Por Guilherme Belido
Já estava “em jornal” quando a Folha da Manhã fora criada. Lembro-me que na Copa de 74, perto dos 14 anos, já “atrapalhava” no velho prédio de A Cidade, na rua dos Andradas. Logo, em 1978, estava saindo da adolescência e ainda atrapalhando — o que fiz por muitos e muitos anos, sem nenhum mérito e graças à tolerância contrariada do jornalista Vivaldo Belido.
Penso ter tido o privilégio de assistir a escalada marcante dos principais donos e diretores de jornais da história da Imprensa de Campos, que por ordem de idade, a meu ver, foram Oswaldo Lima, Hervé Salgado Rodrigues, Vivaldo Belido e Aluysio Barbosa.
Mas a este, o caçula do grupo (que conheceu bem os outros três, de saudosa memória) coube colocar a Imprensa local em seu devido tempo. Diria melhor, à frente de seu tempo, porque até o início dos anos 80 pouquíssimos jornais brasileiros de municípios do porte de Campos dispunham dos recursos gráfico-editoriais da Folha e tampouco utilizavam institucionais tão qualificados para mostrar seu produto.
Um produto que resultou do talento de um jornalista que fez escola em Campos, foi para o Rio onde ganhou destaque no Jornal do Brasil (na época um dos maiores órgãos do país) e retornou para esta “bela planície cortada por rio” — frase, salvo engano, de seu filho, Aluysio Abreu Barbosa — para montar sua Folha.
Em fins da década de 70 (e a partir daqui passo a adaptar trechos de artigo já publicado) os jornais de Campos ainda “brigavam” com as velhas linotipos para os textos e os ultrapassados clichês para as imagens. Antes, A Cidade tentara mudar para off-set, mas só em 85 conseguiria implantar o sistema. E vale lembrar que a Folha, ao transformar os padrões gráfico-visuais de então, proporcionou enorme avanço também na seara editorial, tendo como resultado um jornal ágil, agradável aos olhos e bem mais completo.
Mas a história da Folha mostra estar longe de ter sido obra do acaso. Com efeito, as inúmeras dificuldades que precisaram ser vencidas na fase inicial pavimentaram o sucesso do tempo seguinte. A primeira impressora, uma “plana”, mostrou-se incompatível com as tiragens elevadas pretendidas pelo novo jornal e as compositoras IBMs não combinavam com o precário sistema de energia elétrica de Campos da época.
E a Folha seguiu… Lançou cadernos, criou editorias específicas, inovou com produtos diferenciados e investiu em maquinário. Com frequentes reformulações visuais e muitos eventos de cunho social, popular e festivo, promoveu um pacote de ações que fizeram a diferença do jornal que, desde o início, disse que “a diferença estava na qualidade”.
É fato, a Folha venceu por tudo isso e no dia 8 de janeiro de 1978 Campos conheceria o jornal que viria a ser o divisor de águas de uma Imprensa de século e meio. Mas, com tudo isso, talvez não tivesse vencido — friso — não fosse o trabalho obstinado, a vontade cega acima da adversidade e as muitas e muitas madrugadas que terminavam com os donos do jornal ajudando na dobra dos exemplares.
Ah, antes que me esqueça: lá um dia ou outro, por uma dificuldade qualquer, o Aluysio também precisou escrever o jornal praticamente sozinho, o que em redação a gente chama de “dar nó em pingo d’água” e que bem ilustra os 34 anos de sucesso e liderança.
P.S. – Faço com tranquilidade os comentários acima porque, a despeito da Folha da Manhã ter ultrapassado os concorrentes logo na primeira edição, o que, naturalmente, desagradou os demais diários e semanários da época, Vivaldo Belido mandou que A Cidade, que então brigava pela liderança, publicasse o seguinte registro: “Foi fundada ontem a Folha da Manhã, o melhor jornal que já apareceu em Campos e na Região…”
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Parabens Folha da Manhã.Parabens jornalistas pilares de uma grande empresa