Subsídio para um bate-papo com as crianças
Por Chico de Aguiar
O que escrevo foi pensando na decepção das crianças que acompanharam a Copa do Mundo pela primeira vez. Pensei nelas e naquele “joga pra mim, Brasil”, mostrado em alguns canais da TV. A nossa seleção é a maior vencedora de Copas do Mundo, com cinco conquistas, mas também nos deu frustrações como o Maracanazo de 1950; o vexame de 1966; as decepções de 1982 e 1998. Em 1978, na Argentina, o Brasil declarou-se campeão moral porque terminou invicto — com quatro vitórias e três empates. Houve até a acusação de que a anfitriã fez jogo de compadre e arrumou um resultado que a favorecesse contra o Peru.
Sempre torci para a Seleção do Brasil. Sou brasileiro e amante do nosso futebol, porque desde cedo aprendi que somos os melhores. Na ocasião da morte do grande zagueiro Hideraldo Luís Bellini – em 20 de março deste ano —, capitão da seleção campeã do mundo em 1958, na Suécia, falei de minha paixão iniciada naquela conquista. Tínhamos alguns craques fora de série, inigualáveis, como Garrincha, Didi, Nilton Santos e o estreante Pelé, além de coadjuvantes de altíssima qualidade como Vavá, Zito, Djalma Santos, Bellini, Orlando, o goleiro Gilmar e Zagallo. Sem falar nos reservas que fariam sucesso em quaisquer escalações.
O grupo campeão na Suécia foi também, com pouquíssimas alterações, bicampeão, em 1962, no Chile. Uma das mudanças no time foi a entrada do campista Amarildo no lugar de Pelé, que, contundido no segundo jogo, ficou fora do Mundial. Amarildo entrou com vontade de vencer, sabendo que teria ao lado dele gigantes como Garrincha, o melhor daquela competição; Didi, o melhor da Copa anterior; e Nilton Santos que, por motivos óbvios, já era conhecido por Enciclopédia do Futebol. Embora zagueiro — jogava de lateral esquerdo —, Nilton Santos conhecia todos os atalhos do campo para facilitar a performance tanto na defesa quanto no ataque.
Nosso terceiro título mundial foi conquistado em 1970, no México. Pelé, que já era o Rei do Futebol, ganhou as excelentes companhias de Gerson, Tostão e Rivelino que, como se diz entre os experts, sabiam tudo de bola. De quebra, o Brasil tricampeão tinha ainda o capitão Carlos Alberto Torres, Jairzinho, o goleiro Félix, Brito, Piazza, Everaldo e Clodoaldo. O elenco era tão sofisticado em qualidade técnica que o técnico Zagallo se deu ao luxo de ter no banco um supercraque como Paulo Cesar Caju. Jairzinho fez gol em todos os jogos e foi eleito o craque da competição. O Brasil sobrou na turma e venceu os seis jogos disputados.
Depois de 24 anos sem título de Copa do Mundo, o Brasil voltou a vencer em 1994, nos Estados Unidos. O tetracampeonato foi a conquista da geração de Romário — o craque da Copa — e Bebeto, chamada de Era Dunga pela adoção de uma postura defensiva e de poucos gols. Surgiu após o fracasso do estilo vistoso e de técnica apurada dos times que encantaram o mundo, mas perderam duas copas em 1982 e 1986. Dunga era o capitão e símbolo daquela filosofia de jogar. O jogo final, contra a Itália, terminou empatado em 0x0 e foi decidido nos pênaltis. O goleiro Tafarel foi um dos heróis do título.
Por fim conquistamos, em 2002, no Japão e na Coréia do Sul, o pentacampeonato. Tivemos novamente uma geração brilhante com um trio de craques da melhor estirpe, de uma linhagem que honrou a história do futebol do Brasil: Rivaldo, Ronaldo Fenômeno — artilheiro com oito gols — e Ronaldinho Gaúcho. Que trio! Dirigidos por Luiz Felipe Scolari, nossos atletas venceram todos os sete jogos disputados, fazendo a final contra a Alemanha: 2×0. Afora os três atacantes, o time titular jogou com Marcos, Cafu, Lúcio, Roque Júnior, Edmilson, Roberto Carlos, Gilberto Silva e Kléberson.
Isso posto, penso que é natural a derrota de nossa seleção nesse jogo da fase semifinal da copa que promovemos. É resultado de um processo cíclico que permite aos países participantes a possibilidade de mostrar os ingredientes novos como esquemas táticos ou outra geração de craques que fazem a diferença. Por isso o ranking das seleções são sempre alterados. O Brasil que já foi líder por tantas vezes percebe ainda agora o rebaixamento da Espanha, cantada como maravilha pela conquista de 2010. O que não entendemos ainda foi o placar dessa derrota que nos envergonha. Um futebol com a história e tradição do Brasil, não pode admitir normalidade numa derrota tão acachapante. O 7×1 foi um vexame que deve, merece e precisa ter uma reflexão.
Publicado hoje na edição impressa da Folha