Em 26 de abril de 2009, a Folha publicou aqui entrevista com o então diretor de Políticas da secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do ministério da Educação, professor Luiz Augusto Caldas, que trouxe a público uma série de polêmicas envolvendo o Instituto Federal Fluminense (IFF). Primeiro reitor eleito da escola em 14 de dezembro de 2011, numa vitória esmagadora da oposição, Luiz Augusto falou novamente à Folha, garantindo que neste período de dois anos e meio entre as duas entrevistas o IFF “vivenciou plenamente a importância do processo democrático”. Para endossar o discurso com a prática, ele confirmou, ainda para o primeiro semestre deste ano, a eleição também nos campi Guarus, Cabo Frio, Quissamã e Itaperuna, cujos diretores eram indicações impostas pelo grupo derrotado. Quanto à auditoria da gestão passada, reivindicada por servidores e alunos da insituição de ensino mais importante de Campos e região, o reitor que toma posse no dia 10 não confirmou a possibilidade, mas também não a descartou.
Folha da Manhã – Maior polêmica da sua eleição à reitoria do IFF, como encarou o pedido da situação para impugnação dos votos de mais de dois mil alunos, a partir da alegação de irregularidade em sete deles?
Luiz Augusto Caldas – Aquela ocorrência se deu em um contexto muito específico, daí a importância de hoje analisá-la sob a ótica da democracia e da participação cidadã dos estudantes, o que para uma instituição de ensino revela a importância da educação para a vida.
Folha – Após o presidente da Comissão Eleitoral do campus Campos-Centro, professor Jonivan Coutinho Lisbôa, revelar aqui que os votos sob suspeita eram realmente legais, há como ainda se apontar alguma irregularidade?
Luiz Augusto – Não. O resultado legítimo e reconhecido hoje é possível notar no ambiente tranquilo da instituição, na transição que já se iniciou de forma respeitosa e com a comunidade segura de que cumpriu o seu papel.
Folha – Entre os derrotados, houve queixas não só relativas à ocupação da reitoria do IFF pelos alunos, como acusações de que ela teria sido motivada por “estudantes profissionais” e pelo diretor do campus Campos-Centro, professor Jefferson Azevedo, que lhe apoiou. Qual o limite entre verdade e “choro de perdedor” nestas denúncias?
Luiz Augusto – A crítica, quando preconceituosa e conservadora, deve ser ignorada. A ocupação se deu de forma espontânea por parte dos estudantes, conscientes de seus direitos, o que redundou num instrumento que forçou o diálogo necessário no sentido da resolução do impasse. Importante destacar que durante a ocupação, os estudantes tiveram uma postura de respeito e de cuidado tanto na relação com os servidores ali presentes, como também com o patrimônio público.
Folha – Em carta aberta após sua derrota, a reitora Cibele Daher chegou a nomear o vereador Kelinho e o deputado federal Anthony Garotinho (ambos do PR) num suposto envolvimento na eleição da escola. O que há de fato nisso?
Luiz Augusto – Minha conduta sempre foi pautada pela condição de representante de uma instituição pública, daí a obrigação de não considerar referências estreitas que apontem nesta direção. Acusações desta natureza são registradas em geral em momentos de eleição e não concorrem positivamente para o processo.
Folha – Não fosse a ocupação da reitoria do IFF pelos alunos, motivando a presença da Polícia Federal na escola, acha que a tentativa de se impugnarem os votos teria sido bem sucedida, já que chegou a ser inicialmente aceita pela Comissão Eleitoral Central?
Luiz Augusto – A participação dos estudantes foi fundamental para garantir o resultado do processo; ela desencadeou uma série de eventos que no fim representaram uma homenagem à democracia.
Folha – Acreditava que a vitória da oposição nas urnas pudesse ser completa, com a conquista também das diretorias gerais dos campi Campos-Centro, Macaé e Bom Jesus do Itabapoana, além da reitoria? Em seu entender, quais os motivos para que um fracasso tão devastador tenha sido imposto contra quem contava com todas as vantagens de estar no poder?
Luiz Augusto – A consciência da nossa comunidade que se posicionou no que para ela representa a melhor proposta para a consolidação do Instituto Federal Fluminense e de seu papel na região para os próximos anos. A comunidade espera por mudanças e sem sombra de dúvidas, isto depende da instauração de um clima institucional de envolvimento e participação de servidores e estudantes para que se tornem realidade as propostas que apresentamos.
Folha – Você endossa o desabafo do professor Jefferson, após as eleições: “Triste que uma escola marcada por ter sido a primeira no Brasil a escolher democraticamente seu diretor, hoje seja obrigada a ter a Polícia Federal como mediadora da sua eleição”?
Luiz Augusto – A fala do professor Jefferson e de muitos é que tal episódio poderia ter sido evitado, principalmente por termos registros em nossa instituição de defesa da democracia em momentos mais difíceis no contexto nacional.
Folha – Depois da vitória confirmada nas urnas, você anunciou que abrirá mão da prerrogativa de indicação nos campi Guarus, Cabo Frio, Quissamã e Itaperuna, para que cada uma dessas comunidades acadêmicas eleja seu diretor-geral. Como e quando se dará esse processo?
Luiz Augusto – Reafirmo o compromisso com os câmpus de que a eles será transferida a prerrogativa de escolha de seus dirigentes e já estamos encaminhando providências para que as eleições se realizem ainda no 1º semestre de 2012, tempo que consideramos breve. Esta prerrogativa da comunidade eleger seu diretor aconteceu em 1994, quando a então unidade de Macaé se instalou e estamos convencidos de que é exatamente a tradição democrática que norteia nossas ações do IF Fluminense.
Folha – Outra medida entendida como avanço democrático, anunciada por você após a eleição, foi a mudança da reitoria para sede própria, visando dar mais autonomia ao campus Campos-Centro. Negar essa reivindicação pode ter sido uma das causas da derrota da situação? Quais as previsões de tempo e orçamentárias para que seja finalmente cumprida?
Luiz Augusto – Prefiro tratar este tema como uma decisão que cabe de forma mais adequada à concepção dos Institutos Federais: reitoria não vinculada a nenhum dos câmpus. Buscar recursos para a transferência da reitoria para um espaço digno, acolhedor passa a ser uma das primeiras atitudes de nossa gestão. Por tratar-se de uma ação inerente à concepção dos Institutos Federais, há previsão de recursos para tal fim, portanto, acreditamos que isto se dará muito em breve.
Folha – Especificamente quanto a Cabo Frio, como você viu o caso do professor César Dias, que por ter opinião própria sobre a composição do Conselho Superior do IFF, acabou exonerado da direção daquele campus, a 28 de dezembro de 2009, em imposição do grupo da reitoria, que ainda quis obrigar-lhe a voltar a lecionar em Campos, após já ter se instalado com sua família no outro município? Eticamente, foi o ponto mais baixo do grupo derrotado?
Luiz Augusto – Esta é uma questão vencida também pelos resultados das urnas. Afirmo, porém, que um dos requisitos de aprovação de uma gestão pública é sua política no sentido do bem estar e da qualidade de vida do servidor.
Folha – E o caso do concurso público de jornalista, gabaritado e vencido pela noiva do diretor do IFF responsável pela organização daquele processo seletivo, cuja anulação foi recomendada pelo Ministério Público Federal? Como agirá em relação a isso?
Luiz Augusto – Em qualquer concurso, a sociedade cobra transparência, portanto, o cuidado com todos os procedimentos para que não gere qualquer tipo de dúvida é condição irrefutável. Como gestor, agirei em observância às regras jurídicas que o tema impõe.
Folha – Antes de ser aprovada no concurso público, a jornalista já trabalhava na assessoria do IFF, através da empresa de comunicação que lhe presta serviços. O contrato inicial foi firmado ainda quando você era diretor geral do então Cefet, para confecção de um jornal, sendo depois ampliado por aditivos, visando diversos outros serviços, sobretudo na gestão de Cibele. Como está e como ficará essa situação?
Luiz Augusto – A criação dos Institutos Federais possibilitou, dentre seus diversos aspectos, o atendimento ao pleito dos então Cefet em relação à dificuldade do quadro de profissionais jornalistas. O IF Fluminense hoje possui jornalistas concursados muito competentes e serão eles que estarão à frente no âmbito da política de comunicação do IF Fluminense.
Folha – Essa linha divisória entre você e Jefferson com o grupo que derrotaram nas eleições, por vezes é questionada, a exemplo do que ocorre na política de Campos, onde os aliados mais próximos de ontem são os opositores mais críticos de hoje. No IFF, o que de fato passou a distinguir os dois grupos, que já foram um só em sua gênese?
Luiz Augusto – Uma concepção absolutamente distinta de Instituto Federal e, por conseguinte, de modelos díspares de gestão.
Folha – O presidente do Sinasefe Paulo Caxinguelê declarou que agora apoiou sua candidatura a reitor, assim como a de Jefferson, por entender que o compromisso de vocês era com a educação, enquanto o outro grupo possuiria interesses políticos fora da escola, para os quais pretendia usar o IFF como trampolim. No que ele está certo ou errado?
Luiz Augusto – Quero reafirmar o nosso compromisso com a educação, mas entendo que o processo educativo deve acontecer para a vida, para a autonomia e para a liberdade. Enfim, compreendo a educação em seu sentido pleno e, neste sentido, a participação política também se inclui. Formar lideranças também é educação para a cidadania.
Folha – Com um orçamento de R$ 160 milhões previsto para 2012, maior que o de muitos municípios da região, como impedir que a política interna do IFF se desenvolva, mirando àquela praticada fora dos muros da escola? Que limites éticos e legais essa transposição deveria obedecer?
Luiz Augusto – Em primeiro lugar, quero esclarecer que destes R$ 160 milhões, R$ 48 milhões são destinados às despesas de custeio e capital para o IFF. Depois reafirmar o compromisso de observância dos princípios da gestão pública que são regras instransponíveis.
Folha – Caxinguelê já declarou que, diante das denúncias envolvendo o grupo que perdeu a reitoria, seria necessária uma auditoria da gestão passada. Presidente do grêmio estudantil Nilo Peçanha, Hugo Pereira apoiou aqui a idéia, evocando o lema do IF do Rio Grande do Norte: “Aqui a sociedade paga a conta”. E no IF Fluminense?
Luiz Augusto – A transparência em e por todos os processos desenvolvidos é um dos pilares de nossa proposta de gestão e assim será em nossa gestão. Estaremos vigilantes neste compromisso para que este princípio seja sempre respeitado, na melhor acepção do termo política pública.
Folha – Em entrevista publicada pela Folha a 26 de abril de 2009, quando você ainda era diretor de Políticas da secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do ministério da Educação, começaram a vir a público essas polêmicas em relação ao IFF, que desembocariam na eleição de 14 de dezembro de 2011. No futuro, como acha que esse período histórico de dois anos e meio será conhecido? Seria capaz de resumi-lo?
Luiz Augusto – Em resumo, mesmo que a instituição tenha sofrido com esse conflito, acredito que a maturidade de seus profissionais reconhecerá que esta comunidade vivenciou plenamente a importância do processo democrático.
Folha – Em artigo publicado em 18 de dezembro último, o jornalista Aluysio Cardoso Barbosa fez aqui uma historiografia dos fatos ocorridos no IFF durante o período mencionado, prevendo que sua gestão na reitoria poderá enfrentar a oposição biliar daqueles que, em tempos idos, publicaram na escola o apócrifo jornal “A Tocha”, com base em ataques caluniosos e pessoais contra seus adversários. Em mídia impressa ou virtual, receia enfrentar esse tipo de oposição?
Luiz Augusto – Não receio enfrentar a opinião diferente e estamos cientes de que o diálogo é fundamental para a educação, para o campo em que atuamos. O IFF hoje abraça uma realidade muito diversa e rica, e nosso compromisso social em educar deve ser imperante. Além do mais, temos uma comunidade muito consciente que sabe reagir diante do que não é ético, portanto, não acredito que tais expedientes, citados na pergunta, prosperem em nossa Instituição.
Quando o blog diz “fracasso tão esmagador” e “vitória esmagadora” esquece que o resultado da eleição para reitor foi 51% para Luiz Augusto e 49% para Cibele. Outro equívoco é dizer que em Bom Jesus a vitória foi da oposição. Pelo contrário: o candidato de Cibele venceu com 70% dos votos.
perdão. “fracasso devastador”.
DEMOCRACIA NO IFF… FALA SÉRIO…
O sindicato dos servidores e o grêmio dos estudantes do IFF têm absoluta razão: Auditoria Já!!!
Ainda para 2012, continua valendo a dica de 2011 sobre o IFF. É só clicar o Sociedade Blog (http://sociedadeblog.blogspot.com/2011/12/la-e-ca.html) e o IFFernal (http://oiffernal.blogspot.com/2011/12/imagens-do-tabuleiro-do-jogo-de-war-da.html)
Cara Angela Del Duca,
Sua informação não é correta. Candidato vitorioso no campus de Bom Jesus do Itabapoana, João Renato Escudini, assim como seu adversário, Jorge Ubirajara Boechat, não vincularam suas campanhas à disputa pela reitoria. Já nos demais campus cujas diretorias gerais foram também disputadas, Campos-Centro e Macaé, a vitória foi integralmente da oposição, assim como a própria reitoria. Creio ser o bastante para endossar adjetivos como “esmagador”, “devastador”, ou qualquer outro que os valha, ao substantivo “fracasso” do grupo que estava no poder no IFF e foi dele completamente destronado pelo voto.
Abraço e grato pela colaboração!
Aluysio
Cara Alexandra,
Não sei se vc ficou sabendo, mas os estudantes do IFF, por exemplo, chegaram a falar tão sério que, diante da ameaça de impugnação dos seus votos, chegaram até a ocupar a reitoria, forçando a presença da PF para garantir a vitória da democracia na escola.
Abraço e grato pela colaboração!
Aluysio
Oi Aluysio,
Obrigada pelos comentários. Mas reafirmo o que disse, afinal, sou servidora do IFF no campus Bom Jesus há mais de 15 anos e acompanhei tudo bem de perto, inclusive, presenciei tudo o que aconteceu na apuração, no ginásio do campus Centro. Todas as minhas informações estão corretas, sim, afinal, sou parte daquela instituição e não acompanho os fatos de fora.
Abraço,
Angela
Cara Angela,
Vc não tem o que agradecer, até porque essa interatividade e os debates nela gerados são o que há de mais atraente nesta minha bissexta lida blogueira. Entretanto, como vc, também reafirmo o que antes disse, até porque, como jornalista, acompanho de perto, há mais de dois anos e meio, todas as polêmicas relativas à política interna do IFF, não apenas no campus de Bom Jesus.
Não por outro motivo, correta está a informação, distinta da sua, de que todos os dois candidatos a diretor geral daquele campus optaram por não vincular suas candidaturas à disputa da reitoria, o que pode ser conferido a partir de uma simples consulta tanto com o ganhador da disputa, João Renato Escudini, quanto com o perdedor, Jorge Ubirajara Boechat. Para isso, não é necessário ser parte da instituição de ensino mais importante da região, basta se informar corretamente sobre ela. Nesta busca, peço que me permita dizer que, muitas vezes, é melhor mesmo não estar integrado ao processo, seja para se ter dele uma visão mais abrangente, seja pela maior capacidade natural de isenção para quem está de fora.
Ao fim e ao cabo, se vc estava mesmo lá, no campus Campos-Centro, durante a apuração geral, na condição de iffeana, creio que deve ter se sentido envergonhada com a necessidade de um outro agente externo, a Polícia Federal, para que fossem apurados os votos de mais de dois mil estudantes, aos quais se tentou impugnar pela alegada suspeita de irregularidade (depois revelada inxistente) em apenas sete deles. Aliás, tão vergonhoso quanto isso, só a exoneração do professor César Dias da direção do campus de Cabo Frio, bem como a tentativa mesquinha de transferi-lo para Campos, simplesmente porque ele ousou discordar, na eleição do Conselho Superior do IFF, do grupo apeado do poder na escola pela decisão soberana do voto.
Abraço e grato pela colaboração!
Aluysio