Idos de março
Segundo Shakespeare, com base em Plutarco e Suetêonio, fontes da Antiguidade, Júlio César desdenhou dos adivinhos e não conseguiu sobreviver aos idos de março. Com uma semana para terminar o mês, ninguém espera que Dilma Rousseff (PT) chegue ao 1º de abril sem continuar na presidência da República. Mas, ao menos metaforicamente, seu governo tem deixando publicamente um rastro de sangue tão abundante quanto aquele que correu das 23 facadas desferidas contra César dentro do Senado de Roma.
Recordes de impopularidade
Segundo pesquisa CNT/MDA divulgada ontem (aqui), Dilma vem quebrando recordes de impopularidade. Se na Datafolha liberada dia 18 (aqui), 62% dos brasileiros consideravam o governo da presidente ruim ou péssimo, no pior desempenho amargado desde Fernando Collor de Mello (então PRN, atual PTB), em 1992, antes deste sofrer o impeachment, Dilma cresceu mais 2,8 pontos percentuais de rejeição na consulta mais recente. Agora, 64,8% acharam o governo do Brasil ruim ou péssimo, próximo do pior índice registrado pelo instituto, em 1999, no segundo governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Queda abissal
É uma queda abissal, sobretudo se lembrado que, na última pesquisa CNT/MDA, feita em setembro, antes das eleições de outubro, só 24% dos brasileiros desaprovavam o governo federal que seria reeleito. O mais espantoso, porém, vem de outras consultas feitas na mesma pesquisa. Ela mostrou, por exemplo, que 77% dos brasileiros desaprovam pessoalmente a presidente.
Aécio 55,7% x 16,6% Dilma
Nessa queda de popularidade de quase 200% nos seis últimos meses entre uma pesquisa e outra, se o segundo turno de 2014 entre Dilma e Aécio Neves (PSDB) fosse hoje, a presidente levaria uma coça eleitoral como “nunca na história deste país”: 16,6% contra 55,7% do tucano. Tanto pior quando constatado que, entre os 2002 entrevistados pelo instituto, de 16 a 19 de março, em 137 municípios de 25 Estados, 41,6% deles votaram na reeleição da presidente em 26 de outubro de 2014, quando apenas 37,8% optaram pelo tucano, que ganhou de lá para cá uma transferência de votos de quase 50%, avançando sem pedir licença sobre o eleitorado da adversária.
Petrolão sangra Dilma e Lula
Os motivos para essa impopularidade tão grande, e tão rápida de Dilma, surgem em outras consultas da pesquisa. Para 84%, a presidente reeleita descumpriu suas promessas de campanha, deixando forte a sensação do estelionato eleitoral. Ademais, 68,8% dos entrevistados consideram que Dilma é pessoalmente culpada pelo desvio bilionário de dinheiro público na Petrobras. E para as viúvas de Lula, que sonham com seu retorno sebastianista em 2018, a notícia também não é das melhores: para 67,9% dos brasileiros (quase a mesma coisa de Dilma), o ex-presidente também é culpado pelo Petrolão.
Olho vivo no Judiciário
A pesquisa também mostrou como melhorou o grau de informação da população, visto que 75,7% sabem da lista dos políticos denunciados ao Supremo Tribunal Federal (STF) e Superior Tribunal de Justiça (STJ) pela Procuradoria Geral de Justiça (PGR), por suspeita de envolvimento no Petrolão. E aqui fica patente a distorção entre o senso de justiça do povo brasileiro e a capacidade (ou vontade) de fazê-la por parte do Poder Judiciário que deveria representá-lo: embora 90,1% dos entrevistados acreditem na culpa dos denunciados, só 28,4% acham que eles serão punidos.
Idos de abril?
Mas se sobrevive agoniando em praça pública, como bem definiu o jornalista Ricardo Noblat, após o vexatório episódio em que o PMDB na Câmara Federal exigiu e teve ofertada a cabeça do então ministro da Educação Cid Gomes, alguém pode dizer que o pior já passou para Dilma? Com uma nova manifestação marcada para 12 de abril em todo o país, contra a presidente, seu governo e seu partido, os dados mais alarmantes aos donos do poder no Brasil talvez sejam aqueles que indicam o apoio de 83,2% dos brasileiros ao movimento que tomou as ruas do país em 15 de março. E, por enquanto, só 3,9% deles participaram.
Publicado hoje na Folha da Manhã