As mulheres, no seu dia, por Bukowski

Hoje, dia internacional da mulher, minha lembrança ao gênero oposto nesta nossa pretensiosa espécie de macacos sem rabo, com polegar opositor e pouco pêlo, se dá da única maneira que conheço: como homem! Neste sentido, para definir o pouco que sei e o muito que sinto em relação às mulheres, minha irrelevante escolha recaiu sobre os versos do escritor nascido na Alemanha e criado nos bares e becos dos EUA, sobretudo de Los Angeles, Charles Bukowski (1920/94), beberrão invereterado, maldito na vida e na obra, não por acaso também conhecido pela alcunha de “Velho Safado”.

Quem quiser saber um pouco mais de sua vida, além da leitura da sua obra em verso e prosa, quase sempre autobiográgica, uma boa e rápida dica é se assitir ao filme “Barfly – Condenados pelo Vício”, de 1987, do diretor francês Barbet Schroeder, com o também maldito (e excelente) ator Mickey Rourke interpretando a personagem central, inspirada em Bukowski, no roteiro por ele escrito. Agora, para se saber dos seus sentimentos sobre as mulheres, neste dia a elas dedicado, o melhor mesmo é ler o seu…

 

 

Bukowiski deitado e soterrado de amor às mulheres
Bukowski deitado e soterrado de amor às mulheres

 

 

Um poema de amor

todas as mulheres

todos os beijos delas as

formas variadas como amam e

falam e carecem.

suas orelhas elas todas têm

orelhas e

gargantas e vestidos

e sapatos e

automóveis e ex-

maridos.

principalmente

as mulheres são muito

quentes elas me lembram a

torrada amanteigada com a manteiga

derretida

nela.

há uma aparência

no olho: elas foram

tomadas, foram

enganadas. não sei mesmo o que

fazer por

elas.

sou

um bom cozinheiro, um bom

ouvinte

mas nunca aprendi a

dançar — eu estava ocupado

com coisas maiores.

mas gostei das camas variadas

lá delas

fumar um cigarro

olhando pro teto. não fui nocivo nem

desonesto. só um

aprendiz.

sei que todas têm pés e cruzam

descalças pelo assoalho

enquanto observo suas tímidas bundas na

penumbra. sei que gostam de mim algumas até

me amam

mas eu amo só umas

poucas.

algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas;

outras falam mansamente da

infância e pais e

paisagens; algumas são quase

malucas mas nenhuma delas é

desprovida de sentido; algumas amam

bem, outras nem

tanto; as melhores no sexo nem sempre

são as melhores em

outras coisas; todas têm limites como eu tenho

limites e nos aprendemos

rapidamente.

todas as mulheres todas as

mulheres todos os

quartos de dormir

os tapetes as

fotos as

cortinas, tudo mais ou menos

como uma igreja só

raramente se ouve

uma risada.

essas orelhas esses

braços esses

cotovelos esses olhos

olhando, o afeto e a

carência me

sustentaram, me

sustentaram.

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Este post tem 2 comentários

  1. Cristiano Pluhar

    Ótima indicação! Sou fã extremo de Charles Bukowski. Através de sua literatura conheci, em 2007, pela Internet, minha atual esposa – campista -, que me “tirou” do Rio Grande do Sul e me trouxe para cá.

  2. Aluysio

    Caro Cristiano,

    Como, por experiência própria, posso afimar que é raro um campista qualquer, independente do gênero, que conheça Bukowski, é correto supor que vc deixou seu Rio Grande por um bom motivo… Rs

    Abraço e grato pela colaboração!

    Aluysio

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