Por Talita Barros, jornalista da Folha
Avaliar a eleição como cidadã ou como jornalista? Fui preparada para viver momentos de tensão para a escolha de representantes da esfera municipal em Campos — esta foi a minha primeira eleição municipal em Campos, já que moro por aqui há apenas dois anos. Cumpri meu papel como jornalista olhando se havia alguma alteração nos locais de votação por onde passei. Equipes das polícias Militar e Federal estavam de plantão no Instituto Federal Fluminense (IFF), onde também havia uma equipe da Guarda Civil Municipal (GCM), orientando motoristas a não estacionar a menos de 30 metros dos locais de votação. Para quem saiu de casa esperando avistar uma boca de urna a cada esquina e rixas entre grupos políticos distintos, foi até estranha a calmaria.
No IFF estava esperando para cobrir a votação do candidato à prefeitura de Campos pelo PT, Makhoul Moussallem, e uma idosa sentou ao meu lado. Aos 90 anos, cansada, após subir dois lances das rampas da instituição acompanhada por uma amiga, ela disse que esta seria a última vez que votaria. Não, esta não era uma despedida da vida, afinal ela ainda pretende viver por mais 10 anos. Só queria cumprir o dever de quem sempre fez questão de votar. A conversa fluiu de modo gracioso e a tensão pela cobertura da eleição foi embora. A alegria da senhora que parecia não estar votando por algum mau motivo era contagiante. Em tempos de tensão e de campanhas duvidosas, populistas, que abusam de chantagem, dona Nícia era só poesia, como alguém que está além de toda essa podridão. Do mesmo modo era a dona Elba Souza Terra, moradora de Guarus, que aos 84 anos, mesmo de muleta, não perdeu a eleição. Elas mostram a esperança, a vontade de votar bem, sem um benefício qualquer. Aliás, sem qualquer benefício. Votar por ter deveres e também direitos. Direitos e não benesses…
Mulheres fortes ,guerreiras,lúcidas que acreditam em um país cada vez melhor.