresário Wainer Teixeira, é amigo pessoal de Mérida.

 

CDL no jogo (IV)

Com o PHS há um complicador. Ex-secretário da gestão Rosinha Garotinho (PR), Wainer se mantém sob influência do garotismo, mesmo que seus dois vereadores, Enock Amaral e Marcelo Perfil, sejam alinhados ao governo Rafael Diniz (PPS). Outra legenda com que Mérida vem conversando é o PSD, presidida no Estado do Rio por Índio da Costa, deputado federal licenciado para ser secretário de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação do governo carioca de Marcelo Crivella (PRB). Em entrevista recente à Folha (aqui), de grande repercussão (aqui e aqui) na mídia nacional, Índio afirmou: “A política de Garotinho é manter o pobre na pobreza”.

 

Prevenção (I)

O setor de Vigilância em Saúde da Prefeitura de Campos informou ontem que estão disponíveis mil doses da vacina contra HPV para jovens de 15 a 26 anos. Como o estoque é limitado, a vacinação só acontecerá na sede da secretaria de Saúde, mais conhecida como Centro de Saúde, enquanto durarem as doses. O público-alvo deve estar atento para se prevenir, principalmente os responsáveis pelos menores de idade. Para tomarem a vacina, é indispensável a apresentação da caderneta de vacinação, um documento de identificação e um comprovante de residência.

 

Prevenção (II)

As pessoas que ainda não receberam a dose da vacina contra a febre amarela também podem ser imunizadas. Em São Fidélis, por exemplo, a Prefeitura iniciou uma imunização volante. A primeira experiência da estratégia aconteceu na agência da Caixa Econômica Federal e os interessados em receber a equipe de vacinação em seu estabelecimento comercial devem agendar pelo telefone (22) 2758-2370. Um belo exemplo para atrair aquelas pessoas que ainda não se vacinaram contra essa doença que já matou nove pessoas no estado do Rio.

 

Limite

O deputado estadual e vice-presidente da Comissão de Segurança Pública da Alerj, Bruno Dauaire (PR), apresentou um projeto de lei para propor um limite no período em que o policial poderá ficar lotado nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Segundo Bruno, o projeto das UPPs “faliu” e deve ser repensado. A proposta do deputado é que o período de lotação do policial nas UPPs não ultrapasse dois anos.

 

Publicado hoje (22) na Folha da Manhã

 

Fernando Leite — De mãos dadas

 

(Ao meu pai,  Anleifer)

 

(Foto: Arquivo de família)

Já caminhei muitas vezes de mãos dadas com meus filhos e com os meus netos. Isso não é, apenas, um gesto, é um símbolo do amor indissociável, do amor incondicional, atávico, cósmico, entre pai e filho.

E é uma compensação da natureza ao homem, já que durante a gestação, o filho fica ligado, anatomicamente, à mãe, pelo cordão umbilical.

Eu ainda não tinha 6 anos quando o meu pai morreu. “Foi para a outra margem do rio”. Cresci, à sombra benfazeja de minha mãe, Djanira, uma jovem viúva, matriarca de uma família de 6 homens e duas mulheres, nas franjas rurais do município de São Fidélis. Nada me faltou: proteção, educação e um amor desmedido, embora contido, tímido, mas pleno. Amor encabulado.

A ausência do meu pai, Anleifer — esse nome pouco comum é anagrama do nome de seu pai biológico, Antonio Leite Fernandes, um português, que chegou ao Brasil, nos anos finais do século 19, no navio La Plata, que deixou Lisboa, numa manhã ensolarada do verão lusitano – começou a doer depois que fui inaugurado como pai. Quando joguei bola com meu filho, quando minhas filhas cobravam minha companhia pelo motivo que fosse.

Foi preciso ser pai para medir a dimensão dessa falta, que já latejava em mim e eu não percebia.

Lembro-me que, noite alta, fechava janelas e portas e antes de dormir, ia aos quartos dos meus filhos para me certificar que dormiam protegidos e serenos. Nessa hora, as raras lembranças que guardava dele em minha memória afetiva, afloravam: uma viagem que fizemos e fomos surpreendidos por uma chuva torrencial e seu paletó foi minha capa de proteção; algumas matinês no cinema da cidade, domingo à tarde e o rito que eu e meu irmão mais velho, Guilherme, cumpríamos, depois do banho, de roupa limpa e cabelos penteados. Chegávamos no quarto, onde, na cama, ele enfrentava com impecável coragem e resignação um câncer em fase terminal, e nos exibíamos para seu julgamento: “Tô bonito, pai?” Ele repetia, religiosamente: “Tá lindo!”.

Meu pai era um consumidor voraz dos romances brasileiros, era autodidata, um guarda florestal, que reunia a família nos verões e se mudava com malas e traquitanas, na carroceria de um caminhão, para a distante e inesquecível Guaxindiba. Naquela época longínqua, os nossos verões eram mágicos. Ele sabia, mesmo na lonjura daquele tempo que as pessoas “não querem só comida, querem comida, diversão e arte”.

Neste domingo último, dia 20, ele completaria 103 anos.

Fefê, como era conhecido pela família e pelos amigos, foi um grande homem, para além de suas muitas virtudes, que fiquei sabendo pelo relato de meus irmãos mais velhos, pela vida difícil que teve quando menino, vítima da truculência de seu padrasto, por ter sublimado o sofrimento por conta do amor que devotou à sua mãe, minha vó Rosalina, pelo seu gosto pela literatura, pelo cinema, pelo semblante sempre sereno que revela nas poucas fotografias que deixou.

Vendo sua imagem, lembro-me do ator Humphrey Bogart, sobre quem meu pai levava duas enormes vantagens: não fumava e era mais bonito.

Esse meu pai, com quem pouco fiquei, quanto mais passo pelo tempo, ocupa mais espaço na varanda da minha saudade, o que me faz reconhecê-lo, cada vez mais, em mim. Física e psicologicamente.

Queria a chance de uma breve caminhada que fosse, com ele de mãos dadas. Nem seria necessário conversarmos. Andaríamos em silêncio. De mãos dadas, pai e filho.

 

40 anos: Jornalismo que jorrou com o petróleo na Bacia de Campos

 

Capa do Jornal do Brasil de 14 de agosto de 1977, com a foto de Esdras e as informações de Aluysio, anunciando antes de todos o primeiro carragemento comercial de petróleo da Bacia de Campos

 

 

Aluysio e Esdrtas se tornaram referência na cobertura dos fatos mais importantes da exploração de petróleo na Bacia de Campos, como a explosão da plataforma Enchova 1, em 18 agosto de 1984 (Reprodução do Jornal do Brasil)

Por Aluysio Abreu Barbosa

 

Em agosto deste ano se comemoram os 40 anos do início da exploração de petróleo na Bacia de Campos. O primeiro carregamento, com 45 mil barris extraídos do campo de Enchova, foi revelado ao mundo em 14 de agosto de 1977. Naquele dia, a capa do Jornal do Brasil (JB), então o maior do Estado do Rio, noticiou o fato com exclusividade, graças ao trabalho de uma dupla de jornalistas campistas: Aluysio Cardoso Barbosa, que no ano seguinte fundaria a Folha da Manhã, e Esdras Pereira, colunista e blogueiro deste jornal.

A história atrás da matéria, furo jornalístico de repercussão internacional, é uma prospecção à parte. De um tempo sem internet, fax, celular ou câmeras digitais, mas com ditadura militar (1964/85), muita adrenalina e uma obsessão: contar a história antes de todos. Entre os maiores momentos do JB, jornal que fez escola de gerações de profissionais da área, o episódio está narrado nas páginas do livro “Jornal do Brasil — História e Memória”, da jornalista Belisa Ribeiro.

Como Aluysio morreu em 2012, também num mês de agosto, quem revive a história é Esdras. Pelas várias capas emplacadas no JB, com reportagens de Aluysio e fotos de Esdras, a dupla ficaria conhecida na mídia carioca como “Os caçadores de primeira página”. E o furo da capa do JB de 14 de agosto de 1977, com o primeiro carregamento de petróleo na Bacia de Campos, da plataforma Cedco-135-D ao navio petroleiro Água Grande, foi fruto também do orgulho profissional ferido.

Dois anos antes, Aluysio noticiara pela primeira vez no JB que havia petróleo em quantidade comercial no litoral de Campos. Mas o fato passou a ser sistematicamente negado pelo governo brasileiro nos tempos da ditadura:

— Aluysio ficou mordido com aquilo. Embora fizesse de tudo como correspondente do JB no Norte Fluminense, ele foi um repórter que se especializou na agroindústria sucroalcooleira. Bem antes do açúcar e do álcool serem substituídos pelo petróleo como eixo econômico da região, ele já tinha feito essa migração como jornalista, se especializando também no novo assunto, em contatos com engenheiros, pesquisadores e diretores da Petrobras. Era um profissional muito sério. E era reconhecido por isso. A partir das “informações de coxia” que ele colhia nessas conversas, Aluysio era muito convicto de que havia petróleo na Bacia de Campos— lembra Esdras.

O sucesso profissional da dupla de jornalistas vinha também de um método de trabalho próprio, baseado no hábito de sair de carro pela região, sem destino certo ou pauta prévia, à caça de matérias. Foi assim que os dois acabaram em Atafona, numa tarde invernal de 1975, de chuva fina e vento sudoeste. Passando de carro pela av. Atlântica, à beira mar, eles viram duas tendas armadas na praia, com uma grande antena de rádio, no trecho entre o antigo Farol, que o mar atingiria em 1981, e o Hotel Cassino, ainda de pé.

Curioso com aquele acampamento nas areias de Atafona, Aluysio parou o carro e, junto com Esdras, caminhou até as barracas. Nelas, um rádio operador brasileiro revelou que havia sido descoberto petróleo em quantidade comercial na Bacia de Campos. Num tempo de tecnologia bem mais limitada, o entrevistado tinha como função fazer a comunicação entre os navios de prospecção em alto mar e as sedes da Petrobras e das empresas estrangeiras que estavam trabalhando na operação.

— Por uma questão estratégica, os militares guardavam aquele segredo a sete chaves.  Era uma época de censura aos meios de comunicação. E aquilo era tratado como caso de Segurança Nacional. Mas assim mesmo, dois anos antes do primeiro carregamento, Aluysio emplacou a descoberta de petróleo no JB — conta Esdras.

As negativas da notícia pelos generais, que governavam o Brasil com mão de ferro, acabaram desmentidas pelo desenrolar dos fatos. Era 13 de agosto de 1977 quando Esdras foi cobrir, sob o sol do meio-dia, uma pauta corriqueira pelo jornal A Notícia, à época o de maior circulação em Campos: o estado de conservação da pista do aeroporto Bartholomeu Lyzandro. Ele foi sem seu parceiro. Já em vias de fundar a Folha, Aluysio estava acamado por motivo de saúde.

Ao perceber um estrangeiro no saguão do aeroporto de Campos com uma “maleta 007” e falando em inglês, mas sem dominar o idioma, Esdras pediu a um piloto da Votec, empresa de helicóptero que foi uma das primeiras a servir a Petrobras, que o ajudasse na tradução. Perguntado sobre o que fazia ali, o “gringo” não teve meias palavras. Estava trabalhando no dimensionamento do primeiro carregamento comercial de petróleo na Bacia de Campos, que já estava acontecendo naquele momento.

Ao conseguir com a fonte inesperada a longitude a latitude da operação em alto mar, Esdras foi correndo à casa de Aluysio. Quando disse do que se tratava, o jornalista deu um pulo da cama, em súbita recuperação, pela chance de finalmente poder confirmar o que tinha noticiado dois anos antes, mas era negado por Brasília.

Os dois recorreram então a um amigo comum, o industrial Geraldo Coutinho, proprietário da Usina Paraíso. Ele tinha um avião bimotor e havia contratado como piloto um ex-militar português, veterano da Guerra de Independência da Angola (1961/74). Com a malandragem de quem já tinha voado em várias missões de combate, o lusitano informou ao controle de voo um plano de ida e volta ao Farol de São Thomé.

Capa do Jornal de Brasil de 19 de agosto de 1984, sobre a explosão da plataforma Enchova 1, uma das maiores tragédias da história da exploração de petróleo na Bacia de Campos, mais uma vez registrada pelas fotos de Esdras e o texto de Aluysio

Ao chegaram à praia campista, o piloto desceu com os dois jornalistas a uma altitude mínima, quase roçando as ondas, para que não fossem detectados pelo radar. O destino real eram as coordenadas do carregamento de petróleo, a 56 milhas do litoral. Quando chegaram à plataforma abastecendo o petroleiro, por uma tubulação de mais de 200 metros, o avião voltou a subir para permitir os registros fotográficos. Deram três voltas sobre a área, com a aeronave voando de lado, para que as suas asas baixas não atrapalhassem o ângulo das lentes da Nikon F2.

Com uma delas, a teleobjetiva de 200 mm, Esdras notou que alguém no deck do navio observava o avião com binóculos, passando seu prefixo para outra pessoa, que anotava numa prancheta. E avisou a Aluysio, que determinou o retorno, depois do fotógrafo bater dois filmes de 36 poses cada. Era o final de tarde daquele dia agitado, mas que ainda guardava mais adrenalina na busca da notícia. E ela jorrou mais forte no sangue quando, pelo rádio da aeronave, os três foram comunicados que tinham invadido um espaço aéreo fechado por questão de Segurança Nacional.

A noite já caíra quando os três finalmente começaram a sobrevoar de volta o Bartholomeu Lyzandro. Pela janela do avião, os jornalistas notaram, sob um poste de luz do aeroporto, que uma Kombi branca, da Polícia Federal (PF), os estava aguardando. Era conhecida em Campos por ter também os vidros pintados de branco, para que ninguém soubesse quem estava sendo conduzido, num tempo que o regime militar não se importava em recorrer à tortura para conseguir o que queria, ou calar quem quisesse.

Quando o bimotor pousou, foi até o final da pista para fazer a volta até o desembarque. Neste momento, o piloto desligou rapidamente o avião, para que suas hélices não atingissem Esdras. Orientado por Aluysio, ele desceu pela asa e se jogou sobre o capim-colchão, plantado em volta da pista para tentar amenizar qualquer eventual impacto num pouso forçado.

Com a máquina numa mão e a chave do carro de Aluysio na outra, Esdras caminhou abaixado pelo mato até o aeroclube, onde estava estacionado o Chevette amarelo do parceiro. Ligou o carro e, com os faróis apagados, saiu sorrateiramente do aeroporto, enquanto Aluysio e o piloto eram presos pela PF tão logo desceram do avião.

Numa época em que telefone residencial era símbolo de status social, Esdras foi direto ao posto da CTB (Companhia Telefônica do Brasil), no cruzamento da 13 de Maio com a Formosa, e fez um interurbano à redação do JB. Nele, comunicou o furo de reportagem, além da prisão do colega jornalista e do aviador português. Depois foi para casa, onde mantinha seu laboratório, revelar as fotos.

Como não tinha à disposição um aparelho de telefoto, usado para passar fotografias à distância antes da internet, e não havia mais horário hábil para enviar o material por ônibus, visando a edição do jornal do dia seguinte, Esdras teve que voltar ao aeroporto. Lá, constatou que Aluysio e o piloto estavam presos numa sala fechada, onde eram interrogados pelos agentes da PF. A fila do embarque do último voo de carreira já estava andando quando ele pediu a um usineiro de ascendência inglesa que levasse as fotos, num envelope pardo, que seriam pegas por alguém do JB no Santos Dumont, no Rio.

Diante da negativa antipática, um outro passageiro, desconhecido, se ofereceu para levar a “encomenda”. Sem outra solução, Esdras lhe entregou o envelope com as fotos e voltou ao posto da CTB, para informar ao JB as características físicas e roupas do mensageiro improvisado. Paralelamente, o jornal carioca já trabalhava nos bastidores, junto aos militares, para liberar o repórter campista e o piloto português, veteranos de guerras distintas.

No dia seguinte, a capa do JB estampava a foto de Esdras, com as informações de Aluysio na legenda:

— Ligado à plataforma marítima Cedco-135-D por uma mangueira de mais de 200 metros de comprimento, o petroleiro Água Grande espera, a 56 milhas do litoral, completar sua capacidade de 45 mil barris para levantar âncoras, provavelmente na próxima sexta-feira, transportando o primeiro carregamento de petróleo do campo de Enchova para as refinarias da Petrobras. Ontem, ao meio-dia, funcionários da empresa que operam em outra plataforma na unidade Penrod-62 (P-6) anunciavam entusiasmados a conclusão, com êxito, de mais uma missão. “Encontramos muito óleo no poço que estávamos perfurando e nas próximas 48 horas a P-6 mudará de lugar”, disseram. O próximo poço da área a entrar em produção será o que está sendo perfurado pela plataforma Zephir II.

O jornalista confirmou sua história e a tornou conhecida no Brasil e no mundo. A partir dela, pelas quatro décadas seguintes, a cara de Campos e da região nunca mais seria a mesma.

 

Página 10 da edição de hoje (30) da Folha

 

Publicado hoje (20) na Folha da Manhã

 

Rafael analisa ponto a ponto da pauta do servidor

 

Por Aluysio Abreu Barbosa

 

Desde que a Câmara Municipal aprovou, na sessão do último dia 8, a instalação do ponto biométrico no serviço público goitacá e a regulamentação das substituições na categoria, o servidor reagiu. No dia seguinte (09), os servidores da Fundação Municipal de Saúde (FMS) chegaram a decretar o estado de greve. A paralisação foi descartada pelos médicos, que abriram negociações com o prefeito Rafael Diniz (PPS). Ciente do seu papel de canal de diálogo, a Folha levou ao prefeito as principais reivindicações da categoria, colhidas em consultas ao presidente do Siprosep, Sérgio Almeida, e à líder da oposição, Elaine Leão, numa categoria dividida também pela disputa política interna. Além deles, foi ouvido o presidente do Sindicato do Médicos, José Roberto Crespo. Abaixo, o que o prefeito de Campos tem a dizer sobre cada ponto da pauta do servidor:

 

Rafael analisou pontos da pauta do servidor apresentada por Sérgio Almeida, Elaine Leão e José Roberto Crespo

 

Promessa de campanha de valorizar o servidor x prática — A nossa busca por economia com cortes de mais de 500 cargos comissionados, revisão de contratos e redução de despesas são medidas para garantir e manter o salário do servidor em dia. É desta forma que valorizamos o nosso servidor hoje, garantindo o seu salário e fazendo o máximo de esforço para dar as melhores condições de trabalho. E para isso temos feito um exercício matemático, financeiro e contábil, diariamente. E ainda vamos além, já que a valorização do servidor também passa por uma recuperação do rombo que fizeram na PreviCampos. Isso é valorização do servidor, porque ele depende no futuro da Previcampos. Então, valorização do servidor é também organizar as contas públicas do município de maneira que não deixe faltar o salário. É sentar com ele, ouvi-lo e buscar entender as suas necessidades, sempre mantendo o diálogo aberto e permanente.

Plano de saúde do servidor — Em uma situação de déficit mensal de R$ 35 milhões, como vivemos hoje, é difícil falar em reajuste ou benefício, até porque a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) me impede, uma vez que o município já extrapolou os 54% de gasto com pessoal. A gente tem estudado alternativas, conversado com empresas de Saúde, buscado essa viabilização. Mas hoje, como já disse, nossa prioridade é manter o salário do servidor em dia. Mas isso não quer dizer que não temos buscado outros meios de cuidar do nosso servidor. Em maio, nós inauguramos a primeira Policlínica do Servidor. A nova unidade é uma importante estratégia dentro do Programa Municipal de Saúde do Trabalhador (PMST) e está voltada para o atendimento dos servidores da Prefeitura. A intenção com a Policlínica é assistir os servidores municipais, cuidar do maior patrimônio da Prefeitura, para que eles possam prestar seus serviços com qualidade e saúde. A proposta tem atendido aos servidores. Tanto é, que somente no primeiro dia de funcionamento foram registrados mais de 400 agendamentos. Em pouco mais de três meses, foram 4 mil atendimentos. O espaço oferece uma equipe de assistência multidisciplinar em saúde, com consultas de especialidades médicas e odontológicas, cirúrgicas e clínicas, como ginecologia/obstetrícia, cardiologia, clínica médica, dermatologia, ortopedia, psiquiatria, neurologia, cirurgia pediátrica e pediatria, além de enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos e outros profissionais.

Eleição dos diretores de escola — As eleições para diretores de escola sempre foi uma bandeira minha. Não realizamos no início do ano por falta de tempo hábil, mas o projeto interno já foi finalizado e, agora, será repassado ao nosso Gabinete, para posteriormente ser debatido com a comunidade escolar. A previsão é de que até o fim do ano ocorram as eleições e a nossa expectativa é que o ano letivo de 2018 já se inicie com os diretores de escola que foram eleitos de forma democrática, conforme sempre defendi.

RPAs cobrindo férias na Saúde, no lugar do servidor — Esta é uma situação pontual que muitas vezes deriva de questões legais ou judiciais. Mas a grande maioria das substituições dos servidores de férias é feita através do Instituto da Substituição, por servidor de carreira.

Ausência de servidores de carreira nas chefias imediatas — Isso não condiz com a realidade. A gente tem hoje ocupando tanto os cargos de comissão, quanto as de funções gratificadas, um grande número de profissionais concursados. E na área da Saúde isso também acontece. Vários cargos são ocupados por concursados. Inclusive, há várias funções gratificadas que só podem ser exercidas por servidores de carreira. Eventualmente pode haver profissional que não seja da rede, mas isso ocorre quando é para atender às necessidades técnicas da administração.

Pressão das chefias imediatas contra greve — Não temos conhecimento de que isso venha ocorrendo e, obviamente, não é determinação minha para que isso aconteça. Mas a gente pode apurar caso a caso e verificar o que está acontecendo. Posso garantir que não orientei qualquer pessoa para que impedisse greve, uma vez que sempre estive aberto ao diálogo com todos.

Falta de material de higiene e limpeza nas unidades — A gente vem tendo alguns problemas licitatórios, que estão sendo resolvidos. Pontualmente quando a gente detecta um problema de fornecimento de insumo, prontamente atuamos para resolver e não deixar faltar. É importante lembrar que encontramos as unidades zeradas.

Reajuste salarial anual x Lei de Responsabilidade Fiscal — Conforme já expliquei, no momento a gente fica impedido de conceder qualquer tipo de reajuste ao servidor, tendo em vista que o município já extrapolou o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A gente vem adotando uma série de medidas justamente para poder estar em conformidade com o que que prevê a legislação. A partir do momento em que a gente melhorar a nossa arrecadação, estiver novamente dentro da LRF, a gente poderá voltar a fazer as recomposições salariais. Mas, no momento, diante desta grave crise, a prioridade é manter o pagamento do servidor em dia.

Pagamento do quinquênio ao servidor celetista — No pagamento referente ao mês de julho, a Prefeitura de Campos pagou quinquênio a 3,5 mil servidores da Fundação Municipal de Saúde (FMS) e da Fundação Municipal da Infância e Juventude (FMIJ), que eram celetistas e foram transformados em estatutários há cinco anos. Todos os meses têm servidores recebendo um quinquênio a mais. Agora em julho, foram 3,5 mil de uma só vez.  O quinquênio corresponde a 5% do salário base de cada servidor. Neste caso, são mais R$ 500 mil, todo mês, na folha de pagamento. É um direito do servidor.

Progressão do Plano de Cargos e Carreira (PCCS) — O servidor, a cada dois anos, tem direito à progressão horizontal e, a cada mudança dessa, são 2,5% a mais no salário. No mês de maio deste ano, completaram dois anos da última atualização, mas não temos uma avaliação de desempenho dos servidores. Para fazer a progressão, tem que ter uma média feita com base em avaliações e essas avalições não foram realizadas nos últimos dois anos. A partir de agora, todos os RHs, junto aos chefes imediatos, estão avaliando e estes dados já estão sendo encaminhados à secretaria municipal de Gestão Pública. No início de 2018, vamos fazer uma segunda avaliação e aí sim, cumprindo a lei, faremos uma média e ver os que estarão aptos para a progressão. Se a progressão fosse automática, sem avaliação, em maio deste ano a prefeitura teria que pagar mais R$ 800 mil, por mês, ou seja, quase R$ 10 milhões em um ano.

Suspensão da gratificação — Em primeiro lugar é preciso lembrar que Campos hoje vive uma grave crise e a gente tem tentado a todo custo buscar um equilíbrio financeiro. A gente vem discutindo as gratificações de forma ampla e abrangente e algumas medidas têm sido tomadas para readequar a realidade financeira da cidade. A gente mantém um diálogo aberto, sempre debatendo os melhores caminhos junto aos servidores.

Reajuste do auxílio alimentação — O reajuste do auxílio alimentação é um benefício que se enquadraria como gasto de pessoal. O que, neste momento, é impedido de acontecer por conta da LRF que, conforme já citei, está extrapolada.

Corte de 20% da gratificação da Saúde no atendimento de emergência — Abri uma janela de negociações com os profissionais. É importante destacar os altos custos da folha de pagamento diante da pior crise financeira que Campos já viveu. Eventualmente podem acontecer esses reajustes, mas não é algo definitivo e está sendo estudado pela administração, debatido e dialogado com os servidores.

Aumento da carga de trabalho de 30h semanais para 40h — É importante deixar claro que não há aumento algum de carga horária. O que está sendo feito é uma análise da legislação vigente, inclusive dos concursos realizados à época. O objetivo é verificar se a legislação prevista está sendo cumprida ou não. Cada caso está sendo analisado, cada situação peculiar está sendo analisada e discutida diretamente com o servidor. Tenho dito sempre que estamos abertos para debater com o servidor a melhor maneira de arrumar a casa. Peço para que me apresentem propostas para encontrarmos juntos a solução, já que nunca tomamos decisões sozinhos. Se houver mudanças em carga horária, serão apenas para cargos que eventualmente estiverem em desacordo com o que a lei diz.

 

Publicado hoje (20) na Folha da Manhã

 

Rosinha acionou Justiça para pagar empresa com sócio fantasma

 

(Foto: Guilherme Pinto – Agência O Globo)

 

 

Por Marcos Grillo

 

A Prefeitura de Campos dos Goytacazes, então comandada por Rosinha Garotinho (PR), acionou a Justiça com a intenção de pagar R$ 3,2 milhões a uma empresa, mesmo sabendo que o dono era um “fantasma”. A ação, proposta sem que houvesse uma cobrança formal da suposta dívida, foi apresentada em 2014. Um ano antes, o município havia rompido o contrato com a GAP Comércio e Serviços Especiais alegando, entre outros fatores, a divulgação de irregularidades “relacionadas à composição societária”, de acordo com o Diário Oficial.

Preso no último dia 8 na Operação Caça Fantasma, do Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ), o empresário Fernando Trabach havia criado um personagem fictício — George Augusto Pereira —, com números falsos de identidade e CPF, e o tornou sócio de várias empresas. Em 2009, a GAP, iniciais do “fantasma”, venceu uma licitação para alugar ambulâncias à prefeitura de Campos. De acordo com o MP, a companhia recebeu R$ 17,3 milhões durante a gestão Rosinha. A existência do “fantasma”, revelada pela Revista “Época” em 2013, levou ao rompimento do contrato entre o município e a empresa.

A Caça Fantasma já estava em andamento quando Trabach trocou o nome da GAP para Super Plena Locadora de Veículos e colocou a mãe como sócia — “laranja”, segundo o MP, o que seria mais uma tentativa de ocultar supostas irregularidades.

No ano seguinte ao cancelamento do contrato das ambulâncias, a Procuradoria-Geral de Campos foi à Justiça. Na ação, o município menciona “diversas suspeitas de irregularidades” em torno da empresa e cita “infrações contratuais”, como o não recolhimento do FGTS de motoristas das ambulâncias. Em seguida, no entanto, a procuradoria afirma que há um débito de R$ 3.236.955,80 referente ao período entre novembro de 2013 e abril de 2014. A justificativa, segundo a ação, é que, mesmo após o cancelamento, a prefeitura continuou usando as ambulâncias e os serviços dos motoristas, até que uma nova licitação fosse feita.

“Não existe qualquer óbice para que o autor (município) reconheça e promova o pagamento de débitos existentes com a ré, razão por que impetra com a presente medida judicial objetivando extinguir com as obrigações ainda existentes”, escreveu o então procurador-geral do município.

 

Leia aqui a matéria completa em O Globo