Superpai — No Brasil, entre janeiro de 2014 e março de 2015, foram produzidos 112 filmes, divididos entre drama, comédia, documentário, comédia romântica, ação, aventura, animação, musical, comédia musical, suspense, romance, policial e terror. De acordo com os dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), de todas as produções brasileiras, os longas-metragens de drama estão na primeira posição do ranking, no total de 45 histórias. Mas, apesar da estatística, prevalece a ideia errônea de que o Brasil produz somente comédias, que, a partir dos registros da Ancine, contabilizam apenas 21 do número total de lançamentos no último ano.
No entanto, em Campos, apenas parte desses filmes é apresentada à população. Nomes relevantes para a cinematografia brasileira — tais como “O lobo atrás da porta” (2013), dirigido por Fernando Coimbra e premiado no 35º Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano, em Cuba; e “Hoje eu quero voltar sozinho” (2014), de Daniel Ribeiro, que conquistou o segundo lugar no Festival de Berlim — não chegaram aos cinemas da cidade. Por aqui, em relação aos filmes brasileiros, figuram nas telas as comédias, desde as que possuem abordagens engraçadas e interessantes, casos de “Se eu fosse você 2” (2009), de Daniel Filho, e “A mulher invisível” (2009), de Cláudio Torres, até as menos atraentes, como “Superpai” (2014), de Pedro Amorim.
Danton Mello interpreta, em “Superpai”, o descompromissado Diogo. O homem espera ansiosamente o reencontro de sua turma, vinte anos após a formatura. Mas os planos mudam quando a Mariana (Monica Iozzi) lhe pede que cuide do filho do casal. Para não deixar de participar da confraternização, ele deixa o menino em uma creche. Na hora de buscá-lo, Diogo confunde o menino, devido a uma máscara, e leva outro garoto em seu lugar. A trama, que retrata uma noite da vida do protagonista, se desenrola a partir do desencontro, sem surpresas e novidades.
O brasileiro “Superpai” foi baseado em um roteiro dos norte-americanos Benji Crosgrove e Corey Palme, que não foi filmado por ser considerado politicamente incorreto e pesado. Reescrito por Pedro Amorim e Ricardo Tiezzi, o enredo não foge, em certos momentos, aos traços da comédia besteirol estadunidense e tropeça em filmes típicos do estilo, como os da franquia American Pie, cujo último lançamento — “American Pie: o reencontro”,de Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg — aconteceu no ano de 2012. “Superpai” e “O reencontro” apresentam personagens com características e histórias semelhantes. Alguns pontos em comum são a reunião da turma da escola anos depois da formatura e a irresponsabilidade característica dos homens que não amadureceram e têm dificuldades para lidar com a fase adulta.
O longa-metragem tem em seu elenco, além de Danton Mello e Monica Iozzi (que deveria ter prosseguido na carreira de repórter do programa CQC), Dani Calabresa, Antonio Tabet, Thogun Teixeira, Rafinha Bastos e Danilo Gentili. Apesar do renomado grupo de atores, “Superpai” deixa a desejar no quesito humor, principalmente por misturar à comédia brasileira aspectos típicos e recorrentes da norte-americana.
Ao filme, falta originalidade, característica encontrada em outros longas do gênero produzidos no país, como o já citado “Se eu fosse você 2”, no qual a troca de corpos entre marido e mulher é hilariamente representada, e “Deus é brasileiro” (2003), de Cacá Diegues, que apresenta um deus altivo e cansado, que deseja encontrar alguém para substituí-lo por estar farto das burradas cometidas pelo homem. Nestes, o roteiro não usa saídas apelativas para trazer risadas ao público, que, apesar de decifrar os rumos dos personagens, se entrega plenamente a histórias divertidas e totalmente brasileiras.
Publicado hoje na Folha Dois
Confira o trailer do filme: