Amanhã, quarta-feira, dia 28, a partir das 19h30, na sala 507 do edifício Medical Center, no cruzamento da rua Conselheiro Otaviano com av. 13 de Maio, o Cineclube Goitacá exibe gratuitamente o mítico documentário “É tudo verdade”, com cenas reais do carnaval do Rio de Janeiro e dos pescadores do Ceará capturadas em 1942, pelas lentes do não menos lendário Orson Welles, apenas um ano depois do diretor estadunidense ter revolucionado o cinema do mundo com “Cidadão Kane”, que chegou até nossos dias com a aura de melhor filme feito em todos os tempos. Por desagradar seu estúdio em Hollywood e o governo do ditador brasileiro Getúlio Vargas, ao subir os morros cariocas para buscar as origens do carnaval no samba, na umbanda e no candomblé, em meio à miséria das favelas, além de retratar a luta épica dos jangadeiros cearenses por seus direitos trabalhistas, Welles acabou demitido e seu documentário, nunca concluído.
Após alguns anos, “É tudo verdade” chegou a ser considerado um filme desaparecido, até que parte das cenas fosse achada num depósito, em 1985, e finalmente editadas em 1993, oito anos após a morte do seu diretor, um dos maiores e mais rebeldes gênios da história do cinema. Da trilogia latino-americana resumida no documentário, fruto da política de Boa Vizinhança dos EUA durante a II Guerra Mundial, entre a história mexicana “My Friend Bonito” e “The Story of Samba”, sobre o carnaval carioca, aquela que o destino escolheu para sobreviver praticamente intocada foi “Four Men on a Raft”. Nela, o cineasta recriou a odisseia dos quatro pescadores cearenses que partiram da sua vila nos arredores de Fortaleza, percorrendo mais de 2,5 mil quilômetros de mar, durante 61 dias, até chegarem ao Rio de Janeiro, então capital da República, para reivindicarem direitos trabalhistas ao governo brasileiro. Mesmo quase sem recursos financeiros, o poder das imagens capturadas por Welles, em meio às famílias simples dos pescadores do Ceará, impressiona até hoje pela qualidade da fotografia e pela sensibilidade do olhar estrangeiro sobre a face talvez mais genuinamente brasileira já levada ao cinema.
Neste Brasil, ainda hoje, de tantas odisseias, raras vezes as histórias e faces do nosso povo tiveram essa sorte de encontrar um Homero à altura. Os quatro homens naquela frágil jangada de madeira a enfrentar o oceano Atlântico na busca dos seus direitos, sou eu, é você; somos 200 milhões.