Você gosta mais de teatro ou cinema? Se ficou na dúvida, deveria tirá-la nessa quarta-feira, 13 de abril, a partir das 19h30, quando o Cineclube Goitacá exibe “A viagem do Capitão Tornado”, na sala 507 do edifício Medical Center, no cruzamento da rua Conselheiro Otaviano com avenida 13 de Maio. Com apresentação seguida de debate, ambos mediados por mim, a sessão será também uma homenagem ao seu diretor, o mestre italiano Ettore Scola (1931/2016), morte no último dia 19 de janeiro.
Desde que assisti ao filme pela primeira vez, em 1990, logo após seu lançamento, de cara passei a considerá-lo como o melhor que já tinha visto sobre teatro. A condição só seria dividida a partir de “Birdman ou (A inesperada virtude da ignorância)”, que em 2015 rendeu o primeiro Oscar de melhor diretor ao mexicano Alejandro González Iñárritu, prêmio bisado este ano, com “O regresso”.
Mas se Hollywood fez o anti-hollywoodiano “Birdman” para retratar os palcos da Broadway contemporânea, a produção franco-italiana “Capitão Tornado” percorre a França do século 18, alguns anos antes da Revolução Francesa, junto da modesta companhia itinerante que encena em castelos suntuosos e vilarejos miseráveis um dos pilares do teatro ocidental: a “Commedia dell’arte”. O conceito nasceu na Itália entre as Idades Média e Moderna, baseado na improvisação de atores analfabetos, como era a maioria do povo à época. Numa Europa rural, se deslocavam em carroças cobertas que serviam como transporte, casa, palco, coxia e cenário. E foi assim que deram início à profissionalização do teatro.
Nessa aconchegante confusão mambembe, o jovem barão de Signorac (o suíço Vicent Perez), falido e imaturo, se junta a trupe de atores que se refugia em seu castelo decadente, numa noite chuvosa. Entre a arte que imita a vida para ser por ela imitada, Signorac passa a aprender sobre uma e a outra também, até ter sua vida antes vazia de nobre preenchida pela arte de um intéprete marcado por seu personagem: o Capitão Tornado.
Não por coincidência, quem introduz Signorac tanto na arte, quanto na nova vida, é quem nesta assume as funções mistas de servo e conselheiro: o palhaço Pulcinella, interpretado pelo italiano Massimo Troisi (1953/94), mais conhecido por seu papel derradeiro em “O carteiro e o poeta” (1994), de Michael Radford. E mais uma vez, da vida à arte, essa junção do bufão atrapalhado, egresso das camadas sociais mais baixas, tem a contrapartida no herói de origem nobre, num duplo de arquétipos característico da “Commedia dell’arte” que seguiria popular até nossos dias.
Quem também está no elenco, ainda linda, é a diva italiana Ornella Muti, na pele sedutora de Serafina. Apesar da vida difícil de mulher sem pai ou marido naqueles tempos, quando as lidas de atriz e prostituta eram confundidas ao bel prazer dos homens da nobreza, ela consegue ensinar-lhes como ser menos fiel ao ouro do que às metáforas.
Nessa quarta, a entrada e o debate no Cineclube Goitacá, como sempre, são livres. Por ora, equilibrado entre vida e arte, fique com o trailer desse pequena obra prima de um gênio do cinema:
Atualização às 13h52 de 13/04: Confira aqui a matéria sobre a sessão de hoje no Cineclube, publicada na capa da Folha Dois de hoje, assinada pela jornalista, escritora e crítica de cinema Paula Vigneron.
O melhor do teatro com o melhor do cinema .Perfeito
Tô lá .