O discurso radical da militância e a postura pragmática dos candidatos
Por Júlia Maria Assis
Quem acompanhou essa semana na Globo News o debate entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ex-presidente do Banco Central no governo FHC, Armínio Fraga, chega a duas conclusões antagônicas: se por um lado é claro que há diferenças pontuais entre os projetos sociais e econômicos para o país defendidos pelo PT e pelo PSDB, por outro os caminhos a percorrer para manter a inflação sob controle e promover o desenvolvimento não são lá tão distintos assim. As divergências de cada um dos grupos que disputa a vaga no Planalto estão mais no passado recente de transição entre os dois partidos, em 2002, e na forma como encaram a suposta crise mundial do que nas conquistas e retrocessos do presente. Para ambos é preciso corrigir as falhas e seguir em frente. Cada um com seus projetos, ambos com discursos quase convergentes.
A impressão que fica que é esse climão pré-eleitoral cheio de ofensas, informações manipuladas e mentiras — por sinal, absurdamente potencializadas pelo escudo das redes sociais — é exagerado e desnecessário. Quem viveu e/ou tem o mínimo de informação sobre o período obscuro do regime de exceção que massacrou e envergonhou o Brasil sabe que de lá para cá a democracia — ainda cheia de falhas, com a devida mea culpa do eleitorado — foi de fato consolidada. Quem vota em Dilma Rousseff ou deixa de votar justificando seu perfil socialista está anos luz da realidade; o mesmo sobre quem vota ou deixa de votar em Aécio Neves colando nele a imagem da representação de um projeto de direita.
Não há nenhum extremista de esquerda ou de direita na disputa, nenhuma ameaça de fato à democracia, nenhum risco, ao menos severo, de retrocesso para algumas de nossas principais conquistas em relação aos avanços sociais e às liberdades individuais. Há diferenças sim entre PT e PSDB. Mas comparando os discursos, essas diferenças são mais sutis do que alguns defensores raivosos fazem parecer.
É desonesto deixar de creditar ao governo do PSDB a estabilização da economia com o real e o início dos programas de distribuição de renda, por iniciativa de Ruth Cardoso. Como o é negar que o governo do PT consolidou essas conquistas, atuou de forma muito mais positiva no cenário econômico, inclusive destacando internacionalmente o Brasil, e tirou milhões e milhões de brasileiros da linha da pobreza. Mais com Lula que com Dilma, pode até ser, mais ainda assim uma marca petista indiscutível.
É possível ficar ao lado do PT reconhecendo suas falhas. A militância cega e apaixonada é injusta não só com o adversário, mas com o país. Para muitos eleitores petistas o que pesa mais — ainda — é o princípio ideológico da esquerda — se é isso que isso ainda existe. Mas o modelo é de uma esquerda capitalista. Fato. Na outra ponta, o discurso elitista velado do PSDB, apesar de inegável, não é de forma alguma sinônimo de ameaça à democracia. Retrocesso sim, a volta do pesadelo definitivamente não.
No final das contas, quem radicaliza a coisa toda são alguns eleitores do PT e do PSDB. Infinitamente mais que os próprios candidatos, tão pragmáticos e evasivos em seus discursos, porque o que interessa é conquistar os votos de gregos e troianos. Para eles, é o resultado das urnas que importa e pronto.
O fato é que nem Dilma nem Aécio e muito menos as estruturas políticas e econômicas distintas (ou não) que sustentam suas candidaturas estão por aí defendendo nada assustador. É manter o que está bom e melhorar o que não está. Não é uma disputa de Jean Wyllys contra Bolsonaro. Longe disso.
Publicado hoje na Folha
O PT governa 12 anos o país, chega. É hora de mudar.
Naquela entrevista conduzida pela Mirian Leitão, por sinal, de forma muito ruim porque ela mesma se enrola ao perguntar e não demonstra mesmo entender o que quer saber, tanto o Armínio quanto o Mantega, pouco afirmaram o que farão objetivamente em suas eventuais gestões na Fazenda, de modo a assegurar ao País o controle da inflação =que se agigante a cada mês que passa, com o aumento do endividamento interno, aumento do custo da máquina pública, queda da produção industrial em mais de 15%, controle doas aumentos dos preços públicos como energia elétrica em mais de 25% e de combustíveis em mais de 15%, insumos básicos em toda a cadeia produtiva e de transportes País afora, que já começa acontecer em novembro deste ano.
Sem reforma tributária que trate de forma correta a redivisão dos recursos da União, Estados e Municípios, reequilibrando receitas e encargos em cada nível; reforma política que permita reduzir o custo da máquina pública, aumento dos investimentos em Educação, infra-estrutura produtiva e de exportação, aumento da eficiência da máquina pública, entre muitas outras ações, pouco irá mudar.
Isto não ficou claro nem mesmo nos discursos dos Presidenciáveis.