Lula estaria interessado no impeachment de Dilma?

Dilma x Lula

 

 

Jornalista, blogueiro e escritor Merval Pereira
Jornalista, blogueiro e escritor Merval Pereira

Teorias conspiratórias

Por Merval Pereira

 

À medida que o processo de impeachment da presidente Dilma se torna uma possibilidade concreta, embora ainda não inevitável, surgem teorias conspiratórias de todos os jeitos, algumas folclóricas como a tese do líder do PT Sibá Machado de que é a CIA que está por atrás das manifestações de rua contra o governo, outras menos sofisticadas que atribuem um cunho golpista a uma medida constitucional que já foi usada no Brasil sob a liderança do próprio PT.

Mas a mais interessante é a que indica ser o ex-presidente Lula o principal interessado no momento no impeachment de sua criatura. O ex-presidente estaria preocupado, e com razão, com os efeitos deletérios em sua imagem provocados pela má gestão da presidente Dilma aliada aos escândalos de corrupção na Petrobras, que não param de levar para o ralo a história do PT.

Não foi à toa que o presidente do partido Rui Falcão só aquiesceu em tirar João Vaccari Neto da tesouraria do PT depois de conversar com o ex-presidente Lula. Mesmo que a decisão tenha sido tomada tardiamente, quando Vaccari já estava preso pela Polícia Federal, de qualquer maneira o partido livrou-se da ligação oficial com o segundo tesoureiro preso.

Esdrúxula mesmo foi a posição do ministro da Defesa Jacques Wagner, que considerou que Vaccari poderia continuar no cargo mesmo detido. Mas essa posição tinha guarida em boa parte do partido, seja por proteção a um militante petista de muitos anos, seja por receio de que ele possa revelar algum segredo.

O pragmatismo do ex-presidente Lula sempre indicou, porém, que há um limite para o apoio a um companheiro apanhado com a boca na botija: a retórica continua a mesma, mas a distância é recomendável. Se aconteceu assim com José Dirceu, por que não aconteceria com Vaccari?

Pois bem, o ex-presidente Lula estaria interessado em estancar a sangria petista, que o leva junto, com a interrupção do mandato da presidente Dilma, seja pela renúncia da própria, seja pelo impedimento determinado pelo Senado.

Uma indicação disso seria o relatório do ministro do TCU José Mucio, que caracterizou como crime de responsabilidade as chamadas “pedaladas fiscais” da equipe econômica do primeiro mandato, chefiada por Guido Mantega, mas sabidamente comandada pela própria presidente.

O ex-senador José Múcio é muito ligado a Lula, e não tomaria uma decisão tão importante quanto essa sem que correspondesse aos interesses do ex-presidente, dizem esses maldosos teóricos da conspiração. Caso o desfecho se dê pela quebra da Lei de Responsabilidade Fiscal, e não por corrupção, seria mais fácil para o PT ir para a oposição ao futuro governo de Michel Temer e fazer a chamada luta política criticando todas as medidas que qualquer governo, seja de direita, de esquerda ou de centro, terá que tomar para colocar novamente nos trilhos a economia nacional.

Da mesma maneira, o êxito dessa tarefa hercúlea provavelmente só será sentido ao final deste mandato, e dificilmente servirá para resgatar a popularidade de quem estiver no comando do governo. Ainda mais se o PT, livre da obrigação de adotar medidas amargas e impopulares, voltar ao velho populismo se sempre, acusando o governo da vez de estar fazendo maldades desnecessárias.

Lula voltaria a fazer o que realmente sabe: criticar o governo da vez e prometer benesses à população. Por isso, há na oposição quem ache que o melhor seria permanecer na crítica ao governo, apertando o cerco com a ameaça de impeachment, mas não concretizá-lo, para que o PT tenha que assumir até o final do mandato o ônus de tomar as medidas impopulares que o populismo dos últimos anos exige para que a economia volte a crescer.

Seria a teoria do deixar o PT sangrar em público, que deu errado em 2006, mas reciclada, pois desta vez o PT no governo terá que resolver os estragos que fez no primeiro mandato, enquanto no governo Lula a economia estava em boa situação e ajudou a salvá-lo.

Ou, quem pariu Mateus que o embale.

 

Publicado aqui, no Blog do Merval

 

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Este post tem 3 comentários

  1. Marcelo Amoy

    Conspirações (reais ou imaginárias) à parte, existe a lei. O impeachment é um processo político que precisa de um fato legal para ser iniciado. Eu, particularmente, sou favorável ao impeachment, mas apoiado em pressupostos legais porque sou um democrata, não um golpista. Eu tenho a mais plena convicção de que todos esses pressupostos existem, só precisam “aparecer” – e, pra mim, eles vão muito além de “meras” pedaladas fiscais.

    Quanto a LuLLa, o tenho na mais baixa conta possível. Acho esse cara a versão moderna (por isso, ainda mais triste e decepcionante) do Macunaíma. Aliás, pra mim, eLLe supera o tal “herói sem nenhum caráter” com folga. Pra eLLe deixar queimar ou mandar pra fogueira qualquer um – especialmente se for pra salvar a própria pele – acho que não custa nada… Isso me parece algo que eLLe já fez, ainda faz e fará sem nenhuma dor na consciência ou grandes hesitações.

    No meu entendimento, por um lado, o afastamento dessa “senhora” pode, em boa parte, devolver ao PT aquele velho e batido discurso de oposição – no que ele sempre foi melhor do que no de situação – e não me agrada que o PT possa se utilizar politicamente a seu favor de um fato negativo ao qual ele mesmo deu origem. É que, para muita gente incauta, o impeachment pode fazer parecer que o PT deixou de ter tudo a ver com todas as lambanças e erros de gestão (incluindo supostos envolvimentos diretos com a corrupção institucionalizada dos anos recentes). Mas deixar de parecer não significa deixar de ser e nem de ter a ver com os imensos descalabros de todas as ordens em que o Brasil foi metido de 2003 pra cá – motivo pelo qual os cidadãos atentos não deixarão de ver o PT como um agente propulsor de todos esses descalabros. E mesmo os mais incautos ainda terão muitas oportunidades de observar os resultados e os fatos novos que serão trazidos à tona pelos desdobramentos das atuais (e futuras) investigações sobre a corrupção no Brasil – e, com isso, alterar ou melhorar a sua percepção sobre a verdadeira natureza de ser e das intenções reais deste partido.

    Por outro lado, “cozinhar” aquela “senhora” na intenção de vê-la sangrar juto com o PT e com LuLLa pode parecer tentador sob certos aspectos, mas pode se mostrar tão ineficiente agora quanto já foi antes. Se as medidas impopulares que estão sendo tomadas surtirem efeito em 2 ou 3 anos (coisa que todos desejamos – caso contrário estaremos vivendo sacrifícios à toa!), o PT pode tentar ressurgir em 2018 e até vencer as eleições visto que a memória do “homo medius” brasileiro é muitíssimo curta.

    Sinceramente: eu não apostaria minhas fichas nisso – mesmo achando muito bom que o ônus de todo este sacrifício esteja sobre os ombros de quem verdadeiramente o causou: os governos de luLLa e daquela “senhora” que, JUNTOS!, nos trouxeram a este estado de coisas. E é aqui que, pra mim, não há crítica possível ao governo deLLa sem incluir, também e sobremaneira!, o governo deLLe: nem que só por tê-la indicado ao povo brasileiro como competente para a sua sucessão, mas sobretudo porque eLLe sempre soube (ou imaginou) que o PT tinha descoberto a pólvora e intuído alguma “nova maneira” de criar progresso com populismo e bravatas e mentiras e enganações e manipulações dos fatos; mas acima de tudo porque eLLe NADA MAIS FEZ em seu “governo” do que usufruir vaidosamente da popularidade alcançada por contingências que herdou ou que, acidentalmente, LLhe caíram no colo durante aqueles anos. Mas o mundo mudou – e mesmo se fosse eLLe a governar hoje, o cenário seria completamente diferente.

    Por isso comemoro o fato inconteste de que a imagem de LuLLa, de uma forma ou de outra, anda, sim!, se desgastando agora! No que depender de mim, enquanto o PT for governo, trabalharei para desgastar essa imagem o quanto mais eu puder entre os eleitores incautos – já que da opinião dos cuidadosos os fatos têm se encarregado.

    E torço, enquanto isso, pelo aparecimento das justificativas legais para afastar o PT do governo federal.

    Espero que não tardem!

  2. Marcelo Amoy

    Peço desculpas a todos por meus erros de digitação/edição/gramática: é que só os notei depois de publicar o comentário – e aí já não tive mais como corrigir…

  3. Ana Cristina

    Do site de humor do Joselito Müller:
    APÓS SE POSICIONAR CONTRA IMPEACHMENT, FHC É CONVIDADO A SE FILIAR AO PT

    BRASÍLIA – Após declarar ser contra o Impeachment da presidente Dilma Rousseff, sob alegação de que “não adianta tirar a presidente”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi convidado para se filiar ao PT.

    “Nós sabíamos que o companheiro FHC tinha alguma qualidade, por isso o convidamos a fazer parte de nossa agremiação”, declarou Ruy Falcão, presidente da legenda.

    FHC recusou o convite, mas disse que “sentia lisonjeado”.

    A situação criou confusão na cabeça de militantes petistas, para quem FHC seria “o maior ícone da direita neo-liberal-fascista do Brasil”, motivo pelo qual o convite seria descabido. “Se ainda fosse o companheiro Maluf”, exclamou um militante.

    Cientistas políticos mais próximos ao Palácio do Planalto avaliaram que a declaração de FHC contra o impeachment enfraqueceria o protesto do dia 15. Alguns organizadores da manifestação, no entanto, mandaram FHC ir (trecho excluído pela moderação).

    http://www.joselitomuller.com/apos-se-posicionar-contra-impeachment-fhc-e-convidado-para-se-filiar-ao-pt/

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