Em política, sobretudo quando os interesses coletivos ficam subordinados a um projeto pessoal de poder, raramente uma coisa significa apenas esta única coisa. Não por outro motivo, é até desnecessário maior esforço à leitura para perceber que a novidade de lançar o vereador Jorge Magal (PR) aos lobos numa candidatura a deputado federal em outubro, na realidade sinaliza que Edson Batista (PTB) deve mesmo continuar a ocupar a presidência da Câmara de Campos no segundo biênio do governo Rosinha (PR). E, por sua vez, este movimento revela que o deputado federal Anthony Garotinho (PR) tem menos certezas do que busca aparentar nas suas reais chances de vitória na corrida ao Palácio Guanabara.
Senão, vejamos: na última segunda (24/03), a jornalista da Folha Suzy Monteiro, revelou aqui não só a tensa reunião da noite e madrugada anteriores, entre Garotinho e os vereadores rosáceos, como a definição por parte do primeiro de quem no seu grupo seria candidato em outubro, e a quais cargos. À parte a insatisfação generalizada da base governista, uma das maiores surpresas foi a pré-candidatura de Magal à Câmara Federal. Aqui, no dia 21, o próprio Magal havia relevado a este “Opiniões” ter um acordo com Garotinho, que garantiria ao vereador, neste ano de 2014, ou a candidatura a deputado estadual, ou a presidência da Câmara Municipal no segundo biênio. Esta última, também segundo Magal, teria sido garantida para ele desde outra reunião entre Garotinho e os vereadores da base, ainda em dezembro de 2012, na qual Edson foi definido como presidente do Legislativo goitacá no primeiro biênio.
Em outras palavras, se Magal não fosse candidato a nada em outubro, pelo acordo com Garotinho, teria que suceder Edson na presidência. Ocorre que como o vereador Marcão (PT) alertou aqui, desde 18 de janeiro, por temer a derrota para governador e a consequente debandada na bancada já insatisfeita de Rosinha, Garotinho erraria se permitisse que seu vereador mais fiel, e ninguém tem dúvidas de que seja Edson, saísse da presidência no biênio 2015/16. Sem a conquista do Palácio Guanabara pelo PR em 2014, a política de Campos nos dois anos seguintes tendem a se transformar num verdadeiro inferno. E, sem o controle da mesa diretora, ninguém se arriscaria mais a arder nas chamas do que as hostes garotistas-rosáceas enfraquecidas por qualquer insucesso estadual.
Na dúvida de vencer em outubro, reforçada por sua enorme rejeição confirmada a cada nova pesquisa (confira aqui), Garotinho tem em Edson a única certeza de que dispõe para tentar manter algum controle sobre a Câmara Municipal nos últimos dois anos de governo Rosinha, decisivos na eleição do novo prefeito. Magal, que recentemente colocou aqui a deputada estadual Clarissa Garotinho (PR) em contradição, depois de já ter usado tribuna da Câmara para criticar aqui as condições do Hospital São José e até para publicamente indagar aqui, “Quem comanda o jornal O Diário?”, terá que se contentar com os muitos cargos que já têm na Prefeitura e uma candidatura a deputado federal, suficiente para manter a palavra do seu líder, mas na qual o liderado sabe ter pouca ou nenhuma chance.
Mesmo abertamente contrariado nos bastidores, Magal publicamente entubou, como revelou aqui a Suzy Monteiro, e vai para o sacrifício em outubro, na esperança, quem sabe, de ser beneficiado pela capacidade de puxadora de votos de Clarissa à Câmara Federal, como Paulo Feijó (PR), hoje deputado federal candidato à reeleição, foi em 2010 por Garotinho. Mas se este (ou Rosinha?) não puder ser candidato a governador, ou se for e não vencer, a história será outra.