Crítica de cinema — Insurgências convergentes

Bagdá Café

 

Divergente insurgente

 

Mateusinho 3A série Divergente: Insurgente — Herdeira de “1984”, de George Orwell, e “Admirável mundo novo”, de Aldous Huxley, a norte-americana Veronica Roth lançou, em 2011, o livro “Divergente”, o primeiro da série homônima, que conta também com “Insurgente” e “Convergente”. Duas das obras literárias foram adaptadas para o cinema, entre março de 2014 e março de 2015. Baseada na ideia de distopia, na qual uma sociedade é oprimida por governos ou grupos dominantes, Divergente segue os caminhos abertos recentemente pela trilogia “Jogos Vorazes” (2008), que terá o último longa-metragem, “A esperança – pt.2”, será lançado no final deste ano.

“Insurgente”, dirigido por Robert Schwentke, dá sequência à história de Beatrice/Tris Prior (Shailene Woodley), uma jovem que, após ser descoberta como divergente e ameaçada, é obrigada a abandonar, junto ao namorado Tobias Eaton/Quatro (Theo James), a Audácia, facção da qual fazia parte.

Dividida em cinco facções — Audácia, Erudição, Franqueza, Amizade e Abnegação —, a sociedade apresentada na “Série Divergente” vive em uma Chicago pós-guerra, com 200 anos de afastamento da raça humana. Os homens e mulheres são mantidos distantes do muro que protege a cidade, acreditando ser esta o único reduto em que há formas de vida.

Entre cenas de ação e, ocasionalmente, de romance, o filme mantém o enredo dentro das expectativas do telespectador, sem grandes surpresas, sendo facilmente percebido o caminho que será percorrido pelos protagonistas e antagonistas nas cenas seguintes. Classificado como ficção científica, Insurgente apresenta, em oposição aos filmes do gênero, poucos efeitos especiais. Com cenários predominantes de destruição, alternando com prédios suntuosos e informatizados e, também, com espaços verdes e construções simples, o longa foca mais no enredo adaptado, e não nos efeitos — que são pouco mais explorados no final —, sendo aquele o ponto principal da construção do longa-metragem.

O elenco conta, também, com a veterana Kate Winslet, que vive Jeanine Matthews. O papel, se não fosse relevante para o desenvolvimento da história, poderia ser descartado devido à falta de entrega da atriz à personagem, que permanece com ar insosso do início ao fim. Vencedora do Oscar de Melhor Atriz, em 2009, por “O Leitor”, de Stephen Dry e baseado no livro de Bernhard Schlink,Winslet mostrou um dos mais fracos desempenhos de sua carreira.

Em determinados momentos, é perceptível a semelhança da série com outras sagas de sucesso, como “Harry Potter”, criada pela inglesa J.K Rowling e adaptada para os cinemas entre os anos de 2001 e 2011. Com um enredo que evolui junto ao crescimento dos personagens, os quatro últimos filmes da Warner Bros mostram conflitos, tensões e mortes na maior parte do roteiro. Em “Insurgente”, é possível notar passagens que relembram cenas da franquia inglesa, como a organização de um exército para combater os inimigos e a redenção da protagonista para evitar o extermínio.

No segundo volume da série “Divergente”, a ficção também dialoga com a realidade. O viés político notado no filme equipara-se, em situações pontuais, ao cotidiano. Alianças que visam o benefício individual em nome de um suposto bem comum, combates para tirar o grupo dominante e conquistar o poder e o distanciamento da facção Amizade (que compreende não fazer parte dos confrontos por estes não atingi-los diretamente, assim como grupos da sociedade atual que permanecem afastados do cenário público) são aspectos retratados na história, que, apesar de configurada a partir de um roteiro que foge a questões predominantes no mundo real, pode proporcionar ao público breve reflexão sobre jogos políticos que envolvem as relações humanas.

 

Mateusinho viu

 

Publicado hoje na Folha Dois

 

Confira o trailer do filme:

 

 

 
 

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Este post tem 4 comentários

  1. Jaci Capistrano

    Esquerda sempre esquerda com sua xenofobia seletiva escolhendo sempre seu alvos torpes.

    Deputada quer limitar ainda mais o lançamento de filmes estrangeiros no país
    Regra atual é que estreia não pode ocupar mais que 35% do total de salas. Alice Portugal do Partido Comunista do Brasil pretende reduzir para 15%.

    http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-112763/

  2. Aluysio

    Caro Jaci,

    Quer dizer que a “ameaça vermelha” é tb extensiva aos cinemas? Rapaz, isso dá até filme… rs

    Abç e grato pela chance da observação!

    Aluysio

  3. Jaci Capistrano

    Escarnecer (sou imune a isso, porque conheço bem as rotinas esquerdistas) não evita a constatação de 50 anos de doutrinação esquerdista, desde a época do regime militar os militares só combatiam a guerrilha esquerdista, e nada na cultura, as faculdades se tornaram então escolinha de militantes, quem se forma se torna vítima dos professores marxistas e assim vão formando mais idiotas úteis que por sua vez se tornarão professores, etc, aí vão só se retroalimentando porque só tem livros de esquerda, jamais se encontrará autores liberais como Ludwig von Mises, conservadores como Edmund Burke, Russell Kirk, estéticos como Roger Scruton, etc.

    A regra é odiar os E.U.A, lutas de classe e tutti quanti da agenda esquerdista. Desconhecer o marxismo cultural que utiliza as técnicas de Antonio Gramsci de corrosão interna, infiltração, ocupação de espaços isso por si já prova que o meio acadêmico está muito doente. Todo o “pensamento esquerdista” é construído sobre falsas premissas. Negar isso já é falsidade intelectual.

    A elite esquerdista dominante nos meios universitários e editoriais não só se absteve de ler livros conservadores como também tomou todas as providências para que ninguém mais os lesse. Não que agisse assim por um plano deliberado. Não: essa gente pratica a exclusão e a marginalização dos adversários com espontânea naturalidade. A regra leninista de que não se deve conviver com a oposição, mas eliminá-la, incorporou-se na sua mente como uma segunda natureza, e desde que a esquerda tomou o poder neste país tornou-se um hábito generalizado e corriqueiro suprimir as vozes discordantes para em seguida proclamar que elas não existem.

    Leia o artigo Escola sem partido já!

    Por Rodrigo Constantino

    Um dos maiores problemas do Brasil é a doutrinação ideológica nas escolas e universidades. Em vez de os professores ensinarem conteúdo que presta, matérias relevantes da forma mais objetiva possível, eles vestem seus bonés de militantes políticos e saem por aí tentando conquistar jovens adeptos. É pura lavagem cerebral, e faz com que um exército de soldados troquem o conhecimento objetivo pela repetição de slogans idiotas. Em suma, trata-se de uma máquina de formar alienados, aqueles que vão depois defender o PT e o PSOL, elogiar Cuba e cuspir na Veja, como se a revista fosse o ícone de tudo aquilo que não presta.

    Essa sempre foi a realidade em nosso país, ao menos desde a década de 1960. Os socialistas perceberam, com Gramsci, que era preciso dominar a cultura, já que uma revolução armada ficava cada vez menos provável. Tomaram conta das redações dos jornais, das igrejas, das escolas e universidades. E houve pouca reação. O outro lado é mais desorganizado e disperso. Os próprios pais não têm o hábito de participar diretamente do ensino de seus filhos, e muitos achavam que tal doutrinação seria ineficaz, pois a tendência seria a garotada amadurecer e acordar para a realidade.

    Mais em http://www.escolasempartido.org/artigos-top/536-escola-sem-partido-ja

  4. Aluysio

    Caro Jaci,

    Não usei a ironia para escarnecer de vc. Se essa foi sua apreensão, ou de qualquer outro leitor, peço sinceramente que me perdoe. Muito ao contrário, o caso é que, com todo o respeito, não dá para levar a sério essa ideação persecutória baseada na sua percepção superlativa da “revolução passiva” de Gramsci. Sinceramente, não acho que isso me torne um marxista “infiltrado” na imprensa, até pq sempre gostei mais de Max (Weber) do que (Karl) Marx, mas respeito seu direito à opinião contrária.

    Abç e grato pela chance do esclarecimento!

    Aluysio

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