Desde que Laura Ferraz me avisou, no fim da noite de ontem, da morte de Mônica Simões, tenho pensado no que dizer sobre ela. Poderia dizer, como disse ao Luiz Costa, em matéria publicada hoje na Folha, que ela foi a maior corretora de anúncios que vi nestas duas décadas em que atuo profissionalmente na mídia de Campos. Poderia dizer que foi uma mulher socialmente revolucionária, a primeira que vi falar abertamente sobre sexo, brincando com isso com um despudor que a misoginia costuma segregar como privilégio exclusivo de homens. Poderia dizer que foi uma mulher que amava a vida e construiu a sua sozinha, ascendendo de telefonista da Folha a maior publicitária dos 33 anos de história deste jornal por seus próprios méritos, sem ajuda de nenhum homem, ainda que tenha encontrado a paz ao lado de Rui, após ter ido morar em Macaé. Poderia dizer que não sei o que direi à minha mãe quando ela chegar de viagem, ainda sem saber da morte de quem amava como uma filha. Poderia dizer que, diferente de Mônica, sou homem e fraco, e por isso não tive coragem para ir ao seu velório ou ao seu enterro. Mas de tudo que poderia dizer, acho que nada traduz melhor o que sinto do que aquilo que Chico Buarque — este tradutor de nós todos — disse em letra e música:
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu…
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá…
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá…
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou…
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá…
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou…
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá …
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração…