Crítica de cinema — Lata velha

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Super velozes e mega furiosos

 

Mateusinho 1Super velozes e mega furiosos — Em cartaz desde a última quinta-feira no Kinoplex Avenida, “Supervelozes e megafuriosos” (“Superfast!”) é mais uma comédia montada a partir da sátira a filmes “sérios” de sucesso — no caso, os da franquia “Velozes e furiosos”, agora no sétimo episódio, o de maior êxito comercial, também em exibição em salas de projeção de Campos há mais de um mês.

Roteirizado, produzido e dirigido por Aaron Seltzer e Jason Friedberg, engrossa a lista de longas-metragens sob o comando da dupla na vertente de paródias: “Uma comédia nada romântica” (“Date movie”, 2006), “Deu a louca em Hollywood” (“Epic movie”, 2007), “Espartalhões” (“Meet the spartans”, 2008) “Super-heróis e a Liga da Injustiça” (“Disaster movie”, 2008), “Os vampiros que se mordam” (“Vampires suck”, 2010) “Jogos famintos” (“Starving games”, 2013). Trata-se, portanto, de um (sub)gênero bem familiar ao público de cinema dos últimos anos no Brasil e no mundo, mas de origens mais remotas, e que, apesar de apresentar uma fórmula desgastada, poderia até render algo melhor (ou menos pior) na trama ora em questão.

Por aqui, no final dos anos 1960 e por toda a década seguinte, a partir de um formato adaptado das comédias populares italianas da época, vários filmes de baixo orçamento plasmaram o que se convencionou chamar de pornochanchada. Com o humor popularesco das chanchadas (transposições do teatro de revista para a tela grande) e a deformação da nudez e do erotismo presentes em fitas do cinema novo, alguns títulos dessa linha até pegaram carona em sucessos estrangeiros de público e crítica. Assim, “Laranja mecânica” (“A clockwork orange”, 1971), de Stanley Kubrick, e “Tubarão” (“Jaws”, 1975), de Steven Spielberg, tornaram-se “Banana mecânica” (1974), de Braz Chediak, e “Bacalhau –Bacs” (1976), de Adriano Stuart.

Na década seguinte, crises econômicas que atingiram produtores e espectadores do cinema nacional e o êxito dos Estados Unidos com filmes-catástrofe e seriados televisivos (estes, apelidados no Brasil de enlatados) passaram a trazer, com regularidade, outro tipo de sátira às salas de projeção da antiga Terra de Vera Cruz: os spoof movies. Foi a saturação da franquia Aeroporto (Airport, 1970 – longa estadunidense da linha catastrofista com três sequências até 1979) que gerou, com “Apertem os cintos… o piloto sumiu” (“Airplane!”, 1980), o filão da paródia (spoof) de arrasa-quarteirões. Juntos ou separados, os pilotos de “Airplane!” (com uma continuação, em 1982), Jim Abrahams e os irmãos Zucker (David e Jerry), assinaram as melhores produções de zombaria com o cinema-pipoca e enlatados: “Top secret!” (1984); os dois primeiros “Corra que a polícia vem aí” (“Naked gun”, 1988, 1991); “Top gang!” (“Hot shots!”, 1991).

Com prazo curto ou curtíssimo de validade, spoof movies (principalmente os deste século, impulsionados pela cinessérie “Todo mundo em pânico” (“Scary movie”), que reabilitou o subgênero, após certo recesso nos anos 1990, são como as antigas chanchadas e suas matrizes no teatro. Estas, nos palcos, passavam em revista os fatos históricos mais pitorescos — narrados nas telas, com o auxílio de marchinhas carnavalescas, por exemplo. Já os filmes de paródia, além de apresentarem piadas muitas vezes mais ao gosto do público estadunidense que ao do brasileiro — justificando-se, talvez por isso, o pífio investimento em terras tupiniquins nessa linha cinematográfica, que praticamente se restringiu a “Copa de Elite”, 2014 — muitas vezes não se concentram em produtos do gênero que anunciam parodiar (“Meet the spartans” parte de 300 somente para aludir a toda sorte de sucessos da temporada, “Date movie” não é só sobre comédias românticas…).

Neste sentido, em “Super velozes e mega furiosos”, várias referências são abrasileiradas, mesmo que ao preço da desatualização — fala-se em Ana Maria Braga, Felipe Dylon, dança da boquinha da garrafa —, e é sintomático que o longa só esteja sendo exibido em sua versão dublada em português (pretende-se, com isso, além de tudo, atingir apenas espectadores menos exigentes?). Para piorar, embora algumas atuações sejam até divertidas — caso das interpretações de Dale Pavinski, para o personagem de Vin Diesel (mais expressivo que o original!), de Andrea Navedo, para o da sua namorada durona dele e de Dio Johnson, para o do de ex-The Rock —, a trama se concentra, basicamente, nos dois primeiros episódios da franquia de que debocha, deixando de lado todas as produções que, influenciadas ou não pelo universo “Fast & furious”, surgiram ou ressurgiram desde o inicio deste milênio (“Carga explosiva”, “Corrida mortal”, “Racha”).

 

Mateusinho viu

 

Publicado hoje na Folha Dois

 

Confira o trailer do filme:

 

 

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