Estudantes perguntam, respondem e ensinam: “Sem cobranças, nada irá mudar!”

Entrevista feita hoje, na Folha, pelos estudantes Tamires, Maria Carolina, Rodolfo, Tiago e Laura (foto de Helen Souza)
Entrevista feita hoje, na Folha, pelos estudantes Tamires, Maria Carolina, Rodolfo, Tiago e Laura (foto de Helen Souza)

Acabei de receber e conversar na redação com um grupo de cinco alunos da Escola Estadual João Barcelos Martins. Todos cursando o 1º do ensino médio, Tamires (15 anos), Rodolfo (16), Tiago (16), Laura (15) e Maria Carolina (15) vieram à redação da Folha para entrevistar jornalistas que cobriram as manifestações de rua que ocorreram em Campos, lideradas pelo movimento “Cabruncos Livres”, a reboque do que aconteceu em todo o resto do Brasil. Conversaram e entrevistaram os jornalistas Suzy Monteiro e Mário Sérgio Junior, além de mim, para um trabalho de sociologia, com o tema “Democracia e repressão aos manifestantes”. Da minha parte, expliquei-lhes que os protestos recentes, diante da corrupção e indiferença dos seus representantes políticos, pareciam historicamente buscar o conceito original de democracia direta, sem representação, fundamentado na Atenas da Grécia Antiga, mas que tal modelo, embora baseado em aspiração popular legítima, seria impossível de ser praticado num país-continente como o Brasil, com quase 200 milhões de habitantes.

Quanto à repressão, lembrei aos estudantes que o movimento, embora nascido e rapidamente alastrado na democracia irrefreável das redes sociais, foi também alavancado pela truculência da reação policial inicial em São Paulo, assim como pela  repercussão dos fatos na mídia internacional, presente ao Brasil durante a Copa das Confederações. Mas se as forças policiais, salvo algumas exceções pontuais em Minas Gerais, estiveram ao lado dos governadores durante a Copa das Confederações, nada garante que terão a mesma atitude na Copa do Mundo, em 2014, um torneio com o dobro de duração e ainda mais do que isto de atenção da mídia mundial, em evento programado para acabar apenas três meses antes das eleições à presidência da República e aos governos estaduais.Também expliquei aos estudantes que se o vandalismo e a violência felizmente não se registraram nos movimentos de Campos, não foi baseado no exemplo dado pelo governo municipal, que patrocinou invasão e vandalismo no aeroporto Bartolomeu Lyzandro e no heliporto do Farol, em 7 de março deste ano (relembre aqui), como reações à votação no Congresso Nacional que aprovou a partilha dos royalties, cujo julgamento final ainda espera no Supremo Tribunal Federal (STF).

Encerradas as indagações dos estudantes, feitas mais diretamente pela Tamires, com Rodolfo e Maria Carolina se revezando na filmagem digital do celular, fiz também as minhas perguntas. Os cinco se queixaram abertamente do nível do ensino que recebem do governo estadual, sobretudo se comparado ao conteúdo e aos recursos de ensino de colegas que cursam o mesmo 1º ano do médio  no Instituto Federal Fluminense (IFF). Ainda assim, baseados naquilo que recebem do ensino público, quase todos têm objetivos acadêmicos definidos, antes de ganharem o mercado de trabalho: Tamires e Laura querem cursar administração de empresas; Rodolfo, arquitetura; Tiago, advocacia; enquanto Maria Carolina ainda não sabe. Sobre os atuais governos federal, estadual e municipal, a avaliação é muito ruim por parte de todos; ou quase. Tiago disse que do governo Rosinha, não tem nada para falar, enquanto Rodolfo o classificou como o pior dos três. Indagados por fim sobre os movimentos de rua, o apoio unânime dos cinco adolescentes foi resumido por Tamires:

— Se a população sair das ruas, suas cobranças serão esquecidas. E se deixarmos nossos políticos esquecerem de nós, se nos esquecermos da força que temos, tudo vai ficar como está.

Atualização às 11h36 de 18/07: Aqui, a jornalista Suzy Monteiro também falou da visita dos estudantes da Barcelos Martins à redação da Folha.

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Este post tem 3 comentários

  1. santos

    Tamires meus parabéns já mostras incrível lucidez para tão pouca idade:Vai em frente que atras vem gente.

  2. Savio

    É isso aí!!! A garotada está pensando, este é o primeiro passo para adquirir cidadania consciente. A maioria dos políticos acha que “a juventude não pensa”, mas estão redondamente enganados! Ela está vendo a dificuldade cotidiana da sobrevivência ao lado dos pais, estes jovens não vão querer ter o mesmo “destino”, vão lutar para que as coisas sejam diferentes!

    Adiante, moçada! Avante!…

  3. Marcia Couto

    Vamos lá jovens, é de voces o futuro .Mostrem que são mais lúcidos e maduros que as gerações anteriores!
    Reflitam seu voto sempre!

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