Por Lucianne Carneiro
O dólar acentuou sua alta no início da tarde e chegou a ser cotado a R$ 3,281, o maior nível desde 1º de abril de 2003, no início do governo Lula. Por volta de 14h20, avançava 3,13%, a R$ 3,26, sob expectativa das manifestações contra o governo Dilma no domingo e do ambiente externo. Ontem, teve valorização de 1,02%, a R$ 3,161.
Para analistas, o quadro político antes das manifestações previstas para hoje — a favor do governo Dilma — e domingo — contra o governo pesa sobre o dólar. Ao mesmo tempo, o mercado acompanha o quadro externo, na expectativa da reunião dos conselheiros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na próxima semana. Mas há quem admita que a forte alta de hoje também esteja ligada a especulações.
Nas casas de câmbio, o dólar turismo já é negociado a R$ 3,70 no cartão pré-pago, valor que inclui IOF de 6,38%. No cartão pré-pago, a cotação variava, já com imposto, de R$ 3,55 a R$ 3,70, de acordo com uma pesquisa feita pelo GLOBO em cinco casas de câmbio. Em espécie, a moeda americana variava entre R$ 3,40 e R$ 3,49, também incluindo o IOF de 0,38%.
— Além da influência externa, com valorização em todo o mundo, o dólar é puxado pela instabilidade política. Há expectativa com as manifestações de domingo e seu desdobramento. O mercado está se protegendo, fazendo hedge (operação de proteção da moeda), sejam os investidores ou as empresas — diz o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.
Para o analista da Clear Raphael Figueiredo, a tendência mundial de valorização, o clima político e o risco de recuo da classificação de risco do Brasil são alguns dos fatores que puxam o dólar para cima. Ele admite, no entanto, que pode haver uma certa especulação hoje.
— Os Estados Unidos podem subir os juros antes do previsto e temos um cenário de incerteza no mercado doméstico, com risco de perda de rating e o clima político, com manifestações no fim de semana. O dólar passou de R$ 3,20 e não tem sinal de topo. Mas hoje parece mesmo haver um perfil mais especulativo — afirma Figueiredo.
Nesta sexta-feira, o Banco Central manteve a chamada ração diária, ou seja, os contratos de swap cambial para rolagem de
O clima também é de pessimismo na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O índice Ibovespa, que reúne as principais ações da Bolsa, recuava 1,40% às 14h20, para 48.193 pontos, depois de registrar perda de quase 2%.
Há queda em ações líderes, como Petrobras e bancos. Petrobras PN (preferencial, sem direito a voto) perdia 2,11%, a R$ 8,32, enquanto Petrobras ON (ordinária, com voto) tinha queda de 1,32%, a R$ 8,71, por causa das consequências da operação Lava-Jato. As preferenciais do Itaú caíam 1,44%, a R$ 33,51, enquanto as do Bradesco recuavam 1,87%, a R$ 33,44.
Na Bolsa, o analista da Clear explica que há um clima de apreensão e cautela, tanto com os desdobramentos da operação Lava-Jato e com as manifestações.
— Os investidores estão optando por não se expor ao risco — diz Figueiredo.
Levantamento da agência Bloomberg com 16 moedas — incluindo euro e libra, entre outras — mostra que todas perdem valor frente ao dólar. A única exceção é o iene, que se mantém estável.
Bancos elevam projeções de câmbio
Nesta sexta-feira, os bancos Itaú Unibanco e Goldman Sachs elevaram projeções para o dólar comercial no país. O Itaú subiu a taxa de câmbio prevista para o fim deste ano de R$ 2,90 por dólar para R$ 3,10, enquanto em 2016 a moeda americana será vendida a R$ 3,40 em vez de R$ 3,00. Já o Goldman Sachs elevou suas previsões para a cotação do dólar no Brasil nos prazos de três, seis e 12 meses, de R$ 2,75 para R$ 3,20, de R$ 2,80 para R$ 3,25 e de R$ 2,85 para R$ 3,35, respectivamente
Publicado aqui, no globo.com
Atualizado às 14h51