Para quem riu da Argentina…

Pouco visto em campo, Ganso sai de fininho da reclamação dos venezuelanos (Foto: Mowa Press)

 

Durou menos de 48 horas a alegria dos brasileiros que ainda se prestam ao papel de torcer contra a Argentina. Se na noite de sexta, o empate de 1 a 1 com a Bolívia, no jogo de abertura da Copa América, deixou amarga a garganta dos hermanos, a curta tarde de inverno de hoje não reservou melhor sorte ao time de Mano Menezes, na abertura do Grupo B, encerrada num empate sem gols diante da fraca Venezuela, país no qual o futebol sequer é o esporte mais popular.

Assim como com a seleção de Messi e Tévez , o começo do Brasil de Neymar e Ganso chegou a dar a impressão de que seria questão de tempo para se confirmar em campo o amplo favoritismo do papel. Logo no minuto inicial, Robinho arriscou de fora da área, obrigando o goleiro Vega à primeira defesa. Aos cinco minutos, Lúcio encontrou Pato livre na esquerda, num belo passe em profundidade. O atacante matou com categoria e rolou para Neymar, que deu um drible a mais, mesmo já dentro da área, e desperdiçou a oportunidade.

A resposta venezuelana veio aos 11 minutos, num cruzamento do lateral direito Rosales que o meia esquerda Arango mandou de cabeça por cima do gol de Júlio César. A tréplica se deu no minuto seguinte, quando Robinho recebeu de Neymar e chutou. Rebatida pela zaga, a bola sobrou para André Santos, que bateu cruzado, mas a  bola desviou em Robinho e foi para fora.

O frio em La Plata pareceu arrefecer o ímpeto ofensivo dos brasileiros, que começaram a se ressentir da pouca inspiração do seu principal abastecedor de jogadas: Paulo Henrique Ganso. Sem ele, coube a Daniel Alves, aos 26, rolar da direita para Pato carimbar o travessão venezuelano. Cinco minutos depois, em bom passe de Ramires, Pato teve outra chance, mas concluiu para a defesa em dois tempos de Vega.

Aos 38, num contra-ataque, Neymar  tocou para Robinho, que chutou a gol. Mesmo caído, o zagueiro Vizcarrondo salvou com o ombro. Num dos poucos bons passes de Ganso, aos 44, Neymar entrou pela esquerda e tentou colocar com a parte interna do pé no canto oposto, mas a bola abriu demais e saiu pela linha de fundo.

Se a atuação brasileira foi aquém da esperada no primeiro tempo, conseguiu piorar no segundo. Já aos sete minutos, Mano mandou os reservas ao aquecimento. Aos nove, Daniel Alves achou Pato na área, que não conseguiu dominar e permitiu a defesa do goleiro.

Como o Brasil pouco criava, a Venezuela começou a querer gostar do jogo. Aos 13, Arango cruzou da esquerda ao atacante Rondón, pondo Júlio César para trabalhar.  Aos  25, em triangulação de Arango com o lateral Cichero, a bola foi cruzada para Fedor, o outro atacante da Venezuela. Dois minutos após, foi ele quem fez o pivô, na entrada da área, diante de Lúcio, abrindo na esquerda novamente para Arango, que bateu para fora com perigo.

Como a entrada de Fred no lugar de Robinho, desde os 19 minutos, não havia alterado o quadro, aos 30 Mano resolveu atender à torcida e mandar a campo a jovem promessa Lucas, no lugar de Pato, além de substituir Ramires por Elano.
Aos 42, na única jogada que Neymar conseguiu acertar em todo segundo tempo, ele achou André Santos entrando pela esquerda, que bateu no canto oposto, com a bola saindo pela linha de fundo. No minuto seguinte, ouviram-se as primeiras vaias à Seleção Brasileira, bisadas após o apito final.

Em coletiva durante a semana, Mano disse que não existem mais “galinhas mortas” no futebol. Pelo sim, pelo não, bom que Neymar e Ganso ressuscitassem, na Seleção, o futebol que jogam no Santos. Caso contrário, o Paraguai, que ontem também empatou sem gols contra o Equador, pode até querer cantar de galo no próximo sábado.

 

No primeiro tempo, Neymar conseguiu acertar algumas jogadas. No segundo, nada! (Foto: Mowa Press)

 

BRASIL

JÚLIO CÉSAR — Mero espectador do jogo de um time que entrou para se defender contra outro que não soube atacar. NOTA 5.

DANIEL ALVES — Tentou apoiar,  buscando triangulações com Lucas Leiva e Robinho. Mesmo sem maior efetividade, chegou a dar dois bons passes para Pato, um aos 26 do primeiro tempo, com o qual o 9 brasileiro carimbou o travessão, e numa boa enfiada, aos 9 da segunda etapa, que o atacante do Milan, mesmo dentro da área, não conseguiu dominar. NOTA 6.

LÚCIO — Excelente passe longo, em ligação direta entre defesa e ataque, logo aos 5 minutos de jogo, que encontrou Pato livre, na esquerda. Bem no combate à isolada dupla de ataque da Venezuela. No final da partida, porém, quase se complica. NOTA 6.

THIAGO SILVA — Também sem maiores problemas na marcação aos atacantes Rondón e Fedor. Levou cartão amarelo merecido, ao matar com falta um contra-ataque venezuelano, aos 37 do segundo tempo. NOTA 6.

ANDRÉ SANTOS — Também tentou o apoio, junto a Ramires e Neymar, mas se perdeu na má atuação de ambos. Aos 42 da segunda etapa, arriscou chute de fora da área, que saiu pela linha de fundo, no canto oposto. Precisa melhoar nos cruzamentos. NOTA 5,5.

LUCAS LEIVA — Na função de primeiro homem do meio-de-campo, buscou menos o jogo do que Ramires. Na marcação, sobretudo sobre o meia esquerda Arango, esteve bem. NOTA 6,5.

RAMIRES — Na parte tática, cumpriu seu papel, tanto na marcação, quanto para prender o lateral direito Rosales. Tecnicamente, porém, foi um dos tantos brasileiros em dia infeliz. NOTA 5. Deu lugar, aos 30 do segundo tempo, a ELANO, que tentou armar o jogo pela direita e chegou a arriscar um chute, por cima do gol. NOTA 6.

GANSO — De quem se esperava ser o cérebro do time de Mano Menezes, talvez seu “apagão” de hoje revele a causa da péssima atuação brasileira. Sem mobilidade física e metalmente embotado, errou até passes curtos.  NOTA 4.

ROBINHO — Obrigou o goleiro Vega à sua primeira defesa, logo no minuto inicial, em chute de fora da área. Foi dele também a conclusão, aos 38, que o aguerrido zagueiro Vizcarrondo, mesmo caído, interceptou com o ombro. NOTA 5,5. Desapareceu no segundo tempo, sendo substituído, aos 19, por FRED, que não conseguiu ser a referência de área. NOTA 4.

PATO — Ainda que tenha sido escalado por Mano como atacante de área, posição que no Milan é ocupada pelo sueco Ibrahimovic, de quem é um eficiente garçon, teve oportunidades e não soube aproveitar nenhuma, ou por dificuldade de domínio, ou por azar, como na bomba com a qual carimbou o travessão de Vega. NOTA 4. Saiu, aos 30 da segunda etapa, para a entrada de LUCAS, que mostrou, pelo menos, disposição. NOTA 5.

NEYMAR — Chegou à Copa América na expectativa de se equiparar ao Messi do Barcelona, mas hoje jogou abaixo até do Messi da Argentina. Demonstrou seu maiores defeitos, com firulas excessivas e inúteis, sem evidenciar suas virtudes. Uma única conclusão a gol, aos 45 do primeira etapa, quando recebeu na esquerda um dos poucos passes que Ganso conseguiu acertar, tentou colocar no canto oposto do goleiro, mas mandou pela linha de fundo. No segundo, errou tudo que tentou NOTA 4.

MANO MENEZES — Ainda é cedo para se avaliar seu trabalho, mas o jogo de hoje será um dos seus pontos baixos à frente da Seleção. Não teve ou terá na Copa América uma opção para Ganso, de quem seu esquema depende, assim como Dunga, por não levar o meia do Santos à África do Sul, não teve alternativa para Kaká na Copa do Mundo. Ademais, se Pato não conseguir se adaptar ao papel de pivô, que não exerceu no Internacional ou no Milan, dependerá de Fred, que não atravessa boa fase, ou de um Robinho improvisado de centro-avante. NOTA 4

VENEZUELA

O vigoroso zagueiro Vizcarrondo e o incansável volante Rincón foram os destaques positivos do time treinado por César Farias, folgado como Hugo Chávez.

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Este post tem 3 comentários

  1. 0verb0y

    A Argentina continua jogando bem…. Não podemos dizer o mesmo do Brasil!

  2. Aluysio

    Caro OverbOy,

    Não diria que a Argentina continua jogando bem… Em primeiro lugar, porque não tem convencido desde a Copa da África do Sul, da qual foi eliminada nas quartas-de-final, após um acachapante 4 a 0 imposto pela Alemanha do craque Bastian Schweinsteiger.
    Ademais, continuou não jogando bem em sua estréia na Copa América que ora sedia, no parco 1 a 1 diante da fraca Bolívia, que já havia lhe imposto um humilhante 6 a 1, na altitude de La Paz, em 2009, em jogo válido pelas Eliminatórias da Copa de 2010.
    A bem da verdade, seja nas Eliminatórias, na Copa do Mundo e, por enquanto, nesta Copa América, os hermanos têm demonstrado o mesmo problema: uma defesa pouquíssimo confiável, que não consegue ser atenuada enquanto time pelos muitos grandes jogadores que possui do meio para frente.
    O Brasil, ao contrário, desde a Era Dunga (como treinador) tem se destacado pela solidez da sua defesa, muito embora esta tenha falhado contra a Holanda, que nos eliminou de virada, por 2 a 1, nas mesmas quartas-de-final da África do Sul.
    Muito embora Mano tenha convocado promissores valores do meio para frente, inclusive a dupla Ganso-Neymar, deixada por Dunga no Brasil, o fato é que, pelo menos por enquanto, o esperado reencontro da nossa Seleção com o futebol lúdico e ofensivo que tanto a caracterizou no passado — sobretudo entre as Copas de 1938 e 1982, mas que hoje é marca do Barcelona e da seleção espanhola —, ainda não ocorreu.
    Em suma: por motivos diferentes, diria que tanto a Argentina como o Brasil continuam não jogando bem. Vejamos o que nos traz, daqui a pouco, o Uruguai de Diego Forlán, Luizito Soárez e Cavani, melhor sul-americano nos gramados africanos…

    Abraço e grato pela colaboração!

    Aluysio

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