Nestes pouco mais de sete meses que nos separam de outubro, com Copa do Mundo e tensa expectativa por novas manifestações pelas ruas do país no meio do caminho, impressiona mesmo para quem não acompanha política, como as eleições desde já têm bifurcado os quadros dos principais municípios da região.
Esperado para quem conhecia um pouco Carla Machado (PT), Neco (PMDB) e a natureza humana, o racha entre a ex-prefeita e o prefeito de São João da Barra, mais exposto nesta edição com a entrevista do vereador e presidente da Câmara de SJB, Aluizio Siqueira (PMDB), não chega a ser uma surpresa. O temperamento assertivo da ex-prefeita sanjoanense, pelo qual muitos a comparam com seu desafeto Anthony Garotinho (PR), tenderia mesmo a ficar menos suportável para quem sempre foi encarado como coadjuvante e vive o deslumbramento ressentido de ter sido ungido protagonista, como tudo indica ser o caso do atual prefeito.
Com a cama forrada para o rompimento, as coisas ficaram mais fáceis para Neco quando Carla, em atitude ousada, mas talvez açodada, saiu do PMDB do governador Sérgio Cabral e seu pré-candidato Luiz Fernando Pezão, ingressando nas fileiras petistas de Lindbergh Farias e dando a atenuante da fidelidade partidária para quem já estava à caça de motivos para não caminhar mais junto dela. Se o racha, que todos sabem existir, ainda não se formalizou, talvez seja apenas porque Carla ainda contabiliza os danos que isso poderia causar à sua tentativa de se eleger deputada estadual, enquanto Neco tem pesadelos com o que a ex-madrinha poderia ser numa oposição de peito aberto.
Em outro importante município litorâneo da região, a disputa pelo governo fluminense também foi o estopim para um processo de ruptura, menos esperado e, por isto mesmo, de proporções ainda desconhecidas. No último dia 21 o prefeito de Macaé, Dr. Aluizio (PV), foi convidado por Cabral e aceitou ser um dos coordenadores no interior do Estado, inclusive em Campos, da campanha de Pezão a governador, como o jornalista Ilimar Franco revelou em O Globo. Pois não se passou nem uma semana para que seu vice-prefeito, Danilo Funke (PT), no dia 27, trouxesse a público sua discordância, numa contundente “nota de esclarecimento” (aqui) publicada em seu blog. Nela, condenou o alinhamento do governo de Macaé com o PMDB fluminense, além de endossar seu próprio compromisso e do seu partido com a pré-candidatura de Lindbergh.
Bem verdade que atrás do jogo para a galera da nota de Funke, no qual buscou creditar a distensão política com Aluizio à falta de investimentos estaduais em Macaé, está outra disputa interna, não no governo municipal, mas dentro do PT local, no qual o vice-prefeito teme perder espaço para o vereador Igor Sardinha. Contemporizador, Aluizio preferiu não responder seu vice. Mas a crise aberta em Macaé pode acabar tendo reflexos diretos em Campos, já que Aluizio prometeu (aqui) apoio ao colega médico Makhoul Moussallem, na disputa deste como pré-candidato a deputado federal pelo PT.
Caso Makhoul saia vencedor das urnas em 2014, ascenderia como candidato natural para unir a oposição em 2016 na disputa pela Prefeitura de Campos contra o candidato dos Garotinho, na qual nenhum deles poderá participar. Estaria assim encerrado um dos rachas mais tradicionais e previsíveis da política regional: o da oposição goitacá. Muito embora o vereador Nildo Cardoso (PMDB), caso confirme sua pré-candidatura à Câmara Federal e se eleja, em vez de apoiar a tentativa de reeleição do deputado Leonardo Picciani (PMDB), passaria também a entrar no jogo sucessório da prefeita Rosinha Garotinho (PR), pela mesma lógica aplicada ao caso de Makhoul.
Por enquanto, o racha mais exposto em Campos está dentro do próprio bloco governista. Mesmo que nele todos ainda orbitem em torno da gravidade dominante de Garotinho, as distensões começam a aparecer, lideradas por seus dois filhos: a deputada estadual e pré-candidata a federal Clarissa (PR) e o presidente da legenda em Campos, Wladimir.
Preterido da disputa à Assembleia Legislativa por vontade do próprio pai, que sempre teve na política a prioridade sobre sua própria família — Nelson Nahim (PSD) que o diga —, Wladimir é profundamente ressentido com os ataques abaixo da linha da cintura que sofreu e joga na conta de Geraldo Pudim (PR). Para atrapalhar a candidatura deste a deputado estadual, que precisa desesperadamente vencer para tentar mais uma vez ser candidato a prefeito de Campos, o filho de Garotinho tem dado (aqui) apoio integral à pré-candidatura de outro jovem à Alerj, Bruno Dauaire (PR), filho do ex-prefeito sanjoanense Betinho Dauaire (PR).
Além de endossar o apoio do irmão a Bruno, Clarissa procurou a Folha na última segunda-feira para, ao melhor estilo assertivo do pai (aquele que também lembra Carla), determinar (aqui) quem no PR da região tem candidatura certa a deputado estadual: além de Pudim e Bruno, o pastor Éber Silva e a vereadora quissamaense Kitiely. Da disputa à Alerj, esnobando os vereadores que se expõem, por vezes, ao ridículo dialético e público na defesa cega do governo Rosinha, a filha desta se limitou a dizer que Paulo Hirano (cuja atuação pode ser conferida em matéria nesta edição), Magal e Gil Vianna “correm por fora”.
Voltando a São João da Barra, mas sem se afastar de Bruno, desnecessário dizer que, caso se eleja deputado estadual e se confirme a polarização entre Carla e Neco, o filho de Betinho e neto de Alberto Dauaire passaria a ser uma via alternativa na eleição para prefeito de 2016. De igual maneira, em Campos, caso Garotinho não realize o sonho de voltar ao Palácio Guanabara, um efeito colateral poderia começar a ser observado no repentino estreitamento da goela de alguns vereadores hoje governistas. Com o e$tímulo certo, os quatro vereadores de oposição, mais os dois do PRB do também pré-candidato a governador Marcelo Crivella, poderiam passar a ser seguidos nas votações sobre o governo Rosinha pelas novas posições de velhos colegas.
Por enquanto, em três dos municípios mais importantes da região, essas são as principais cisões apresentadas pelo passar dos dias rumo ao pleito de outubro. Como bem observou (aqui) nas redes sociais o historiador Aristides Soffiati: “Outras mais virão”.