Candidato à Alerj por um PT que aprenda com as ruas

Embora “acusado” por alguns pragmáticos como inocente politicamente, por não estar disposto a adotar políticas clientelistas para se eleger, pelo menos naquilo que o PT de Campos projeta para tentar fazer pela primeira vez um deputado estadual, em 2014, o professor Alexandre Lourenço parece ser o mais realista dos três pré-candidatos locais: nem ele, nem a ex-vereadora Odisséia Carvalho, nem o vereador Marcão, devem desistir de lançar seus nomes à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Acerca da entrada de Marcão na disputa, diferente de Odisséia, Alexandre disse já estar ciente antes do seu anúncio na imprensa, assim como não se furtou em analisar o desempenho do vereador petista, que julgou estar atuando dentro do esperado para um parlamentar de oposição. Acompanhante assíduo do movimento “Cabruncos Livres”, o professor acredita que não apenas ele, como Campos e o próprio PT, têm muito a aprender com as manifestações de rua que ganharam o Brasil, composto em sua maioria por jovens estudantes.

Foto de Mariana Ricci - Folha da Manhã
Foto de Mariana Ricci - Folha da Manhã

Folha da Manhã – A ex-vereadora Odisséia Carvalho disse que, numa conversa pessoal, vocês dois partilharam a intenção comum de concorrer à Alerj. O papo não serviu para que um abrisse mão para apoiar o outro?

Alexandre Lourenço – Conversamos um pouco, ela falou que estava pensando em ser candidata e eu falei da reunião que tive com o deputado federal Alessandro Molon, que é o líder do grupo político do qual faço parte, e que estava muito animado para disputar a vaga. E a ex-vereadora me incentivou.

Folha – Odisséia também disse que soube pela imprensa do projeto do vereador Marcão de também concorrer à Alerj. E você, como soube e como recebeu essa terceira pré-candidatura a deputado estadual do PT de Campos?

Alexandre – O vereador Marcão me disse que estava pensando e que havia grande chance de ser pré-candidato. Não fiquei surpreso.

Folha – Falando objetivamente, vê a possibilidade de desistir da sua pré-candidatura para apoiar Odisséia ou Marcão, ou que um deles venha a desistir para apoiá-lo?

Alexandre – Não penso em desistir, estou muito animado, sou pré-candidato de oposição ao governo Sérgio Cabral (PMDB, aliado do governo federal do PT), com o apoio do Alessandro Molon, que é considerado um dos mais competentes e respeitados políticos na atualidade. Recentemente, ele foi escolhido pelos jornalistas que cobrem o Congresso como o melhor deputado do PT e um dos cinco melhores do Brasil, além de ser o petista mais votado no Estado do Rio. Acho improvável que Marcão e Odisséia desistam.

Folha – Levando-se em consideração os votos que cada um dos três teve na última eleição a vereador, Marcão sai na vantagem e você na ponta oposta? Considera-se o “azarão” nessa disputa?

Alexandre – Não. No ano passado, disputei minha primeira eleição, uma candidatura de oposição, defendendo a valorização da educação pública e a ética na política. Fiz uma campanha baseada em ideais, inspirada nas mais românticas candidaturas de esquerda, com poucos recursos e, mesmo assim, foi bonita e vitoriosa, já que fiquei em quarto lugar na coligação, tendo sido diplomado como terceiro suplente, na frente de mais de 500 candidatos, dentre ex-prefeito, ex-deputado e secretários municipais. Tenho 27 anos e nunca usufruí de cargo, nem apadrinhamento político, e, mesmo assim, meu nome aparece nas pesquisas. O fato de atuar como professor concursado da Faetec, em Volta Redonda, e na prefeitura de São João da Barra, além de ter trabalhado na Prefeitura de Rio das Ostras, na Seeduc e no Cederj, em Bom Jesus, só favorece a minha pré-candidatura. Posso considerar que tenho potencial de crescimento.

Folha – Quem o conhece pessoal e/ou politicamente, sabe da sua intransigência na defesa da ética. Este discurso, no PT pós-Mensalão, não soa deslocado? Por quê?

Alexandre – Sou muito otimista e penso que, depois das grandes manifestações ocorridas no país, o Partido dos Trabalhadores pode voltar às suas origens, se aproximar dos movimentos sociais, ouvir as vozes das ruas, se distanciar do fisiologismo, das negociatas, dos acordos espúrios e dos partidos de aluguel. Ética na vida pública é fundamental e tem tudo a ver com o momento de transição que estamos passando. Defendo o fim da aliança com o PMDB, sempre fui contra, sou oposição ao governo do Sérgio Cabral.

Folha – Você tem acompanhado de perto a atuação dos “Cabruncos Livres”. Marcão já propôs a principal pauta deles, o Orçamento Participativo, na Câmara. Qual sua opinião sobre o movimento e a atuação do vereador petista?

Alexandre – Tenho carinho e respeito enormes pelo movimento “Cabruncos Livres”. Foi uma das coisas mais bonitas que aconteceu em Campos ultimamente. Participei das reuniões e dos atos, tudo bem democrático. Foi muito emocionante ver milhares de jovens nas ruas da minha cidade. E, principalmente, foi um movimento espontâneo, feito por jovens insatisfeitos com o governo municipal, que estão cansados de populismo barato e querem mais transparência e ética. Considero as pautas do movimento fundamentais para o desenvolvimento e melhoria da educação pública, que é a pior do Estado. Com o orçamento bilionário que temos, não podemos aceitar esta vergonha! O vereador tem desempenhado o papel que esperamos de um oposicionista.

Folha – Se o PT de Campos insistir mesmo nas três candidaturas à Alerj, não estará correndo o risco de repetir a sina de nunca ter eleito um deputado estadual?

Alexandre – Acho que a minha pré-candidatura é necessária. Quero ser a opção progressista dos insatisfeitos, dos estudantes, dos professores, para combater o bom combate e praticar a boa política, pois já temos muitos jovens com pensamentos e atitudes reacionárias exercendo a “velha política”. O partido pode fazer um representante, sim, mesmo com mais de uma candidatura. Nada deve parecer impossível de mudar!

Publicado hoje na edição impressa da Folha.

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Este post tem um comentário

  1. brancomello

    Nem Homero salva a professora. Bala perdida nas manifestações sabia sim, sorrir pras câmeras de tv.

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