Gustavo Matheus, na presidência do PV, de pedra a vidraça

Gustavo discursa entre Marcão, Rafael e Rogério à esquerda, e Rogério Rocco  e Robson Almeida, à direita (foto de Valmir Oilveira/Folha da Manhã)
Gustavo discursa entre Marcão, Rafael e Rogério à esquerda, e Roberto Rocco e Robson Almeida, à direita (foto de Valmir Oliveira/Folha da Manhã)

 

Gustavo Matheus assumiu hoje a presidência do PV em Campos. Blogueiro entre os mais acessados na Folha Online, o que significa dizer de Campos, e com curta, mas boa passagem também na redação do jornal, como repórter de política, ele ganhou notoriedade como crítico veemente do grupo político capitaneado pelo tio, deputado federal e pré-candidato e governador pelo PR, Anthony Garotinho Matheus. Para apimentar ainda mais essa polarização político/familiar, que já havia custado a reeleição do então vereador Nelson Nahim, no pleito municipal de 2012, Gustavo assumiu recentemente, em 1º de fevereiro deste 2014, um programa na rádio Difusora, emissora teoricamente alinhada ao grupo garotista-rosáceo, mas nas mesmas manhãs de sábado em que o deputado costuma fazer suas aparições radiofônicas em Campos, na rádio Diário, que nove em cada 10 munícipes afirmam pertencer de fato ao próprio Garotinho.

Conheci Garotinho pessoalmente em sua primeira eleição a prefeito de Campos, em 1988, num contato de relativa proximidade até a campanha que levou à sua segunda vitória na majoritária do município, em 1996. Ele como político, eu, como jornalista, continuei acompanhando sua trajetória, como é obrigado a fazê-lo qualquer um que milite com mídia em Campos, inclusive tendo feito com ele duas entrevistas exclusivas neste mesmo período, sem nenhum outro contato além do profissional. Já Gustavo, conheci pessoalmente em 2012, logo após ele romper ruidosamente com o tio, numa carta aberta nas redes sociais, publicada após ele ser desligado de um empresa terceirizada que prestava serviços à Prefeitura. Noticiei a distensão aqui, no blog, bem como a associação da manifestação pública com a perda do emprego no governo da tia Rosinha. Ele não gostou, reagiu e chegamos a iniciar um debate acalorado nas redes sociais e nos comentários do blog, culminado num encontro pessoal que selou a paz com a fluidez de um chope, dando início dali à convivência profissional e à amizade pessoal que duram até hoje.

Ressalvado já ter vivido o suficiente para saber que ninguém conhece, de fato, ninguém, assino embaixo do que sentenciou o filósofo espanhol Ortega y Gasset (1883/1955): “O homem é ele e suas circunstâncias”. Isto posto, daquilo que me foi dado a conhecer do tio e do sobrinho, desde hoje atuando diretamente em campos opostos da política de Campos, vejo algumas características semelhantes entre um e outro, guardada a imensa desproporção no tamanho e na importância que (ainda) os separam: o talento, a vontade, a facilidade para aprender, o voluntarismo, a pressa em chegar, os atrasos que isso pode acarretar ao resto, e a coragem — que em Gustavo, diferente do tio, não se restringe apenas ao palco político. De fato, comparando o início de Garotinho nos anos 80 do século passado, com o começo de Gustavo nesta década de 10 do novo milênio, talvez não errasse quem dissesse que o segundo, a grosso modo, é uma versão modernizada do primeiro, com a net no lugar da rádio, muito embora o deputado tenha se tornado um exímio comunicador também em seu blog — que o diga o governador Sérgio Cabral (PMDB).

Após ter comparecido e assistido à posse do novo presidente municipal do PV, na tarde de hoje, emblematicamente na sede da Associação de Imprensa Campista (AIC), como amarrou com competência o jornalista e coordenador regional da legenda Joca Muylaert, o que mais me chamou a atenção, na conversa particular de antes e no discurso de Gustavo durante, foi a assunção de que aquele não era um movimento simplesmente partidário, mas uma tentativa de união da oposição, “sem egos ou vaidades”, em busca de uma alternativa viável de poder. Para corroborar as palavras, lá estavam e também manifestaram as suas os vereadores Rafael Diniz (PPS) e Marcão (PT), o ex-edil Rogério Matoso (PPS) e o ex-candidato a prefeito José Geraldo (PRP). Para quem viveu os anos 80 na planície goitacá, com alguma consciência de tribo, e assistiu anos depois ao evento de hoje, inevitável a associação com aquilo que no passado gerou o “Muda Campos”, movimento pluripartidário de oposição à elite política que dominava o município por décadas, responsável pela chegada de Garotinho ao poder pela primeira vez na cidade.

Ao admitir que quem hoje está no poder, chegou lá e se mantém com competência, Gustavo também lembrou à oposição que “não basta fazer bem, temos que fazer melhor”. Para tanto, independente de quem encabece qualquer projeto de alternância de poder, sempre salutar num regime democrático, embora hoje improvável numa projeção racional para 2016, tão importante quanto reproduzir as inegáveis virtudes de Garotinho e seu grupo político no jogo jogado, talvez seja não perder de vista a demanda coletiva por diferenças. Ao Gustavo, que passou hoje de pedra a vidraça, e “agora também está com a bunda na janela”, como bem salientou Marcão numa conversa de bastidor, boa sorte!

 

Atualização às 23h31 para dar a relevância maior de post a uma ressalva que o Gustavo fez aqui, em comentário: Só rompe quem já esteve junto, e isso nunca ocorreu, pelo menos não politicamente, já que faço oposição ao Garotinho antes mesmo do racha entre ele e Nelson Nahim, seu irmão. Trabalhei, sim, na CNS, mas não por intermédio de ninguém do atual grupo, pelo contrário. Quando fui admitido na empresa, a senhora Rosinha Garotinho sequer era prefeita. É bem verdade que permaneci na empresa quase dois anos enquanto a mesma governava, mas logo depois fui demitido pelo grupo rosáceo por criticá-los nas redes sociais. Pois todos sabem que a perseguição ocorre com todos que não semeiam o ponto de vista garotista. A CNS, por estar sob a batuta do deputado Garotinho, sequer me deu motivos para a demissão. Por isso, se o “romper” do texto tiver uma conotação política, é um equívoco. Mas, se o termo foi utilizado pela situação familiar em si, desde já me desculpo, pois nesta há alguma veracidade, sim.