Prisão de Lula e reabertura dos supermecados de Campos aos domingos

 

O blog e seu editor são francamente favoráveis à abertura dos supermercados de Campos aos domingos. E, salvo engano, esse parece ser o desejo da esmagadora maioria da população. Mas o antropólogo Carlos Abraão Moura Vaspassos, professor da UFF-Campos e colaborador da Folha da Manhã, enviou um artigo em sentido contrário (conferir a atualização ao final da postagem) para este “Opiniões”. Em respeito ao contraditório, fundamental à democracia, ele segue publicado abaixo:

 

(Montagem de Eliabe de Souza, o Cássio Jr.)

 

Problemas de Sincronia

Por Carlos Abraão de Moura Valpassos(*)

 

No penúltimo sábado (07), o Brasil estava com suas atenções voltadas para São Bernardo do Campo e os eventos que marcavam a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Havia quem torcesse por uma reviravolta histórica que permitisse que Lula fosse salvo do cárcere; e também aqueles que se mostravam sedentos pelo aprisionamento do ex-presidente, certos de que esse seria o único desfecho compatível com a justiça. Pela primeira vez na história um ex-presidente brasileiro era condenado e preso e isso atraía a atenção de todos, dos mais humildes aos mais destacados nomes da nação. Era necessário tomar partido e manifestar-se sobre o tema, mesmo que sua opinião não tivesse qualquer influência sobre os acontecimentos.

As discussões familiares se manifestavam entre os defensores do ex-presidente e aqueles que clamavam por uma pena severa. E se o cidadão comum se via envolvido no grande drama, os políticos não tinham como se esquivar: ficar em cima do muro não era uma opção. Prova disso foram as críticas a Ciro Gomes por não ter abdicado de sua programação nos Estados Unidos para unir-se a Lula em São Bernardo do Campo nos momentos que antecederam à prisão.

Em Campos dos Goytacazes as coisas foram diferentes. Em um momento de tensão nacional e local, o prefeito Rafael Diniz decidiu manifestar-se não sobre a prisão do um ex-presidente, mas sim sobre a necessidade supostamente urgente de que os supermercados da cidade voltassem a funcionar aos domingos. Sim, foi exatamente isso que aconteceu: o ex-presidente estava sendo preso, o mato tomava conta das ruas de Campos — que permanecia com um transporte público caro e ineficiente, sem a eleição dos diretores de escola e sem o restaurante popular —, mas Rafael Diniz preferiu manifestar-se sobre um projeto questionável por diversos fatores. A manifestação do prefeito, naquele momento, mostrou sua falta de sincronia com os problemas nacionais e locais.

 

(*) PHD em antropologia cultural

 

Atualização à 0h20 de 16/04 para esclarecimento feito pelo autor em comentário a esta postagem, sobre erro de interpretação cometido pelo editor no texto de abertura:

“Prezado Aluysio,

O tema do texto não foi um posicionamento contrário à abertura dos supermercados aos domingos – o que faz com que não seja cabível a afirmação de que o artigo possui um ‘sentido contrário’ a isso – , mas sim o momento escolhido pelo Prefeito para anunciar seu projeto, quando a cidade possui muitos problemas graves não solucionados.

Atenciosamente,

Carlos Abraão Moura Valpassos”

 

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Este post tem 8 comentários

  1. Patrícia

    Acho que houve um problema de interpretação ao afirmar que o autor do texto vai contra a abertura dos supermercados. A crítica é apenas contra a apatia do prefeito em relação aos acontecimentos no país e na cidade. O problema dos supermercados vai além de sua abertura ou não, aos domingos.

    1. Aluysio Abreu Barbosa

      Cara Patrícia,

      Se houve algum problema de interpretação do editor, peço desculpas a vc, aos demais leitores e, sobretudo, ao autor. E nem cogito ter sido eu o mal interpretado, pois como bem observou o Veríssimo: “quando o leitor não entende o que escreveu o jornalista, a culpa é do jornalista”. Carlos é antropólogo e o jornalista sou eu.

      Abç e grato pela participação!

      Aluysio

  2. Patrícia

    Boa noite, nesse caso você não foi mal interpretado, você interpretou errado. O seu texto inicial, dá a entender que o tema é sobre ser contra os sipermercados abrirem aos domingos, não sei se foi pra se isentar de críticas à prefeitura, ou se foi um erro de interpretação mesmo. Prefiro crer que foi o segundo, já que os jornalistas devem ser imparciais em suas publicações.

    1. Aluysio Abreu Barbosa

      Cara Patrícia,

      Via de regra, a possibilidade de eu ter interpretado mal o artigo do Carlos, é a mesma de vc ter feito uma interpretação ruim do que escrevi na abertura. Como é o caso da imparcialidade inalcançável que cobra aos jornalistas, esquecendo-se dos seus leitores, muitos tão parciais quanto você. Mas, de volta ao Veríssimo, reforço minhas desculpas.

      Abç e grato pela chance do debate!

      Aluysio

  3. CARLOS ABRAAO MOURA VALP

    Prezado Aluysio,

    O tema do texto não foi um posicionamento contrário à abertura dos supermercados aos domingos – o que faz com que não seja cabível a afirmação de que o artigo possui um “sentido contrário” a isso – , mas sim o momento escolhido pelo Prefeito para anunciar seu projeto, quando a cidade possui muitos problemas graves não solucionados.

    Atenciosamente,

    Carlos Abraão Moura Valpassos

    1. Aluysio Abreu Barbosa

      Caro Carlos,

      Erro de interpretação definido pelo autor, em sentido comum: reforço o pedido de descupas feito nos dois comentários acima.

      Abç e grato pela compreensão!

      Aluysio

  4. Márcia

    Li o texto, reli e não vi erro de interpretação. O articulista escreveu: “mas Rafael Diniz preferiu manifestar-se sobre um projeto questionável por diversos fatores”. Ora, se é “questionável”, é porque se questiona “a abertura dos supermercados aos domingos”. Essa é a questã, como dizem por aí.

    1. Aluysio Abreu Barbosa

      Cara Márcia,

      Seu raciocínio tem lógica. E foi por ela que orientei minha interpretação. Mas o Carlos afirmou que “não foi um posicionamento contrário à abertura dos supermercados aos domingos”. Para mim é questão morta e posta.

      Abç e grato pela participação!

      Aluysio

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