Pudim: “Doença” em Garotinho e “câncer” no governo Rosinha

Se alguém ainda tinha dúvida sobre o rompimento de Geraldo Pudim (PMDB) com Anthony Garotinho (PR), a quem teve como líder inconteste por 30 anos, ela desaparece após esta entrevista, primeira dada pelo deputado estadual desde que o rompimento se tornou público, em julho. Pudim não teve papas na língua ao afirmar que “o governo Rosinha está infestado de células cancerígenas em plena metástase”, ou que Wladimir tem “ranços de um garoto mimado” e atrapalhou seu pai na candidatura a governador. Sobre o próprio Garotinho, seu ex-fiel seguidor disse ser alguém incapaz de “enxergar para além da órbita do próprio umbigo”, que sofre da doença do “poder pelo poder” e não busca cura. Pudim também se postou contra a maneira como a “venda do futuro” vem sendo conduzida pelo governo Rosinha, cuja consumação foi anunciada ainda para outubro. No seu entender, a prefeita teria que vir a público “dizer que errou a mão causando esse déficit monstruoso que passa da casa de R$ 1 bilhão”. Além das críticas, o pré-candidato a prefeito do PMDB apresentou propostas, baseadas no diálogo e na transparência, para romper com a dependência dos royalties, no modelo atual de gestão que considera falido.

 

 

Geraldo Pudim

 

 

Folha da Manhã – Por que demorou tanto tempo para conceder esta entrevista, buscada desde o início de julho?

Geraldo Pudim – Bom, por dois motivos: o primeiro é a prudência. Estava ansioso para poder dar esta entrevista para falar das mudanças que vem ocorrendo na minha vida política, no entanto, me dei um período de ‘silêncio obsequioso’ na tentativa de refletir profundamente antes de falar qualquer coisa relativa a este tema. Parece que saí vitorioso e consegui reter minha ansiedade até este momento. O segundo motivo, que veio ao encontro da decisão pessoal pelo silêncio, foi a orientação das lideranças partidárias e dos meus companheiros de militância para que falássemos tão somente quando todos os detalhes da minha volta ao PMDB estivessem acertados ponto a ponto, nos mínimos detalhes. Este segundo motivo foi que me deu mais certeza de que o silêncio seria uma provação ao ímpeto de todo e qualquer político: falar e expor suas ideias à população.

 

Folha – Em entrevista exclusiva à Folha, o presidente fluminense do PMDB e da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Jorge Picciani, disse (aqui): “o deputado Pudim será o candidato do PMDB (a prefeito) em Campos”. Será? Por quê?

Pudim – Sem dúvida acho que preencho o leque de qualidades necessárias para estar à frente da gestão da minha cidade. Anos e anos de política me prepararam para tanto. Fui vereador, vice-prefeito, deputado federal e atualmente estou em meu segundo mandato no parlamento estadual. Isso só para citar os cargos eletivos. Querer ser prefeito é legitimo, e estar preparado é uma obrigação. Me sinto preparado para apresentar meu nome como pré-candidato dentro do partido. Ninguém ainda é candidato. Todos precisam se viabilizar. Minha história me credencia para colocar meu nome em pauta. As pesquisas que temos nas mãos apontam meu nome como um dos três favoritos na disputa. Não serei candidato apenas para satisfazer um desejo pessoal. Se assim o fizesse seria apenas mais um vaidoso. Me coloco como pré-candidato com a consciência do tamanho do desafio que será gerir Campos, que apresenta um quadro complexo sobretudo quando se fala de gestão e transparência. Se depender do PMDB e do presidente Picciani, serei candidato. Agradeço essa confiança, mas o PMDB vai me acompanhar neste desafio se meu nome se mostrar viável, como tem sido até agora. O PMDB vê em Campos uma cidade estratégica no tabuleiro político nacional e isso é fundamental. Ter um prefeito do PMDB é devolver a Campos seu status original ante a lideranças nacionais e estaduais, o que poderá viabilizar trânsito político e grandes investimentos, coisas das quais nossa cidade está carente. É preciso construir pontes e não muros.

 

Folha – Outro entrevistado da Folha, o senador Romário (PSB), político mais votado pelos campistas em 3 de outubro de 2014, disse (aqui) que mesmo o carisma dele não bastaria para eleger seu pré-candidato Gil Vianna (PSB) prefeito de Campos. Se com votação de 106.953 campistas na última eleição, Romário disse isso, o que bastaria para alguém cujo principal cabo eleitoral é Picciani, a quem Campos deu apenas 34 votos para deputado estadual, no mesmo pleito?

Pudim – O senador Romário fez uma análise correta, se restringirmos esta análise ao PSB. Gil é um grande quadro, um homem sério que tem amor e devoção por esta cidade, e o senador Romário tem feito um excelente trabalho, mas não se pode ignorar o peso nem a experiência do PMDB. Picciani, Pezão, Paes e tantos outros estão debruçados na disputa aqui de Campos. A capacidade de articulação do PMDB é muito grande. Vide o exemplo do Governo Federal, onde o PMDB ocupa cargos de extrema relevância política. No Estado, o governador Pezão começou sua corrida para o Palácio Guanabara com apenas 2% das intenções de voto e sagrou-se vitorioso. Picciani conseguiu eleger a si próprio e ao filho como deputados estaduais, além do filho mais velho deputado federal e líder do PMDB na Câmara dos Deputados. Não podemos, nem devemos subestimar a capacidade de articulação do PMDB. Seu histórico de vitórias é incontestável.

 

Folha – No domingo seguinte à publicação de Picciani fechar apoio a você, a Folha entrevistou o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) que pareceu jogar água fria sobre qualquer definição, ao dizer (aqui): “Nenhuma decisão será tomada ou anunciada unilateralmente. Quando chegar o momento certo, vamos anunciar nosso apoio”. Entre um e outro, com quem ficar? E por quê?

Pudim – Pezão está certo. A decisão final sobre os caminhos do PMDB levará em consideração muitos fatores. Um desses fatores é o nome do postulante se mostrar viável nas pesquisas. Neste momento tenho trabalhado para que, na hora da decisão, meu nome seja o mais viável. Até lá, todos que caminharam com Pezão farão o mesmo, e estão certos ao fazê-lo. Não tenho dúvida de que quando o governador bater o martelo sobre o nome a ser apoiado, teremos um quadro maravilhoso no que diz respeito ao arco de alianças. Meu desafio é auxiliar o PMDB nesta construção e dirimir qualquer dúvida que possa haver sobre o nome do cabeça de chapa.

 

Folha – Antes da entrevista à Folha, num encontro com o deputado estadual Comte Bittencourt (PPS), junto do vereador e também pré-candidato a prefeito Rafael Diniz (PPS), Pezão disse (aqui): “Tenho compromisso não só com a eleição a prefeito de Campos, como em apoiar nela quem caminhou comigo ao governo do Estado”. Você apoiou Garotinho no primeiro turno a governador e Marcello Crivela (PRB), no segundo. Dá para chegar agora e sentar na janela?

Pudim – Não existe isso de sentar na janela. Política não é algo tão simples. Como disse anteriormente, Pezão apoiará o nome que se mostrar mais viável no momento da decisão. Quem caminhou com Pezão nas eleições será acolhido e prestigiado, e terá o apoio de outrora honrado no arco de alianças. Ter apoiado Garotinho ou Crivella em determinado momento, não me inviabiliza como candidato do PMDB. Política é a arte de conciliar os interesses dos diversos setores da sociedade através de seus respectivos representantes. Todos estamos em busca do consenso e é pelo consenso que se definirá o nome.

 

Folha – Na pesquisa mais recente, feita pelo instituto Pappel (aqui), na segunda quinzena de agosto, você ficou em quinto nas intenções de voto da consulta estimulada, com 6,93%, atrás do ex-prefeito Arnaldo Vianna (PDT), com 21,21%; do vereador Alexandre “Tô Contigo” Tadeu (PRB), com 10,21%;  de Rafael Diniz, com 8,21%; e do deputado estadual João Peixoto (PSDC), com 7,43%. Não é pouco para um deputado estadual, ex-federal, com o recall de duas eleições disputadas a prefeito de Campos, em 2004 e 2006, ambas perdidas só no segundo turno?

Pudim – Como disse Pezão começou com 2% das intenções de votos e hoje nos governa. A Dilma se elegeu tendo também números inexpressivos nas pesquisas. Os números iniciais apontam tendências, mas não são absolutos. Na quantitativa que fizemos pelo PMDB figuro entre os três primeiros, não é definitivo, mas orienta quais medidas tomar para tornar o nome o mais competitivo. Números não definem eleição. Trabalho define. E se depender de trabalho temos muito o que mostrar e o que fazer.

 

Folha – Por falar em segundo turno, além de melhorar nas intenções de votos para tentar chegar lá, o quesito fundamental na sua definição parece ser seu maior problema, já que na mesma pesquisa do Pappel você apareceu liderando a rejeição, com 16,5%, bem acima do segundo, Arnaldo, com 9,93%. Como convencer aos antigarotistas que você não será um “Cavalo de Tróia” e ao meso tempo desmanchar a imagem de Joaquim Silvério dos Reis diante dos rosáceos?

Pudim – Os anos que permaneci naquele grupo, mesmo não concordando com uma ou outra coisa, mas sim em um projeto maior, é o que referenda meu rompimento. Não deixaria anos de história política por qualquer desavença. O grau de desentendimento político-ideológico foi de tal grandeza que o rompimento se mostrou a única saída. Minha postura reta e leal aos meus ideais todos esses anos provam que quando rompi, o fiz para valer. Rompi após profunda reflexão, não tomei uma decisão emocional. Meu compromisso com a população não me dá ao luxo de tomar decisões baseada apenas em laços de amizade. Quem não está disposto a ouvir as verdades ditas por um amigo, não merece a amizade que tem. Garotinho e Rosinha levaram isso para lado pessoal, quanto a isso não posso fazer nada. O compromisso com meus ideais fala mais alto. O governo Rosinha está infestado de células cancerígenas em plena metástase. Quando o paciente se recusa em se tratar, não há mais nada que o médico possa fazer. Pouco a pouco as pessoas sérias daquele governo estão abandonando o barco. Sérgio Mendes, Arnaldo Viana, Alexandre Mocaiber, Roberto Henriques, todos esses romperam e não foram considerados cavalos de Tróia. Os que tentam colar em mim são os mesmos que tem medo da minha candidatura, mas com tempo essa tensão irá se diluir, verão que minhas práticas e atitudes são alinhadas com meu discurso.

 

Folha – A conversa na qual você definiu sua saída do grupo de Garotinho foi não com ele, mas com a prefeita Rosinha (PR), num encontro intermediado pelo deputado federal Paulo Feijó (PR), no qual ela lhe teria dito alhos e bugalhos. Foi um encontro difícil?

Pudim – Conheço Rosinha bem antes de conhecer Garotinho. A conversa com ela foi uma das mais duras e difíceis que tive na vida, afinal, não se rompe antigos laços sem que haja efeitos colaterais. Temos muita história juntos para que um rompimento desta natureza se dê de forma tranquila, sempre sobrarão lacerações para ambos os lados. No entanto, seguir as próprias convicções é uma caminhada, às vezes, solitária, e todos que seguem suas convicções tem que estar dispostos a sofrer as consequências de seguir o caminho que se acha o correto. Graças a Deus, neste momento, vi que há mais pessoas que me apoiam do eu pensava. Sou abençoado por ter companheiros e amigos que, assim como eu, vislumbraram outro caminho, para não ter que se desviar de seus ideais.

 

Folha – São muitas também as versões de bastidores sobre sua polarização interna com Wladimir Garotinho (PR), durante a campanha de 2014, pelo apoio dele à candidatura de Bruno Dauaire (PR) a deputado estadual, que acabou se elegendo com votação maior que a sua. Disse-me-disse ao largo, é correto supor que você saiu do grupo por perder nele espaço, tomado pela segunda geração dos Garotinho? Quem ficou da sua geração pode enfrentar o mesmo problema?

Pudim – Wladimir é um menino que vi crescer. Sempre foi muito querido pelas pessoas, mas ainda não está preparado para os desafios da política que exigem mais que um sobrenome para serem superados. Talvez crescer com os pais sendo governadores tenha lhe deixado ranços de um garoto mimado, que tem dificuldades em ser contrariado. Quando ele não pôde ser candidato, para não atrapalhar as várias candidaturas a deputado aqui de Campos, ele achou que foi prejudicado. Não entendeu o momento, agiu com ansiedade típica da juventude e se atropelou neste processo. Trabalhou internamente para minha derrocada, passou por cima de acordos que atrapalharam outros candidatos e principalmente a do pai ao governo do Estado. Quis mostrar força sem ter. Pagará um preço alto por isso. Meu rompimento com aquele grupo político nada tem a ver com desentendimentos com Wladimir, se assim o fizesse seria dar a ele uma importância política que ainda não tem.

 

Folha – Na rádio do seu grupo de comunicação, Garotinho dizia (aqui) desde julho, sobre a sua saída: “Não fiquei triste por perder um aliado político, porque eleição nunca foi o forte dele, mas por ter perdido um irmão (…) Você não me apunhalou pelas costas, porque isso seria traição política, você me apunhalou no peito”. Em contrapartida, usando as redes sociais, você só o respondeu (aqui) em setembro, após ele ameaçar seu mandato de deputado: “só o vejo como um ator em final de carreira em busca do brilho que já não terá mais”. Por que a demora?

Pudim – Como disse sempre fui firme em minhas convicções e não romperia velhos laços apenas por pequenos desentendimentos. Foi preciso maturar a ideia, consultar a família, os amigos e os companheiros de militância. Passei horas e horas em silêncio até que viesse a público anunciar o rompimento. Na minha idade, não há espaço para decisões sem o mínimo de reflexão. Há algum tempo vinha alertando Garotinho acerca dos rumos do grupo político, sobre a natureza das alianças, sobre os verdadeiros ideais que nos fizeram ingressar na política. Quando percebi que ele não estava ouvindo nem mais os amigos, vi que meu ciclo ali tinha acabado. Quem é contaminado pela doença do poder dificilmente pode enxergar para além da órbita do próprio umbigo e assim foi Garotinho.

 

Folha – Garotinho também disse: “Pudim pode pensar que a minha trajetória acabou. Mas quero lembrar que tenho 55 anos e fé em um Deus que é enorme”. Ao que você respondeu dois meses depois: “É sempre duro ver alguém com tanto potencial jogar toda sua história no lixo (…) Espero em Deus, pois já não me restam forças para tal, que te cure da doença provocada pela busca insana pelo poder”. Derrotado no primeiro turno da eleição a governador, e no segundo, apoiando Crivella, em cinco das sete zonas eleitorais de Campos (aqui), essa decadência de Garotinho tem cura?

Pudim – A decadência não é uma doença em si, mas sintoma de uma doença política que é a busca do poder pelo poder. De nada serve o poder se não há projeto, objetivo, perspectiva. Quando se busca o poder apenas para mantê-lo em suas mãos identificamos a doença, neste caso, compulsão. A cura é só para quem quer ser curado, e não acredito que Garotinho tenha pretensão de livrar-se dessa enfermidade, infelizmente.

 

Folha – Além de você, quase todos os outros pré-candidatos a prefeito da oposição são dissidentes dos Garotinho, como Arnaldo e, mais recentemente, Gil e Tô Contigo. Mesmo Rafael tem como presidente municipal do seu PPS o ex-prefeito Sérgio Mendes, eleito e depois defenestrado por Garotinho. Sem contar dentro da própria família, com as rupturas de Nelson e Helinho Nahim (DEM), além de Gustavo Matheus (PV). Na mata, debandada é sinal de incêndio. E na política?

Pudim – Na mata debandada às vezes é incêndio. Nesse caso acredito que Garotinho é o elemento que desequilibra o ecossistema político. Para manter a metáfora, podemos dizer que os diferentes seres desse ecossistema perceberam este desequilíbrio e afastaram-se daquilo que seus instintos identificaram como agente nocivo à sobrevivência da boa política.

 

Folha – A Folha vem fazendo uma série diária de matérias, ouvindo especialistas de cada área, para apontar princípios à próxima administração municipal. Em resumo, quais seus compromissos em questões como dependência dos royalties, transparência de governo, enxugamento da máquina, infraestrutura, comércio, indústria, agropecuária, cultura, esportes e lazer, sem contar os quadros falimentares de saúde e da educação, na qual Campos amarga a pior posição entre os 92 municípios fluminenses?

Pudim – O próximo gestor de Campos tem que ter característica conciliadora. A capacidade de diálogo com os diversos setores da política e da sociedade civil organizada é ponto chave para enfrentar a crise e traçar os novos rumos. As alianças entre os partidos devem ser de natureza programática e não um sorteio de cargos para viabilizar votações favoráveis na Câmara de Vereadores. Partindo desse princípio, penso em extrair de cada partido o seu melhor naquilo que é sua vocação. Sobre a dependência dos royalties penso que o modelo atual de gestão faliu. O uso dos royalties tem que estar focado na estruturação da cidade para que seja mais atrativa aos investidores. Uma boa medida será criar um comitê gestor dos royalties no qual tenham assento as universidades com seus técnicos, as forças políticas e a sociedade civil organizada. Tem que haver gestão participativa. Um dos desafios de Campos, e que influencia diretamente a economia é a mobilidade urbana. Campos, uma cidade com mais de 4000 km² não pode ter a parca estrutura de transporte público que tem. Não basta só passagem ser R$ 1,00 se temos uma cobertura de ônibus que não acompanhou o crescimento da cidade nos últimos anos. Corredores como Saldanha Marinho, Tenente Coronel Cardoso, Gilberto Cardoso, Felipe Uébe, não tem cobertura de ônibus. Campos não tem terminais que façam a interligação de linhas. Quem vem de Travessão e precisa ir para Goytacazes, paga duas passagens quando poderia pagar somente uma. Isso encarece o custo para as empresas e diminui a capacidade de investimentos, sem falar que atrapalha o fluxo de pessoas na cidade. Campos não tem ônibus 24h. Por quê? São coisas assim que dificultam o desenvolvimento da cidade. Quando se fala em cultura, esporte e lazer a coisa fica pior. Não há estimulo ao uso de equipamentos públicos. As pessoas residem na cidade, mas não vivem a cidade de fato. Por que não fazemos como no Rio de Janeiro e fechamos algumas ruas no final de semana para que as pessoas possam praticar atividades físicas? Temos uma orla lindíssima do Rio Paraíba que usamos como terminal rodoviário. Em que cidade do mundo isso acontece? É um absurdo. Campos precisa ter uma política de cultura que evoque nossas mais profundas raízes, prestigie as pratas da casa, crie festivais. O Cepop, uma obra monumental, não possui um calendário decente de eventos. Não pode um prédio público daquela dimensão ficar relegado a receber tão somente superproduções, cobrando ingressos caríssimos e excluindo grande parte da população. Não pode o Trianon não celebrar editais para que peças de produção campista possam utilizar aquele espaço. Não pode haver preços tão caros nos ingressos do teatro. Isso divide a cidade em: aqueles que podem pagar versus aqueles que não podem. Na Saúde falta gestão e fiscalização. Temos uma capacidade instalada de UBS’s e hospitais que é muito grande, mas muito mal geridas. Com gestão, se resolve a maioria dos problemas, sem precisar fazer pirotecnia e gastar rios de dinheiro. O Conselho de Saúde tem que funcionar, tem que ouvir as demandas. Não dá para fazer uma gestão de uma cidade das proporções de Campos sem diálogo com a sociedade e sobretudo planejamento. Tantos investimentos em obras de infraestrutura, mas que o povo não toma pertencimento, pois não são executadas no prazo, os valores são muito altos e a qualidade duvidosa. Isso só se corrige com gestão e transparência.

 

Folha – Chamada pelo povo de “venda do futuro”, a antecipação das receitas do município foi reprovada por 88,7% dos campistas, em pesquisa do instituto Pro4 (aqui), rejeição muito próxima à registrada em enquetes da Folha Online (85%) e da InterTV (90%). Anda assim, na ordem de até R$ 1,2 bilhão, a polêmica operação foi aprovada a mando dos Garotinho, em sessão da Câmara de 10 de junho, julgada ilegal pela Justiça, mas aprovada novamente no último dia 17. Sem tergiversar, qual sua opinião a respeito?

Pudim – Da forma como esse empréstimo está se dando sou contra. Compreendo que os municípios e estados que recebem royalties estão sofrendo impactos substanciais em suas contas. Porém, há municípios, a exemplo do Rio de Janeiro, que não sentiram esse impacto, porque tem praticado o que é moderno na administração pública, tem feito um governo com gestão e transparência. Talvez se a prefeita tivesse a humildade de vir a público dizer que errou a mão causando esse déficit monstruoso que passa da casa de 1 bilhão de reais e mostrasse a população com transparência a aplicação destes recursos, o povo poderia perdoá-la e entender a necessidade desse da antecipação dos royalties.

 

Folha – Perguntado sobre a posição assumida por Pezão em apoio à oposição em Campos, no encontro com Comte e Rafael, Picciani analisou e garantiu: “É natural que, numa eleição de dois turnos, os partidos trabalhem para firmar suas candidaturas. Mas, certamente, no fim da jornada, estaremos todos juntos”. Se você não estiver num segundo turno entre oposição e situação, seu apoio à primeira é uma certeza?

Pudim – Permanecerei na oposição. Como falei anteriormente, as alianças não são de natureza pessoal. As alianças são construídas, inicialmente, na convergência de projetos para Campos. Construindo uma aliança que aglutine projetos, avançamos para uma aliança eleitoral na oposição. Sendo possível esta construção caminharemos juntos, do contrário ficarei neutro.

 

Publicado hoje na Folha da Manhã

 

Poema do domingo — Das coisas findas, muito mais que lindas

“Mas as coisas findas / muito mais que lindas / essas ficarão”. Eram os últimos versos do poema “Memória”, de Carlos Drummond de Andrade (1902/87), pintados na parede de uma varanda que o mar levou em Atfona, mas não da memória de quem viu.

O homem ainda jovem pensava naqueles versos impressos junto à foz do Paraíba do Sul, quando subiu o rio e a serra, num feriado de semana santa, até um morro nos arredores de Cambuci, onde conheceu Edil, negro esguio, elegante e gentilíssimo. Sem nunca antes tê-lo visto, ele o recebeu com uma delicadeza que não faria feio a nenhuma rainha da Inglaterra.

De fato, o visitante ocasional nunca vira tanto acolhimento e asseio como naquela cabana humilde de pau a pique. Em seu interior, panelas, frigideiras e bule areados à exaustão brilhavam à espera de qualquer convidado para uma caneca de café quente e um dedo de prosa.

No desabrir generoso dos solitários, Edil falou das coisas da vida e do mundo, prenhe de doçura e sabedoria. Morreu alguns anos depois, ao cumprir sua própria Paixão. E, findo, ficou na memória e nos versos de quem salvou naquele momento singelo de fé restituída no homem.

 

 

Cristo negro

 

 

sexta-feira santa

(p/ edil)

 

mijo espumando

pedra de índio

negro no sítio

com café na garrafa

e panela areada

à espera de alguém

sítio no morro

que já foi do índio

hoje do quase branco

que cerca o barranco

barranco da pedra

morro da santa

bife na mesa

não na panela areada

do negro do morro

que o rio contorna

no curso da mente

onde coisas pequenas

para quem sabe que acaba

duram pra sempre

 

cambuci, 11/04/98

 

Ainda FDP! — Para o tímido, a libertação; para o exibido, a glória

Ao reverberar no leito da cultura de Campos o impacto do Festival Doces Palavras (FDP!), realizado entre a quarta-feira (23) e domingo (27) da semana passada, o blog reproduziu alguns textos publicados na Folha da Manhã no correr desta semana. Da abertura do “Ponto Final” (aqui) da edição de terça, à crônica do escritor capixaba Fabio Bottrel (aqui) e do artigo do advogado e blogueiro José Paes Neto (aqui), publicados ambos na quinta, ao artigo de sexta do vereador e pré-candidato a prefeito Rafael Diniz (aqui), este “Opiniões” cometeu a falha imperdoável de não reproduzir também o belo misto de artigo e crônica de Sérgio Arruda de Moura, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), em sua coluna semanal “Paralaxe”, publicada toda sexta na Folha Dois.

Mais atento, o grande idealizador do FDP!, o também professor Vitor Menezes, fez aqui o registro devido do refexivo texto de Sérgio, das páginas da Folha à democracia irrefreável das redes sociais, que o blog agora pede licença, antes tarde do que nunca, para também ecoar:

 

 

coreto do Liceu

 

 

Professor Sérgio Arruda de Moura
Professor Sérgio Arruda de Moura

O coreto e a praça

 

A última semana em Campos serviu a muitos propósitos, um deles mostrar a cidade iluminada à noite no seu endereço mais nobre: a praça do Liceu. Espaço privilegiado da cidade, esta praça não está sozinha, acompanhada que se encontra do galante Liceu de Artes e Humanidade, da formosa Casa de Cultura Villa Maria, da majestosa Câmara dos Vereadores e da laboriosa sede da OAB na cidade. O motivo: servir de espaço ao mais novo item de consumo cultural, intelectual e artístico da região, o Festival Doces Palavras.

Segundo a cabeça iluminada de seu criador, o jornalista Vitor Menezes, mais que uma festa do livro ou uma bienal, que aliás já temos, é um Festival múltiplo que venha conjugara arte da palavra com a arte do doce, talento mais que provado da cidade. E não só isso: a reinterpretação acadêmica e memorialista de sua história, a reflexão política de suas contradições, a retomada da voz aos que se encontravam calados.

A praça e o coreto de Campos voltam a simbolizar mais intensamente, no intenso papel de trânsito que têm na cidade. A praça, que tem função de confraternização, harmonia e encontro — função que acaba sendo vital se considerarmos a cidade como organismo vivo e pulsante — volta a ouvir a banda passar. O coreto, então, é o coração dela, de onde também reverberam os acordes da charanga, da guitarra, da sanfona. É praça e, definitivamente, do povo.

Viajando por esse Brasil afora, a cena se repete: tanto é a praça quanto o coreto, dispositivos de vida e de pulsação. Em muitas cidades o único aparelho cultural a disposição democraticamente. Não tirem a praça do povo nem o coreto, porque é lá onde tudo se resolve e se intensifica. A praça é o antigo chão do nascimento da cidade, e o coreto o batistério.

Em Campos também foi assim: uma praça, antigo jardim de uma casa burguesa ou aristocrática, e bem no centro o coreto. É assim que a cidade acaba consagrando, ao lado da igreja, mais uma de suas principais devoções: o entretenimento.

Pelo que vimos durante o Festival Doces Palavras, podemos fazer uma ideia precisa do que o coreto significou para a cidade durante os séculos. O coreto é a boa intenção da festa, é o lugar da melhor festa. É o primeiro indício de que a cidade é boa, apresentando-se ao visitante e ao seu nativo habitante como uma casinha sem paredes, santificada no alto, democrática, portanto sem portas e sem janelas, nem fechadas nem abertas. O coreto é um bem tombado desde sempre no coração do povo.

E Campos dos Goytacazes é assim: uma cidade de janelas e portas abertas, especialmente com tantas varandas naturais debruçadas sobre o rio Paraíba, de largura e extensão tão majestosa, que acaba levando consigo a cidade para outros recantos.

Cidade bem recortada, Campos não tem apenas um coreto e uma praça. Outros espaços como o coreto do jardim São Benedito, o chafariz da praça São Salvador, o palácio da Cultura, auditórios universitários, centro de Convenções e passarela do samba são sintomas do que se faz por cá.

Tantos lugares aprazíveis e práticos dão bem uma ideia das diversas salas de estar de que a cidade dispõe. Daí a acolher um Festival são só o projeto e o esforço que ficam faltando.

E esse esforço resultou no Festival Doces Palavras, pelas mãos fortes da Associação de Imprensa Campista, da Academia Campista de Letras e da administração pública.

Os exemplos de festivais como esse vêm de longa data, e de lugares os mais distantes. Como disse bem claramente o presidente da Academia Campista de Letras, o professor Hélio Coelho, precisamos saber quem fomos e o que somos para sabermos também o que seremos.

Estavam lá para confirmar isso tanto o aluno quanto a autoridade; tanto a dona de casa quanto a professora; tanto os autores de livros quanto os que por eles se interessaram. E eles serão mais nas próximas edições.

A cidade de campos dos Goytacazes consagrou o espaço reinterpretando seu compromisso e sua responsabilidade de liderança cultural e histórica. Foi assim que a primeira edição do Festival Doces Palavras, no seu inconformismo, se lançou no futuro. O coreto abriu o sorriso do homem comum e do incomum. Voltou a ser o lugar da melhor exibição. Para o tímido, foi a libertação interior; para o exibido, a glória dos salões. Todos tiveram o seu momento. Tivemos cantores, declamadores, músicos, intérpretes os mais diversos. E o coreto não ficou mudo.

 

Publicado na sexta (02) na Folha Dois

 

Ainda FDP! — Na dúvida entre o político e o cidadão, certeza para 2017

Depois do “Ponto Final” (aqui), do escritor Fabio Bottrel (aqui) e do advogado e blogueiro José Paes Neto (aqui), hoje foi a vez do vereador e pré-candidato a prefeito Rafael Diniz (PPS) usar as páginas da Folha da Manhã para tecer em artigo suas impressões sobre o Festival Doces Palavras (FDP!), celebrado na praça do Liceu e seu entorno, entre a quarta-feira (23) e o domingo (27) da semana passada. Na dúvida do que há entre o cidadão e o político na fala de Rafael, uma certeza benfazeja: quem quer que vença a eleição a prefeito em 2016, o FDP! esta garantido para 2017.

 

 

FDP! Rodrigo Silveira 1
FDP! pela lente do repórter fotográfico Rodrigo Silveira (Folha da Manhã)

 

 

Rafael Diniz, vereador e pré-candidato a prefeito
Rafael Diniz, vereador e pré-candidato a prefeito

Lições deixadas pelo Festival Doces Palavras

Na última semana Campos recebeu o Festival Doces Palavras, evento que misturou poesia, literatura, música, bebidas e doces típicos da nossa planície, movimentando a cidade durante cinco dias com as mais variadas atividades culturais. Com inúmeras oficinas, o festival também incentivou o micro empreendedorismo local, uma ação inteligente que faz diferença, principalmente em tempos de “crise”. Gostaria de parabenizar a Academia Campista de Letras (ACL), a Associação de Imprensa Campista (AIC) e a Companhia de Desenvolvimento do Município de Campos (Codemca), que foram as instituições responsáveis pela realização do festival. Como vereador e cidadão campista, além de estar sempre cumprindo meu papel de fiscalizar e apontar os erros da atual gestão, também considero importante elogiar as boas iniciativas apoiadas pelo governo, nas poucas vezes em que aparecem.

Já que vivemos um momento que demanda, urgentemente, uma gestão mais eficiente dos gastos públicos, investimentos sérios em cultura e turismo podem ser capazes de gerar uma significativa fonte de arrecadação de receitas para o município. Nossa cidade possui equipamentos culturais de alta qualidade que não recebem o investimento devido, nem contam com um verdadeiro projeto de incentivo ao consumo e à preservação do patrimônio cultural campista.

Seria possível pensar em uma agenda de eventos que movimentasse a cidade economicamente, com a atração de turistas de toda a região. Festivais de música, cinema, teatro, dança, gastronomia, feiras de artesanato local, são algumas ideias que podem ser colocadas em prática nos próximos anos. Outra ideia seria aproveitar o potencial natural da nossa cidade. Devemos usufruir de nossas praias para além do turismo sazonal do período do veraneio, com o estímulo aos esportes aquáticos, tais como surf, vela e bodyboard. Além de tudo isso, Campos possui a Lagoa de Cima, a Lagoa Feia, as lindas cachoeiras e trilhas do Imbé e o Morro do Itaoca, muito utilizado para a prática de esportes radicais. Potencial não nos falta, o que falta é competência e criatividade.

Que o Festival Doces Palavras possa retornar no ano de 2017 com sucesso redobrado e, esperamos todos, acompanhado de uma gestão administrativa bem mais interessada em aproveitar o riquíssimo potencial cultural e turístico de nossa região.

Publicado hoje na Folha da Manhã

FDP! sem montanhas de dinheiro público para valorizar artistas e cultura locais

Ontem, foi a vez do blog publicar aqui o relato sensível do escritor capixava Fabio Bottrel, sobre o Festival Doces Palavras (FDP!). Pois hoje, na face complementar da mesma moeda,  foi a vez do advogado e blogueiro José Paes Neto também analisar o evento, que se estendeu de quarta (23) a domingo (27) da semana passada, mas sob um olhar mais pragmático, seja por confessamente mais atraído pelos doces do que palavras, seja por enxergar a necessidade de manutenção de iniciativas da mesma natureza no intuito de reeducar um público já acostumado com  “shows de qualidade duvidosa, que serviram apenas para tirar milhões de reais da nossa economia”, na política do “pão e circo” desavexadamente encampada pelo governo Rosinha Garotinho (PR) e seu braço direto naquilo que um dia foi a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima.

Tanto o texto de Bottrel, quando o de Zé Paes foram publicados na edição de hoje da Folha. Sem mais delongas, passemos abaixo à reprodução também virtual do segundo:

 

 

Belo caldo de doces, palavras, música e artesanato no FDP! (foto de Rodrigo Silveira - Folha da Manhã)
Belo caldo de doces, palavras, música e artesanato no FDP! (foto de Rodrigo Silveira – Folha da Manhã)

 

 

José Paes Neto, advogado e blogueiro
José Paes Neto, advogado e blogueiro

Doces palavras

 

A questão da cultura em Campos é um tema recorrente em meus artigos, sobretudo para questionar a política de shows milionários que há anos é praticada em nosso município, governo após governo, em detrimento da valorização dos artistas locais. Por isso, não poderia deixar passar a oportunidade de parabenizar os organizadores do Festival Doces Palavras, que terminou no último final de semana, em especial a Associação de Imprensa Campista e a Academia Campista de Letras.

Confesso que para mim os doces foram e são mais atraentes que as palavras, e que minha atenção ao festival se deu muito mais por conta deles. Mas não se pode negar que a mescla entre os dois, somados à música e ao artesanato, deu um belo caldo. Algo completamente diferenciado dos demais eventos artísticos gratuitos que costumam acontecer na cidade.

Não participei de todos os dias do evento, mas do pouco que presenciei, deu gosto de ver, como bem dito (aqui) pelo jornalista Aluysio Abreu Barbosa, a efervescência cultural que tomou conta do entorno da praça do Liceu.

Mas doces e palavras à parte, para mim, o mais importante que fica do Festival é a constatação de que se pode fazer eventos culturais de qualidade, baratos, sem dispêndio de montanhas de dinheiro público e, sobretudo, valorizando os artistas e a cultura locais. Importante notar, também, como a parceria republicana entre governo e iniciativa privada, sem vícios e imposições, pode gerar bons frutos para a administração da nossa cidade.

Como bem salientado por Aluysio, a presença do público poderia ter sido proporcional à efervescência do evento. É curioso mesmo que pessoas ligadas à cultura não tenham comparecido. Mas me parece natural que isso tenha ocorrido. Talvez estejamos cobrando demais de quem durante anos foi privado da cultura local, obrigado a conviver com shows de qualidade duvidosa, que serviram apenas para tirar milhões de reais da nossa economia.

Enfim, foi apenas a primeira edição do festival que, não tenho dúvidas, se consolidará no calendário campista e servirá de estímulo para que outras manifestações culturais locais ganhem espaço no município. Parabéns, uma vez mais, aos organizadores do evento, que nunca desistiram da cultura local.

 

Publicado hoje, na Folha da Manhã