Garotinho — Plantonista das cheias mais furado que os diques

Se pretende mesmo usar o seu blog para posar de plantonista na divulgação do caos na região com as chuvas, aconselha-se ao deputado federal Anthony Garotinho (PR) um pouco mais de responsabilidade enquanto comunicador. Depois de ter noticiado, a partir de suposta informação repassada à Defesa Civil de Campos, que uma barragem no rio Pomba (afluente do Paraíba do Sul) havia cedido, foi obrigado a corrigir a notícia. Na verdade, foi apenas uma comporta da Light aberta em Além Paraíba, na divisa do Rio de Janeiro com Minas Gerais.

Mesmo admitindo que sua notícia equivocada havia gerado pânico na população de Santo Antônio de Pádua, o ex-governador não pensou em pedir desculpas por ter noticiado o que não se deu ao trabalho antes de checar. Em vez disso, bem ao seu estilo, apagou do blog a postagem equivocada e publicou aqui uma nova, na qual ainda aproveitou para se auto-elogiar, dizendo que seu blog é muito lido em Pádua.

Na dúvida sobre qual cargo Garotinho ocupa na Prefeitura de Campos, para ter acesso em primeira mão às informações repassadas à Defesa Civil do município, mesmo quando equivocadas, fica a certeza da necessidade de um pouco mais de ética nas notícias veiculadas em seu blog. Tanto vale para o erro cometido com a população de Pádua, quanto em outra postagem posterior, na qual o deputado anunciou aqui, em outro de seus “plantões”, o encontro em Campos de Pezão com Rosinha, mas sem o crédito devido a quem noticiou o fato em primeira mão, no post abaixo, exatos 29 minutos antes.

Pezão agora com Rosinha na Prefeitura

(Foto de Phillipe Moacyr)
(Foto de Phillipe Moacyr)

 

O vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) está reunido neste momento com a prefeita Rosinha Garotinho (PR), na sede da Prefeitura. A informação complementa à noticiada aqui pelo Christiano Abreu Barbosa, de que o vice de Cabral estava na cidade, numa visita pela região para conferir os estragos das chuvas. Depois que estas finalmente passarem, sobre o que ainda não há previsão, a conversa será outra, em margens opostas e igualmente sujeita a tempestades e trovoadas: as eleições municipais de outubro…

Aluysio e os 34 anos da Folha

Por Guilherme Belido
 
Já estava “em jornal” quando a Folha da Manhã fora criada. Lembro-me que na Copa de 74, perto dos 14 anos, já “atrapalhava” no velho prédio de A Cidade, na rua dos Andradas. Logo, em 1978, estava saindo da adolescência e ainda atrapalhando — o que fiz por muitos e muitos anos, sem nenhum mérito e graças à tolerância contrariada do jornalista Vivaldo Belido.

Penso ter tido o privilégio de assistir a escalada marcante dos principais donos e diretores de jornais da história da Imprensa de Campos, que por ordem de idade, a meu ver, foram Oswaldo Lima, Hervé Salgado Rodrigues, Vivaldo Belido e Aluysio Barbosa. 

Mas a este, o caçula do grupo (que conheceu bem os outros três, de saudosa memória) coube colocar a Imprensa local em seu devido tempo. Diria melhor, à frente de seu tempo, porque até o início dos anos 80 pouquíssimos jornais brasileiros de municípios do porte de Campos dispunham dos recursos gráfico-editoriais da Folha e tampouco utilizavam institucionais tão qualificados para mostrar seu produto.

Um produto que resultou do talento de um jornalista que fez escola em Campos, foi para o Rio onde ganhou destaque no Jornal do Brasil (na época um dos maiores órgãos do país) e retornou para esta “bela planície cortada por rio” — frase, salvo engano, de seu filho, Aluysio Abreu Barbosa — para montar sua Folha.

Em fins da década de 70 (e a partir daqui passo a adaptar trechos de artigo já publicado) os jornais de Campos ainda “brigavam” com as velhas linotipos para os textos e os ultrapassados clichês para as imagens. Antes, A Cidade tentara mudar para off-set, mas só em 85 conseguiria implantar o sistema. E vale lembrar que a Folha, ao transformar os padrões gráfico-visuais de então, proporcionou enorme avanço também na seara editorial, tendo como resultado um jornal ágil, agradável aos olhos e bem mais completo.

Mas a história da Folha mostra estar longe de ter sido obra do acaso. Com efeito, as inúmeras dificuldades que precisaram ser vencidas na fase inicial pavimentaram o sucesso do tempo seguinte. A primeira impressora, uma “plana”, mostrou-se incompatível com as tiragens elevadas pretendidas pelo novo jornal e as compositoras IBMs não combinavam com o precário sistema de energia elétrica de Campos da época.

E a Folha seguiu… Lançou cadernos, criou editorias específicas, inovou com produtos diferenciados e investiu em maquinário. Com frequentes reformulações visuais e muitos eventos de cunho social, popular e festivo, promoveu um pacote de ações que fizeram a diferença do jornal que, desde o início, disse que “a diferença estava na qualidade”.

É fato, a Folha venceu por tudo isso e no dia 8 de janeiro de 1978 Campos conheceria o jornal que viria a ser o divisor de águas de uma Imprensa de século e meio. Mas, com tudo isso, talvez não tivesse vencido — friso — não fosse o trabalho obstinado, a vontade cega acima da adversidade e as muitas e muitas madrugadas que terminavam com os donos do jornal ajudando na dobra dos exemplares.

Ah, antes que me esqueça: lá um dia ou outro, por uma dificuldade qualquer, o Aluysio também precisou escrever o jornal praticamente sozinho, o que em redação a gente chama de “dar nó em pingo d’água” e que bem ilustra os 34 anos de sucesso e liderança.

P.S. – Faço com tranquilidade os comentários acima porque, a despeito da Folha da Manhã ter ultrapassado os concorrentes logo na primeira edição, o que, naturalmente, desagradou os demais diários e semanários da época, Vivaldo Belido mandou que A Cidade, que então brigava pela liderança, publicasse o seguinte registro: “Foi fundada ontem a Folha da Manhã, o melhor jornal que já apareceu em Campos e na Região…”

 

Leia a publicação original aqui

Democracia toma posse do IFF em 2012

Em 26 de abril de 2009, a Folha publicou aqui entrevista com o então diretor de Políticas da secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do ministério da Educação,  professor Luiz Augusto Caldas, que trouxe a público uma série de polêmicas envolvendo o Instituto Federal Fluminense (IFF). Primeiro reitor eleito da escola em 14 de dezembro de 2011, numa vitória esmagadora da oposição, Luiz Augusto falou novamente à Folha, garantindo que neste período de dois anos e meio entre as duas entrevistas o IFF “vivenciou plenamente a importância do processo democrático”. Para endossar o discurso com a prática, ele confirmou, ainda para o primeiro semestre deste ano, a eleição também nos campi Guarus, Cabo Frio, Quissamã e Itaperuna, cujos diretores eram indicações impostas pelo grupo derrotado. Quanto à auditoria da gestão passada, reivindicada por servidores e alunos da insituição de ensino mais importante de Campos e região, o reitor que toma posse no dia 10 não confirmou a possibilidade, mas também não a descartou.

 

(Foto de Silésio Corrêa)
(Foto de Silésio Corrêa)

 

Folha da Manhã – Maior polêmica da sua eleição à reitoria do IFF, como encarou o pedido da situação para impugnação dos votos de mais de dois mil alunos, a partir da alegação de irregularidade em sete deles?

Luiz Augusto Caldas – Aquela ocorrência se deu em um contexto muito específico, daí a importância de hoje analisá-la sob a ótica da democracia e da participação cidadã dos estudantes, o que para uma instituição de ensino revela a importância da educação para a vida.

 

Folha – Após o presidente da Comissão Eleitoral do campus Campos-Centro, professor Jonivan Coutinho Lisbôa, revelar aqui que os votos sob suspeita eram realmente legais, há como ainda se apontar alguma irregularidade?

Luiz Augusto – Não. O resultado legítimo e reconhecido hoje é possível notar no ambiente tranquilo da instituição, na transição que já se iniciou de forma respeitosa e com a comunidade segura de que cumpriu o seu papel.

 

Folha – Entre os derrotados, houve queixas não só relativas à ocupação da reitoria do IFF pelos alunos, como acusações de que ela teria sido motivada por “estudantes profissionais” e pelo diretor do campus Campos-Centro, professor Jefferson Azevedo, que lhe apoiou. Qual o limite entre verdade e “choro de perdedor” nestas denúncias?

Luiz Augusto – A crítica, quando preconceituosa e conservadora, deve ser ignorada. A ocupação se deu de forma espontânea por parte dos estudantes, conscientes de seus direitos, o que redundou num instrumento que forçou o diálogo necessário no sentido da resolução do impasse. Importante destacar que durante a ocupação, os estudantes tiveram uma postura de respeito e de cuidado tanto na relação com os servidores ali presentes, como também com o patrimônio público.

 

Folha – Em carta aberta após sua derrota, a reitora Cibele Daher chegou a nomear o vereador Kelinho e o deputado federal Anthony Garotinho (ambos do PR) num suposto envolvimento na eleição da escola. O que há de fato nisso?

Luiz Augusto – Minha conduta sempre foi pautada pela condição de representante de uma instituição pública, daí a obrigação de não considerar referências estreitas que apontem nesta direção. Acusações desta natureza são registradas em geral em momentos de eleição e não concorrem positivamente para o processo.

 

Folha – Não fosse a ocupação da reitoria do IFF pelos alunos, motivando a presença da Polícia Federal na escola, acha que a tentativa de se impugnarem os votos teria sido bem sucedida, já que chegou a ser inicialmente aceita pela Comissão Eleitoral Central?

Luiz Augusto – A participação dos estudantes foi fundamental para garantir o resultado do processo; ela desencadeou uma série de eventos que no fim representaram uma homenagem à democracia.

 

Folha – Acreditava que a vitória da oposição nas urnas pudesse ser completa, com a conquista também das diretorias gerais dos campi Campos-Centro, Macaé e Bom Jesus do Itabapoana, além da reitoria? Em seu entender, quais os motivos para que um fracasso tão devastador tenha sido imposto contra quem contava com todas as vantagens de estar no poder?

Luiz Augusto – A consciência da nossa comunidade que se posicionou no que para ela representa a melhor proposta para a consolidação do Instituto Federal Fluminense e de seu papel na região para os próximos anos. A comunidade espera por mudanças e sem sombra de dúvidas, isto depende da instauração de um clima institucional de envolvimento e participação de servidores e estudantes para que se tornem realidade as propostas que apresentamos.

 

Folha – Você endossa o desabafo do professor Jefferson, após as eleições: “Triste que uma escola marcada por ter sido a primeira no Brasil a escolher democraticamente seu diretor, hoje seja obrigada a ter a Polícia Federal como mediadora da sua eleição”?

Luiz Augusto – A fala do professor Jefferson e de muitos é que tal episódio poderia ter sido evitado, principalmente por termos registros em nossa instituição de defesa da democracia em momentos mais difíceis no contexto nacional.

 

Folha – Depois da vitória confirmada nas urnas, você anunciou que abrirá mão da prerrogativa de indicação nos campi Guarus, Cabo Frio, Quissamã e Itaperuna, para que cada uma dessas comunidades acadêmicas eleja seu diretor-geral. Como e quando se dará esse processo?

Luiz Augusto – Reafirmo o compromisso com os câmpus de que a eles será transferida a prerrogativa de escolha de seus dirigentes e já estamos encaminhando providências para que as eleições se realizem ainda no 1º semestre de 2012, tempo que consideramos breve. Esta prerrogativa da comunidade eleger seu diretor aconteceu em 1994, quando a então unidade de Macaé se instalou e estamos convencidos de que é exatamente a tradição democrática que norteia nossas ações do IF Fluminense.

 

Folha – Outra medida entendida como avanço democrático, anunciada por você após a eleição, foi a mudança da reitoria para sede própria, visando dar mais autonomia ao campus Campos-Centro. Negar essa reivindicação pode ter sido uma das causas da derrota da situação? Quais as previsões de tempo e orçamentárias para que seja finalmente cumprida?

Luiz Augusto – Prefiro tratar este tema como uma decisão que cabe de forma mais adequada à concepção dos Institutos Federais: reitoria não vinculada a nenhum dos câmpus. Buscar recursos para a transferência da reitoria para um espaço digno, acolhedor passa a ser uma das primeiras atitudes de nossa gestão. Por tratar-se de uma ação inerente à concepção dos Institutos Federais, há previsão de recursos para tal fim, portanto, acreditamos que isto se dará muito em breve.

 

Folha – Especificamente quanto a Cabo Frio, como você viu o caso do professor César Dias, que por ter opinião própria sobre a composição do Conselho Superior do IFF, acabou exonerado da direção daquele campus, a 28 de dezembro de 2009, em imposição do grupo da reitoria, que ainda quis obrigar-lhe a voltar a lecionar em Campos, após já ter se instalado com sua família no outro município? Eticamente, foi o ponto mais baixo do grupo derrotado?

Luiz Augusto – Esta é uma questão vencida também pelos resultados das urnas. Afirmo, porém, que um dos requisitos de aprovação de uma gestão pública é sua política no sentido do bem estar e da qualidade de vida do servidor.

 

Folha – E o caso do concurso público de jornalista, gabaritado e vencido pela noiva do diretor do IFF responsável pela organização daquele processo seletivo, cuja anulação foi recomendada pelo Ministério Público Federal? Como agirá em relação a isso?

Luiz Augusto – Em qualquer concurso, a sociedade cobra transparência, portanto, o cuidado com todos os procedimentos para que não gere qualquer tipo de dúvida é condição irrefutável. Como gestor, agirei em observância às regras jurídicas que o tema impõe.

 

Folha – Antes de ser aprovada no concurso público, a jornalista já trabalhava na assessoria do IFF, através da empresa de comunicação que lhe presta serviços. O contrato inicial foi firmado ainda quando você era diretor geral do então Cefet, para confecção de um jornal, sendo depois ampliado por aditivos, visando diversos outros serviços, sobretudo na gestão de Cibele. Como está e como ficará essa situação?

Luiz Augusto – A criação dos Institutos Federais possibilitou, dentre seus diversos aspectos, o atendimento ao pleito dos então Cefet em relação à dificuldade do quadro de profissionais jornalistas. O IF Fluminense hoje possui jornalistas concursados muito competentes e serão eles que estarão à frente no âmbito da política de comunicação do IF Fluminense.

 

Folha – Essa linha divisória entre você e Jefferson com o grupo que derrotaram nas eleições, por vezes é questionada, a exemplo do que ocorre na política de Campos, onde os aliados mais próximos de ontem são os opositores mais críticos de hoje. No IFF, o que de fato passou a distinguir os dois grupos, que já foram um só em sua gênese?

Luiz Augusto – Uma concepção absolutamente distinta de Instituto Federal e, por conseguinte, de modelos díspares de gestão.

 

Folha – O presidente do Sinasefe Paulo Caxinguelê declarou que agora apoiou sua candidatura a reitor, assim como a de Jefferson, por entender que o compromisso de vocês era com a educação, enquanto o outro grupo possuiria interesses políticos fora da escola, para os quais pretendia usar o IFF como trampolim. No que ele está certo ou errado?

Luiz Augusto – Quero reafirmar o nosso compromisso com a educação, mas entendo que o processo educativo deve acontecer para a vida, para a autonomia e para a liberdade. Enfim, compreendo a educação em seu sentido pleno e, neste sentido, a participação política também se inclui. Formar lideranças também é educação para a cidadania.

 

Folha – Com um orçamento de R$ 160 milhões previsto para 2012, maior que o de muitos municípios da região, como impedir que a política interna do IFF se desenvolva, mirando àquela praticada fora dos muros da escola? Que limites éticos e legais essa transposição deveria obedecer?

Luiz Augusto – Em primeiro lugar, quero esclarecer que destes R$ 160 milhões, R$ 48 milhões são destinados às despesas de custeio e capital para o IFF. Depois reafirmar o compromisso de observância dos princípios da gestão pública que são regras instransponíveis.

 

Folha  – Caxinguelê já declarou que, diante das denúncias envolvendo o grupo que perdeu a reitoria, seria necessária uma auditoria da gestão passada. Presidente do grêmio estudantil Nilo Peçanha, Hugo Pereira apoiou aqui a idéia, evocando o lema do IF do Rio Grande do Norte: “Aqui a sociedade paga a conta”. E no IF Fluminense?

Luiz Augusto – A transparência em e por todos os processos desenvolvidos é um dos pilares de nossa proposta de gestão e assim será em nossa gestão. Estaremos vigilantes neste compromisso para que este princípio seja sempre respeitado, na melhor acepção do termo política pública.

 

Folha – Em entrevista publicada pela Folha a 26 de abril de 2009, quando você ainda era diretor de Políticas da secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do ministério da Educação, começaram a vir a público essas polêmicas em relação ao IFF, que desembocariam na eleição de 14 de dezembro de 2011. No futuro, como acha que esse período histórico de dois anos e meio será conhecido? Seria capaz de resumi-lo?

Luiz Augusto – Em resumo, mesmo que a instituição tenha sofrido com esse conflito, acredito que a maturidade de seus profissionais reconhecerá que esta comunidade vivenciou plenamente a importância do processo democrático.

 

Folha – Em artigo publicado em 18 de dezembro último, o jornalista Aluysio Cardoso Barbosa fez aqui uma historiografia dos fatos ocorridos no IFF durante o período mencionado, prevendo que sua gestão na reitoria poderá enfrentar a oposição biliar daqueles que, em tempos idos, publicaram na escola o apócrifo jornal “A Tocha”, com base em ataques caluniosos e pessoais contra seus adversários. Em mídia impressa ou virtual, receia enfrentar esse tipo de oposição?           

Luiz Augusto – Não receio enfrentar a opinião diferente e estamos cientes de que o diálogo é fundamental para a educação, para o campo em que atuamos. O IFF hoje abraça uma realidade muito diversa e rica, e nosso compromisso social em educar deve ser imperante. Além do mais, temos uma comunidade muito consciente que sabe reagir diante do que não é ético, portanto, não acredito que tais expedientes, citados na pergunta, prosperem em nossa Instituição.