Crise global — formigas da Eurásia x cigarras ocidentais

E dando seguimento às discussões econômicas entre o blog e seus leitores, desenvolvidas aqui e aqui a partir do decreto 454 da prefeita Rosinha, cortando 10% dos contratos e convênios da Prefeitura, com a justificativa de preparar o município para enfrentar a nova onda de recessão na economia mundial, por enquanto mais restrita aos países ricos, segue abaixo a transcrição do ilustrativo artigo publicado hoje, na edição impressa de O Globo, pelo jornalista Paulo Guedes…

 

 

A linguagem do declínio

Há uma nova ordem econômica mundial em formação. O colapso da ordem socialista deserdou 3,5 bilhões de eurasianos. O mergulho dessa mão de obra e de seus fluxos de poupança forçada nos mercados globais criou simultaneamente uma oportunidade de enriquecimento acelerado e um extraordinário desafio de integração da economia mundial.

Os benefícios de um crescimento econômico sincronizado em escala global foram desfrutados. Mas persistem os desafios para uma integração bem-sucedida, e principalmente o desafio da competitividade das economias ocidentais. As modernas democracias liberais enfrentam nos mercados os custos de manutenção das suas redes de solidariedade, assistência e proteção social.

A ampliação desses mercados nos primeiros movimentos da globalização criou um universo econômico em expansão, com ganhos para todos, trazendo a ilusão de que não haveria dramáticos impactos sobre a antiga ordem ocidental. Pois bem, o mundo mudou e não voltará a ser o mesmo.

A crise contemporânea é um sintoma dos excessos dos ocidentais, de um lado, e do desesperado mergulho eurasiano nos mercados globais, de outro. Financistas anglo-saxões e políticos social-democratas europeus tentam escapar às exigências de adaptação à nova ordem global como o diabo foge da cruz. Os eurasianos, ao contrário, praticam no plano econômico tais exigências. Percorrem um longo ciclo de crescimento. Poupam como formigas e investem maciçamente em infraestrutura e educação. Sua alavanca de “inclusão social” é uma busca incessante de integração competitiva de suas indústrias nos mercados globais.

Já as cigarras ocidentais apenas consomem com dinheiro barato, crédito fácil, gordas aposentadorias e benefícios insustentáveis. A alavanca das frustradas tentativas de manutenção de padrões de vida irrealistas em meio à guerra mundial por empregos é o evangelho do brilhante Keynes, o manual de combate às crises das sociedades em declínio, que imaginam ter apenas problemas de curto prazo.

Acumulação de capital, educação, novas tecnologias, reformas institucionais, integração competitiva nos mercados globais, empreendedorismo e meritocracia: esta é a linguagem da ascensão econômica. Dinheiro barato, desvalorização da moeda, gastos públicos supérfluos, crises políticas e financeiras, desindustrialização e perda de competitividade, favorecimento a grupos de interesse: esta é a linguagem do declínio.

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Este post tem um comentário

  1. Isabel

    Aluysio,
    vc está certo em seguir meu conselho e declinar dessa rajada de propostas de debate não assumidas. Aproveito a chance para agradecer pela deferência. Afinal, trata-se de um obsessão que sequer Freud, Jung e Lancan conseguiriam entender. Mas vale pela evidência simples da contraposição, pois diante do supérfluo ocidental tão bem exemplificado na prolixidade de um texto, reafirma-se o artigo do Paulo Guedes em sua eurasiana lição de escrever bem melhor e (graças a Deus!) muito menos. Respeitemos, pois, as escolhas: vc escreve aqui e seu mais declarado e enrustido leitor o copia bipolarmente por lá.
    Abçs

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