Olhos abertos
Para qualquer um que acompanhasse com olhos mais atentos a política de Campos, até a eleição de outubro passado, e que, por um motivo qualquer deixasse de fazê-lo, como foi o caso deste pretenso articulista dominical, tendo que só agora retomar ciência do que ocorre em on e off nos círculos do poder goitacá, nenhuma conclusão desapaixonada indicaria que a oposição local, esmagada com requintes de humilhação nas urnas, tenha aprendido a definitiva lição aplicada por estas: eleição que se deixa para disputar só na campanha, é natimorta.
Mesmo sem ter sido reeleito, o principal alvo da situação, como disse Fernando Pessoa pela pena de Álvaro de Campos, tem “uma nitidez que me cega para o que há aqui”: o ex-presidente da Câmara, Nelson Nahim (PPL). Cego é quem, durante toda a campanha de 2012, não enxergou o obstinado empenho pessoal de seu irmão, o deputado federal Anthony Garotinho (PR), no qual pisou fundo para atropelar, sem roçar freio ou buzina, qualquer sentido de ética familiar e política, tendo como único traçado a capotagem eleitoral de Nahim.
Sob a aparente cegueira do Ministério Público e da Justiça Eleitoral de Campos, o atropelo de Garotinho sobre quem ocupou antes sua vaga no mesmo útero materno, pareceu também ilegal às vistas de qualquer leigo. Foi o caso, por exemplo, da proposta em nome da Prefeitura de Campos, feita por um deputado federal sem nenhum poder constituído para tanto, na qual foi oferecido um acordo ao ex-vereador Toninho Vianna (PPL), enquanto fiscal de renda, para que este abandonasse sua candidatura proporcional na nominata de Nahim, em troca da facilitação do pagamento de uma indenização trabalhista que já havia sido ganha nos tribunais.
Assim como cego é quem, neste ano da Graça de 2013, ainda não percebeu o desenrolar de imolação pública, concebida para se sangrar pouco a pouco, daquilo que os colunistas da Folha Murilo Dieguez e Gustavo Matheus primeiro identificaram sob a alcunha de “Plano Nahim”. Arquitetado por Garotinho e posto em prática por vereadores governistas com submissão canina, goela caprina e moral humana, o objetivo seria investigar com lupa e pinça todos os atos do ex-presidente da Câmara, ecoando certezas sobre qualquer possibilidade de irregularidade, ou simplesmente inventando, no caso de inexistência.
Para quem vê um pouco mais além, como foi o caso de Murilo e Gustavo, o objetivo teria atrás de si outro objetivo: tentar chantagear Nahim, no sentido de impedi-lo de participar da campanha do peemedebista Luiz Fernando Pezão (ou do petista Lindbergh Farias), em palanque e propaganda gratuita de TV, dando relevância estadual e nacional à perseguição que sofreu do próprio irmão, em constrangedora oposição à candidatura de Garotinho (ou Rosinha?) à sucessão do governador Sérgio Cabral (PMDB), em 2014.
E quanto aos substitutos de Nahim — e de Marcos Bacellar (PDT), Odisséia Carvalho (PT), Rogério Matoso (PPS) e Ilsan Viana (PDT) — na bancada de oposição do atual Legislativo de Campos? Se os vereadores Nildo Cardoso (PMDB), Fred Machado (PSD), Marcão (PT) e Rafael Diniz (PPS) têm se movimentado, por enquanto parece ser em relação ao pleito mais próximo, de 2014.
Certo que, se Garotinho conseguir voltar ao Palácio Guanabara — tarefa hercúlea, dada sua rejeição de quase 45% —, as coisas ficariam ainda mais difíceis no plano municipal de 2016, muito embora não impossíveis, haja vista que mesmo com Rosinha governadora, o hoje deputado estadual Geraldo Pudim (PR) acabou derrotado duas vezes consecutivas na disputa à Prefeitura de Campos, em 2004 e 2006. Portanto, é igualmente certo que, independente dos resultados das urnas de 2014, a eleição do próximo prefeito de Campos, findo o carnaval de 2013, começa a ser disputada agora!
Quem não for cego ao passado recente e ao presente poderá vislumbrar o que o futuro reserva, aos olhos de 2016, já a partir da próxima sessão legislativa de terça. Veremos…
Artigo publicado hoje, na edição impressa da Folha da Manhã.
Bom dia Aluysio!
Através das próprias páginas e suas respectivas entrevistas à Folha da Manhã naquele fatídico recesso de meio de ano, quando o vereador Magal expôs perante a reportagem da Folha da Manhã o tal “pacto de silêncio” entre vereadores da situação e da oposição em relação ao aumento de cadeiras no Legislativo Municipal, em que Magal se recusava veementemente a pronunciar o nome de Nelson Nahim (tudo isto está em reportagem feita pela Folha – são 2). Qual foi o passo seguinte?
No programa “Entrevista Combinada” imediatamente a matéria, no ar Garotinho deu um sabão em Magal, o chamou de chapéu de dois bicos e, depois amaciou e disse que a culpa era da Folha, visto que o aconselhou a não dar mais entrevistas para a Folha da Manhã porque segundo ele sai tudo distorcido. (tudo foi ao ar, basta requerer cópia da gravação do programa).
Bem, Garotinho e Nahim ainda não haviam rompido. Porque o líder do governo se recusava a falar o nome do Presidente da Câmara? Confesso que fiquei com esta indagação por mto tempo e, a resposta eu vim obtê-la agora após eleições e, na hora de compor a Mesa Diretora:
Salvo engano, desde lá o objetivo do líder da Câmara era ocupar a Mesa Diretora.
O principal articulista para esta “querela” entre irmãos, salvo engano, foi o vereador Magal, até mesmo porque os argumentos levantados por Garotinho não se sustentaram.
Bom ter vc de volta!
Abraços
Pertinente a lembrança e generosas as boas vindas, Gianna! Abç!
Boa Tarde, Caro Aluysio!
Eu li o seu texto do início ao fim várias vezes e, percebo que o texto escrito carece de algumas análises mais detalhadas.Ele começa como uma temporalidade, ou seja, infere que se a oposição tivesse começado antes as coisas seriam bem diferentes. Mas é aí, que está, diante do conhecido caminho assistencialista, populista e até por chantagem do tipo “se votar na oposição, perderão o vale alimentação ou perderão a passagem a 1 real ou que os contratados serão mandados embora”, que saída ou qual iniciativa a oposição teria de ter para furar os tais bloqueios? Muitos falam com idéias, mas que idéias?
O fato é que, se nós observarmos o cenário da América Latina, principalmente em Cuba, na Venezuela, na Argentina, na Bolivia, no Brasil e, mais recentemente no Equador, como as lideranças conseguem se perpetuar no poder: aparelhando o legislativo, os tribunais de justiça, outros órgãos públicos, a situação consegue eleger a maioria dos deputados federais e senadores, conseguem oferecimento de cargos comissionados, alguns de forma ilegal, etc.
Voltando a Campos, a Câmara há anos tem deixado de cumprir o que manda a Lei Orgânica que é “fiscalizar as ações do executivo”. O legislativo em Campos é uma simbiose do Executivo, vimos isso no início do ano passado com a questão do REDA e vimos no que deu, né?
Por isso, quando se fala que em Campos a oposição dorme é preciso que se diga, qual é a opção que ela tem, diante dessas questões, para conseguir vencer. É um discurso que até eu posso cair, se não mergulhar em águas ideológicas mais profundas. Dizer por dizer, fica fácil.
Um abraço e parabéns pela coluna!
Caro Leniéverson,
Ninguém pode dizer que se a oposição tivesse começado a disputar a eleição de 2012, logo após perder a de 2008, as coisas seriam diferentes nas urnas de outubro último. Assim como ninguém pode afirmar que suas chances, se fosse quatro anos mais ágil, não teriam sido no mínimo melhores.
Concordo que a política assistencialista, assim como o nefasto aparelhamento do Estado em seus vários níveis, praticada pelos Garotinho sempre que possível, guardam semelhança genética com as mesmas práticas pelos governos federais de Cuba, Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador e no Brasil de uma década sob comando do PT. Na dúvida do DNA comum, basta ler o grande ideólogo marxista Antonio Gramsci e seu conceito de revolução passiva, estabelecido em sua obra prima, “Cadernos do cárcere”, brilhantemente traduzido ao português pelo filósofo brasileiro Carlos Eduardo Coutinho, um dos poucos que tiveram coerência ética e coragem política de sair do PT ao PSOL depois que o rei ficou nu, assim que veio a furo o Mensalão.
E não é nem preciso saber ler para concordar novamente contigo, quando afirma que o Legislativo de Campos, em seu todo, há muito perdeu sua função fim: fiscalizar os atos do executivo.
Quanto às opções que Campos teria, mais do que nomeá-las, o aprofundamento nas possíveis razões, nas certas demandas, em todas suas muitas complexidades, ocuparia o espaço não de um artigo, mas talvez de uma tese. De qualquer maneira, o modo para se chegar lá, me parece bem simples: trabalhar!
Ficar no “dizer por dizer”, na crítica pela crítica em que se basta generosa parte da oposição, nesta Câmara Municipal e na anterior, na blogosfera local e em todos os demais setores da sociedade real, certamente é mais fácil.
Abç e grato pela colaboração!
Aluysio