Rumi — Vertigem do Amor

Folha Letras, na contracapa da Folha Dois, na edição da Folha da Manhã de hoje
Folha Letras, na contracapa da Folha Dois, na edição da Folha da Manhã de hoje

Travei meu primeiro contato com o poeta Rumi (1207/1273) ainda nos anos 90, através do médico e ora candidato do PT à Prefeitura de Campos, Makhoul Moussallém. Libanês, filho orgulhoso da tribo dos cananeus, que os gregos antigos chamavam fenícios, Makhoul sempre foi homem de boa cultura, cioso daquela milenar à qual seu povo está integrado, com forte influência islâmica, presente entre outras coisas na língua árabe, apesar dele próprio ser cristão maronita.

A partir do aprofundamento na obra de Rumi, passei com o tempo a considerá-lo o maior entre todos os poetas medievais, superior mesmo aos italianos Dante (1265/1321) e Petrarca (1304/1374). De fato, grande foi minha emoção quando, junto com meu filho Ícaro, então com 10 anos, visitei o túmulo do poeta no Museu Mevlana, em Kônia, capital religiosa da Turquia, numa tarde quente de julho de 2009.

O local é um disputado centro de peregrinação, pois além da literatura, Rumi foi também um teólogo influente, considerado pelos islâmicos quase como um santo, ou o mais próximo disso que seus dogmas religiosos permitem. Ele fundou a ordem dos dervixes girantes, na qual homens com chapéus cônicos e longas saias dançam e rodopiam até entrarem em transe, buscando contato com o Divino. Embora a ordem tenha sido posteriormente proibida, os dervixes ainda existem, atraindo fiéis e turistas com a vertigem da sua fé.

Abaixo, para ilustrar o belo trabalho gráfico da artista estadunidense Lisa Dietrich, não por coincidência batizado “Rumi”, escolhi também sem acaso dois poemas do grande vate, que escreveu toda sua obra em persa, sendo um dos principais responsáveis para que a língua tivesse se mantido viva até nossos dias, resistindo ao longo dos séculos contra o domínio esmagador do árabe, que mesmo hoje detém o monopólio da expressão da fé islâmica.

Ao que Rumi nos diz no segredo dos seus versos, revelado na vertigem de quem dança em busca de Deus, a única resposta possível é a mesma que ele sempre reservou ao amor: “Colhe-me, colhe-me, colhe-me!”

Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.

Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.


“Rumi”, de Lisa Dietrich
“Rumi”, de Lisa Dietrich

Não temos nada além do amor.
Não temos antes, princípio nem fim.
A alma grita e geme dentro de nós:
— Louco, é assim o amor.
Colhe-me, colhe-me, colhe-me!

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Este post tem 2 comentários

  1. Maria

    Lindo !Lindo !Lindo! Lindo!
    Que bom existirem pessoas com sentimentos a flor da pele ,como vc.
    Acolhe-me,Acolhe-me,acolhe-me!

  2. felipe nicolau crespo waked.

    Que beleza de materia,enriquesse o espirito e alimenta a fé,parabens pelo conhecimento religioso, doutrinario e filosofico,continue assim.

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