Há pouco tempo à frente da editoria de esportes da Folha, Aldir Sales Gomes tem se destacado, mesmo aos 22 anos, por ser um jornalista completo, cuja sensibilidade se reflete não apenas em seus textos, mas nas imagens capaz de capturar também com uma máquina fotográfica. Na junção sensibilíssima dessas duas artes, ele publicou texto e foto aqui, no coletivo fotográfico Registro Urbano Autoral (R.U.A), organizado por cinco fotógrafos, incluindo o Tércio Teixeira, profissional com experiência no Rio e São Paulo, recentemente contratado pela Folha. Curioso que, mesmo trazendo no nome sua urbanidade, o coletivo tenha abrigado os registros de uma vida rural que vai deixando de existir, submersa pelo asfalto.
Quem quiser conferir mais da arte do jovem jornalista como fotógrafo, que desceu o pé da Serra do Mar, em Conceição de Macabu, para desaguar na planície goitacá, pode fazê-lo aqui, no fotolog “Aldirzices”. Abaixo, sem destoar da letra de Vinicius de Moraes e Chico Buarque para a música de Garoto, seu registro na voz Maria Bethania e o matrimônio das imagens de Aldir:
“Tem certos dias em que penso em minha gente. E sinto assim todo meu peito se apertar”.
O trecho da música “Gente Humilde”, de Chico Buarque, praticamente diz tudo sobre essa foto. Quando se é de uma cidade pequena, algumas coisas muito simples tocam o coração. Fazia tempo que eu não tinha a oportunidade de visitar a família. Acabei sendo engolido por essas coisas de cidade grande. Chamam de correria ou rotina. Mas, dessa vez, consegui. Era a oportunidade de fazer novamente a viagem que fiz diariamente por cinco anos da minha vida.
Cada lugarzinho, cada pessoa que passa pela janela do ônibus se torna especial. Como é bela a imagem do sol se pondo sob a silhueta das montanhas. Ela está lá todos os dias, mas estava com saudades.Cada crepúsculo é como se fosse a lembrança do fim, pois ele nunca mais se repetirá, assim como todos os momentos deixados para trás.
Uma parada. Na BR-101, em Serrinha. Enquanto os passageiros embarcam, a senhora maternalmente cuida da criança, provavelmente seu neto. A distração do final de tarde é sentar em uma raiz improvisada de banquinho à margem da rodovia, vendo o ir e vir desenfreado e apressado das pessoas, enquanto eles têm o privilégio de sentir o vento no rosto. Enquanto o sol cai e leva consigo o calor de uma tarde de verão. Naquele momento, meu peito se apertou. E continua se apertando. É saudade de quando eu era esse garoto.
Hoje, a casinha não existe mais, o asfalto vai passar por cima. A árvore virou lenha, a pressa do ser humano a derrubou. Mas sempre existe um outro banquinho para se prosear. Pois as lembranças não morrem. Elas são como a senhora, nos acudem em todos os nossos finais de tarde.