Crítica de cinema — Quando cinema é quase só diversão

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Velozes e furiosos 7

 

Mateusinho 3Velozes e furiosos 7 — Estados Unidos da América: terra de grandes oportunidades e diversão garantida — aos que se integram ao american way of life, claro. Há espaço até para negros pernósticos, que, ao preço da exposição ao ridículo, podem criar momentos de alívio cômico em filmes protagonizados por brancos. E ainda bem que, em qualquer parte do mundo, a despeito de tanto exotismo, todo estadunidense, sempre e cada vez mais, encontra algo que o faça lembrar-se de seu país de origem ou adoção: carros, computadores e celulares conectados à web, mulheres gostosas…

Sim, tais considerações são de um simplismo pueril. Dignas da mais chinfrim cartilha antiimperialista ianque. Mas também perfeitamente aplicáveis, por espectadores ou críticos ideológicos de esquerda, por exemplo, à franquia “Velozes e furiosos”, que chega agora a seu sétimo episódio, em cartaz no Kinoplex Avenida e no Multiplex Boulevard Shopping desde a última quinta-feira. Se você é um deles — ou tem seu gosto orientado por pressupostos estéticos mais ortodoxos —, mantenha-se longe não apenas deste blockbuster, mas de quase tudo ofertado atualmente nas salas de cinema. Se não, mesmo não gostando muito de filmes ação, periga até curtir a rocambolesca trama em questão.

Iniciada em 2001, os principais desafios desta série talvez sejam amarrar as pontas de capítulos anteriores nos mais novos e, sobretudo, as cenas de ação em cada filme individualmente considerado. Em termos de compreensão pelo público, o primeiro aspecto é menos comprometedor: o maior risco para alguém que não tenha visto ou não se lembre de uma parte anterior da franquia é não rir, por exemplo, com uma piada em torno de alguma situação de uma edição passada. Nem isso, nem o (pouco) que se passa entre as sequências de corridas de carros, lutas e tiroteios, numa trama descompromissada com uma narrativa coerente, incomoda novas gerações, não familiarizadas com o universo “Fast and furious”.

Assim, em Velozes e furiosos 7, sob direção de James Wan (de Jogos Mortais), a motivação para a reunião da equipe liderada por Dominic Toretto/Dom (Vin Diesel) e Brian O’Conner (Paul Walker) é desencadeada pelo desejo de Deckard Shaw (Jason Statham) de vingar a derrota imposta a seu irmão mais novo, Owen (Luke Evans), pelos dois protagonistas da série no episódio anterior. Após ferir o agente policial Luke Hobbs (Dwayne Johnson) e assassinar Han (Sung Kang), amigo japonês de Dom e Brian, Deckard pretende matar estes dois, que, por sua vez, tem motivos de sobra para eliminar o vilão. Não fosse isso suficiente para sustentar um longa-metragem com mais de duas horas, as habilidades do personagem de Statham, como ex-assassino das Forças Especiais Britânicas, fazem dele uma figura difícil de ser alcançada e que consegue, portanto, desaparecer após uma luta com Toretto. Este, então, recebe do agente secreto Mr. Nobody (Kurt Russell), o deux ex machina da trama, uma proposta de ajuda para encontrar Deckard, desde que os Velozes, em troca, resgatem, no Cáucaso, a hacker Megan  (Nathalie Emmanuel), inicialmente de identidade desconhecida, que, por criar um dispositivo capaz de acessar câmeras de todo o planeta, foi seqüestrada pelo terrorista Jakande (Djimon Hounsou), líder de uma gangue integrada por Kiet (Tony Jaa, o astro tailandês, lutador de muay thai, imortalizado a partir de Ong Bak).

O absurdo é que, se o dispositivo ajudaria a encontrar Deckard, este — com sede de vingança e norteado pelo ditado “o inimigo de meu inimigo é meu amigo”, aliando-se, assim, ao grupo de Jakande — está em todos os lugares a que vai a equipe comandada por Dom, o que inclui, além da viagem ao Cáucaso, uma passagem por Abu Dhabi, para encontrar o tal equipamento, após o resgate da hacker.

Perseguições de carros, que descem precipícios, voam e caem de pára-quedas, além de duelarem como personagens de western; lutas com peritos no assunto, como Jaa e Hounsou — muitas vezes desperdiçadas pelo uso frenético da câmera; o carisma de Dwayne Johnson e Jason Statham, atores-de-um-personagem-só, e a participação especialíssima de Kurt Russel, compensando a expressividade diretamente proporcional à cabeleira de Vin Diesel; a superioridade dos Estados Unidos sobre o mundo, presente em valores como a importância da família, nas falas de Toretto, e um suposto apreço aos direitos humanos, que contêm os instintos mais primitivos do agente Hobbs em relação ao vilão Deckard — nada disso supera o principal apelo de “Velozes e furiosos 7”,  capaz de igualar fãs da franquia e público em geral minimamente simpático ao cinema de pancadaria (desde que, ao final, os bons sobrevivam e os maus sejam punidos): a homenagem ao astro Paul Walker, morto num acidente automobilístico, no final de 2013, sem conseguir concluir o longa ora em cartaz, numa reafirmação do batido ditado de que a “vida imita a arte” e como alerta aos espectadores quanto a não tentar fazer “em casa” o que se passa na tela.

 

Mateusinho viu

 

Publicado ontem (04/04) na Folha Dois

 

Confira o trailer do filme:

 

 

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