7Solidões – Em “Samba da bênção”, Vinícius de Moraes afirmou que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Encontros, reencontros e desencontros formam memórias e histórias com as quais esbarramos diariamente e perdemos de vista. O cineasta campista Carlos Alberto Bisogno as trouxe à cena, em reflexões sobre passado, presente, futuro, morte e vida com o filme “7Solidões”, lançado em Campos na última semana, que será exibido novamente hoje, no Cineclube Goitacá (confira aqui). Diretor e roteirista, Bisogno ofereceu, em seu primeiro longa-metragem, a oportunidade de pensar, remexer, remoer e revirar fatos e sentimentos diversos e adversos.
Produtor de curtas-metragens de ficção, como “Efígie” (2009), “Vertigem” (2010) e “Neve Negra” (2011) – nos quais, sobrepondo-se a diálogos quase inexistentes, imagens, trilha sonora e atuação são os meios utilizados para orientar o espectador e fazê-lo entender as histórias –, o cineasta faz novas opções e envereda por caminhos que se afastam brevemente de seu ritmo usual de criação e desenvolvimento de trabalhos audiovisuais.
Em “7Solidões”, o roteirista e diretor, timidamente, abre maior espaço para trocas verbais entre os personagens, que, na maior parte do tempo, ficam aquém das expectativas criadas pelas belas construções imagéticas e textuais — nas sequências narradas por Orávio de Campos Soares — do longa-metragem.
Marca do trabalho do diretor, o elenco de “7Solidões” é formado por atores campistas, privilegiando tanto artistas consagrados, como Orávio e Adriana Medeiros, quanto mais novos, como Rudá Sanchéz (cuja atuação com Adriana, no papel de mãe do jovem, se sobrepõe às demais cenas em que aparece devido à boa sintonia entre ambos) e Maria Clara Oliveira. O enredo é desenvolvido a partir das memórias de um homem, que recorda momentos da juventude, ao lado de amigos e namorada, e da infância, com os pais. No entanto, as lembranças surgem, conforme afirma o personagem, não da maneira exata como aconteceram, mas da forma como ele as sentia. Amor, abandono, traições e revelações conduzem a história e consolidam o roteiro, junto a opções fotográficas e opções musicais adequadas à ficção.
Constituído por um texto narrado em off e imagens com tons levemente envelhecidos que dão um interessante aspecto de passado ao longa-metragem, o começo do filme resulta em uma experiência intensa e introspectiva. Os primeiros minutos são um mergulho profundo e reflexivo em questões existenciais, tais como os trechos finais, que unem bons textos, fotografia e trilha, sendo estes responsáveis por capturar a alma do público. No entanto, o ritmo se perde no momento em que entram em cena os jovens, com diálogos aparentemente improvisados e desconexos.
Além da pouca interação do núcleo com a proposta do filme, outro ponto que deve ser considerado é o período em que se passa a juventude do protagonista. No retorno à infância e à adolescência, os personagens vivem, possível e respectivamente, entre as décadas 50 e 70. No entanto, certos detalhes trazem a sensação de confusão ao espectador: em sequências que representam a segunda fase da vida do homem, aparecem, na cena filmada em uma sala, equipamentos eletrônicos — celular e notebook — que remetem aos dias de hoje, e não aos anos passados.
Nessas passagens, nasce a dúvida sobre a compreensão do roteiro, e a cenografia, que deve ajudar a ambientar e orientar o público, falha em seu intento ao confundir quem assiste ao filme. A despeito do deslize técnico, “7Solidões” é uma oportunidade não só de apreciar uma boa produção local, mas também de analisar e mergulhar em aspectos relacionados à vida, à história e à morte.
Publicado hoje na Folha Dois
Confira o trailer do filme: