Campos dos Goytacazes, 29/06/2018
Poema do domingo — À deriva da última tarde do ano
Era o último dia daquele 2013. O ano não havia sido dos melhores, mas tampouco dos piores, sobretudo pelo que deixara em definitivo para trás. Ademais, o novo calendário que se iniciaria a partir do dia seguinte traria uma Copa de Mundo de futebol no Brasil, a primeira desde a tragédia de 1950, e a chance de reconhecer nas urnas a falência do lulopetismo, alternando democraticamente o desastroso governo Dilma Rousseff.
Não fosse mais nada, estava no Rio, no enclave de pedra do Arpoador de Cazuza, entre Ipanema e a Copacabana que seria palco, a poucas horas, de um dos réveillons mais concorridos do mundo. Com o pote coletivo dos adultos perto de encher precocemente com os chopes do Informalzinho na Francisco Otaviano, que depois se mudaria dali, veio a sábia sugestão ao grupo, que as crianças adoraram, para tomarem um banho de mar todos naquele final de tarde, visando recobrar forças antes de uma noite e madrugada que prometiam.
Como seu filho já era adolescente e bom nadador, o deixou com os outros dois amigos adultos e seus respectivos filhos, ainda crianças, à beira da praia. Afastou-se deles em braçadas lentas até a parte mais solitária e profunda do Arpoador. Após nadar aluns minutos mirando às ilhas Cagarras, se virou e divisou seu grupo quase indistinto pela distância e luz já escassa, com crianças, adolescentes e adultos brincando em meio a outros banhistas, na comunhão praiana da parte mais rasa.
Relaxou o corpo com aquela visão, deixando-se boiar no leito sereno do mar, inebriado pelas carícias de Iemanjá sobre seu corpo e cabelos, “à deriva da última tarde do ano”. Antítese do João Valentão de Caymmi, só despertou dos sonhos do “sono dos peixes” quando as gotas gordas de chuva caíram sobre os olhos cerrados e escorreram pela boca semiaberta, lavando com água doce o sal dos seus lábios.
Olhou para a praia e seu grupo ainda estava lá. Virou-se de bruços sobre o mar, quebrou a coluna em ângulo de 90º e, com a experiência dos mergulhadores, deixou a gravidade levar-lhe naturalmente às profundezas. Doídos pela pressão que aumentava a cada metro de água vencido pelo movimento grave das pernas, os tímpanos ficaram atentos ao barulho próximo do motor a diesel de uma embarcação no final do horizonte.
Mais guiado pelo tato que pela visão, penetrando a água escura perto do pôr do sol, percebeu ter chegado ao fundo. Tomou um punhado da sua areia com a mão direita, verbalizou em sua mente o que tinha de dizer a quem achou que devia ouvir e voltou sem pressa à superfície. Só lá abriu os dedos para ver escorrer entre eles a areia liberta lentamente de volta ao oceano. Purificado nesse rito todo pessoal, nadou de volta à praia, em direção a mais um ano.
Como na música cantada pela filha de quem compôs ambas, emergiu do mar um homem que não precisava mais dormir pra sonhar…
réveillon
dorso sobre o dorso das ondas
calmas, d’além da arrebentação
arrepiou ao cafuné de iemanjás
à deriva da última tarde do ano
despertou do sono dos peixes
na fisga doce da chuva à boca
mas joão, com valentia de água
sonhou acordado todas as cores
arpoador trespassou sua alma
em oferenda na ponta da pedra
e seu corpo no tato de um cego
doeu ouvidos atentos ao barco
pegou a areia do fundo na mão
rio, 02/01/14
Editorial da capa da Folha — Princípios, meio e fim
Transparência, planejamento, eficiência, diálogo e parcerias. Saia de um governo municipal carente destes princípios, ou da sua oposição, é isso que se esperam do próximo prefeito de Campos não só sua população, como especialistas de cada área ouvidos pela Folha da Manhã numa série diária de reportagens, publicada ao longo dos últimos quatro meses.
Mapeados não só os problemas, mas sugeridas soluções por profissionais dotados de excelência técnica para tanto, as editorias de Geral, Economia, Política, Folha Dois e Esportes reuniram todo o material num documento conjunto. É este que será entregue pessoalmente aos representantes de cada um dos pré-candidatos a prefeito de Campos, na próxima quinta-feira, dia 7, véspera do aniversário de 38 anos do maior jornal do interior do Estado do Rio de Janeiro.
Ciente do papel de porta-voz da sua comunidade, a Folha não só cobrará que os princípios repassados sejam transformados oficialmente em compromisso no programa de cada candidato definido em convenção, como seu cumprimento integral por parte do governo que a população escolher em outubro próximo para suceder Rosinha Garotinho (PR). Qualquer que seja ele!
“Princípios, senhores, princípios!”. Foi o que cobrou o jornalista e blogueiro Ricardo André Vasconcelos, em artigo publicado na Folha (aqui), em 11 de agosto, que deu início à série de reportagens. Pois a parir dela, fruto de trabalho árduo e diário, que consumiu toda uma redação durante quatro meses, os princípios foram apontados.
E determinados esses princípios, uma comunidade e um jornal que se orgulha em representá-la, há quase quatro décadas, estarão agora devidamente atentos ao meio e ao fim de quem pretenda nos governar.
Publicado hoje na Folha da Manhã