Crítica de cinema — Das divergências e insurgências da juventude

Caixa de luzes

 

Divergente insurgente

 

Mateusinho 2A série Divergente: Insurgente — Franquias adaptadas da literatura (ou dos quadrinhos) ao cinema parecem ter se tornado coqueluche neste início de terceiro milênio cristão. O problema com elas pode ser pegar o bonde andando, ignorando o contexto previamente dominado por quem conferiu o filme anterior da série — ou leu o livro, ou ambos. É o caso de quem for assistir a “A série Divergente: Insurgente”, sem ter visto antes “Divergente” (2014, de Neil Burger), primeiro filme da franquia baseada na recente trilogia “A série Divergente”, escrita por Veronica Roth, que se tornou bestseller mundial.

Gênero bem conhecido no cinema desde o milênio passado, a ficção científica pós-apocalíptica empresta contexto ao filme, num futuro em que a Terra foi devastada, teve as cidades abandonadas, e todos os humanos sobreviventes vivem sob a proteção de uma muralha, dentro da qual se equilibram na divisão em seis facções, reunidas a partir do que se crê ter levado ao colapso da civilização. Os que culparam a agressividade formaram a Amizade. Os que culparam a ignorância se tornaram a Erudição. Os que culparam a falsidade fundaram a Franqueza. Os que culparam o egoísmo geraram a Abnegação. Os que culparam a covardia se juntaram à Audácia. E os que acham que é culpa demais e ninguém está livre dela, se arrebanharam nos Sem Facção.

Os divergentes são aqueles capazes de habitar em todas as facções, mas sem se enquadrar de fato em nenhuma, sendo por isso encarados como ameaça ao sistema, comandado com mão de ferro pela líder da Erudição, Jeanine Matthews, interpretada por Kate Winslet, ainda bela, mas que já esteve mais à vontade em outras personagens. Nessa, ela representa o mundo adulto, a continuidade, a tradição, enquanto comanda uma verdadeira caçada humana na tentativa de reprimir a divergente Beatrice “Tris” Prior (Shailene Woodley), que por sua vez simboliza a juventude, a contestação, a rebeldia.

Tris não está sozinha. Ao seu lado estão outros jovens renegados. Tobias Eaton “Quatro” (Theo James) é o seu namorado apaixonado e protetor. Eclipsado pela força de Tris, quase como cópia em papel carbono, seu irmão é Caleb Prior (Ansel Elgort). E há ainda o sarcástico e surpreendente Peter Hayes (Miles Teller). Shailene, Theo e Miles dão credibilidade aos seus personagens, exceção feita à interpretação apagada de Ansel, capaz de decepcionar quem tinha colhido uma boa impressão do jovem ator, por sua sensível atuação em “Homens, mulheres e filhos” (2014), de Jason Reitman.

Além de Kate Winslet no papel de vilã, outra veterana igualmente ainda bela também bate ponto no filme. E no papel da anti-heroína Evelyn Johnson-Eaton, líder dos Sem Facção e mãe ausente de Tobias Eaton, Naomi Watts está mais convincente do que a colega no papel da sua rival.

A direção de Robert Schwentke também não está ruim, bem dosada entre adrenalina e drama. Todavia, a verdade é que talvez seja papagaiada demais para se falar do choque entre rebeldia juvenil e conservadorismo do mundo adulto. Sobretudo quando se constata que “Clube dos cinco” (1985), de John Hughes, quem diria, completa 30 anos neste 2015. E, na maior naturalidade das suas divergências e insurgências adolescentes, continua novinho em folha.

 

Mateusinho viu

 

Publicado hoje na Folha Dois

 

Confira o trailer do filme:

 

 

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