Chico de Aguiar — As frutas desde a minha infância

 

 

 

Uma sacola cheia de sapotis, que eu ganhei durante o Festival Doces Palavras (FDP), foi a inspiração para este texto. Quem me a trouxe foi o Diógenes, um contraparente que mora em São Pedro de Itabapoana, a antiga cidade capixaba – na divisa com Campos – que perdeu a comarca para Mimoso do Sul, em 1930. Como tenho ligação afetiva com São Pedro, terra de minha mãe, sempre estou por lá. E sempre passo na casa do Diógenes em busca de sapotis. Dessa vez foi o sapoti que veio a mim.

Sapoti é uma fruta que marcou minha infância. Era o tempo que Campos ainda preservava chácaras e casas com grandes quintais. Me lembro da residência dos meus pais na Rua 13 de maio, onde morei no tempo do curso primário. Tinha várias fruteiras: além de um sapotizeiro (a árvore do sapoti é também conhecida por sapota), havia mangueira, caramboleira, goiabeira, romãzeira, bananeiras, cajazeiras (de cajá mirim e de cajá manga), abieiro (de abio roxo) e jambeiro (de jambo vermelho). Não posso esquecer dos mamoeiros, que meu pai plantava como fruta de sua preferência.

Depois veio a adolescência em novo endereço, na Rua do Ouvidor, também com quintal profundo. Mangueiras, goiabeiras e caramboleiras eram as árvores frutíferas obrigatórias nesses pomares familiares. Mas não eram incomuns as jabuticabeiras, jaqueiras, araçazeiras, pitangueiras, abacateiros, cajueiros, pinheiras, laranjeiras e limoeiros. Alguns tinham parreiras. Por sua natureza de trepadeira, o maracujá se alastrava com facilidade pelas cercas ou muros.

A melancia, o melão, o abacaxi, o pêssego, o figo, o morango, o caqui, a pera e a maçã eram encontrados com facilidade no Mercado Municipal. Havia, também, frutas exóticas e frutas silvestres muito populares entre a molecada: siriguela, manacascata (ou seria madagascar?), lichia, amora, acerola, abricó, baquipari (ou bacupari?) e cabeluda. Outros quintais mantinham árvores do ingá, do jenipapo, do tamarindo, do coco, do cacau, da graviola, da tangerina, do marmelo, do jamelão, da fruta pão.

Em minhas andanças pelo Brasil, nos 20 anos que vivi fora de Campos – período em que morei em Niterói, Rio de Janeiro, Jaciara (MT), Anápolis (GO), São Paulo (SP) e em várias cidades do interior paulista –, percebi como minha terra é rica na variedade de espécies de frutas. Pouco conheço do Sul, mas sei que o Norte e Nordeste também são regiões de frutas que quase nunca são vistas por aqui: pitomba, pupunha, mangaba, taperebá, tucumã, cupuaçu, bacuri e açaí, são alguns exemplos.

Quis nesta crônica trazer aos meus conterrâneos, contemporâneos, uma lembrança dos sabores que provamos, e, também, mostrar nomes de frutas que estão desaparecendo de nossas vidas. Vampiro é um exemplo de fruta em extinção. Sem querer entrar no mérito da qualidade dela, desconfio que nove entre 10 dos atuais moradores de Campos não sabem do que falo.  Muitos outros dirão: Ih, o Chico de Aguiar se esqueceu de tal fruta. Mas o propósito é mesmo esse. Fazer com que se abra um debate amistoso e saudoso em torno do assunto com um único propósito: a preservação de todas as espécies frutíferas da região.

 

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Este post tem 3 comentários

  1. Silvana

    Chico, eu amava “manascacatas”, principalmente pela aventura de ter que roubá-las do quintal vizinho ao da minha avó, na Rua do Gás. E na temporada de verão: carambola, caju e ingá!

  2. Savio

    Isso eu posso chamar de um “gostoso texto’, melhor, posso dizer que tenho boa parte destas frutas citadas, e agora mesmo estou importando “camboím” e “grumixama”, estas faltam na minha chácara! No mais, “cabeluda”, lichia, abios roxo e amarelo, figo, jambo, jacas, mangas diversas, araçá, goiaba, acerola, graviola, carambola, maracujás, laranjas diversas, cajá, ameixa, abacate, graviola, cajus, mesmo com a insistente seca, mesmo com a cacimba tendo que ser revisitada para obter água, a generosa e brava terra nos dá os frutos! Só nesta semana distribuí 14 jacas de perfumados e doces favos!
    __O meu pé de sapoti e meus pés de mamão, sucumbiram com a seca, infelizmente.

    Em tempo: Tanto o camboím quanto à grumixama, até os anos 60 eram comuns entre Cajueiro e Atafona, bem como o beribá, com relativa abundância, assim surgiu o asfalto, estas frutas comuns nas cercas e beira de estrada, desapareceram como por encanto.

  3. Joilma

    Ler suas lembranças me levaram a casa da minha avó!
    Que delícia !
    Hoje estou recuperando um sítio onde só sobrou pasto, plantamos inúmeras frutas.
    É maravilhoso ter lembranças e também deixar lembranças.

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