Geraldo Coutinho — PSDB na oposição, mas fora da Frente

Liderança de um partido que sempre se posicionou na oposição ao grupo político do hoje deputado Garotinho (PR), mas que atualmente é presidido por um integrante do governo Rosinha (PMDB), o tucano Geraldo Coutinho reafirmou o compromisso do PSDB como alternativo ao grupo que voltou a dar as cartas no poder do município. Segundo ele, essa distinção se tornará mais visível nos próximos meses, com a reforma completa do ninho tucano, incluindo a eleição de novo diretório. Embora aposte nessa repaginada na cara de oposição do PSDB, Geraldo entende que a maneira como a Frente Democrática foi montada não coincide com o modo de atuação do seu partido, que prega ser propositivo, além de simplesmente crítico. Apesar de admitir a contribuição empresarial à campanha de Rosinha, ele não nega a disposição de construir (ou a possibilidade de ser) uma alternativa a ela em 2012.

 

 

 

Folha da Manhã – O presidente do PSDB local, Robson Colla, está integrado ao governo de Rosinha, na cota de Paulo Feijó (hoje no PR). Até onde isso significa que os tucanos estão integrados ao grupo político de Garotinho, opinião que parece quase unânime em Campos?

Geraldo Coutinho – Não concordo que seja unânime o entendimento de que o PSDB integre o grupo político do deputado Garotinho. Resta, ainda, por parte de alguns, uma visão equivocada que leva a confundir os destinos do deputado Feijó (ainda sem tomar posse na Câmara), hoje totalmente afastado do partido, com os rumos do PSDB. Durante muito tempo, Paulo Feijó comandou o PSDB em nossa cidade e, como é comum acontecer quando se tem um líder único, as imagens da sigla e do líder se misturam para formar uma só leitura. O PSDB não ocupa nenhum cargo político no governo Rosinha, o Robson foi levado por Feijó para compor a administração municipal como técnico em TI, e como bom técnico que é, seguiu sendo aproveitado. A executiva municipal não emitiu nenhuma orientação contrária a essa situação, que é circunstancial. O partido será totalmente reformado dentro dos próximos meses, inclusive com eleição de novo diretório, ocasião apropriada para se rever casos como o do Robson.

 

Folha – Político conhecido pela correção pessoal, assim como por sua lealdade a Feijó, como o PSDB poderia integrar a oposição, sendo presidido por Robson Colla?

Geraldo – Olha, Aluysio, o Robson não é só correto, é um grande e importante quadro que temos no PSDB. Tenho certeza de que ele engrandeceria, por sua capacidade e seriedade, qualquer diretório de partido estabelecido em Campos. Por convicções próprias e por devoção às bandeiras do PSDB, ele permanece conosco, leal como sempre foi. Mais uma vez confunde-se a fidelidade que Robson devota ao partido com o apoio que ele sempre reservou ao então presidente. Robson já demonstrou por diversas vezes que tem disposição para qualquer sacrifício político em favor do PSDB. Isto não significa que devemos cobrar a amizade que ele mantém com o cidadão Paulo Feijó. A verdade é que hoje o PSDB não tem mais qualquer ligação com o Feijó, que segue direção própria e orienta-se pelos interesses de outro partido. O Robson, por sua vez, mantém-se firme e reto, compondo as nossas fileiras, pronto para qualquer embate ou missão que lhe for delegada pelo partido.

 

Folha – Consta que tanto na época da campanha, quanto depois, na montagem da equipe de governo de Rosinha, você teria sido convidado a participar. É fato? Em caso positivo, como foram esses contatos e por que não aceitou?

Geraldo – Desconheço qualquer menção considerando a possibilidade que me incluísse como integrante da equipe de campanha da então candidata Rosinha. Definitivamente, isso não ocorreu, não faria nenhum sentido, não havia e não há qualquer identidade minha com a orientação política do grupo do Garotinho, como também não há nenhuma coincidência quanto ao modelo de administração utilizado pela atual administração e aquele que eu julgo mais adequado. Com relação à ocupação de cargo no governo que se formava, ouvi alguns comentários e outros tantos me foram relatados que apontavam meu nome como tendo um perfil apropriado para assumir uma secretaria. Estes relatos davam conta de que eu poderia agregar com conhecimento de causa e também contribuiria para levar uma boa imagem do novo governo a uma classe ainda reticente quanto às possibilidades da nova gestão. O convite não aconteceu. Se tivesse ocorrido eu não aceitaria. Além dos conflitos que resultariam pelas diferenças de orientação política e modelo de gestão, entendo que tenho mais a contribuir com nossa cidade ocupando a presidência regional de uma entidade como a Firjan, somado a outras funções que desempenho na iniciativa privada, do que me dedicando à gestão de uma secretaria municipal.

 

Folha – Empresas do seu grupo também apareceram na lista de doadores de campanha da prefeita eleita. Até onde isso pode servir ou não para endossar a adesão sua e do PSDB à atual administração municipal?

Geraldo – Isto não tem absolutamente nada a ver com o PSDB, nem com ideologia partidária, é uma prática tradicional de nossas empresas contribuir formalmente, de forma modesta, com todos os candidatos que nos procuram. Entendemos que assim fortalecemos o lícito e legítimo processo eleitoral, beneficiando ao final a própria democracia.

 

Folha – Como você e o PSDB enxergam a Frente Democrática de Oposição, atualmente formada por 10 partidos: PT, PMDB, PPS, PDT, PV, PCdoB, DEM, PRP, PSC e PSL? Por que o PSDB não participou de nenhuma reunião? Vocês podem vir ainda a participar?

Geraldo – Olhamos para Frente como muita atenção e respeito. Entretanto, entendemos que a forma como ela foi pensada e estruturada não coincide com o modelo de atuação seguido pelo PSDB, ou seja, me parece que a frente surgiu com único propósito de fazer oposição ao governo instituído. Nós preferíramos ver toda esta gente junta discutindo prioridades e oferecendo opções de projetos à população. Ao invés de se fazer um esforço por uma frente pró-oposição, deveríamos somar inteligências e experiências para elaborar as melhores proposições. Da forma que está, fica nos parecendo que a Frente tem como prioridade os projetos eleitorais de seus componentes. Estaremos sempre dispostos a participar desta ou de qualquer outra iniciativa que vise pensar a nossa cidade, olhando para o futuro com a ousadia que temos direito e decidindo o presente com responsabilidade que é nossa obrigação.

 

Folha – Os líderes dos partidos que formam a Frente já disseram que o objetivo principal é o compromisso de todos com alguns pontos comuns, como orçamento participativo, transparência nos gastos, pregão eletrônico e privilégio aos concursos públicos. Ainda que ocorra dispersão de candidaturas à sucessão de Rosinha, em 2012, aquele que chegar ao segundo turno contra o candidato do grupo de Garotinho, receberia o apoio dos demais. Isso bastaria ao PSDB? Se não, o que mais?

Geraldo – Como já disse, não está claro para nós quais são exatamente os pontos que unem os líderes que tem voz nessa Frente. Precisávamos conhecer isso com maior clareza e dar conhecimento ao público de forma inequívoca dos propósitos desta Frente. Não sendo assim, o que resta é a interpretação de que pessoas estão reunidas para viabilizar um projeto politico. E fica ainda mais complicado imaginar a conciliação de interesses, uma vez que a metade dos partidos ali representados tem seus próprios candidatos que postulam a cadeira hoje ocupada pela prefeita Rosinha. Falando com todo o respeito que individualmente todos que ali estão merecem, mas pela diferença de ideários, histórias e posturas de cada um, fica difícil imaginar que esse movimento possa fazer sentido no futuro.

 

Folha – Até que ponto os tucanos julgam produtivas as visitas de fiscalização promovidas pela Frente em obras municipais, como a eterna reforma do canal Campos/Macaé e a atrasada construção de casas populares?

Geraldo – Temos muito a lamentar com relação aos incômodos e prejuízos causados pelo atraso injustificado destas obras. Mas, sinceramente, não vejo efetividade nessas visitas. Qual o resultado que se pretende com isto? Se for levantar inconformidades para que a Câmara Municipal adote providências saneadoras, porque então não pressionar a Câmara para que ela ative os instrumentos legais para, aí sim, exigir as correções que sejam necessárias e cabíveis. Mais uma vez vemos um movimento politico eleitoral nessa iniciativa que busca identificar erros que possam ser debitados à atual gestão, em vez de propor soluções que evitassem a recorrência destes equívocos.

 

Folha – Ainda em relação à Frente Democrática, como você e seu partido viram a defecção do PTdoB, por meio da cooptação de Garotinho, e do PSOL e PCB, que se aliaram ao PSTU na Frente de Unidade Popular, mais à esquerda e crítica também dos ex-aliados do ex-governador, hoje seus opositores?

Geraldo – Toda e qualquer aglutinação politica que se forme, por melhor e mais forte que seja, terá que estar sempre preparada para medir forças. É natural do jogo político. Ninguém pode esperar que uma iniciativa de oposição encontre o seu alvo manso e pacífico como um espectador. É certo que novas investidas irão ocorrer, como é certo, também, que novas defecções serão registradas ao longo do caminho, seja por diferenças ideológicas seja por incompatibilidade de interesses específicos de cada um que compõe a Frente.

 

Folha – Mesmo que Garotinho consiga promover mais divisões na Frente Democrática, se esta mantiver partidos de maior força, como PT e PMDB, com seus tempos de rádio e TV, além do apoio da presidente Dilma Rousseff e do governador Sérgio Cabral, não continuará com peso considerável para 2012? E por que a força de partidos como PT e PSDB, que polarizam a política nacional há 17 anos, nunca se fez valer em Campos?

Geraldo – O PT e o PMDB são partidos com bons quadros, sozinhos já seriam fortes, aliados ganhariam muita densidade, mas isto não define as chances de sucesso em uma disputa eleitoral. O tempo de televisão e o envolvimento da máquina que detém o poder são ingredientes que fazem diferença, mas não decidem pelo eleitor. O que se deve levar para uma eleição é uma coleção de bons projetos, é uma proposta de modelo administrativo moderno, é a capacidade de convencer o cidadão de que o pretendente é capaz de implementar o que promete e que isto irá mudar a vida da população para melhor. Não há uma receita para se alcançar isto, o bom projeto tem que coincidir com a percepção das pessoas quanto a sua oportunidade. Este fenômeno é bem resumido por um enunciado do grande pensador Victor Hugo, que nos meados dos anos 1800 já dizia algo mais ou menos assim: “Nada é mais forte do que uma idéia cujo tempo chegou”. Pois é, temos que oferecer os melhores projetos e apresentar as idéias reformadoras. O tempo para isso acontecer é uma prerrogativa exclusiva da consciência coletiva do eleitor e independe de tempo de televisão, grau de envolvimento da máquina ou número de aliados que se possa somar. A idéia que muda, que transforma, tem seu tempo próprio. Quanto ao PSDB e o PT, eles se revezaram no governo federal nestes últimos anos, mas cada um deles tem maior ou menor densidade em cada espaço geográfico brasileiro. Em Campos, nenhum dos dois foi protagonista na gestão municipal. Isso não justifica, mas ajuda a explicar porque não temos a força que poderíamos ter. São dois partidos com muitas e profundas diferenças, mas que têm em comum uma história de boas lutas em favor de nossa cidade e, no tempo certo, serão reconhecidos e recompensados com a chance de por em prática os valores das bandeiras que cada um defende.

 

Folha – Entre os novos nomes cogitados a disputar a Prefeitura de Campos, o seu aparece há algum tempo. Isso seria possível? Em qual conjuntura? E, por mais que ninguém questione sua capacidade técnica, até que ponto a condição de usineiro poderia lhe trazer dificuldades?

Geraldo – É fato que o meu nome tem sido lembrado pelo partido e por cidadãos dos mais variados segmentos de nossa cidade para uma disputa eleitoral. Sempre me senti envaidecido com essas menções, entretanto jamais me disponibilizei a frequentar um palanque como candidato. Em 2008, houve apelos muito fortes para que eu disputasse a Prefeitura, e agora, em dezembro último, ante à possibilidade de eleições extraordinárias, uma grande articulação foi montada visando me pressionar a aceitar o desafio. Não tenho receio do embate, mas continuo restrito e firme no propósito de participar da política de nossa cidade como interlocutor interessado e apaixonado, jamais deixei de frequentar os grupos de debates e fóruns que se proponham a pensar o nosso futuro. Entendo que essa é a melhor contribuição que eu possa dar e que coincide com o que Deus me reservou no plano da vida, tal como tem se apresentado até hoje. Fosse eu um postulante a cargo eletivo, levaria com muito orgulho a minha trajetória de industrial, ou de usineiro, se preferir. Tenho uma história de retidão e bons combates para apresentar, e se hoje não temos um caso de sucesso clássico para expor, considero uma vitória importante o fato de termos trazido até aqui a nossa usina ativa e operacional. Aliás, entre as administrações que existiam à época que assumi a direção da Paraíso, em 1985, a nossa é a única unidade que resistiu ao cruel e injusto processo de corrosão que fez ruir excelentes parques industriais de nossa cidade.

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Este post tem 9 comentários

  1. michael

    Essa frente está querendo fazer de tudo para aparecer mas não consegue. Também com os integrantes que ela tem, ela não tem credibilidade nenhuma.

  2. adwalto

    Temos que termos um entendimento, pior do que errar é na realidade ficar de braços cruzados, só falha quem trabalha. Qualquer Partido ou Frente que se posicione com certeza estará ajudando a tirar da condição pseudo supremo o poder governante. Sempre devemos louvar a qualquer entidade que abraçe uma causa, mesmo que naquele momento tenhamos visão distorcida da forma que esta sendo conduzida. O ostracismo é que causa os desmandos Brasil a fora.

  3. Ynedis

    Mais uma vez o PSDB é um (…), levou pau a nivel nacional se esfacelou no Rio e agora pega a boquinha dos garotinhos em Campos, PSDB nunca mais, até seu irmão siames DEMO tá frente que irá construir uma alternativa democratica ao pobre-rico municipio de Campos.

  4. Aluysio

    Caro Ynedis,

    Ofensas ou acusações sem provas não são permitidas em nenhum dos blogs hospedados na Folha Online. Não por outro motivo, a pequena edição.

    Abraço e grato pela colaboração!

    Aluysio

  5. Ebenezer

    O moço Coutinho é parte da corte da Rosinha, e sua empresa ajudou a financiar a campanha em 2008 , com polpudas doações , mesmo (…) naquela época.
    Naquela época, hoje não !
    OBS: Esta na prestação de contas da Rosinha na página TSE.
    É provado e não tem ofensas Aluysinho.

  6. Alexandre

    Não é possível a partido algum ganhar importância sem oferecer propostas fortes e em concordância ao estatuto partidário e, principalmente, sem se preocupar com a qualidade de seus quadros, com a formação de base.

  7. CARLOS

    Boa Tarde
    Esta parecendo que + um partido vai ser vendido para a familia garotinho. Muitas desculpas que a FDO, não tem que fiscalizar,mta gente querendo aparecer. Pq depois de tanto tempo que aparece estas desculpas.Eu acompanho política em Campos e nunca vi o Geraldo Coutinho como lider politico em nada. Só conheço como administrador de Usina. Já que ele é tão entendido, pq não leva as suas idéias ao grupo da FDO.
    Até a próxima

  8. Aluysio

    Ebenezinho,

    Seu comentário merece duas observações. A primeira é que, como vc não enviou prova do que afirma levianamente “naquela época” sobre a empresa do entrevistado, seu comentário foi editado. A segunda, óbvia a qualquer um que ler a entrevista, é que na quarta pergunta foi revelado antes o que você redundantemente pretende “revelar” depois: as empresas do entrevistado fizeram doações à campanha de Rosinha.

    Abraço e grato pela colaboração!

    Aluysio

  9. celso

    A frente tá morrendo. Ha, ha, hu, hu. O povo não é bobo abaixo a frente dos bobos.

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