Petista arrependido de primeira hora, saindo do partido logo assim que veio a furo o escândalo do “Mensalão”, em 2005, o desde então reeleito deputado federal Chico de Alencar (Psol) é figura das mais respeitadas no Congresso Nacional, tanto pelos colegas, mesmo a maioria que não goza do mesmo prestígio, quanto pelos eleitores, independente do matiz ideológico. Também historiador conceituado no meio acadêmico, foi mesclando seus conhecimentos nesta área com os do político, que ele uniu duas figuras marcantes da nossa história recente, não por coincidência em campos ideológicos diversos: o ex-presidente Jânio Quadros (1917/92) e o ex-governador Leonel de Moura Brizola (1922/2004).
Na união da “vassourinha” com que Jânio chegou um dia à presidência, ao “mar de cumplicidades” sobre o qual Brizola sempre alertava, Chico teceu um interessante artigo, publicado hoje, aqui, no Blog do Noblat. Nele, as cobranças devidas àqueles que “preferem o silêncio quando seus aliados são flagrados”, independente de serem contra ou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) — processo que, como o blogueiro Christiano Abreu Barbosa bem ressaltou aqui, já se perpetrou de maneira velada. No final, o alerta de um raro homem de bem no cenário político nacional: “Os que calam vão se encaminhando para a vala comum do lamaçal onde chafurdam quem não têm a mínima grandeza para ocupar as funções para as quais foram investidos”.
Confira abaixo a íntegra do artigo de Chico Alencar, seguido de um vídeo do pronunciamento recente do autor sobre o mesmo tema, na Câmara Federal, diante à eloquente mudez do presidente daquela Casa:
O dever de falar
Por Chico Alencar
Certa vez, lá se vão três décadas, Jânio Quadros foi indagado sobre como ele, um homem que se dizia sem grandes posses, fazia campanha à prefeitura de SP (que acabou conquistando, em 1985, ao derrotar FHC de forma surpreendente) com tanto dinheiro. Jânio respondeu com sagacidade:
— Por favor, alguém me cede um cigarro? — começou. Choveram maços sobre sua mesa.
— Também estou sem isqueiro… — continuou o ex-presidente, apalpando os bolsos do paletó. Várias pequenas chamas iluminaram seu rosto, completando a senha para sua resposta, com o inconfundível sotaque e seu dom de iludir:
— Está explicado como consigo tantos recursos, não?
Na outra ponta do espectro político, Leonel Brizola costumava dizer, quando indagado sobre como teria fundos para tantos projetos, como os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), que queria construir no Rio de Janeiro, “que os recursos estão na cabeça do bom administrador”.
Verdade ou não, esses e outros políticos ‘antigos’ sempre respondiam ao que lhes era indagado. Não fugiam da liça, bem ao contrário de Paulo Maluf, que ainda está em cena, e de várias ditas ‘lideranças’ políticas atuais. Investigações da Lava Jato? Assunto incômodo. Contas na Suíça? Deixa isso para lá.
O pior: quase todos os parlamentares, da quase totalidade dos partidos, também não se dispõem a ‘incomodar’ Suas Excelências, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. No caso de Eduardo Cunha, acusado de ser beneficiário de contas no exterior, a ‘proteção’ é edificada por razões baixas: uns se calam por considerá-lo útil ao processo de impeachment de Dilma; outros, para não melindrá-lo, evitando que, assim, ele acelere o impeachment. É também patético que não ocorra a quase ninguém que seria estranho, à luz da moralidade pública, ter um processo de cassação por supostos mal feitos coordenado por alguém que é investigado pelos Ministérios Públicos da Suíça e do Brasil por mal feitos similares aos que atingiriam o Executivo.
Diante desse “mar de cumplicidades”, expressão usada recorrentemente por Brizola, só mesmo a vassourinha de Jânio — operadas para valer, pelas mãos da indignação cidadã. Para varrer todos os que, na vida pública, preferem o silêncio quando seus aliados são flagrados.
A vida pública não comporta esse nível de degradação. Os que calam vão se encaminhando para a vala comum do lamaçal onde chafurdam quem não têm a mínima grandeza para ocupar as funções para as quais foram investidos. Logo serão cobrados pela omissão cúmplice.
Campos dos Goytacazes precisa com urgência, de homens desta estirpe.Diante do que esta posto, reservo o direito de me recolher. Não por covardia. Estamos prontos para o debate, assim como ao embate.
Muito oportuna sua observação, em especial, neste momento onde se debate, “venda do futuro”, crise econômica. Ao lembrar do grande líder Leonel Brizola, no que tange a fundo para execução de projeto, “que os recursos estão na cabeça do bom administrador”.
O que vem a corroborar com que temos dito. Nossa crise é a do pensamento. Abandonamos o modo “cabeça” de administrar. Ao invés de potencializamos o desenvolvimento de Campos com os recursos advindos do Royalties, esta pretensa facilidade, atrofiou nossas “cabeças”. O que temos? debates estéreis, acusações ao governo de tudo aquilo que a população esta careca de saber. Discuti-se nomes, nomes, nomes.E Campos onde fica nesta estória? quais os caminhos possíveis, como sairemos desta paralisia, o que faremos em termos práticos para alavancar os setores da economia? Se não dispusermos a pensar nossas perspectivas viáveis com desprendimento e grandeza. Corremos o riscos de ficarmos enxugando gelo. Urge! pensar, repensar e pesar. Acima de tudo, convidar e trazer para o debate politico, os diversos segmentos da sociedade que foram afastados pela estrutura de poder vertical.
Um bom texto, mas o meu receio e com fortes razões, pois a cada dia que passa há uma pressão cada vez maior para que se ponha uma “pá de cal” sobre todos estes escândalos!
Mas, há o outro lado, aquele que fala para pressionar, violentar a Ética, como tem sido com os líderes do PT, os líderes da Câmara e do Senado! Não há inocentes nesta história toda, é um devendo ao outro, é um jogo de intrigas no meio de muita gente sórdida!
E isto envolve os Três Poderes, os Estados e Municípios, onde temos aqui mesmo na nossa cidade tantos exemplos que se repetem como uma maldição sem fim!
João Goulart disse numa ocasião que “a indecência não tem preconceito, pode vir de qualquer partido, raça ou religião”. Acho que ele estava coberto de razão!