Estudos apontam risco de desbastecimento ao RJ com transposição do Paraíba

Deputada Inês Pandeló, na audiência de hoje na Alerj, disse que estudos técnicos demonstram risco de desabastecimento de água ao Estado do Rio, com transposição do Paraíba proposta por São Paulo (foto de Rafael Wallace - Alerj)
Deputada Inês Pandeló, na audiência de hoje na Alerj, disse que estudos técnicos demontsram risco de desabastecimento de água ao Estado do Rio, com transposição do Paraíba proposta por São Paulo (foto de Rafael Wallace – Alerj)

 

A presidente da Frente Parlamentar de Defesa da Bacia do Rio Paraíba do Sul da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), deputada Inês Pandeló, acredita que o estado do Rio poderá sofrer consequências graves de desabastecimento e problemas tanto com a qualidade quanto com a quantidade da água caso o governo de São Paulo concretize a segunda transposição no Rio Paraíba do Sul. A parlamentar reafirmou sua preocupação após ouvir a apresentação dos estudos realizados pelo Governo de São Paulo e pelo Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap) em audiência pública do colegiado, hoje, (31/03) na Alerj, para discutir uma segunda transposição no rio Paraíba do Sul, na altura de Jacareí, para abastecer a macrorregião paulista.

— Com a apresentações do estudo ficou claro os riscos para o Estado do Rio. São Paulo tem mais nove alternativas para solucionar o problema dos reservatórios, e dessas, cinco não colocam a transposição do Paraíba do Sul como possível solução. Considero essa medida autoritária do governo paulista que não abre espaço para discussões mais amplas. O estudo de São Paulo não prevê os impactos ambientais no rio Paraíba – alerta a parlamentar. A petista informou que irá enviar ofício solicitando audiência com a ANA (Agência Nacional de Águas) e que fará abaixo assinado online contra a transposição.

O Diretor Executivo Agência da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Agevap), André Luiz Marques, apresentou o estudo encomendado pelo governo de São Paulo da Transposição do Rio Paraíba do Sul, destacando os possíveis impactos, cenário atual e futuro. De acordo com Marques, o estudo paulista não considera o cenário de gestão e controle e as necessidades industrial, urbana e de irrigação. O engenheiro Celso , que apresentou o estudo contratado pelo Ceivap (Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul), disse que São Paulo trabalha com a vazão média, o que é um erro. “Obrigatoriamente tem que trabalhar com a vazão mínima”, explicou Celso. Estudo do órgão apontou que já há um déficit hídrico de oito metros cúbicos por segundo em alguns trechos do rio, e que uma segunda transposição agravaria o problema.

A presidente do Instituto Estadual de Ambiente do Rio (Inea), Isaura Fraga, ressaltou que uma possível nova transposição afetaria todo o estado do Rio, e também classificou a medida como autoritária. “Existe uma regra operativa em vigor, e ela e ela tem que ser cumprida”, afirmou. Laudo elaborado por técnicos do INEA indica a alta dependência da população fluminense da bacia do rio Paraíba do Sul e o estado crítico de abastecimento de água ao longo prazo da bacia do rio Guandu. O levantamento alerta que alterações nas regras em vigor – ou seja, se o projeto do governo de São Paulo de captar água da bacia do Paraíba do Sul for realizado –, podem afetar 12,3 milhões de pessoas, 75% da população total do Estado, além de indústrias e atividades agrícolas de grande porte.

Inês Pandeló informou que a Frente irá realizar uma série de audiências públicas nas regiões cortadas pelo leito do rio para discutir os planos do Governo de São Paulo de efetuar uma segunda transposição no curso das águas. O circuito de encontros começará no dia 10 de abril, às 18h, na Universidade Federal Fluminense (UFF) de Volta Redonda. Em seguida, a Frente Parlamentar vai a Campos dos Goytacazes e, em maio, chega à cidade de Sapucaia. “A parte técnica é muito importante, mas a mobilização política também é necessária.

Também participaram da audiência membros de Comitês de apoio a bacia do Rio Paraíba do Sul, vereadores de municípios dos estado de São Paulo e Rio de Janeiro contrários a transposição, além de deputados da Alerj e ambientalistas.

 

Da assessoria da Alerj.

Alerj vai trazer a Campos discussão da transposição do rio Paraíba

Audiência pública hoje na Alerj para discutir a proposta paulista de transposição do rio Paraíba do Sul (foto de Rafael Wallace - Alerj)
Audiência pública hoje na Alerj para discutir a proposta paulista de transposição do rio Paraíba do Sul (foto de Rafael Wallace – Alerj)

 

A Frente Parlamentar da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) em Defesa da Bacia do Rio Paraíba do Sul irá realizar uma série de audiências públicas nas regiões cortadas pelo leito do rio para discutir os planos do Governo de São Paulo de efetuar uma segunda transposição no curso das águas. A decisão foi anunciada durante reunião do grupo realizada nesta segunda-feira (31/03). De acordo com a presidente do colegiado, deputada Inês Pandeló (PT), o circuito de encontros começará no dia 10 de abril, às 18h, na Universidade Federal Fluminense (UFF) de Volta Redonda.

Em seguida, a Frente Parlamentar vai a Campos dos Goytacazes e, em maio, chega à cidade de Sapucaia. “A parte técnica é muito importante, mas a mobilização política também é necessária. Os estudos nos dão argumentos para que lutemos em defesa do nosso estado e do Rio Paraíba do Sul”, frisou a petista, reiterando que nenhuma decisão pode ser tomada sem consultar os Comitês de Bacia. Durante a reunião desta segunda-feira, foram discutidos dois estudos que apontam para a incapacidade do rio de suportar uma segunda transposição. “Ficou claro que o Rio de Janeiro vai sofrer. Os estudos técnicos mostram que existem alternativas diferentes para São Paulo ter água. A atitude do governador Geraldo Alckmin foi autoritária”, colocou Pandeló, que disse que pedirá ao presidente da Casa, deputado Paulo Melo (PMDB), a inclusão do tema nas discussões do Fórum Permanente de Desenvolvimento Econômico do Estado. A deputada adiantou, também, que enviará ofício à Agência Nacional de Águas (ANA), solicitando uma audiência com o órgão, e que irá organizar um abaixo assinado na internet contra a possível transposição.

O estudo encomendado pelo Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap) apontou que já há um déficit hídrico de oito metros cúbicos por segundo em alguns trechos do rio, e que uma segunda transposição agravaria o problema. “O Ceivap não foi ouvido. O Governo de São Paulo tem que aceitar sentar com a gente, nos ouvir”, pontuou a vice-presidente do órgão, Vera Lucia Teixeira, para anunciar que haverá uma reunião entre diversos comitês e a ANA. Na ocasião, o Ceivap solicitará que o órgão federal garanta que uma possível intervenção no rio não irá interferir no cumprimento das regras atuais. O presidente de honra da Comissão Ambiental Sul e bispo emérito de Volta Redonda, dom João Maria Messi, se posicionou contrário a uma segunda transposição. Presente na audiência, a vereadora de São José dos Campos (SP) Renata Paiva (DEM), também declarou ser contrária ao que pretende o governo paulista.

A presidente do Instituto Estadual de Ambiente do Rio (Inea), Isaura Fraga, ressaltou que uma possível nova transposição afetaria todo o estado do Rio, e também classificou a medida como autoritária. “Existe uma regra operativa em vigor, e ela tem que ser cumprida”, opinou. O deputado Carlos Minc (PT) alertou para que as discussões sobre o tema não ganhem caráter de disputa regional entre os estados, e pediu união para defender o Rio Paraíba do Sul. “Os Comitês de Bacia não foram consultados, isso contraria a lei federal. Além disso, existe um Plano Diretor, financiado pela ANA, que está sendo concluído. Como tomar uma decisão antes do plano?”, questionou o parlamentar, completando que um decreto nacional estabelece a vazão mínima do rio quando entra no estado do Rio, em funil. Segundo Minc, tal vazão já estaria no limite, o que tornaria qualquer retirada de água um descumprimento de um decreto assinado pela Presidência da República.

A deputada Aspásia Camargo (PV) afirmou que ficou muito feliz com a apresentação dos estudos, que deu mais informações sobre a real situação da bacia. “Antes de pensar se temos condições, concluo que não há razão para isso (transposição). São Paulo não fez o seu dever de casa e quer, no desespero, sangrar o Rio Paraíba do Sul”, criticou. A deputada sugeriu que tanto Rio como São Paulo precisam desperdiçar menos água, lembrando que o Rio tem o maior consumo per capita de água do país. Já o deputado Paulo Ramos (Psol) pediu uma interlocução direta com o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, para pressionar pela defesa dos direitos da população fluminense. O relator da Frente Parlamentar, deputado Nelson Gonçalves (PSD), alertou que a transposição pretendida por São Paulo colocaria em risco a qualidade de vida de 15 milhões de pessoas. O parlamentar afirmou que é necessário mobilizar as Câmaras Municipais e prefeitos das cidades envolvidas na questão. “Recebi um documento da Procuradoria do Estado de São Paulo, que, em resposta a um inquérito civil público, afirmou que inexistia qualquer obra para uma segunda transposição do Rio Paraíba do Sul, três anos atrás, e que tampouco se pretendia fazê-la no futuro. O inquérito foi arquivado por conta dessa afirmação da Procuradoria”, contou Gonçalves.

 

Da assessoria da Alerj.

Cardoso Moreira vai ao MP contra fechamento do Itaú no município

Aqui, na democracia irrefreável das redes sociais, o Zé Gordo deu voz à reivindicação do povo de Cardoso Moreira pela manutenção da agência 6176 do Itaú, instalada há 25 anos no município vizinho a Campos, que está programada para fechar as portas no próximo dia 11. Como o prefeito cardosense, Gegê Cantarino (PRB), já se reuniu com diretores do Itaú no Rio de Janeiro, sem conseguir nenhuma garantia de ter o pleito atendido, a presidente da Associação Comercial de Cardoso, Jane Mara Diniz Fernandes Menezes, e José Santos Gomes, representante do Lions Clube daquele município, protocolaram junto ao Ministério Público de Italva a reivindicação pela manutenção da agência em Cardoso. Sem ela, os cerca de 1 mil correntistas do banco, além de mais de 300 aposentados, serão obrigados a se deslocar 15 km à agência do Itaú em Italva.

Por entender que os bancos no Brasil, além do papel de agiotas institucionalizados, têm também uma responsabilidade social a cumprir, o blog dá eco à manifestação coletiva do Zé Gordo, republicando também, na sequência, o relato entregue ao Ministério Público de Italva no último dia 29, com o pleito cardosense protocolado sob o número 201400314022:

 

Zé Gordo
Zé Gordo

CARDOSO MOREIRA PEDE SOCORRO AO MINISTÉRIO PÚBLICO E À IMPRENSA

ATRAVÉS DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E AGROPECUÁRIA DE CARDOSO MOREIRA, REPRESENTADA PELA SUA PRESIDENTE JANE MARA E PELO LIONS CLUBE DE CARDOSO MOREIRA, ATRAVÉS DE JOSE SANTOS, FOI PROTOCOLADO NO MINISTÉRIO PÚBLICO EM ITALVA COM O NUMERO 201400314022, NO DIA 29/03/14, ÀS 14:47:02, UM DOCUMENTO RELATANDO AS DIFICULDADES, PREJUÍZOS DA POPULAÇÃO E COMERCIANTES COM O FECHAMENTO DA AGENCIA 6176 DO BANCO ITAÚ EM NOSSO MUNICÍPIO, PREVISTO PARA O DIA 11/04/2014. ESSA AGÊNCIA EXISTE HÁ CERCA DE 25 ANOS. ALEGAM TRABALHAR NO VERMELHO, MAS NUNCA FORAM CAPAZES, SEQUER, DE COLOCAR UM CAIXA 24 HORAS PARA MELHOR ATENDIMENTO AOS SEUS QUASE 1.000 CORRENTISTAS E MAIS DE 300 APOSENTADOS QUE TERÃO QUE SE DESLOCAR ATÉ CIDADE DE ITALVA, A 15 KM DE CARDOSO, PARA UMA AGENCIA QUE, COM CERTEZA, NÃO TERÁ CONDIÇÕES DE RECEBER ADEQUADAMENTE MAIS ESSA DEMANDA.

FOMOS INFORMADOS PELO PROCURADOR DESTE MUNICÍPIO, DR. NETO, QUE JUNTAMENTE COM O PREFEITO GEGÊ, ESTIVERAM NO RIO DE JANEIRO PARA INTERCEDER JUNTO À DIREÇÃO DO ITAÚ CONTRA ESSE FECHAMENTO, MAS OS DIRETORES DO ITAÚ NADA PROMETERAM.

SENDO ASSIM, PEDIMOS AOS NOSSOS AMIGOS DO FACE QUE COMPARTILHEM DESTE NOSSO PEDIDO DE SOCORRO, FAZENDO ASSIM CHEGAR À IMPRENSA E A QUEM DE DIREITO,O NOSSO PEDIDO, EVITANDO QUE O NOSSO MUNICÍPIO, JÁ TÃO PENALIZADO, NÃO TENHA QUE CONVIVER PASSIVAMENTE COM MAIS ESSA PERDA DE UM SERVIÇO TÃO NECESSÁRIO.

 

Agência do Itaú em Cardoso Moreira, programada para fechar as portas no próximo dia 11
Agência do Itaú em Cardoso Moreira, programada para fechar as portas no próximo dia 11

 

 

Sr. (a) Ouvidor (a) do Ministério Público

Vimos solicitar a ação deste Ministério Público junto ao Banco Itaú – Agência 6176 da cidade de Cardoso Moreira-RJ quanto a decisão de fechar o atendimento da referida agência bancária a partir de 11/04/2014 sob a alegação de não ser mais financeiramente compensadora a sua manutenção nesta cidade.

Destacamos que esta agência encontra-se em funcionamento a cerca de 25 anos e seu fechamento causará grandes prejuízos aos munícipes que terão que se deslocar à cidade vizinha de Italva que fica a 15 km de Cardoso Moreira, cuja agência não comportará adequadamente o atendimento a mais essa demanda.

Estamos cientes de que a agência de nossa cidade conta com quase 1000 correntistas e cerca de 307 aposentados que aqui recebem seus benefícios, sendo em sua maioria idosos, desprovidos de recursos e condições para deslocamentos sistemáticos a outra cidade, considerando a dificuldade e custo do transporte coletivo que serve nosso município, onde não há ônibus circular entre as cidades e a passagem tem um custo de R$ 3,50, aproximadamente. Isso prejudicará ainda mais a situação financeira e acesso ao serviço de parte significativa de nossa população.

Soma-se a isso o prejuízo do comércio local que terá maior dificuldade de pagamento de suas faturas e transações comerciais, uma vez que, diante ao tempo de funcionamento dessa agência, consolidou aqui grande parte de seu movimento bancário.

A notícia do fechamento pegou a todos de surpresa, indignação e sentimento de descaso por nossa população. O comércio local também sofrerá o impacto da menor circulação de correntistas e usuários do banco na nossa cidade, com prejuízos para os comerciantes e, consequentemente, para os que nele trabalham e dele vivem.

Enfatizamos que, embora várias solicitações de instalações de caixa eletrônico 24 horas tenham sido feitas pela comunidade, o que traria maior movimentação a essa agência, esses pedidos nunca foram atendidos.

Assim, mediante aos grandes prejuízos sociais e financeiros que o fechamento desta agência trará aos nossos munícipes, ao comércio, aos funcionários estaduais, enfim, aos que aqui vivem e trabalham, só nos resta solicitar a ação deste Ministério Público junto à direção do Banco Itaú para que nossa população não seja penalizada ainda mais. O telefone da agência 6176 de Cardoso Moreira é (22) 2785-1210.

Cientes de reconhecida e digna ação dessa instituição na defesa dos interesses sociais e coletivos, aguardamos providências cabíveis.

 

Atenciosamente,

 

Jane Mara Diniz Fernandes Menezes

Presidente da Associação Comercial de Cardoso Moreira

 

José Santos Gomes

Representante do Lions Clube de Cardoso Moreira

Alerta do Soffiati: Nos três Estados que corta, Paraíba do Sul só tem bandido

OS GOVERNOS FEDERAL, PAULISTA, FLUMINENSE, MINEIRO, DOS MUNICÍPIOS ÀS MARGENS DA BACIA DO PARAÍBA DO SUL, BEM COMO AS PESSOAS QUE DEPENDEM DELE SÓ QUEREM SUGAR OS RIOS, SEM NENHUMA PREOCUPAÇÃO DE REVITALIZÁ-LOS. NO ARTIGO ABAIXO, PROCURO DESMISTIFICAR SÃO PAULO COMO BANDIDO E O RIO DE JANEIRO COMO MOCINHO. TODOS SÃO BANDIDOS.

 

Rio Paraíba do Sul em São Fidélis com florestas nas margens segundo Maximiliano de Wied-Neuwied, em 1815
Rio Paraíba do Sul em São Fidélis com florestas nas margens segundo Maximiliano de Wied-Neuwied, em 1815

 

Soffiati3Paraíba do Sul: o X da questão

Por Aristides Soffiati

Muito já se falou e se escreveu sobre a intenção do governo de São Paulo de transpor água da Bacia do Paraíba do Sul para o reservatório da Cantareira a fim de suprir as necessidades de abastecimento público da megalópole paulistana. A pretensão data de 2008, mas o governador Geraldo Alckmin escolheu um momento favorável para voltar ao assunto: a Região Sudeste do Brasil enfrenta uma longa estiagem, com temperaturas excessivamente altas e escassez histórica de chuvas. Assim, os níveis dos reservatórios e dos rios reduziram-se de forma extraordinária. Minha neta mais nova me consola quando colho sangue para exame: “não chora não, vovô, é só uma picadinha”. Alckmin considera apenas uma picadinha a tomada d’água na represa do Rio Jaguari, afluente do Paraíba do Sul, para lançá-la na Cantareira.

Logo políticos, cientistas e população se posicionaram. As opiniões foram as mais diversas e desencontradas. Era de se esperar que os políticos e a população de além Paraíba do Sul (e também de aquém, no trecho paulista) apoiassem Alckmin e que os políticos do Rio de Janeiro se manifestassem contrário a ele. Não apenas dos municípios ribeirinhos, mas da região metropolitana do Rio de Janeiro, que, embora não instalada às margens da Bacia do Paraíba do Sul, depende das águas dela, transpostas para o sistema Lajes-Guandu, com fins de abastecimento público. Quanto aos cientistas, esperava-se que eles fossem mais cautelosos em suas opiniões. No entanto, o que se viu foi a ciência sucumbir ao bairrismo. As informações básicas sobre a Bacia do Paraíba do Sul foram manipuladas. Nunca li tanta informação desencontrada sobre vazão e consequências da transposição para o sistema Cantareira.

Os fluminenses dizem que amam e defendem a Bacia do Paraíba do Sul. Que não permitirão a retirada de uma gota sequer de suas águas. Por sua vez, Alckmin contra-ataca dizendo que o Rio de Janeiro quer a bacia para geração de energia elétrica de forma insustentável, já que pode obtê-la de outras fontes. Sem nenhum conhecimento técnico e informação sólida, posiciono-me contra a transposição. Não posso demonstrar que ela causará danos à bacia, mas também não posso garantir o contrário. Por este motivo, defendo o princípio da precaução: na dúvida, não ultrapassar.

Por outro lado, não vejo amor pela bacia por parte dos ribeirinhos e do governo do Rio de Janeiro. Seu desejo inconfessável é ter o monopólio da destruição da bacia. A discussão sobre vazão e danos à bacia esconde exatamente o interesse em monopolizá-la para explorá-la. A intuição expressa por Gilberto Freyre no seu livro “Nordeste”, de 1937, se confirma: os ribeirinhos postavam-se de frente para os rios no século XIX; no século XX, voltaram as nádegas para eles. E tal atitude não se aplica apenas ao Rio Paraíba do Sul, mas a todos os rios do Brasil. Nem mesmo o Amazonas, que considerávamos inatingível por sua magnitude, está a salvo. Acontece o mesmo em todos os continentes. Basta mencionar os casos dos Rios Colorado, nos Estados Unidos, Jordão, Tigre e Eufrates, no Oriente Médio, e Nilo, na África.

Tanto os Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais desejam exclusividade sobre o Paraíba do Sul para construir barragens, poluí-lo diariamente, permitir acidentes de grandes proporções em suas águas e captação. É correto que o governo do Rio de Janeiro repudie a intenção do governo de São Paulo de captar água na Bacia do Paraíba do Sul para atender às necessidades da grande São Paulo. Contudo, o governo fluminense transpõe grande quantidade de água para o Guandu, mais para diluir o esgoto e favorecer o tratamento d’água do que para abastecimento. Depois do último afluente do Paraíba do Sul, o INEA aprovou a captação de até 10 m3 por segundo para o complexo industrial portuário do Açu.

Após o primeiro grande acidente na Bacia do Paraíba do Sul, causado pelo vazamento de cádmio, zinco e chumbo pela empresa Paraibuna Metais, em 1982, o governo federal publicou o Decreto nº 87.561 (13/09/82) dispondo sobre a recuperação da bacia. Foi o mais completo plano de revitalização, mas nada saiu do papel. Em vez de só saquear a bacia, é preciso formular um plano atualizado de revitalização. Depois, discute-se se a bacia tem ou não condições de atender a tantas bocas sedentas. Entendo que a missão de impedir novas intervenções danosas e de cobrar a revitalização da bacia compete ao Ministério Público Federal.

 

Bacia do Paraíba já com as margens desmatadas, em 1860, segundo Victor Frond

 

Publicado hoje na edição impressa da Folha e aqui, na democracia irrefreável das redes sociais.

Empresa que não entregou todas as ambulâncias, recebe do governo Rosinha

Eu penso que

 

Nova Master não entrega todas as ambulâncias alugadas, mas já recebeu a 1ª parcela

Por Ricardo André Vasconcelos, em 29-03-2014 – 19h42

 

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As poucas ambulâncias que chegaram foram emplacadas em Santos (SP).
As poucas ambulâncias que chegaram foram emplacadas em Santos (SP).

 

 

No último dia 24 de março (veja quadro acima), a Prefeitura Campos pagou à Nova Master Aluguel de Veículos Ltda, R$ 496.556,55 referentes à parcela 01 do contrato de locação de ambulâncias (extrato abaixo). A ordem bancária 2014OB04262 quitou a Nota Fiscal 291 emitida pela empresa.

Pelo extrato, o valor total do contrato é de R$ 19.427.144,76 com validade por 12 (doze) meses, ou seja. R$ 1.618.928,73 por mês. De onde conclui-se que a empresa não entregou nem 25% das ambulâncias contratadas.

É só fazer as contas.

 

Artigo do domingo — “Ou dá, ou desce” a meio milhão de campistas

Ou-dá-ou-desce

 

Uma mosca que estivesse presente na famosa “casinha na Lapa que papai deixou”, entre a noite do último domingo (23/03) e a madrugada seguinte de segunda, teria várias histórias para contar. E muitas foram as moscas presentes que zumbiriam, fora e depois dali, tudo que foi discutido na tensa reunião de mais de cinco horas, entre o deputado federal e pré-candidato a governador do PR, Anthony Garotinho, e quase todos os vereadores da base da prefeita Rosinha (PR).

Assim como faz na Câmara, onde se esforça para dar a aparência mínima de razão, até na defesa do indefensável, o líder da bancada governista Paulo Hirano (PR) foi o porta-voz do descontentamento generalizado dos vereadores da situação. Além de todos, sem exceção, julgarem estar sendo pouco valorizados, seja nas benesses do Executivo municipal, seja nas pretensões de muitos deles de se candidatarem a cargos mais altos em outubro, Hirano também se queixou da desorganização do governo Rosinha até para lhe municiar das informações necessárias para defendê-lo.

E o nível de organização no qual a coisa se encontra foi atestado por quem, de fato, toma todas as macro-decisões administrativas na Prefeitura de Campos. Confrontado com a cobrança dos vereadores, Garotinho se queixou de não ter sido procurado por nenhum deles, durante o atraso da votação de 7% de aumento dos servidores municipais, na sessão da Câmara do último dia 19 (relembre aqui). Se fosse, alegou que poderia ter concedido um reajuste maior de 10%. Ao que Hirano respondeu: “Porque muitas vezes eu ligo e você não atende, Garotinho”.

Mais que a engolida em seco de quem falou o que quis e ouviu o que não quis, como o aumento de 10% acabaria sendo finalmente anunciado (aqui) na última sexta (28/03), pelo casal Garotinho, na solenidade do Cepop para comemorar os 179 anos do município, fica a pergunta óbvia: por que cargas d’água (como aquelas que naquele mesmo dia inundariam a cidade) o reajuste de 10% não foi proposto desde o início, para ser aprovado pelo mesmo rolo compressor governista que nove dias antes havia imposto apenas 7%, sob protesto inútil dos quatro vereadores de oposição? Erro de cálculo? Incompetência? De quem?

De qualquer maneira, para se consumar a correção tardia e travestida de bondade com o servidor, que palco melhor do que Cepop, símbolo maior do desperdício do dinheiro público de Campos? Afinal, não é lá que ocorrerá, daqui a uns poucos dias, o carnaval fora de época do município, sem que nenhum cidadão ainda possa saber (confira aqui) quanto custou ao seu próprio bolso a folia do ano passado?

Os vereadores que negaram esses e quase todos os outros pedidos de informação da oposição, são os mesmos que na tensa reunião com Garotinho, apesar de queixosos, tiveram que entubar diante aos ditames do líder sobre quem será e não será candidato em outubro. Entre os edis, Hirano e Gil Vianna (PR) ganharam vaga para disputar a deputado estadual. Por sua vez, Jorge Magal (PR), pressionando para ver cumprido um acordo com Garotinho (aqui) que lhe garantiria presidir a Câmara Municipal no biênio 2015/16, ou se candidatar à Alerj em 2014, teve que se contentar em ser jogado aos leões numa disputa de pouquíssimas chances à Câmara Federal.

E para quem como Magal, ou Albertinho (Pros) — limado da disputa a deputado estadual, a não ser que seu partido apoie Garotinho a governador (aqui) —, ou qualquer outro dos 17 vereadores governistas que não tiver gostado, três dias após a reunião, a resposta do político da Lapa foi impressa, preta no branco, numa entrevista não assinada e publicada em O Diário, jornal que existe para ecoá-lo: “ninguém é obrigado a permanecer em um grupo político. Uma porta serve tanto para entrar, como para sair, e se não existe maçaneta enguiçada, ninguém terá dificuldade para acioná-la”.

E para garantir que o “ou dá, ou desce” de Garotinho aos parlamentares, temperando seu discurso de campanha para governador, fosse conhecido muito além da circulação do jornal, o primeiro caderno da edição, contendo a entrevista, foi no mesmo dia distribuído gratuitamente pelas ruas e atirado nos quintais das casas em vários pontos do município, em ato ilegal de campanha extemporânea à luz do dia (flagrado aqui), sob a completa passividade do Ministério Público e da Justiça Eleitoral de Campos.

Entre a covardia do um que submete e a dos 17 que se deixam submeter, resta saber até quando estarão submissos quase meio milhão de campistas.

 

Publicado na edição impressa de hoje da Folha.