Guiomar Valdez — Direita, vou ver! Direita, sem perder!

 

 

 

Um aspecto modernizador interessante a se abordar sobre a Direita no Brasil e em todo o mundo ocidental, especialmente, é que ela (empresariado), não satisfeita com o controle total do seu poder econômico, aprendeu e gostou, de participar da vida política explicitamente! Trocaram as ‘coxias’ ou os ‘bastidores’, para entrar em cena, nem que seja no papel de coadjuvante. Ampliando assim, sua capacidade de fazer política e de intervenção, seja ela, ‘quente’, em momentos de grave crise nas relações de poder, colocando em risco seus interesses e hegemonia nos espaços institucionais e decisórios do Estado, quando a Democracia é escancaradamente relegada ao lixo histórico.

Novidade, de grande sofisticação e complexidade, é a sua participação no fazer político em tempos de intervenção ‘fria’, em tempos de ‘normalidade democrática’, onde ela ocupa não apenas os espaços formais no executivo, no legislativo e no judiciário em todos os territórios e níveis da Federação, mas, no domínio dos meios de comunicação, criando e atuando em Instituições e Entidades da Sociedade Civil (lembro que a direita/elite dominante/empresariado, tem também sindicatos, tem federações e confederações classistas, Ongs, etc), como também, ocupando as ruas abertamente!

Ou seja, a Direita está na política sempre; está em luta sempre, para conservar seus interesses e sua reprodução! Ela não engana aos desavisados! Hoje, ela deixou de apenas financiar, de fazer ‘caixinhas’, de construir ‘lobbies’, de alimentar a corrupção e de ter seus intermediários, ela atua diretamente na ‘sociedade civil’ e na ‘sociedade política’. Importante destacar, que o domínio econômico e cultural que sofremos enquanto país periférico/subalterno, não é destino, nem muito menos automático. Ele é histórico! Com a nossa modernização-conservadora, quando nos tornamos um país urbano-industrial, as relações entre a Direita/empresariado e o empresariado internacional, fundiu-se, tornando-se mais sofisticada e imbricada. É o ‘empresariado transnacional associado’ que existe de fato. É dele que falamos.

Com o domínio internacionalizador e globalizante do capital/empresariado/burguesia, também suas ações políticas se internacionalizaram ou melhor, se transnacionalizaram. Dessa forma que a vida política também se transnacionalizou, sem purismos, ora explicitamente, ora não! E o Brasil não está fora deste circuito, muito pelo contrário. A ação política das classes dominantes (associadas) extrapola o espaço nacional, articula-se com seus pares além território e com os organismos internacionais governamentais ou não-governamentais afins, catalisadores de ações coletivas, ratificando o lugar e a posição de cada um no processo reprodutor do status-quo.

Uma verdadeira ‘Internacional Capitalista’, é construída pela Direita, agora, transnacional-associada, com um fôlego impressionante, com uma competência técnica e política de ‘tirar o chapéu’, com suas estratégias e táticas muito bem elaboradas. Um verdadeiro ‘Estado-Maior’! Nada é feito sem pensar; nada é feito sem planejar a curto, a médio e longo prazos; nada é feito sem analisar os ‘pontos fortes e fracos’. E dois pontos são tratados como princípio fundante: nenhum processo, ação, tempo e espaço podem ser negligenciados na análise do real; e todo cuidado com as ‘diferenças’ e/ou ‘distúrbios’ entre seus pares, porque a unidade entre as diversas frações de classe, é o fundamento de suas vitórias. Ou seja, dividir para dominar, só com os seus opositores!

Dessa forma, o exercício do poder dominante, sua ação política (ofensiva e/ou defensiva), seu convencimento, são desenvolvidos por vários meios, por variadas operações – coercitivas, midiáticas, econômicas, sócio-culturais e administrativo-institucionais. Através de seus intelectuais orgânicos, de seus simpatizantes em todas as classes sociais e de suas alianças ideologicamente cooptadas, espalhados em todos os lugares, até naqueles inimagináveis; institucionalizados no ambiente público-estatal ou não, o exercício do poder da Direita torna-se capaz de viver, sobreviver e conviver, mesmo em ambientes democráticos! Esta modernidade política da Direita no Brasil – ‘burguesia transnacional associada’, tem no Golpe Civil-Militar de 1964 sua estreia, através de uma ‘intervenção quente’, promovendo sua consolidação nos espaços de poder.

Esgotados no centro os mecanismos de acumulação e reprodução do sistema capital fruto de suas contradições, lá pelos idos das décadas de 1970/80, baseados no fordismo-taylorismo, no keynesianismo/Estado de Bem-Estar-Social, articulados às contradições, crises e desaparecimento do bloco socialista vigente, a Guerra Fria se esvai…o ‘mundo seguro do bem-estar’, do ‘capital humanizado’, vivencia a máxima de que ‘tudo que é sólido se desmancha no ar’.

No seu lugar, uma reestruturação do mundo sob os auspícios da ‘liquidez’, que expulsa seres humanos como algo descartável e inútil ao sistema produtivo; que minimiza os Estados no seu papel de garantidor dos direitos sociais/humanos, destruindo-os e os maximaliza como garantidor dos ganhos/acumulação oriundos da financeirização especulativa de capitais; que suporta o reconhecimento das questões das ‘minorias’, desde que desarticuladas, como um fim em si mesma; etc, etc, etc.

Neste contexto, o Brasil vive o paradoxo da ‘Nova República’, que nasceu como tática pelo olhar, condução e participação negociada, pactuada da Direita. Apesar das contradições e limites da Constituição de 1988 e de suas regulamentações, como compreender os avanços sociais e políticos, o papel do Estado ‘protetor’, nela contidos, fora de uma contextualização mais ampla interna e externa? A ‘Nova República’ e todos os seus elementos simbólicos, nasceram para morrer logo. No seu brevíssimo caminhar histórico, foi se desfigurando, (R)EMENDANDO, REFORMANDO as leis e as práticas, destituindo direitos nelas conquistados, afastando qualquer pensamento ou iniciativa de um projeto de Nação soberano.

Na sua constante e necessária luta política, a Direita no Brasil, encontrou resistências, sim! Encontrou oposição, sim! Que foram para os parlamentos e para as ruas, sim! Não foi fácil para ela negociar a construção da ‘Nova República’, mesmo considerando a recém e difícil recomposição histórica das esquerdas em nossa sociedade a partir da crise final da Ditadura Civil-Militar até hoje. Foi essa esquerda, em suas diversas versões, que alavancou a oposição, o contraponto, as conquistas político-sociais presentes no Estado Democrático de Direito vigente. Infelizmente, a História nos indica que foram conquistas sob o ‘fundamento e palco da liquidez e da efemeridade’.

Foi a Direita (transnacional-associada) o condottiere da redemocratização. Não podemos esquecer isso! Sua presença foi e é constante, inclusive, e, principalmente, escancarando a partir deste tempo, a novidade sofisticada no ‘fazer político’, com as suas intervenções ‘frias’, típica dos períodos de ‘normalidade democrática’, já caracterizado anteriormente. Por isso, às vezes pensamos que a Direita esteve ‘acuada’, ‘controlada’. Como? Se desmontou, por exemplo, a Constituição de 1988, através das famosas PECs? Se pactuou em todas as eleições presidenciais – Collor, FHC, Lula e Dilma? Se esteve presente diretamente, ocupando postos chaves/estratégicos em todos esses governos, predominando a sua política econômica? Se, com isso, conseguiu reafirmar nossa condição de país subalterno, desindustrializante, primário-exportador, tão necessário frente a ordem internacional e globalizante pós-Guerra Fria?

Diante da grave e profunda crise mundial do sistema capital instalada em 2008, a crise e as contradições internas se avolumam, no período em que vivenciávamos o pacto Direita – Partido dos Trabalhadores/’Lulismo’, iniciado a partir do Governo Lula e que sobreviveu até o primeiro mandato da presidenta Dilma. O ano de 2013 e suas ‘jornadas’ nas ruas, apontou algo de ‘novo’  para esta ‘parceria’. O pacto sobreviveu a mais uma eleição presidencial conturbadíssima (2º mandato de Dilma), mas, que elegeu, um parlamento que ousou subestimar qualquer avaliação – altamente pragmático, conservador, reacionário, considerado por muitos, o parlamento mais desqualificado do ponto de vista ético da nossa História – sustentação de toda trama de ruptura do pacto e desestabilização vigente!

O Golpe político-jurídico-midiático, acontecido no ano de 2016, dentro da ‘normalidade democrática’, pode ser entendido como o fim do que se denominou ‘Nova República’. A Direita – transnacional-associada, já há tempo modernizada em suas ações políticas, que nunca saiu do poder, e, muito menos, foi coadjuvante, apresenta-se diante da crise, forte e muito bem preparada para as lutas políticas, que preservem e ampliem seus interesses de classe. Lava-Jato, corrupção, Temer, Supremo Tribunal Federal, Câmara Federal, mídia, são as táticas[1] para extirpar qualquer obstáculo a um novo reordenamento que busque a segurança política, a ordem social necessária para ela, costuradas ‘pelo alto’. Enquanto caminho tático, nada de novo ‘sob o sol’, o que não está claro ainda, é a nova ‘costura’ de um novo pacto – ‘quente’ ou ‘frio’. Nenhum ator/liderança política está fora do arco possível desse pacto vindouro. Aguardemos, atentos!

Enquanto isso, nada melhor que desemprego (real e não imaginário), nada melhor do que criar medo, insegurança, pavor; nada melhor como liberar o ódio e intolerância contidos em ideias e práticas, usando, inclusive as ruas em pequenas e grandes manifestações; nada melhor do que minar as forças e as mentes dos opositores; nada melhor que a desestabilização e a desesperança!

Aprendi ao longo da minha vida de oposição ao sistema capital, que a Direita não está avançando! A Direita continua avançada!

Tudo está perdido? Claro que não! Que fazer? Aí são ‘outros quinhentos’!

 

[1] “Arte ou ciência da detalhada direção e controle do movimento ou manobra, através do emprego dissimulado de recursos especiais e variados, para conseguir um fim ou realizar uma ou mais operações que visam, per se ou interligadas, a um objetivo ou sequência de objetivos para alcançar um fim. […]Assim, no plano das relações de força entre adversários ou no plano das relações políticas entre os conjuntos que compõem a estrutura social, a tática é a organização e (pre)disposição adequada (no terreno dos acontecimentos e nos diversos campos possíveis de enfrentamento) à luta dos diversos meios para desenvolver ações de teor defensivo, preventivo, de dissuasão ou agressivo.”(René Armand Dreifuss)

 

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Este post tem 2 comentários

  1. Júlio Crespo

    Uma coletânea de clichês esquerdistas. Só isso! Aposto que é uma professora universitária!

  2. Sylvia Marcia Paes

    Se ela não fosse uma professora universitária Júlio seria uma idiota também …

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