Por Julia Affonso, Fausto Macedo e Mateus Coutinho
O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque — homem forte do PT no esquema de corrupção e cartel na estatal petrolífera — permaneceu calado, como lhe garante a Constituição Federal, ao ser questionado pela Polícia Federal se “tinha interesse em celebrar acordo de delação premiada, como fez Paulo Roberto Costa”, seu ex-colega da Diretoria de Abastecimento, que após quatro meses de cárcere decidiu contar o que sabia, em troca de redução de pena.
O ex-diretor de Serviços foi preso no dia 16, na décima etapa da Lava Jato, batizada de “Que País é Esse”, uma referência à frase dita por ele ao telefone, quando conversava com o advogado, no instante em que era detido pela primeira, dia 14 de novembro de 2014.
Além de Costa, o ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco, que era braço-direito de Duque na estatal e espécie de contador da propina arrecadada na diretoria de Serviços fez delação premiada com a Lava Jato.
Duque, medalhão desse grupo de agentes públicos indicados por partidos e corrompidos pelo cartel de empreiteiras, era braço estratégico do PT na estatal. Por meio de sua diretoria, o partido arredava 2% de propina nos contratos da demais áreas, por ser responsável pelas licitações e execuções dos contratos.
Os delegados da Lava Jato ouviram Duque no dia 18 de março, dois dias após ser preso pela segunda vez, em sua residência no Rio. O primeiro dos questionamentos registrados no termo foi sobre seu possível parentesco com o ex-ministro José Dirceu, conforme disse os delatores. Ele não respondeu, usando o direito dado ao acusado de não produzir prova contra si mesmo.
No Congresso, ao ser ouvido pela CPI da Petrobrás, ele também recorreu ao direito constitucional ao silêncio, mas fez explicações pontuais. uma delas foi para negar que tinha ligação familiar com o ex-ministro, também alvo da Lava Jato.
Duque ocupou o cargo de diretor de Serviços entre 2003 e 2012, indicado por Dirceu — que nega. Saiu e montou uma empresa de consultoria, a D3TM, pela qual continuou a trabalhar para empreiteiras do cartel, como consultor. Mesmo caminho percorrido por Paulo Roberto Costa, que abriu a Costa Global.
“Bob”
No interrogatório, os delegados da PF perguntaram também quem era o “Bob” que ele tinha registrado em um dos programa de bate-papo em seu telefone celular, que foi apreendido. Duque, mais uma vez, nada falou.
Em delação premiada, o doleiro Alberto Youssef afirmou que Dirceu e o ex-ministro Antônio Palocci eram “as ligações” do lobista e operador de propina Julio Gerin Camargo com o PT. Segundo ele, o nome de Dirceu consta no registro de contabilidade de propina com a rubrica “Bob” — suposta referência ao apelido de um ex-assessor do ex-ministro da Casa Civil.
“Julio Camargo possuía ligações com o Partido dos Trabalhadores, notadamente com José Dirceu e Antonio Palocci”, afirmou Youssef.
O doleiro disse que o lobista tinha uma pessoa que era responsável pela contabilidade das propinas, Franco Clemente Pinto.
“Franco é homem de confiança de Julio Camargo e o responsável pela contabilidade de pagamentos ilícitos a título de propina e caixa 2”, afirmou Youssef. Segundo o doleiro, Franco armazenava toda movimentação de propina em um “pen drive”, acessado com senha.
“Eram utilizadas siglas em tal contabilidade ilícita”, explicou o doleiro. “A de José Dirce era ‘Bob’.” Para a PF, pode tratar-se de Roberto Marques, um ex-assessor. Youssef diz ter visto várias vezes o registro de contabilidade. Ele não foi encontrado. Atualmente, trabalha na Assembleia Legislativa de São Paulo.
O doleiro afirmou ainda não sabe sobre valores que teriam sido repassados a Dirceu, mas contou que o ex-ministro, depois de deixar o governo Luiz Inácio Lula da Silva, utilizou o jato Citation Excel que pertence ao lobista Julio Camargo.
“Não sabe dizer quantas vezes o avião foi utilizado por José Dirceu e nem a razão do uso. Mas pode afirmar que Julio Camargo e José Dirceu são amigos”, registraram os investigadores da Lava Jato no termo de delação 11 do doleiro.
Publicado aqui, no Blog do Fausto Macedo