Entre as promessas de cobrança pesada da oposição e do enfrentamento da situação, adiantadas no Blog do Bastos (aqui e aqui) e Na Curva do Rio (aqui), a sessão de amanhã de manhã na Câmara, primeira após as condenações do TRE na última quinta, e da divulgação das gravações de Garotinho na sexta, uma possibilidade é de que ela acabe nem se realizando.
O esvaziamento da sessão, por parte da bancada governista, pode ser a tática empregada para deixar a poeira baixar um pouco. A conferir…
Publicado com exclusividade aqui no blog, o bilhete da prefeita Rosinha, pedindo a suspensão de ato público contra a cassação do seu mandato pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), foi depois reproduzido em alguns blogs locais. Ainda que o blogueiro, por paradoxal que seja, não seja grande consumidor de mídia virtual, pelo que pôde constatar, dentre os blogs que reproduziram a imagem postada primeiro aqui, apenas o blog Estou Procurando o que Fazer (aqui), pela jornalista Jane Nunes, deu o crédito devido à fonte.
Após ter noticiado com exclusividade, em 21 de abril, a penhora das contas do Cruzeiro, em processo vencido pelo Goytacaz, sendo replicado com o devido crédito em blogs e sites de todo o Brasil e até de fora do país, mas com a omissão à fonte por muitos blogueiros locais, o Christiano Abreu Barbosa já disse em seu Ponto de Vista (aqui) e o blog agora repete: coisa feia!
De todas as análises que li, em publicação virtual ou impressa, sobre as condenações do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Garotinho, Rosinha, Arnaldo, Mocaiber e Hélio Anomal, nenhuma foi mais precisa que a publicada na edição de ontem da Folha, pelo jornalista Aluysio Cardoso Barbosa, consultor geral e alicerce sobre o qual se sedimenta todo este grupo de comunicação por ele fundado. Não por outro motivo, antes tarde do que nunca, lancemos também aos mares da blogosfera local a avaliação do velho jornalista, sem a qual esse debate que domina todas as rodas de conversa em Campos ficaria mais pobre…
É hora de mudar
A recente decisão do Tribunal Regional Eleitoral de tornar inelegível a alta cúpula da política campista, inclusive adversários, além da cassação da prefeita Rosinha Garotinho, causou euforia em grupos apaixonados de ambos os lados, cada um vibrando com o estrago feito no seu adversário, como compensação ao mesmo efeito causado no seu preferido.
Aliados e adversários na política de Campos se confundem. Confundem o eleitor e embaralham até as cabeças dos cientistas políticos. De 1988, com a ascensão de Garotinho à Prefeitura, até os dias de hoje, cada acontecimento da política local poderia ser colocado em um tubo de ensaio para pesquisas, constituindo em um grande laboratório para, a partir do DNA, conseguir uma vacina contra o vírus. É uma política contaminada por todos os lados.
O pesquisador certamente concluiria que neste período surgiram políticos capazes, que foram se transformando em políticos capazes de tudo. Políticos que se apresentaram como compromissados com as futuras gerações, mas que, aos poucos, foram pensando somente nas futuras eleições. Ao invés de conquistar a maioria, acharam mais fácil construí-las.
Dessa forma sairia mais barato e, agora, pagam um preço muito caro. O mais escandaloso nos escândalos é quando a sociedade se habitua a eles. E isso vem acontecendo na política local. A política de Campos passou a ser uma reserva de mercado de um pequeno grupo. As pessoas que estão nela fazem o impossível para não sair e as que pretendem entrar não acham isso possível.
Um bom cientista político irá concluir que, em Campos, triunfou a regra de uma minoria unida, que descobriu a estratégia de dividir a maioria, em partes quase que iguais. Isso tudo parece fugaz, mas já dura quase três décadas e as ruínas correm o risco de serem eternas.
A alternância no poder sempre foi saudável. Analisem bem o atual quadro. Esqueçam momentaneamente essa cassação da prefeita Rosinha. Se ela se afasta do poder, quem assume é o Doutor Chicão, e a política fica em família. Se Doutor Chicão ficar, impossibilitado, quem assume é Nelson Nahim, presidente da Câmara. Ficaria também tudo em família.
Em Campos nos acostumamos com isso, mas essas possibilidades em outros lugares saltam aos olhos. O senhor Anthony Garotinho literalmente colocou o seu DNA na política local e já plantou uma semente na política do Rio, que é a sua filha vereadora. Neste contexto, segue o estilo do ex-presidente Sarney e de outros exemplares da nossa política, que para muitos não são exemplos.
Nesta ação de família e de amigos, os acontecimentos mostram que amigos tornam-se inimigos. Aconteceu com quase todos e o mais recente, Arnaldo Vianna, parece que foi o que mais aprendeu, ficando com parte do rebanho, em uma política não de eleitores, mas de fiéis seguidores. Práticas semelhantes que agora tiveram sentenças iguais. Arnaldo, talvez por uma questão de sobrevivência, e o senhor Anthony Matheus, pelo delírio da imortalidade.
O mais grave disto tudo é que estabeleceram dois caminhos para a política de Campos: as pe-gadas a serem seguidas ou uma trilha movediça onde os que querem mudar se atolam, inibindo futuras vocações. A política dos anos 80, em Campos, era uma promessa e hoje passou a ser uma penitência, dividida entre os que rezam em uma Bíblia revisada ou no andor de um santo cuja madeira é oca.
Isso só vai mudar na hora que o eleitor descobrir que ele é quem peca.
Recebi a notícia da divulgação da gravação clandestina de Garotinho na noite de sexta, dia que emendei com a toda a madrugada sábado na tarefa de tirar do gravador a entrevista que havia feito com a prefeita Rosinha, publicada hoje na Folha impressa e online (aqui). Aliás, foi este trabalho que me impediu de atualizar o blog na sexta. De qualquer maneira, assim que tive a informação, conferi a gravação no site QuidNovi (aqui), em postagem do jornalista Mino Predosa, e em seguida liguei para a redação da Folha, onde soube que o jornalista Alexandre Bastos já havia anunciado a divulgação da gravação (aqui), com exclusividade na blogsfera local. Todavia, como o fato aconteceu depois da entrevista de Rosinha, feita na terça e acrescida de mais seis perguntas na quinta, sobre sua cassação pelo TRE naquele mesmo dia, não houve como questionar a prefeita sobre o novo episódio de sexta, sobretudo em relação ao trecho da gravação de Garotinho que sugere um esquema de arrecadação montado para ele na Prefeitura de Campos. Ademais, como Bastos já havia noticiado o fato, não vi motivo para também fazê-lo neste blog.
Por princípio, sou contra a produção e divulgação de gravações clandestinas, mesmo quando o alvo é alguém que não demonstra nenhum princípio em sua prática denuncista, como é o caso de Garotinho. Ao fim e ao cabo, concordo com a análise pelo Christiano Abreu Barbosa em seu Ponto de Vista (aqui), a mais lúcida que li sobre esse episódio da gravação: “o jornalista Mino Pedrosa, que divulgou o aúdio de 18 minutos e meio, fez conclusões que em sua maioria são meras ilações que o áudio não sustenta. Basta o internauta ter paciência e ouvir a gravação”.
A Comunicação da Prefeitura acabou de enviar e-mail ao blog, comunicando a suspensão do ato público de apoio à prefeita Rosinha Garotinho, marcado para a próxima terça, por conta da cassação do seu mandato pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), na última quinta. Abaixo, além da nota, o bilhete escrito pela própria Rosinha.
ROSINHA GAROTINHO AGRADECE
APOIO DO POVO DE CAMPOS
Os organizadores do ato em solidariedade à prefeita Rosinha Garotinho, marcado para esta terça-feira, no Calçadão, decidiram suspender temporariamente sua realização, em função de uma mensagem, de próprio punho, enviada pela prefeita na tarde deste domingo.
Na mensagem, a prefeita Rosinha expõe aos líderes e dirigentes da sociedade civil organizada a impossibilidade de estar presente “em um ato de amor à nossa cidade, que é na verdade a razão do nosso governo”, por estar se recuperando da cirurgia que retirou um nódulo benigno da garganta.
Na manhã da última terça, dia 25, na condição de repórter da Folha, este blogueiro entrevistou a prefeita Rosinha Garotinho (PMDB), junto a todo seu secretariado, na Fundenor. Na quinta, mesmo dia em que se submetia a uma cirurgia em São Paulo — como este blog adiantou (aqui) —, para extração de um nódulo beningno na garganta, ela era cassada pelo TRE do Rio de Janeiro, por abuso de poder econômico na eleição em que conquistou a Prefeitura de Campos. Muito embora Rosinha vá recorrer no cargo, a entrevista passou a demandar uma atualização pós-condenação. Mais seis perguntas, tratando só do assunto, foram mandadas por e-mail, ainda na noite da quinta. Enviadas na noite de ontem, as respostas são agora adiantadas pelo blog. Elas compõem a primeira entrevista que Rosinha concede, desde sua cassação. A íntegra da entrevista, com análise de boa parte do seu um ano e cinco meses governo, antes da condenação, será publicada amanhã, na edição impressa da Folha.
Blog – No mesmo dia em que foi condenada pelo TRE do Rio, você estava sendo submetida a uma cirurgia para extração de um nódulo na garganta, em São Paulo, onde ainda está. Como recebeu a informação, qual sua reação e como está sua recuperação clínica?
Rosinha Garotinho – Recebi a decisão com serenidade e pedi aos meus colaboradores que tranquilizassem a população. O Cheque Cidadão, a passagem a R$ 1, a reforma das escolas e dos postos de saúde, a construção das casas, o Bairro Legal, enfim, todos os compromissos assumidos durante a campanha serão honrados. Quanto à minha saúde, estou muito bem, extraí um nódulo da garganta que, graças a Deus, era benigno.
Blog – É ponto pacífico que você recorre no cargo. De qualquer maneira, inegável que a decisão traz desgaste político, sobretudo, pela promessa de mudança em relação ao governo anterior, corroído por denúncias e condenações na Justiça. Aos olhos do povo e dos críticos dos dois grupos, a mudança não fica agora com cara de continuação?
Rosinha – De jeito nenhum. Os grupos são distintos. A ação contra mim é porque eu falei na rádio, não é por corrupção, por uso indevido de recursos públicos. Bem diferente dos governos Alexandre Mocaiber e Arnaldo Vianna, onde as obras eram superfaturadas e muitas vezes pagas e não realizadas. Em meu governo, não permito irregularidades. O município estava destruído, já fizemos muito, mas é preciso fazer ainda mais. Afinal, foram 10 anos de destruição.
Blog – Sua condenação, assim como a de Garotinho, se deu por uso indevido dos meios de comunicação, especificamente da rádio e do jornal O Diário. Deste último, você chegou a ser diretora comercial. É hora de repensar os limites da relação do seu grupo político com a mídia?
Rosinha – Eu e o Garotinho sempre sobrevivemos do nosso trabalho, não vivemos da política. Sempre tive programa de rádio e vendia anúncios. Fui convidada para ser diretora comercial de O Diário, como poderia ter sido do Monitor, de qualquer outro veículo de comunicação. Menos da Folha, porque diretora comercial igual a Diva não existe. A nossa relação com a mídia sempre foi muito respeitosa.
Blog – Com a condenação de Arnaldo Vianna no mesmo dia, também por abuso econômico, no mesmo pleito de 2008, não fica a impressão de que o TRE quis fazer uma “limpa” na política de Campos? Qual sua opinião acerca da decisão contrária ao deputado e ex-prefeito?
Rosinha – Quem foi condenado por abuso de poder econômico foi Arnaldo, e não eu.
Inclusive, Arnaldo também foi condenado pelo uso indevido dos meios de comunicação e outros crimes. Eu acredito nos valores democráticos e na força do voto popular. O processo de renovação política e administrativa teve início em 2008, quando o povo acreditou nas minhas propostas e me confiou a tarefa de reconstruir o município.
Blog – Em seu blog, Garotinho insinua que sua condenação se deu por influência política do governador Sérgio Cabral (PMDB). Até que ponto essa retórica se difere das acusações feitas contra você e Garotinho, de igual ingerência em decisões judiciais contra opositores, nos tempos em que um e outro foram governadores?
Rosinha – Sobre o blog, pergunte ao Garotinho. O nosso governo não teve qualquer influência sobre o Poder Judiciário. Nossa relação sempre foi institucional, de forma harmônica e independente.
Blog – Com o voto de minerva do presidente do TRE, Namatela Jorge, que definiu sua condenação e de Garotinho, não se sentiu como seus opositores em 2005, quando o então presidente Marlan de Moraes Marinho decidiu por sua absolvição e a de Garotinho, no recurso contra a condenação de vocês, pela Justiça de Campos, por crime eleitoral na eleição de 2004? Logo depois disso, como governadora, você nomeou o irmão de Marlan desembargador do TJ, não foi?
Rosinha – Eu não sei o que sentiram os meus opositores, só posso responder por mim. Assim como em 2004, nas eleições de 2008 não cometi nenhum crime eleitoral. Eu e o dr. Chicão estamos com a consciência tranqüila. Vamos recorrer da decisão que, com certeza, será reformada em nosso favor, mantendo a vontade popular que nos consagrou vitoriosos nas urnas.